Frente a algumas críticas por parte de seus leitores, justificou com uma analogia/parábola - seria o mesmo que discutir se uma criança poderia comer laranja em lugar de mexerica (tangerina, bergamota).
Antes de apresentar meus pontos de crítica ao que disse Sakamoto, deixe-me apresentar meu ponto de concordância: devemos criar nossas crianças em uma cultura de paz e evitar o sexismo. Criar filhos e filhas de modo que - quando adultos - carreguem como valor que ambos, pai e mãe, são responsáveis pela criação dos filhos (incluindo divisão de trabalho de dar mamadeira, trocar fraldas, levar na escola, tirar a lição, cobrar os estudos, etc.).
Meu ponto enfático de discordância: "Tenho dado bonecas de pano de presente para filhos de alguns amigos." Isso, pra mim, é uma intromissão sem cabimento na criação dos filhos dos outros. Claro, depende de se a natureza da amizade que ele cultiva permite esse tipo de intervenção, mas para mim é um absurdo. Seria como dar uma bíblia de presente para filho de um casal de amigos hindus; de dar um exemplar de A Origem das Espécies para de amigos criacionistas; camisa do Flamengo para o filho do casal fluminense. Alto lá, do meu filho, cuido eu!
Sim, pode-se - e dependendo do modo como isso é feito, é saudável - discutir com os *pais* o modo de criação dos filhos. Mas não com intervenção direta.
O ponto em que eu tenho dúvidas é se dar bonecas para os filhos homens tem algum tipo de influência positiva sobre sua educação e se compensa eventual influência negativa. Claro, pais que quiserem experimentar com *seus próprios* filhos devem ter o direito de fazê-lo. Fazer com o filho dos outros, sem consentimento prévio dos pais, fere a ética - não apenas pela intromissão indevida na criação, mas pelo fato de faltar exatamente dados que indiquem que tenha efeito benéfico (e não tenha efeito maléfico).
Dificilmente um menino que brinque com bonecas virá a se tornar um adulto efeminado quando crescer em função de ter brincado com bonecas. Quando espontâneo, brincar com bonecas pode ser (ênfase no 'pode', não necessariamente será) um indicativo de tendência natural do menino e pouco provável que o impedir de brincar assim o faça crescer como adulto heterossexual. O quanto que brincar de cuidar de bonecas fará o garoto crescer como adulto que cuidará de seus filhos está aberto à discussão. O lado negativo que pode aflorar é expor a criança ao preconceito da sociedade, p.e., os amiguinhos poderão caçoar do menino.
Agora sobre mexericas e laranjas. Bem, Sakamoto, se os termos são esses... Digamos que a ação seja tão inócua quanto dar mexericas à criança. Primeiro, qual a vantagem da laranja sobre a mexerica? Segundo, porque devemos evitar a mexerica? Terceiro, então tudo bem seus amigos darem mexerica a seus filhos? Laranja obviamente são bonecas (para meninos). Mexerica seria o quê? Armas de fogo de brinquedo? Você acha legal dar armas de fogo de brinquedo para crianças? Tem pais que acham que não. Então para os filhos deles eu não daria armas de fogo de brinquedo. Além disso, o título "Por uma sociedade melhor, meninos deveriam comer laranja no lugar de mexerica" faria pouco sentido. Então sua comparação de intervir na criação dos filhos dos outros dando bonecas com dar laranja está capenga no mínimo. E, se os pais, por algum motivo, não querem dar laranja para os filhos (talvez algum trauma), eu não vou me intrometer dando laranja para os filhos deles. No máximo, perguntaria aos pais qual o problema com a laranja - e poderia listar eventuais vantagens da laranja sobre a mexerica (
*Upideite(09/jan/2013): Eu havia inadvertidamente invertido o exemplo de Sakamoto entre laranjas e mexericas.