sexta-feira, 15 de abril de 2011

Falar que o pessoal do SPFW é bambi é ser homofóbico?

Nota prévia 1: Abomino a atitude vergonhosa da torcida do Cruzeiro no primeiro jogo contra o Vôlei Futuro.

Postei no twitter (segue como está sem correções gramaticais):
"Serio que tem gente que acha q xingar Michael e os corintianos chamarem o pessoal do SPFW de bambi é a mm coisa?"*

Aí travei um diálogo como segue (coloquei mais ou menos na ordem da postagem, mas talvez seja preciso um pequeno esforço pra reconstituir exatamente a estrutura do diálogo, cheguei a colocar espaços pra fazer o aninhamento, mas o Blogger sumiu com eles - omiti o nome do interlocutor, ou da interlocutora, pois ele ou ela pode ter alguma objeção a ser mencionado/a aqui):
AA: Errrrrrrrrr... Na verdade, é sim.
Eu: Xingar um cara que é guei de guei é diferente de xingar quem não é.
AA: "XINGAR", dear... that's the question!
Eu: Não. No 1o caso é uma ofensa homofóbica.
AA: Nos dois casos é uma OFENSA.
AA: Ah... Takata, Takata... É a função, querido. É a FUNÇÃO o que conta.
Eu: Não. Importam a motivação e o efeito, não apenas os meios.
AA: Se você usa uma palavra cujo significado é "homossexual" como xingamento, está dando a ela uma conotação negativa.
Eu: Sim, mas em contextos distintos.
AA: Está agregando um significado negativo à classe "homossexual", independente de dirigir a ofensa a um home ou a um hetero.
Eu: Na verdade depende. No caso de ofensa ao homossexual, há agressão direta à humanidade dele.
AA: A função de "xingar" é ofender, ferir, machucar. Ninguém "xinga" com a função de ser agradável.
Eu: Opa, xingam sim. Cumprimentos masculinos: "E aê, sua mãe ainda na zona?" "Aprendendo com a sua" e saem dando risada.
AA: Isso não é xingar, fiote. Isso é usar uma "gíria", um dialeto específico partilhado por uma pequena comunidade...
AA: Usar um sinônimo de "homossexual" como xingamento, é, em si, um ato homofóbico. Significa que "homossexual" *É* negativo, feio, sujo, errado, ou seja, é o que um xingamento deve ser.
Eu: Não é a mm coisa. Efeitos distintos.
AA: Desculpa, quem xinga procura SEMPRE o mesmo efeito. Independente do alvo a ser xingado.
Eu: Xingamento depende de contexto. Quem xinga, como xinga, quem xinga...**
AA: Aham, Takata, senta lá. Continue sendo "inocentemente" homofóbico e use a falácia da "intenção" p racionalizar seu erro. Be happy!***
Eu: Huahuahua... Que erro?
Eu: Se a troca de gentilezas de dois caras a respeito da mãe é só gíria, o mm com a troca de gentilezas sobre porcos, gambás...
Eu: ...bambis, sardinhas.
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*Na eventualidade de algum incauto não saber, SPFW se refere, não ao evento de moda, mas ao time do Jardim Leonor.
**Errei, claro. Era "Quem xinga, como xinga, quem é xingado..."
***Yo! A carta do "você é homofóbico!". Calha que eu sou assumidamente homofóbico (sem ter nenhum orgulho disso - e em contínuo processo de extirpar minha homofobia - já disse isso antes), mas não é por ser homófobo que sustento a distinção entre as duas situações - o que passou o jogador Michael e a provocação dos corintianos (e parmerenses e santistas...) em relação aos são-paulinos. A carta da "racionalização" é outra que é facílima de jogar. Experimente, sempre que encontrar algum ponto de discordância diga: "você está apenas racionalizando" (é um trunfo que pode tirá-lo ou tirá-la de várias enrascadas, como quando não tiver mais contra-argumentos).

O leitor atento ou a leitora atenta terá percebido que em nenhum momento usei o argumento da "intenção": falei em "contexto", "motivação, efeitos e meios" ("motivação" = "intenção", mas não está sozinho/a), "quem xinga, como xinga, quem é xingado". Na verdade meu interlocutor (ou minha interlocutora) é quem insiste na intenção ao dizer: "quem xinga *procura* sempre o mesmo efeito".

Eventualmente terá notado que não disse: "não tem problema nenhum, então, falar 'bambi' para se referir ao time do Jardim Leonor". Sim, tiro onda da afetação associada a muitas coisas que vem do SPFW - inclusive com o uso das iniciais SPFW. E, sim, há alguns problemas em relação a isso. Mas não é - e digo que nem de longe - a mesma coisa do comportamento da torcida cruzeirense naquele jogo.

Dizer "ô, boiola" pra um amigo heterossexual, no fundo (epa!), encerra uma opinião negativa sobre o comportamento homossexual; falar a mesma coisa para um homossexual torna a questão não "no fundo", mas absolutamente à tona. O "no fundo" envolve aspectos indiretos e mitigados; o "à tona" é uma manifestação direta e tende a ter uma carga fortemente virulenta.

Do mesmo modo que falamos para um amigo que deixou escapar algo evidente: "como você é cego" sem que haja problema algum, dado que ele, na verdade, enxergue muito bem. Mas - mesmo em circunstâncias similares - dizer isso para alguém que realmente é cego é, no mais das vezes, altamente ofensivo. Podemos pensar em vários casos similares: "seu perna de pau", "mas que cara retardado", "morfético", "esclerosado", "tá doido?"...

Até mesmo fdp é um termo que se evita para se referir a alguém que realmente tem como genitora uma profissional do sexo.

(Claro que se pode dizer: "fácil pra você falar que é diferente, já que você não é homossexual". Sim, terá esse fator.)

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