Dia 9.dez.2013 a Folha publica reportagem que diz:
"Essa é uma das conclusões do Banco Mundial em relatório obtido com exclusividade pela Folha que analisa 20 anos do SUS e traça seus desafios." (grifo meu)
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Bem, tem um documento do Bando Mundial analisando os 20 anos do SUS. Mas está online e disponível ao público desde o dia 21.jun.2013.
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Há um outro relatório? Talvez. Mas os pontos que a Folha aponta estão presentes nesse relatório de junho
Folha: "E o Banco Mundial reforça isso: mais da metade dos gastos com saúde no país se concentra no setor privado, e o gasto público (3,8% do PIB) está abaixo da média de países em desenvolvimento."
Relatório aberto do Banco Mundial: "Government health spending in Brazil is currently just under 4 percent of GDP, which is significantly lower than the level of spending in most Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD) and some middle-income countries, although Brazil is by no means a clear outlier."
A Folha fala em média dos países em desenvolvimento, o que, obviamente não é o caso - média de países da OECD (em sua maioria desenvolvidos) e de alguns países de renda média. E deixa bem claro que o Brasil não está muito fora da média - o que a Folha não menciona.
Folha: "Mais da metade dos hospitais brasileiros (65%) são pequenas unidades, com menos de 50 leitos --a literatura internacional aponta que, para ser eficiente, é preciso ter acima de cem leitos."
BM: "The main factors contributing to inefficiency were small scale of operations, high use of human resources, and low use of installed capacity and technical resources. Indeed, most Brazilian hospitals are too small to operate efficiently, with 65 percent having fewer than 50 beds. Moreover, the mean bed occupancy rate is very low: 37 percent for acute care hospitals and 45 percent for all hospitals."
Folha: "Nessas instituições, leitos e salas cirúrgicas estão subutilizados. A taxa média de ocupação é de 45%; a média internacional é de 70% a 75%."
BM: "The mean bed occupancy rate in Brazil is very low and an important source of inefficiency and waste. La Forgia and Couttolenc (2008) found that the bed occupancy rate among SUS hospitals was 37 percent for acute care hospitals and 45 percent for all hospitals (compared with the level recommended by the
Ministry of Health of 75–85 percent and international averages of around 70–75 percent)."
Folha: "As salas de cirurgias estão desocupadas em 85% do tempo. Ao mesmo tempo, os poucos grandes hospitais de referência estão superlotados."
BM: "Hospital technical resources are also underutilized. For instance, the mean number of surgeries performed per operating theater in Brazil was 0.66 per working day (La Forgia and Couttolenc 2008); this means that operating rooms in the typical Brazilian hospital are not used 85 percent of the time."
Folha: "Dois estudos citados pelo Banco Mundial estimam que em 30% das internações os pacientes poderiam ter sido atendidos em ambulatórios."
BM: "Also, part of hospitals’ inefficiency is a result of ineffective primary care and poor referral mechanisms. For instance, two studies estimated the proportion of hospital admissions for conditions sensitive to outpatient care within the SUS at close to 30 percent; in comparison, studies in Spain and the United States found much lower proportions (8–18 and 13–16 percent, respectively).15 The use of hospital infrastructure for unneeded admissions is clearly related to the absence of functioning, effective health care networks."
Então, ou:
a) a Folha escolheu um relatório exclusivo que não traz nenhuma novidade - e não havia nenhuma razão pra alardear a exclusividade ou;
b) a Folha escolheu dados do relatório exclusivo que estão presentes em outro relatório aberto, o que significa um serviço jornalístico ruim ou;
c) a Folha teve acesso com exclusividade antes da divulgação do relatório em junho - mas só agora, vários meses depois da publicação do documento resolveu fazer uma matéria a respeito, o que torna o aviso sobre o acesso exclusivo sem sentido ou
d) a Folha comeu bola e anunciou como exclusivo um relatório aberto.
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