Méritos científicos, como procurei mostrar, são nulos. Se assim for, como uma tese dessas pôde ser aprovada? No caso, é que na FFLCH há um núcleo de negacionistas climáticos. Um deles, que foi da banca examinadora da tese, deu uma entrevista à repórter Afra Balazina do Estadão.
Diz o negacionista: "Não existe um processo físico em que a entrada de energia seja menor que a saída, em outras palavras, que os gases 'gerem' um aquecimento 'criando' energia." Embora seja verdade que não haja processo físico em que saia mais energia do que entrou, não sei de onde ele tirou que os gases-estufa atuem gerando energia... Ele mesmo considera o vapor d'água como elemento controlador do clima. Será que com isso ele quereria dizer que a água gera energia? Aliás, vapor d'água é exatamente uma das vias de influência dos gases-estufa: ao provocarem um aumento inicial de temperatura, essa maior temperatura leva a uma maior evaporação de água e consequente aumento de vapor d'água atmosférico, que por sua vez também atua como gás-estufa (de efeito até maior do que o CO2 e outros). E o aumento inicial de temperatura tem sim um mecanismo explicativo: justamente o oposto do atribuído pelo negacionista, ao fazer com que (temporariamente) a entrada de energia seja *maior* do que a saída - não há uma geração de energia, mas *acúmulo*.
"Assim sendo, quando tentamos realizar debates e os chamados 'aquecimentistas' não aparecem, algo soa estranho." Pela qualidade do argumento usado acima consigo entender os motivos de não se comparecer a 'debates' assim - não há espaço possível para um debate racional. É como esperar que geofísicos sérios topem participar de eventos sobre 'terra plana'. E é a razão por que alguns biólogos evolutivos, como Dawkins, se recusemrecusam a participar de eventos de criacionistas.
Citar o Petition Project como algo sério é, em si mesmo, mostrar de falta de seriedade. Climatologistas e afins são uma minoria por lá - entre os signatários há vários médicos... sim, médicos. (Não vou nem falar da história de que a AGA é um complô dos países desenvolvidos para frearem o crescimento dos países pobres...)
Mas, enfim, negacionistas climáticos, homeopatas, ufólogos e até astromantes fazem parte da biodiversidade nas universidades brasileiras. Um indício de que a tão alardeada barreira acadêmica de temas tabus não é tão sólida assim.
(via @luizbento e @universofisico)
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