O Gravatai Merengue, nos comentários do blogue dele (respondendo a um comentário meu por lá), indagou a respeito das diferenças metodológicas nas pesquisas do Vox Populi (VP) e da Datafolha (DF) que devem ser levadas em conta - e que não permitem uma comparação direta simples.
Especificamente para a última pesquisa VP sobre a sucessão presidencial não há todo o detalhamento metodológico - apenas algumas informações foram publicadas (total de entrevistados, total de unidades da federação em que foi feita a pesquisa e a margem geral de erro, além, claro, das datas). A pesquisa da DF tem uma metodologia mais detalhada disponível do sítio web dela. Mas, considerando-se o histórico das pesquisas anteriores do VP, podemos elencar as diferenças do processo de coleta de dados entre os dois institutos.
1) tamanho amostral - 2.000 eleitores no VP; 4.100 na DF*;
2) cenários simulados - VP: 5 cenários; DF: 7 cenários (sim, isso faz diferença);
3) normalmente o VP faz pesquisas domiciliares; o DF faz pesquisas de rua;
4) distribuição das praças pesquisadas (não há relação dos municípios divulgados, mas o VP pesquisou em 24 unidades da federação; a DF em 25: com ênfase em SP*);
5) cotas de entrevistados: o VP normalmente faz cotas de sexo, idade, escolaridade e renda; a DF fez cotas de sexo e idade;
6) certamente o questionário não é o mesmo (isso também importa - p.e. a ordem das perguntas afeta o resultado).
*Algumas pessoas ficaram alarmadas pelo fato de metade dos entrevistados (2.052) na pesquisa da DF serem do Estado de São Paulo. Isso, sim, poderia introduzir um viés se não fosse feita uma correção: a ponderação pelo número de eleitores de cada UF pesquisada. A DF deu peso 887/4100 = 21,63%. Isso está próximo ao total de eleitores do estado, segundo dados do TSE, SP, em julho de 2009, tinha 22,36% dos eleitores. A estimativa do IBGE para julho de 2009, da população de SP, era de 21,62%. Aparentemente a DF ponderou pela população total e não pelo número de eleitores - a diferença é pequena, no entanto. Desconheço o motivo para tal opção de ponderação.
Agora, um tanto surpreendente foi a entrevista do presidente do Ibope à Veja. Bem, a entrevista em si não é tão supreendente assim. O que é estranha é o que a Veja atribui a Carlos Augusto Montenegro na introdução. Montenegro faz uma série de previsões: o enfraquecimento (e posterior fim) do PT e que Lula não fará seu sucessor. Aí a revista diz: "Agora, faltando pouco mais de um ano para a sucessão presidencial, Montenegro faz uma análise que o consagrará se acertar. Se errar? Bem, dará às pessoas o direito de igualarem seu ofício às brumas da especulação." Teria mesmo Montenegro dito isso? Ou seria uma ilação da revista. Acredito mais que seja o segundo caso.
O presidente do Ibope certamente sabe que, confiável o quanto seja uma pesquisa estatística bem feita, ela não garante certeza - há a margem de erro, e ela é grande tendo tanto tempo ainda a transcorrer. Tanto é que sobre as chances de Serra, ele diz: "Faltando um ano para as eleições, o governador de São Paulo, José Serra, lidera as pesquisas. Ele tem cerca de 40% das intenções de voto. Em 1998, também faltando um ano para a eleição, o líder de então, Fernando Henrique Cardoso, ganhou. Em 2002, também um ano antes, Lula liderava - e venceu. O mesmo aconteceu em 2006. Isso, claro, não é uma regra, mas certamente uma tendência. Um candidato que foi deputado constituinte, senador, ministro duas vezes, prefeito da maior cidade do país e governador do maior colégio eleitoral é naturalmente favorito. Ele pode cair? Pode. Mas pode subir também." Duvido que ele seja louco de apostar o prestígio da instituição que comanda por causa de uma tendência. Botafoguense que seja.
Em todo caso fiz uma consulta do Ibope a esse respeito. Vamos ver se respondem.
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