terça-feira, 2 de outubro de 2012

Zero tom de verde - capítulo 4

Esta é uma obra de ficção. Qualquer coincidência com a realidade será mera semelhança.

(Capítulo 1 aqui.) (Capítulo 3 aqui.)
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"Regino, não há nada a temer. Nossa maioria é folgada. Anistia ampla, geral e irrestrita está garantida. Pode tratorar, passa a corrente, precisamos ampliar a área de produção já que estamos produzindo menos por hectare."

Pelo celular, George seguiu acertando com o capataz as ordens do mês para a Fazenda Rebelo, ao norte de Mato Grosso, na fronteira com Rondônia. Dali a pouco estaria in loco para acompanhar o término das obras da pista de pouso. A emenda parlamentar fornecera a verba necessária para a construção do aeroporto municipal. Sim, dentro da Fazenda Comuna Rebelo. Tecnicamente a área havia sido doada para a prefeitura, mas um obscuro mecanismo havia conferido o uso preferencial pelo antigo dono – o dono de fato. De todo modo, em uma cidade com menos de três mil habitantes, o único a efetivamente usar o aeródromo seria ele mesmo e seus funcionários. E, eventualmente, alguma autoridade.

A obra havia sido brindada com autorização para a derrubada da floresta – com um EIA-RIMA produzido a toque de caixa e sob medida – incluindo uma faixa no entorno. Faixa que foi alargada e parte substancial seria ocupada para cultivo da soja. "Seria um pecado deixar um pedaço de terra tão bom sem uso."

A área avançaria sobre a porcentagem da reserva legal. Era com isso que o capataz estava apreensivo. Alguém havia buzinado em seu ouvido de que daria encrenca. Ouvir as palavras de George o deixava mais tranquilo. Afinal, a propriedade estava em nome do capataz. Se encrenca houvesse, sobraria só para ele.
Da janela do quarto, George via o morro. Tão belo era em sua memória das incontáveis vezes em que se hospedara ali. Uma linda floresta a cobri-lo da base ao topo. Mas agora. Agora horrendas casas subiam sua encosta, substituindo as árvores que tanto lhe alegravam os olhos. Não se ouviam mais o canto dos pássaros de antes. Não chegou a formular completamente uma maldição sobre aquele aglomerado urbano subnormal.

Do chuveiro uma voz entoava uma canção.

"That the river burns like the gasoline..."

A água cessou, mas os versos continuaram a ser entoados:

"...And they can't turn on the rain machine. And they tell me there is no more space. Won't you turn around..."

Saindo de roupão e enxugando a cabeça, aproximou-se de George que, calado, mirava o morro.

"Cuz I hate when I cannot see your face..."

Ela abraçou-se a George, recostando sua cabeça no ombro do amado – na verdade no braço, dada a diferença de altura entre eles. George baixou sua mão correndo as costas da menina terminando o percurso com uma apalpada.

Flora soltou um gritinho de falsa indignação.
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