sábado, 23 de outubro de 2010

Molina, cê tá errado

O perito independente Ricardo Molina defende sua análise do vídeo de Serra tomada por celular pelo jornalista da Folha. Parafraseando uma velha piada, há aspectos corretos e contundentes. Mas o que é correto não sustenta a tese dele (da Globo e da Folha) e o que é contundente não é correto.

1) Sim, os dois vídeos - do SBT e da Folha - retratam momentos distintos. Isso *ninguém* contesta. (Eu seria maldoso ao dizer que insistir nisso - em diferenças tão óbvias que até uma criança recém-alfabetizada ou pré-alfabetizada veria - seria uma técnica de tergiversação.)

2) O endereço indicado retorna a mensagem que o vídeo não está disponível. Mas ele pode ser visto no sítio web do SBT. Mentira que o candidato não tem reação alguma, qualquer pessoa pode ver que ele depois olha para o chão.

3) O vídeo não mostra nenhum objeto atingindo Serra. *Supondo* que a área destacada contivesse o tal objeto, esse objeto teria se materializado do nada - já que não há registro da trajetória. O perito diz que seria pela velocidade do objeto. Se tivesse a velocidade exemplificada de 40 km/h *com certeza* o candidato teria alguma reação - a menos que a área fosse dessenssibilizada por algum motivo ou tivesse recebido algum treino. Mas vamos supor que isso explicasse a ausência de registro da trajetória pré-impacto. O perito diz, para justificar a imagem do objeto ter sido captada sobre a cabeça, que a velocidade teria caído para zero. Oras, então a trajetória pós-impacto deveria ter sido registrada, mas não, o objeto misteriosamente teria desaparecido como tal*.

4) O contorno bem definido do objeto *não* descarta a possibilidade de ser um artefato digital. Simplesmente porque justamente isso que dá um contorno bem definido - basta ver como as áreas retangulares são bem definidas. Ou o Molina acha que todos os retângulos presentes na imagem são objetos reais? Têm contornos bem definidos, com luminosidade compatível com a iluminação da cena e encontram-se entre as cabeças das pessoas e a objetiva do celular.

Abaixo mostro uma ampliação da imagem (clique nela para ver os detalhes).

Por que Molina não acompanha quadro a quadro o que acontece com a área do "calombo" - que seria a parte de trás do tal rolo de fita? É cabelo como disse aqui e um professor da UFSM disse aqui.

Upideite(23/out/2010): Mais um pouco de análise do perfil do tal objeto. Bônus, perfil da cabeça do Serra.
Molina não teve nem o trabalho de pegar uma foto de perfil de Serra para sobrepor à imagem - isso é necessário para saber distinguir onde começa e onde acaba o quê. E depois ele escreve que o contorno é definido - não tem contorno definido de objetos curvos em imagem de baixa resolução... A foto de Serra de perfil em que me baseei foi esta. Foi só fazer um contorno usando uma camada de transparência e depois jogar em cima da imagem - alinhando a orientação e redimensionando pela orelha.

Upideite(24/out/2010): O Prof. José Antonio Meira da Rocha faz também uma nova análise sobre as alegações de Molina.
*Kentaro Mori, nos comentários, observa que os problemas da baixa resolução e da compressão dos dados poderia fazer com que uma trajetória pós-impacto não fosse registrada. (Precisaríamos fazer um teste com um celular com as mesmas especificações do utilizado para gravar o vídeo.)

Um comentário:

  1. Conferi agora o laudo do Molina:
    http://estaticog1.globo.com/2010/10/laudo_22_outubro_2010.pdf
    Ele argumenta que se vê o objeto entre a cabeça e a objetiva, já que ele se estende sobre a cabeça do Serra, comprovando que não podia ser algo atrás dele (como o Takata bem havia apontado).
    Ocorre que o efeito do objeto branco parecer se estender sobre a cabeça do Serra é um artifact. O objeto estava atrás do Serra, era o cabelo de outra pessoa ao fundo (como se vêm em outros quadros, e apontado pelo Takata:
    http://neveraskedquestions.blogspot.com/2010/10/molina-ce-ta-errado.html )
    Por outro lado, o argumento de que uma fita crepe DEVERIA aparecer em outros quadros me parece frágil, a qualidade do vídeo, codec e muito mais poderia tornar a fita invisível. Não fosse o fato de que em outros quadros podemos ver que o objeto branco sobre a cabeça do Serra é a cabeleira branca de outra pessoa ao fundo, a conclusão do Molina de uma fita crepe seria plausível.
    Como está, ela continua plausível, só seria preciso supor que por coincidência ela só foi capturada em alguns quadros, de forma muito similar à cabeça de outra pessoa ao fundo.
    E que o Serra tem uma insensibilidade que faz com que não note nem a bolinha de papel nem um rolo de fita crepe de dimensões consideráveis. Ou melhor, ele nota, mas com vários segundos de atraso.

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