Considerar os pouco mais de 6 milhões de turistas como ninguém é forçar a mão um tanto. É verdade que é longe dos mais de 80 milhões de estrangeiros que a França recebe, mas não dá para desprezar esse contingente que aqui aporta todos os anos. Poderia ser maior? É possível que sim e a reportagem lista uma série de medidas que poderiam ajudar: melhoria da infraestrutura como portos, das atrações como parques e dos serviços como atendentes que saibam inglês. Parecem medidas sensatas, mas serão suficientes?
Uma questão que não foi abordada e raramente vejo contemplada nas discussões sobre o tema - até porque é algo sobre o que provavelmente não dá pra fazer muita coisa: o Brasil é longe, muito longe, um reino tão tão distante dos principais centros de origem de turistas - América do Norte (claro, principalmente os EUA, mas também Canadá e México), Europa Ocidental (Alemanha, Reino Unido, Itália e França) e Extremo Oriente (China, Japão, Coreia - e também o sul e o sudeste asiático com a Malásia e a Índia). E até a Europa Oriental (Polônia, Rússia e Ucrânia).
Na Fig. 1 estão plotados (em logaritmos) os dados do número de turistas recebidos anualmente contra a distância dos três principais centros de origem de turistas: EUA, Europa Ocidental (com a França como representante) e Extremo Oriente (com o Japão como representante). A correlação não é particularmente alta, mas considerando que deve ser um fenômeno multifatorial (infraestrutura, divulgação, atrações, clima, câmbio, instabilidade política, hospitalidade, história...), o fato de a distância (em relação ao grande centro mais próximo, em logaritmo) explicar 12% da variância do número de turistas (em logaritmo) não é algo para ser desprezado.
Figura 1. Relação entre distância de grandes centros de origem de turistas e número de turistas recebidos por ano. Triângulo verde: México, quadrado vermelho: Peru, amarelo: Austrália, verde: Brasil, azul claro: Argentina. Fontes: número de turistas recebidos - Index Mundi; distâncias - DistanceFromTo.
Brasil e Austrália - não dá para dizer que a infraestrutura australiana seja um desastre, nem que o desconhecimento do inglês seja uma barreira - estão em situações bastante similares tanto em termos de número de turistas recebidos quanto do isolamento dos grandes centros de origem de turistas. Navios de cruzeiro e aviões tornam as distância transponíveis, mas não irrelevantes - os custos das passagens são proporcionais às milhas percorridas de modo geral. Ambos recebem até mais turistas do que seriam esperados em relação à distância, mais até do que o Peru, por exemplo (que também recebe mais do que o esperado pela distância).
Como dito, distância não é um fator que seja muito fácil de modificar. A criação de mais
Uma alternativa (ou complemento) ao turismo de massa é o turismo de luxo/negócios. Se o tamanho do fluxo é difícil de se aumentar, pode-se focar em atrair um setor mais endinheirado. Mas isso tem seus poréns: os investimentos iniciais são bem mais altos; o setor de negócios tendem a se concentrar em grandes cidades; o de luxo pode se desenvolver em cidades menores, mas tende a elevar o custo de vida local.
O Peru é longe dos principais centros de turistas mas é perto do Brasil, Argentina e Chile (creio que sejam fontes regionais de turistas) e não muito longe do México.
ResponderExcluirSalve, André,
ResponderExcluirSim. De todo modo, o PER recebe menos turistas do que o BRA. (A reportagem só destacou que houve um grande crescimento nos últimos anos - o que pode, em parte, se dever ao crescimento econômico do BRA. Infelizmente não tenho os números de turistas de cada país discriminados por origem.)
Grato pela visita e comentário.
[]s,
Roberto Takata
Em 2014 participei do II Seminário Latinoamericano de Políticas Públicas e Turismo, promoção do Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília. Uma possibilidade de integrar destinos na Amazônia foi enfatizada: são apenas 40 minutos a duração do voo entre Rio Branco, AC, e Machu Pichu, Peru. Algo que me deixa triste são os adiamentos revitalização ou criação de diversos trechos de ferrovia que poderiam melhorar o transporte de bens e pessoas, diminuindo o uso de combustíveis fósseis, os acidentes e mortes nas rodovias. Um trecho muito aguardado é o de Brasília a Goiânia. Os quartéis de engenharia do Exército poderiam executar essas obras, com qualidade, dentro do prazo, sem aumento de custos com aditivos e o conjunto disso resolveria gargalos tanto no Norte como em toda nossa fronteira Oeste (muita produção de grãos e gado). Sou professor de Zootecnia, concursado no DF desde 1994 e readaptado, atuando em Sala de Leitura, desde 2013, meu perfil no Facebook: Carlos Eduardo Guia de Turismo.
ResponderExcluirSalve, Carlos Eduardo,
ResponderExcluirGrato pela visita e comentário.
Certamente há muito o que se melhorar em infraestrutura e conectividade dos destinos. Até para incrementar o turismo interno. Se isso redundaria na vinda de mais turistas estrangeiros, é algo a se ver.
[]s,
Roberto Takata