segunda-feira, 3 de junho de 2013

Sobrou pro índio... de novo

O jornalista Claudio Angelo, em seu blog Curupira, disse em outubro do ano passado: "Está em curso no Brasil um revival do sentimento mais primordial da nossa nacionalidade: o ódio ao índio."

Só não sei se é mesmo um revival, a impressão que tenho é de que nunca houve um esmorecimento.

O que, a mim, parece ser uma certa novidade é um *governo* declaradamente de matiz *esquerdista*, na prática, atuar contra os direitos dos índios.

Não apenas nos grandes projetos nacionais como as usinas de Belo Monte e outras que avançam sobre reservas indígenas. (Considero que são projetos importantes e defensáveis, no entanto, houve e há atropelo no processo de sua implantação.) Mas agora em processo de desocupação e reintegração de posse com ação da *Polícia Federal* resultou na morte de um índia terena - Osiel Gabriel. Os índios ocupam a fazenda Buriti, que ocupa área dentro da região de 17 mil hectares que, por levantamento da Funai de 2001, deveria fazer parte da reserva terena em Mato Grosso do Sul.

E, mais, *ministra* da Casa-Civil, a senhora Gleisi Hoffmann, discursa em sentido de enfraquecer o órgão da União responsável pela questão indígena, incluindo o *Ministério da Agricultura* noa demarcação de reservas. A Casa Civil é o braço direito da presidência e, com a presidenta calada, a inferência é que há, no mínimo, anuência tácita de Rousseff. O mesmo processo de enfraquecimento do Ibama na questão ambiental durante os governos Lula é enfrentado agora pela Funai. Sempre com o fortalecimento dos interesses ruralistas.

Não é que os ruralistas sejam inerentemente malvados. Representam interesses legítimos de produtores rurais (não de todo, principalmente da parcela dos *grandes* produtores - levando a reboque os médios e pequenos). Mas não é possível se atropelar interesses difusos e fundamentais como o meio ambiente e os direitos dos povos indígenas - de quem usurpamos as terras ao longo do processo formativo brasileiro e de quem continuamos a roubar as áreas de sustento e identidade cultural, mesmo as já demarcadas na década de 1990 - em nome de interesses econômicos (dos ruralistas) e políticos (do governo federal em contar com apoio dos ruralistas).

Se a morte de Gabriel foi mesmo provocada por tiro de um policial federal (uma nova autópsia foi pedida), o governo Rousseff terá ainda mais contas a prestar.

4 comentários:

  1. Expressões como "de quem usurpamos as terras" não ajudam a estabelecer uma dicotomia entre brancos e índios que tendem a arraigar ainda mais o "ódio ao índio"? Como se sente o sujeito pobre, "dono" de um barraco na favela ao ser colocado no mesmo balaio que grandes grileiros de terras?

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  2. Acho que não. Usurpação é o termo correto. Não houve nenhuma indenização aos índios por suas terras. E dificilmente índios fazem ocupação de favelas que eventualmente tenha se desenvolvido em sua reserva.

    []s,

    Roberto Takata

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  3. Não estou falando da prática de índios e pobres, mas do discurso que poderia identificar corretamente o "inimigo" mas acaba rotulando todo não-índio como vilão.

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  4. Todos somos vilões, André. Alguns mais do que outros em determinados momentos e casos.

    []s,

    Roberto Takata

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