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sexta-feira, 18 de maio de 2012

Carta Aberta do Prof. Dr. Asher Kiperstok contra a entrevista do Prof. Dr. Ricardo Felício no Programa do Jô

Adianto que não concordo muito com os termos da crítica feita pelo Prof. Dr. Asher Kiperstok, Engenheiro Químico da UFBA: focado exclusivamente em termos de currículo. Claro, há algum peso se nenhuma outra informação for acessível: se não se tem ideia do que estão discutindo, alguém que estudou profundamente o tema provavelmente tem mais conhecimento de causa. Mas, dado que temos a internet, os livros, os jornais para analisar as alegações, o argumento de autoridade pode ser posto para escanteio.

De todo modo, como não vi o teor reproduzido em nenhum outro lugar, trago-o aqui para conhecimento. A informação relevante é que parte da academia está manifestando sua insatisfação com a desinformação dos negacionistas, neste caso em particular, do Prof. Dr. Ricardo Felício.

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Prezad@s,
Preocupado com o impacto causado pela entrevista do prof. Felício no programa de Jô Soares, não apenas negando, mas fazendo chacota de proeminentes cientistas que vêm nos alertando sobre o grave problema da mudança climática, coloco a vossa disposição os currículos de três importantes cientistas brasileiros que, por compreenderem a gravidade do problema tem se dedicado seriamente ao seu estudo, e o de dois professores que o negam.
Claro que cada um pode ter a opinião que quiser, sugiro apenas que verifiquem os resumos dos currículos abaixo e, se possível visitem os currículos dos mesmos por extenso nos endereços eletrônicos indicados, antes de formar uma opinião.
Quando precisamos de um especialista, seja para resolver um problema na nossa arcada dentária ou consertar nosso veículo, procuramos nos aconselhar com pessoas que tenham um currículo adequado para nos responder.
Temos que ter muito cuidado para não nos deixarmos cair no conto de charlatães. Sejam dentistas, mecânicos ou professores universitários.
O Painel Intergovernamental para a Mudança Climática, ao qual o prof. Felicio se referiu de forma jocosa, no programa do Jô, é uma instância que reúne milhares de cientistas do porte dos professores Fearnside, Nobre e Marengo, sob os auspícios da Organização Meteorológica Mundial (WMO) e do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) e que recebeu o Premio Nobel pelo seu esforço em alertar a humanidade para este gravíssimo problema.
Asher Kiperstok PhD,
Coordenador do TECLIM/UFBA


Cientistas Brasileiros que tem alertado para a gravidade do problema da mudança climática.
Philip Martin FearnsideBolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 1A
possui graduação em Biologia - Colorado College (1969), mestrado em Zoologia - University of Michigan - Ann Arbor (1974) e doutorado em Ciências Biológicas - University of Michigan - Ann Arbor (1978). Atualmente é pesquisador titular iii do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Estuda problemas ambientais na Amazônia brasileira desde 1974, inclusive morando dois anos na rodovia Transamazônica antes de entrar nas quadras do INPA em 1978. Realiza pesquisas ecológicas, incluindo a estimativa de capacidade de suporte de agro-ecossistemas tropicais para populações humanas e estudos sobre impactos e perspectivas de diferentes modos de desenvolvimento na Amazônia e sobre as mudanças ambientais decorrentes do desmatamento da região. Desde 1992 vem promovendo a captação do valor dos serviços ambientais da floresta amazônica como forma de desenvolvimento sustentável para as populações rurais na região. Em 2004 foi vencedor do Prêmio da Fundação Conrado Wessel na área de Ciência Aplicada ao Meio Ambiente. Em 2006 ele recebeu do Ministério do Meio Ambiente o Prêmio Chico Mendes com 1o lugar na área de Ciência e Tecnologia, e no mesmo ano foi identificado pelo Instituto de Informações Científicas (Thomson-ISI) como sendo o segundo mais citado cientista no mundo na área de aquecimento global (http://esi-topics.com/gwarm2006/interviews/PhilipFearnside.html). Seus trabalhos estão disponíveis através do site http://philip.inpa.gov.br.(Texto informado pelo autor)
Última atualização do currículo em 07/04/2012 Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/3176139653120353 

Carlos Afonso NobreBolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 1A
Possui graduação em Engenharia Eletrônica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (Dezembro de 1974) e doutorado em Meteorologia pelo Massachusetts Institute of Technology (Janeiro de 1983). Iniciou sua carreira profissional no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), em 1975. É pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais desde 1983. Exerce desde fevereiro de 2011 a função de Secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério de Ciência e Tecnologia-MCT. Exerceu funções de gestão no INPE: chefe do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST-INPE) de 2008 a 2011 e coordenador geral do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC-INPE) de 1991 a 2003. E também coordenação de experimentos científicos, entre outros: coordenador científico do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) durante o período de 1996 a 2002 e coordenador brasileiro do Anglo-Brazilian Climate Observations Study (ABRACOS) de 1990 a 1996. Foi representante da área Multidisciplinar da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (2005-2007). Exerceu a presidência do International Advisory Group do Programa de Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PP-G7) (2006-2008). Atualmente é o presidente do Comitê Científico do International Geosphere-Biosphere Programme (IGBP). Preside os Conselhos Diretores da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas (Rede CLIMA) e do Painel Brasileiro de Mudanças Cllimáticas. Foi coordenador do Programa FAPESP de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais (2008-2011). Representa o Brasil no International Institute for Applied System Analysis. e é membro do International Scientific Advisory Panel do Climate Change Adaptation Program, da Holanda. Tem experiência na área de Geociências, com ênfase em Meteorologia, Climatolgia e Modelagem Climática, atuando principalmente nos seguintes temas: ciências atmosféricas, clima, meteorologia, Amazônia e modelagem climática, interação biosfera-atmosfera, mudanças climáticas e desastres naturais. Ministra as disciplinas Interação Biosfera-Atmosfera e Introdução à Ciência do Sistema Terrestre, em Programas de PG do INPE.Formulou há 20 anos a hipótese da "savanização" da Amazônia em resposta a desmatamentos e vem estudando como o aquecimento global pode influenciar a floresta tropical. Já orientou 26 alunos de mestrado e doutorado. Foi um dos autores do Quarto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) que, em 2007, foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz, juntamente com Al Gore. Recebeu, em 2007, o Prêmio da Fundação Conrado Wessel, na área de Meio Ambiente. Em 2009, recebeu a Von Humboldt Medal da European Geophysical Union. Em 2010, receberá a condecoração da Classe Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico da Presidência da República. Sua produção científica foi citada mais de 4 mil vezes (dezembro de 2010) no ISI (índice h = 28) e mais de 5 mil vezes no Google Scholar.(Texto informado pelo autor)
Última atualização do currículo em 01/09/2011 Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/1608252203113404


Jose Antonio Marengo OrsiniBolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 1A
Pesquisador 1-A do CNPq. Jose A. Marengo possui graduação em Fisica y Meteorologia - Universidad Nacional Agraria (1981), mestrado em Ingenieria de Recursos de Agua y Tierra - Universidad Nacional Agraria (1987) em Lima, Peru e doutorado em Meteorologia - University of Wisconsin - Madison (1991) em EUA. Fez pos doutorado na NASA-GISS e Columbia University em Nova York e na Florida State University na Florida, EUA em modelagem climática. Foi coordenador cientifico da previsão climatica do CPTEC INPE. Atualmente é pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. É professor na pos graduação do INPE. È membro de vários painéis internacionais: IPCC, VAMOS-CLIVAR, GWSP, e é membro de grupos de trabalho no Brasil e no exterior sobre mudanças de clima. e mudanças globais . É consultor na área de estudos ambientais e de agencias de financiamento e parecerista de diversas revistas científicas e de agencias financiadoras nacionais e internacionais. É autor de artigos, capítulos de livros, livros, relatórios técnicos e trabalhos de congressos. Pelo INPE, participa atualmente de vários projetos de pesquisa, com instituições brasileiras, inglesas, francesas e americanas, e têm intensificado atividades de docência e orientação de pesquisa, além de ser membro ativo em vários conselhos participativos de clima e hidrologia, mudanças climáticas e globais. Tem experiência na área de Geociências, com ênfase em Meteorologia, atuando principalmente nos seguintes temas: Amazônia, clima, mudança de clima, e modelagem de clima. È coordenador de projetos de pesquisa nacionais e internacionais, e tem ocupado cargos administrativos no INPE, é membro do Comite CIentifico do Painel Brasileiro de Mudancas Climaticas, CLA y RE dos Relatorios do IPCC GT1 e 2, e atualmente é o Coodenador Geral do Centro de Ciencia do Sistema Terrestre CCST, e desde 2012 é Membro Titular da Academia Braslieira de Ciencias.(Texto informado pelo autor)
Última atualização do currículo em 10/04/2012 Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/5719239270509869




Cientistas brasileiros que tem feito chacota sobre o problema da mudança climática
Ricardo Augusto Felicio
Graduado em Ciências Atmosféricas - Meteorologia pela Universidade de São Paulo (1998), mestrado em Meteorologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (2003) e doutorado em Geografia (Geografia Física) pela Universidade de São Paulo (2007). Atualmente é Prof. Dr. da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Geociências, com ênfase em Geografia e Meteorologia, atuando principalmente nos seguintes temas: Climatologia Geográfica, Antártida, Meteorologia e ciclones extratropicais que atuam no Brasil e no cinturão polar. Realiza pesquisas sérias e críticas sobre a variabilidade climática e seus desdobramentos, desmistificando as "mudanças climáticas antropogênicas" e sua ideologia embutida.(Texto informado pelo autor)
Última atualização do currículo em 21/06/2011 Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/3573585906523607

 Luiz Carlos Baldicero Molion
Possui graduação em Fisica pela Universidade de São Paulo (1969), PhD em Meteorologia, University of Wisconsin, Madison (1975), pós-doutorado em Hidrologia de Florestas, Institute of Hydrology, Wallingford, UK (1982) e é fellow do Wissenschftskolleg zu Berlin, Alemanha (1990). É Pesquisador Senior aposentado do INPE/MCT e atualmente Professor Associado da Universidade Federal de Alagoas, professor visitante da Western Michigan University, professor de pós graduação da Universidade de Évora, Portugal. Tem experiência na área de Geociências, com ênfase em Dinamica de Clima, atuando principalmente em variabilidade e mudanças climáticas, Nordeste do Brasil e Amazonia, e nas áreas correlatas energias renováveis, desenvolvimento regional e dessalinização de água.É membro do Grupo Gestor da Comissão de Climatologia, Organização Meteorológica Mundial (MG/CCl/WMO).

(Texto informado pelo autor)
Última atualização do currículo em 11/05/2011 Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/5110326514774369


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sábado, 12 de maio de 2012

Ah, esses negacionistas...

... talvez eu devesse dizer: ah, esses jornalistas.

Ricardo Felício 'tá todo prosa. Agora é o Terra Notícias quem lhe dá trela. A maior parte das bobagens já discuti no GR. Destaco só este trecho da nova entrevista: "Procura na internet. São 35 mil oceanógrafos, meteorologistas dos EUA. Muita gente que não aceita essa hipótese."

O repórter deveria mesmo ter procurado na internet. Pelo menos no site das estatísticas de trabalho e emprego dos EUA do Departamento de Trabalho. Tem também este trabalho sobre estatísticas de bacharelado em Oceanografia e Meteorologia nos EUA (obrigado, @ALuizCosta).

Em 2010 eram 9.500 meteorologistas trabalhando nos EUA. De 1967 a 2004, formaram-se, em média, 240cerca de 220 oceanógrafos por ano. Mantendo-se essa média, de 1967 a 2012, teriam se formado 10.8009.900 oceanógrafos (veja que o período é de 45 anos, mesmo que todos tivessem se empregado, alguns já teriam se aposentado). Isso nos dá uns 20.30019.400 pessoas entre meteorologistas e oceanógrafos nos EUA.*

Como poderia haver 35 mil meteorologistas+oceanógrafos nos EUA que negam o aquecimento global e as mudanças climáticas? Mesmo que 100% desses profissionais negassem, seriam em torno de 20 mil.

De todo modo, a posição das associações representativas é bastante clara. Em 2007, a Associação Meteorólogica Americana declarou: "Despite the uncertainties noted above, there is adequate evidence from observations and interpretations of climate simulations to conclude that the atmosphere, ocean, and land surface are warming; that humans have significantly contributed to this change; and that further climate change will continue to have important impacts on human societies, on economies, on ecosystems, and on wildlife through the 21st century and beyond."

Em 2009, uma pesquisa com 3.146 especialistas em Ciências da Terra teve como resultado que 90% concordaram que a Terra está a passar por um período de aquecimento e 82% que as atividades humanas têm influência nesse processo.

*Upideite(12/mai/2012): Valores corrigidos após recálculo. Eu havia esquecido de fazer a conversão dos dados de coordenadas da figura na escala. (Só por coincidência, os números não foram muito diferentes. Não havia notado o problema justamente por esse fato; já que batia com a estimativa prévia que eu havia feito.)
Upideite(13/mai/2012): Em pesquisa feita pela Associação Meteorológica Americana com seus membros ao fim de 2011, dos respondentes (1.862 do total de 7.197 membros), 89% disseram que o aquecimento global está ocorrendo; 59%, que a ação humana é a principal causa do aquecimento e 11%, que a ação humana e causas naturais são as responsáveis pela elevação da temperatura, 23%, que ainda não se sabe o suficiente para dizer e apenas 6%, que as causas são naturais.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Requentando o negacionismo 2

Evitei entrar nos méritos ideológicos que levaram à elaboração, defesa e aprovação da tese negacionista do aquecimento global antropogênico.

Méritos científicos, como procurei mostrar, são nulos. Se assim for, como uma tese dessas pôde ser aprovada? No caso, é que na FFLCH há um núcleo de negacionistas climáticos. Um deles, que foi da banca examinadora da tese, deu uma entrevista à repórter Afra Balazina do Estadão.

Diz o negacionista: "Não existe um processo físico em que a entrada de energia seja menor que a saída, em outras palavras, que os gases 'gerem' um aquecimento 'criando' energia." Embora seja verdade que não haja processo físico em que saia mais energia do que entrou, não sei de onde ele tirou que os gases-estufa atuem gerando energia... Ele mesmo considera o vapor d'água como elemento controlador do clima. Será que com isso ele quereria dizer que a água gera energia? Aliás, vapor d'água é exatamente uma das vias de influência dos gases-estufa: ao provocarem um aumento inicial de temperatura, essa maior temperatura leva a uma maior evaporação de água e consequente aumento de vapor d'água atmosférico, que por sua vez também atua como gás-estufa (de efeito até maior do que o CO2 e outros). E o aumento inicial de temperatura tem sim um mecanismo explicativo: justamente o oposto do atribuído pelo negacionista, ao fazer com que (temporariamente) a entrada de energia seja *maior* do que a saída - não há uma geração de energia, mas *acúmulo*.

"Assim sendo, quando tentamos realizar debates e os chamados 'aquecimentistas' não aparecem, algo soa estranho." Pela qualidade do argumento usado acima consigo entender os motivos de não se comparecer a 'debates' assim - não há espaço possível para um debate racional. É como esperar que geofísicos sérios topem participar de eventos sobre 'terra plana'. E é a razão por que alguns biólogos evolutivos, como Dawkins, se recusemrecusam a participar de eventos de criacionistas.

Citar o Petition Project como algo sério é, em si mesmo, mostrar de falta de seriedade. Climatologistas e afins são uma minoria por lá - entre os signatários há vários médicos... sim, médicos. (Não vou nem falar da história de que a AGA é um complô dos países desenvolvidos para frearem o crescimento dos países pobres...)

Mas, enfim, negacionistas climáticos, homeopatas, ufólogos e até astromantes fazem parte da biodiversidade nas universidades brasileiras. Um indício de que a tão alardeada barreira acadêmica de temas tabus não é tão sólida assim.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Requentando o negacionismo

Eu teria muita coisa a dizer sobre a tese de doutoramento recém-defendida "'Quando o sol brilha, eles fogem para a sombra...': a ideologia do aquecimento global" na FFLCH/USP que diz: "[c]oncluímos que a hipótese do aquecimento global antropogênico não é consensual e exerce hoje a função de ideologia legitimadora do capitalismo tardio, perpetuando a exclusão social travestindo-se de compromisso com as gerações futuras".

Mas ficarei com a frase de um email reproduzido na tese que explica a rejeição de três trabalhos submetidos pela autora à 3a Conferência Regional sobre Mudanças Globais: América do Sul (São Paulo, 4-8/nov/2007): "[...] falta de fundamentação científica." (Menos de 40 artigos científicos publicados em revistas indexadas sobre o tema foram incluídos na 'revisão' - a bibliografia listada conta com 137 itens, muitos livros, por volta de duas dezenas, sobre humanidades. Não encontrei nenhuma menção ao desvio de concentração de isótopos 13 de carbono ou sobre cálculo de forçante radioativa usando a busca no pdf.)

Preciso ler com mais atenção algum dia (não é mesmo minha prioridade), no entanto, pelo que depreendi, a argumentação principal é a mesma de muitos negacionistas climáticos: há muita variação natural dos parâmetros. (Ou seja, não parece passar nem no critério de originalidade da tese.) Mais ou menos como dizer que não é possível saber se uma moeda é ou não viciada porque tanto pode dar cara como coroa - ignorando todo o processo de inferência estatística.

Upideite(11/out/2011): Dos 20 papers mais citados sobre mudanças climáticas e aquecimento global na base Thompson e produzidos entre 1999 e 2009, simplesmente *nenhum* é citado na tese.

sábado, 26 de março de 2011

Inda bem que a minoria dos brasileiros participam da Hora do Planeta

"Hein? Como assim? Endoidou? Só por causa daquela continha sobre o quanto se emite a mais de CO2 ao apagar as luzes e acender velas?"

Não, solitário leitor (ou solitária leitora) deste blogue.

O evento Hora do Planeta tem lá seu valor simbólico (embora eu seja reticente quanto à eficácia sobre a conscientização do uso racional de energia e redução da emissão de gases estufa - como outros, e.g. o pessoal do Discutindo Ecologia - e outras postagens referidas ali).

"Mas isso quer dizer então que prefere que a maioria das pessoas seja alienada quanto à questão do aquecimento global?"

Longe disso. Alhures discuto bastante o problema.

À parte do risco aumentado de incêndio que velas acesas a mais podem representar; suspeito que a rede elétrica brasileira não suportaria a grande variação de carga que ocorreria se um número significativo de brasileiros aderisse ao ato.

Não sou engenheiro elétrico, mas sei que há um pequeno lapso de tempo entre uma variação do consumo da energia elétrica da rede e a variação correspondente na potência gerada pelas usinas hidrelétricas e térmicas (e, em bem menor escala para a nossa situação, nucleares, eólicas e solares - bem solares não contam em um evento noturno). Teríamos então picos de redução e aumento de consumo - principalmente correspondente ao horário no fuso horário GMT -3h00, que é ao de Brasília e engloba a maior parte da população e a parte mais rica dela, com mais aparelhos elétricos.

No começo do evento, quando houvesse uma redução brusca de consumo, por um momento, as usinas ainda forneceriam ao sistema a potência anterior, criando uma sobrecarga. Provavelmente isso acionaria circuitos de segurança isolando regiões da rede; mas já tivemos eventos de apagões em que isso criava um efeito dominó (como o de 2009).

Ao fim do evento, quando houvesse um aumento brusco de consumo, localmente mais corrente seria "puxada", o que também poderia acionar circuitos de segurança com potencial efeito dominó.

Há também pelo menos um estudo que sugere que esse tipo de ação pode tornar as pessoas mais egoístas. (Na verdade era a respeito de compra de produtos 'verdes'.)

sábado, 12 de dezembro de 2009

Diogão e o urso canibal - passando recibo de graça

Dica de @kenmori

Diogo Mainardi resolveu meter o bedelho no assunto do aquecimento global e mudanças climáticas. Tasca em sua coluna na Veja:

Se os meteorologistas cometem erro de um dia para o outro, como posso confiar em seus prognósticos para 2050 ou, pior ainda, para 2100?

Pra quem tira sarro de um analfabetismo do molusco palaciano essa passada de recibo de ignorância científica é *muito* feia. MauMal, sapão. MauMal, Diogão.

A tia Milu nas aulas de geografia do ensino fundamental - no seu tempo era primeiro grau ou era ginasial, Mainardi? - ensinava a diferença entre tempo e clima. Os meteorologistas cuidam da questão do tempo - as condições atmosféricas em um dado momento sobre um local -, os climatologistas cuidam da questão do clima - as condições atmosféricas em um dado local ao longo de um tempo maior.

Mas vamos à sua pergunta: se erram em um intervalo menor, como podem acertar em um intervalo maior? Veja assim, Diogo. A gente joga cara e coroa. Esta moeda - ao contrário de panetônicos governadores - é honesta. A cada lance você terá 50% de chance de acertar ou errar sua previsão do resultado. Agora a gente vai fazer o seguinte: você tem que acertar quantas vezes irá dar cara em mil lançamentos. Você irá errar menos dizendo que será 500 vezes. Os desvios serão, proporcionalmente, muito menores. Se lançar 1 milhão de moedas, o desvio em relação a 50% será menor ainda.

Duvido que você questione que na região amazônica o clima é equatorial. Que as temperaturas médias anuais variam entre 24°C e 26°C e a pluviosidade passe de 3.000 mm anuais em certos locais não é algo de que se duvide. Ou pelo fato de errarem a temperatura de um dia em particular em Manaus quer dizer que o clima amazônico tem tantas chances de ser ártico quanto equatorial?

O que você fez, Diogão, foi cair na chamada falácia da composição. É um erro de raciocínio por uma generalização a partir das partes. Um exemplo bem didático: "se as células são invisíveis a olho nu e um elefante é feito de células, um elefante é invisível a olho nu". Ou "se é impossível prever quando um átomo de urânio irá se desintegrar, é impossível usar urânio como combustível nuclear". Capisce?

Um literato premiado como você deveria se preocupar mais em se manter informado. De coisas básicas assim como aquelas coisas que se pretende criticar. Você fica melhor quando se restringe a falar mal de Lula, sua anta (sim, este trecho é propositadamente dúbio - um aposto ou um vocativo?).

A propósito, o acerto das previsões *meteorológicas* atualmente está na casa dos 90 a 95% para o mesmo dia e chega a 98% ou mais para a mesma hora (dependendo do lugar - se tem mais ou menos estações de coleta de dados e das características particulares como padrão de circulação atmosférica, relevo e coisas assim - pode ser um tanto mais ou um tanto menos).

Então, na próxima vez, é só dar uma googleada, um telefonema para aquele amigo no Inpe, ou mesmo pedir para seu sobrinho passar os olhos. Bobagens crassas como essas vão rarear certamente. Aí vai ficar menos exposto a troças - especialmente por lullopetistas, petralhas e a camarilha ignara que você precisa educar.

Go, Mainardi, go! Vai, Lacraia, vai!

Obs: Quer dizer então que são 100% certas as previsões? Não. Mas, se se vai questionar, não é com base nisso, ok?

Upideite (13/12/2009): Carlos Hotta faz uma análise bem mais detalhada aqui.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Jantar a luz de velas para salvar o mundo?

No dia 29 de março, o mundo todo comemorou a Hora do Planeta, promovida pela WWF. Todas as pessoas eram convidadas a apagar as luzes por uma hora. Muitos monumentos tiveram sua iluminação reduzida, colaborando com a campanha contra o aquecimento global e poupança de energia.

A presidente chilena Michelle Bachelet e o vice-presidente americano John Biden jantaram à luz de velas.

É um gesto simbólico de boa vontade. Mas, tirando isso, há alguma racionalidade por trás de se substituir a luz elétrica pela de velas? Um pouco de contas podem nos ajudar aqui.

Em uma hora, tipicamente queimam-se cerca de 10 cm3 de cera de vela (parafina - com fórmula molecular, C25H52). A densidade da parafina varia de 0,8 a 0,9 g/cm3. Ou seja, em uma hora, consomem-se cerca de de 8 a 9 g de parafina. Considerando-se a fração mais leve, isso corresponde a 0,022727 mol por hora. Considerando-se a queima completa, isso liberaria aproximadamente 0,181818 mol de CO2.

Vamos considerar agora se se usassem de energia elétrica em dois cenários: com energia elétrica produzida em uma matriz 100% de termelétricas e uma matriz de 21,16% (este último caso corresponde à situação brasileira). Vamos considerar que seja gás natural (CH4) o combustível. E que seja usada uma lâmpada de 100 W para iluminar o local. Em uma hora, são consumidos, portanto, 360 kJ. A combustão completa de 1 mol de metano libera 802 kJ. Então corresponderia à produção de 0,448878 mol de CO2 em uma matriz 100% termelétrica. No Brasil, isso equivaleria a 0,094983 mol.

Conclusão, na Hora do Planeta, no Brasil não vale a pena ser romântico. (Claro, vale mais do que a pena substituir sempre que possível lâmpadas incandescentes por lâmpadas frias - melhor ainda se forem lâmpadas de LEDs de alto desempenho, são bem mais caras, mas não geram poluentes como mercúrio e fósforo.)