quinta-feira, 28 de abril de 2011

Feminismo e trabalhadoras domésticas

O português exigiria a denominação no masculino: "empregados domésticos" para o genérico, mas esta é das raras profissões/ocupações em que quase não há homens atuando. E é um símbolo da degradação das condições das mulheres em nossa sociedade.

Não pelo trabalho em si. Ele é digno. Mas as condições em que a maioria das empregadas domésticas se encontram - mesmo as que são 'promovidas' a secretárias do lar - é mais do que lastimável. Muitas são maltratadas pelos empregadores e recebem muito pouco e têm poucos direitos trabalhistas - e frequentemente os poucos que têm são desrespeitados.

A jornalista Niara de Oliveira em uma postagem convidada no Escreva Lola Escreva trata da questão sob a óptica feminista. E convoca a todas a simplesmente não participarem disso, fazer o próprio serviço doméstico (partilhando igualmente entre todos da casa), sem explorar o trabalho das mulheres pobres.

A reflexão é muito interessante e creio que mereça uma profunda reflexãoconsideração.

De minha parte noto que, não obstante ser motivada por espírito nobre, a solução encontrada é altamente incompleta.

A maioria das empregadas domésticas, pra não dizer todas, só se sujeitam a isso porque não encontram outras ocupações.

Uma alternativa seria pagar salários justos e garantir-lhe todos os direitos: férias acrescidas de 1/3, décimo terceiro, folga semanal remunerada, jornada de 40 horas, etc. Mas, de um lado, poucas seriam as famílias capazes de arcar com tais custos. De outro, pode-se entender que ainda assim seria colocar a mulher em condição de inferioridade.

Mas simplesmente demitir a empregada e passar a fazer a própria limpeza e arrumação da casa não irá melhorar a situação delas. Irá até mesmo piorar: já que lhe cortará a fonte de renda.

A feminista encontrar-se-á em um impasse: valer-se de empregada será uma exploração; simplesmente demiti-la será tirar-lhe o sustento.

Uma solução mais completa que vejo é: não se valer de serviços das domésticas, mas utilizar o dinheiro que seria pago pelo serviço no treinamento e capacitação das mulheres pobres.

Ao mesmo tempo em que se deixa de participar da exploração, estará a contribuir para a melhoria real das condições das domésticas.

Obs: O mesmo disclaimer feito na ocasião da discussão sobre o machismo nos blogues ditos progressistas vale aqui.

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