quarta-feira, 18 de setembro de 2013

A distorcida lógica em que multiplicar conexões equivale a isolamento

Manchete de reportagem da Associated Press reproduzida pela Folha Online:
"Plano de 'isolar' a internet no Brasil é um erro"

Não, não sou especialista em internet muito menos em segurança. Mas os tais especialistas da Folha/AP falaram um monte de bobagens.

Primeiro que não há plano de "isolar". Isso seria realmente ridículo. Pra que serviria uma internet isolada? Mas tanto não é isolada que uma das propostas é passar um cabo de fibra óptica submarina conectando o Brasil à Europa. Desde quando esse tipo de conexão é "isolar" alguma coisa? Desde quando o Brasil pretender "aumentar as conexões de internet independentes com outros países" é isolamento?

Não sei se a ideia é realmente criar uma "rede livre de espionagem americana". Isso dificilmente pode ser obtido - mesmo cortando-se todas as ligações de tráfego de dados com os EUA: o que não se cogita em momento algum.

O fato é apenas que a concentração do tráfego tendo os EUA como hub facilita demais a vida dos espiões americanos. Mais ainda se o governo e as estatais usam servidores localizados lá. Em servidores nacionais é possível haver espionagem? Claro, sem dúvida. Mas é mais fácil de se fiscalizar o que ocorre aqui. E, uma vez constatada irregularidade, é mais fácil de se tomar as devidas providências legais.

E aí mais contradição. No começo diz: "Enquanto o Brasil não está propondo barrar seus cidadãos de serviços de web americanos, deseja que seus dados sejam armazenados localmente" (grifo meu) - claro, os cidadãos são livres para usarem o serviço que desejarem; mais pra frente, do nada, tasca: "Assim como as pessoas na China e no Irã passam por cima dos censores governamentais com ferramentas como proxy, os brasileiros poderiam driblar os controles de seu governo" (grifo meu). Os brasileiros vão driblar qual controle do governo? O de terem seus dados armazenados em servidores no país?

Começam falando que os "Correios também planejam criar um serviço de e-mail criptografado que poderia servir de alternativa aos serviços de Google e Yahoo!" (grifo meu). Terminam vaticinando: "Isso também pode desencorajar inovação tecnológica, segundo ele, se toda a população for levada a usar um serviço de e-mail criptografado mantido pelo Estado" (grifo meu). Ou seja, o governo propõe criar uma *alternativa* de *lvire adesão* e criam um cenário apocalíptico de que os cidadãos serão *obrigados* a usar tais serviços e só eles.

E, claro, a cerejinha fica pra última frase: "'É como um socialismo soviético na computação', disse, adicionando que o americano modelo 'livre a todos funciona melhor.'" E desde quando criar mais uma alternativa é ir contra o modelo livre? Desde quando deixar tudo concentrado em um local que se mostrou inconfiável é ser livre?

2 comentários:

  1. Salve, André,

    E a Associated Press.

    Malabarismo conceitual desses especialistas.

    []s,

    Roberto Takata

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