quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Pizza no Brasil é cara por causa da carga tributária? - Porque a Globo seria reprovada no doutorado.

Repercutindo uma reportagem do New York Times sobre o preço da pizza no Brasil, o Jornal da Globo escalou quatro repórteres para conferir: foram a uma pizzaria em São Paulo, uma em Nova Iorque, uma em Londres e outra em Tóquio. Os repórteres pediram pizzas de queijo, converteram os valores em dólares, depois em real.

A pizza mais cara foi a nova iorquina. Mas, em relação ao ganho médio dos consumidores, a paulistana certamente é a menos acessível.

Compararam com a carga tributária em relação ao PIB e concluíram que a pizza no Brasil é mais cara por causa dos impostos.

Louve-se a iniciativa do que podemos chamar de pizzometria comparativa. Legal dispuserem-se a tirar a prova dos noves e ir a campo colher dados de vários locais. Louve-se ainda o esforço para que as pizzas fossem as mais parecidas possíveis.

Mas não tem qualquer valor do ponto de vista científico e a conclusão é puramente ideológica. Não apenas a amostragem é falha (apenas um ponto e em uma cidade de cada país) e carga tributária não é um indicador adequado sobre os tributos incidentes na confecção e comercialização de pizzas como os dados *não* dão nenhum suporte à conclusão.

Abaixo coloco um gráfico de correlação entre os preços levantados das pizzas e as cargas tributárias.

Figura 1. Relação entre preço de pizza e carga tributária. Azul: Londres, vermelho: Tóquio, verde: São Paulo, branco: Nova Iorque. Fonte: Jornal da Globo.

Se há alguma correlação é que o preço da pizza é *maior* quanto *menor* a carga tributária. Em Nova Iorque, o preço da pizza foi o maior, mas a carga tributária americana é a menor entre os quatro países; a carga tributária brasileira não é muito diferente da do Reino Unido, mas a pizza londrina é muito mais barata. (Na verdade não há essa correlação porque os dados não têm relevância estatística.)

Não estou com isso concluindo nem que a carga tributária no Brasil é baixa, nem que os impostos não devam ser reduzidos ou racionalizados por reformas tributárias. Apenas demonstrando que o esforço de reportagem produziu um resultado, na melhor das hipóteses, nulo quanto à conclusão que quiseram apresentar (e, de fato, apresentaram).

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