Diogo Mainardi resolveu meter o bedelho no assunto do aquecimento global e mudanças climáticas. Tasca em sua coluna na Veja:
“Se os meteorologistas cometem erro de um dia para o outro, como posso confiar em seus prognósticos para 2050 ou, pior ainda, para 2100?”
Pra quem tira sarro de um analfabetismo do molusco palaciano essa passada de recibo de ignorância científica é *muito* feia.
A tia Milu nas aulas de geografia do ensino fundamental - no seu tempo era primeiro grau ou era ginasial, Mainardi? - ensinava a diferença entre tempo e clima. Os meteorologistas cuidam da questão do tempo - as condições atmosféricas em um dado momento sobre um local -, os climatologistas cuidam da questão do clima - as condições atmosféricas em um dado local ao longo de um tempo maior.
Mas vamos à sua pergunta: se erram em um intervalo menor, como podem acertar em um intervalo maior? Veja assim, Diogo. A gente joga cara e coroa. Esta moeda - ao contrário de panetônicos governadores - é honesta. A cada lance você terá 50% de chance de acertar ou errar sua previsão do resultado. Agora a gente vai fazer o seguinte: você tem que acertar quantas vezes irá dar cara em mil lançamentos. Você irá errar menos dizendo que será 500 vezes. Os desvios serão, proporcionalmente, muito menores. Se lançar 1 milhão de moedas, o desvio em relação a 50% será menor ainda.
Duvido que você questione que na região amazônica o clima é equatorial. Que as temperaturas médias anuais variam entre 24°C e 26°C e a pluviosidade passe de 3.000 mm anuais em certos locais não é algo de que se duvide. Ou pelo fato de errarem a temperatura de um dia em particular em Manaus quer dizer que o clima amazônico tem tantas chances de ser ártico quanto equatorial?
O que você fez, Diogão, foi cair na chamada falácia da composição. É um erro de raciocínio por uma generalização a partir das partes. Um exemplo bem didático: "se as células são invisíveis a olho nu e um elefante é feito de células, um elefante é invisível a olho nu". Ou "se é impossível prever quando um átomo de urânio irá se desintegrar, é impossível usar urânio como combustível nuclear". Capisce?
Um literato premiado como você deveria se preocupar mais em se manter informado. De coisas básicas assim como aquelas coisas que se pretende criticar. Você fica melhor quando se restringe a falar mal de Lula, sua anta (sim, este trecho é propositadamente dúbio - um aposto ou um vocativo?).
A propósito, o acerto das previsões *meteorológicas* atualmente está na casa dos 90 a 95% para o mesmo dia e chega a 98% ou mais para a mesma hora (dependendo do lugar - se tem mais ou menos estações de coleta de dados e das características particulares como padrão de circulação atmosférica, relevo e coisas assim - pode ser um tanto mais ou um tanto menos).
Então, na próxima vez, é só dar uma googleada, um telefonema para aquele amigo no Inpe, ou mesmo pedir para seu sobrinho passar os olhos. Bobagens crassas como essas vão rarear certamente. Aí vai ficar menos exposto a troças - especialmente por lullopetistas, petralhas e a camarilha ignara que você precisa educar.
Go, Mainardi, go! Vai, Lacraia, vai!
Obs: Quer dizer então que são 100% certas as previsões? Não. Mas, se se vai questionar, não é com base nisso, ok?
Upideite (13/12/2009): Carlos Hotta faz uma análise bem mais detalhada aqui.
gosto muito do teu bom humor. Faz tempo que eu não leio o Mainardi. Só vejo os títulos dos artigos e já acho um lixo. =D
ResponderExcluirSobre o urso canibal, aqui um post bom ;)
ResponderExcluirhttp://scienceblogs.com.br/rnam/2009/12/a_neurose_do_aquecimento_globa.php
Alessandra, Ártemis,
ResponderExcluirBrigadão pela visita e comentários.
Ártemis, sim, eu havia lido a postagem do RNAm. *Isso* o Diogão poderia ter falado...
[]s,
Roberto Takata