segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Faltam cérebros ao Brasil? 2

Volto ao mito da falta de mão de obra qualificada. O Estadão publica mais uma reportagem sobre o apagão de profissionais de TI que o país enfrenta.

Como as empresas estão enfrentando o apagão de mão de obra na cada vez mais essencial área de tecnologia da informação"

E lista três causas: baixa qualidade do ensino básico; busca por ensino superior em detrimento do técnico e as empresas contratam estudantes no lugar de pessoal já com boa formação.

E não listaram uma causa bastante óbvia, mas que é sempre ignorada por esse tipo de reportagem: os baixos salários não atraem pessoal qualificado.

Segundo as pesquisas de salários do Datafolha, em 2003, um programador júnior ganhava um salário médio de 2.726 reais; em 2010, o salário 'saltou' para 2.896 reais. Descontada a inflação acumulada no período, 35,34%, isso representa um aumento real de apenas 6,6% ao longo de 7 anos. Um programador pleno teve um ganho médio real de 16,3% e um programador sênior, teve uma *perda* de 20,6%.

No caso de analista de sistemas, os valores para júnior, pleno e sênior são: -37,1%; +27,4% e +28,5%.

Considere-se que entre 2003 e 2010, a economia brasileira teve um crescimento real de 35,3%.

Para fins de comparação, um pedreiro teve em média um aumento real de 44,9% em seu salário entre 2003 e 2010.

Um nutricionista teve um aumento real médio de 14,8% e um engenheiro civil júnior, de 13,3%.

O salário mínimo brasileiro teve um aumento real de 69,2% no período.

Compilei os dados aqui.

Upideite(04/jan/2012): Não sei se esses valores salariais incluem a parte variável (e.g. bônus por metas).

Upideite(29/set/2012): Estudo do Insper corrobora a análise acima. De 2000 a 2010, o salário médio dos engenheiros civis aumentou apenas 20,6% (a reportagem não diz, mas imagino que seja aumento real). Isso porque há déficit de profissionais na área. E um estudo do Ipea constata que profissionais atuando fora de área de formação são uma das principais causas do déficit em engenharia. Salário achatado não vai mesmo atrair mão de obra qualificada.

Upideite(13/nov/2013): Novo estudo do Ipea volta a mostrar que não faltam engenheiros no Brasil.

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