Aparentemente a CNI tem um problema de interpretação de texto e seu presidente, Robson Braga de Andrade, de se expressar.
Após polêmica nas mídias sociais e tradicionais sobre fala do empresário a respeito da jornada de trabalho no Brasil, a entidade publicou nota afirmando que seu mandatário: "JAMAIS defendeu o aumento da jornada de trabalho brasileira, limitada pela Constituição Federal em 44 horas semanais" (grifo deles.)
Para provarem o ponto, na mesma nota republicam a transcrição correta do que disse Andrade:
"Nós aqui no Brasil temos 44 horas de trabalho semanais. As centrais sindicais tentam passar esse número para 40. A França, que tem 36 horas, passou agora para 80, a possibilidade de até 80 horas de trabalho semanal (sic, são 60 horas) e até 12 horas diárias de trabalho. A razão disso é muito simples, é que a França perdeu a competitividade da sua indústria com relação aos outros países da Europa. Então, a França está revertendo e revendo as suas medidas para criar competitividade. O mundo é assim. A gente tem que estar aberto para fazer essas mudanças. E nós ficamos aqui realmente ansiosos para que essas mudanças sejam apresentadas no menor tempo possível."
Ou seja, se jamais defendeu, jamais defendeu até então... pois o trecho é exatamente a defesa da adoção de uma jornada estendida de 12 horas e 60 horas por semana.
Questões políticas à parte; temos uma literatura científica já com algum tamanho sobre os efeitos que jornadas extensas têm na saúde do trabalhador.
Em 2004, o National Institute for Occupational Safety and Health publicou um estudo de revisão sobre a literatura acerca do tema. A conclusão geral foi:
"In 16 of 22 studies addressing general health effects, overtime was associated with poorer perceived general health, increased injury rates, more illnesses, or increased mortality. One meta-analysis of long work hours suggested a possible weak relationship with preterm birth. Overtime was associated with unhealthy weight gain in two studies, increased alcohol use in two of three studies, increased smoking in one of two studies, and poorer neuropsychological test performance in one study. Some reports did not support this trend, finding no relationship between long work hours and leisure-time physical activity (two of three studies) and no relationship with drug abuse (one study)."
["Em 16 dos 22 estudos referindo-se a efeitos gerais na saúde, as horas estendidas associaram-se a uma saúde geral percebida pior, aumento de taxa de acidentes, mais doenças ou aumento da mortalidade. Uma meta-análise de longas jornadas sugeriu uma relação fraca com nascimentos prematuros. As horas estendidas foram associadas a um ganho de peso não-saudável em dois de três estudos, aumento de consumo de álcool em três, aumento de uso de tabaco em um de dois estudos e pior desempenho em testes neuropsicológicos em um estudo. Alguns estudos não apoiam essa tendência, não encontrando relação entre longa jornada e atividade física durante as folgas (dois de três estudos) e também não encontrando relação com abuso de drogas (um estudo). "]
Uma meta-análise de Virtanen et al. (2012), incluindo 12 estudos com um total de 22.518 participantes, concluiu que jornadas longas de trabalho aumentam o risco de se desenvolver doenças cardíacas coronarianas em 40%.
Vyas et al (2012), em meta-análise de 34 estudos com 2.011.935 pessoas no total, concluem que: "[o]n the basis of the Canadian prevalence of shift work of 32.8%, the population attributable risks related to shift work were 7.0% for myocardial infarction, 7.3% for all coronary events, and 1.6% for ischaemic stroke." ["Com base na prevalência canadense de jornada de trabalho, de 32,8% de riscos populacionais atribuíveis à jornada de trabalho, 7,0% foram de infarto do miocárdio, 7,3% para todos os eventos coronarianos e 1,5% para derrame isquêmico."]
Ao que tudo indica, o presidente da CNI não chegou a ver esses efeitos deletérios à saúde do trabalhador de longas jornadas de trabalho que ele diz que não defende - mesmo estranhamente proferindo palavras que indicam o contrário.
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