O jornalista Fernando Canzian da Folha de São Paulo, escreve em sua coluna sobre os efeitos do Bolsa Família no trabalho rural na cidade de Brejões - BA.
Cafeicultores não conseguem contratar catadores de café com carteira assinada, porque este grupo é formado por beneficários do Bolsa Família e eles temem perder o direito à bolsa de R$ 134,00.
Diz Canzian: "Não seria justo culpar apenas os benefícios dados pelo governo federal (como o Bolsa Família e as aposentadorias especiais) pelo o que ocorre em Brejões e em outros locais do país. Há outros problemas, como o preço do café estacionado e a falta de financiamento rural./Mas é certo que os benefícios sociais, neste caso, têm causado uma distorção tremenda no meio rural."
Bobagem. A causa não são os benefícios sociais.
Primeiro: ter carteira assinada *não* impede o recebimento da bolsa - se esse é mesmo o temor dos catadores, então a culpa é da ignorância e não do programa (e isso pode ser facilmente resolvido com uma campanha de esclarecimento).
Segundo: se a carteira comprova que o beneficiário irá receber além da renda que o inclui no programa ou novamente é ignorância do trabalhador que resolve ficar com uma renda menor ou é uma atitude racional do trabalhador, que prefere o benefício a se sujeitar a condições de trabalho que não valem a pena a maior renda. No segundo caso, o programa apenas cria uma opção ao catador -e, convenhamos, se ele opta pela ninharia dada pelo Bolsa Família, é porque a remuneração do trabalho é mesmo aviltante. Nesse caso, a culpa é do empregador que oferece baixa remuneração.
Ou seja, se há distorção, não é coisa de se culpar o Bolsa Família: ou é desconhecimento ou é ganância. Se a transformação é do Bolsa Família, neste caso em particular significa que não se trata de distorção, mas de correção de uma situação socioeconômica cujo desaparecimento não precisa ser lamentado.
Mas Canzian não é daqueles que demonizam o programa:
"O programa Bolsa Família é uma necessidade em um país de carências tão grandes como o Brasil. Custa pouco como proporção do PIB (cerca de 1%) e atinge 12,5 milhões de famílias. Ele também foi parte do 'estopim' da atual onda de crescimento e ajudou muito a distribuir a renda."
E concordo com a observação: "No entanto, ajustar os aspectos negativos do programa, assim como seu efeito pró governo de plantão, se tornou algo inadiável."
Só discordo de que o exemplo dado seja realmente um desses aspectos negativos.
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