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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

"No Brasil, pagamos impostos demais". Talvez não.

O jornalista Paulo Nogueira, em seu blogue Diário do Centro do Mundo, critica editorial da Folha de São Paulo sobre a carga tributária brasileira.

Não sei exatamente a qual editorial o jornalista se refere. Há vários da Folha tratando o tema. Em um deles, o jornal sugere reduzir o PIS/Cofins (federal) e simplificar o ICMS (estadual); ainda que o ICMS seja a maior fatia da carga tributária total: 7,2% contra 4,8% do PIB.

Nogueira compara a carga tributária do Brasil. Maior do que o México, mas menor do que países escandinavos. Por outro lado, os favoráveis à redução da carga tributária, comparam com EUA e Japão, com carga menor do que a brasileira. Quem tem razão?

Pela Figura 1, vemos a relação entre a carga tributária (considerando apenas a arrecadação do governo central - no caso do Brasil, apenas impostos federais) e o IDH para 99 países.

Figura 1. Correlação entre carga tributária (como porcentagem de impostos recolhidos para o governo central em relação ao PIB) e o IDH. (Brasil: vermelho; linha vertical: média da carga tributária dos países analisados; linha horizontal: média do IDH) Ano base: 2010. Fontes: Banco Mundial e Pnud.


Se há alguma relação, é uma bem fraca em que um maior IDH corresponde a uma maior carga tributária - comportando grande variação entre países. A carga tributária brasileira é bem próxima à média dos países analisados e seu índice de desenvolvimento também corresponde praticamente à média do IDH dos países e está bem próxima à reta de correlação - isto é, não desvia muito da média de desenvolvimento dos países com carga tributária similar.

É difícil cravar que aumentar a carga tributária levará ao aumento do desenvolvimento do país. É verdade que programas como redução da pobreza, melhoria da educação e da infraestrutura, demandam maior investimento público. E maior investimento público necessita de uma maior arrecadação. Por outro lado, isso depende também de uma maior eficiência nos investimentos. Muita coisa se perde no meio do caminho, pela ineficiência e pelo desvio de verbas.

Mas a análise de Nogueira parece mais próxima à realidade revelada pelos números do que a visão classemédia de que se paga muito imposto no Brasil.

(Via Escrevinhador.)

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Ateísmo, felicidade e desenvolvimento

Abaixo seguem alguns gráficos de correlação entre porcentual de ateus em uma população (dados de 2005 - usando-se os maiores valores dos intervalos), o grau de felicidade relatado (satisfação geral com a vida) (dados de 2009) e o índice de desenvolvimento humano (dados do relatório de 2010).
Há uma razoável correlação entre o índice de desenvolvimento humano de uma nação e a felicidade reportada por seus habitantes.

Entre o grau de ateísmo da população (isto é, a fração dos habitantes que se declaram ateus - ou ao menos não-crentes em deus - a conta, a rigor, incluem os agnósticos) e o desenvolvimento do país não é tão claro. (Note-se que há menos países - ou seja, menos pontos no gráfico - em função da ausência de estimativas sobre o número de ateus e agnósticos na maioria dos países.) Parece haver uma tendência de haver menos descrentes nos países menos desenvolvimentos - não se deve aqui, no entanto, imaginar que um aumento no número de descrentes tenda a fazer o país se desenvolver mais, é bem possível que ocorra o oposto: em países mais desenvolvidos, os descrentes tenham mais oportunidades ou de assim se declararem ou mesmo de se preocuparem menos com certos tipos de questões.

Já a relação entre número de ateus e agnósticos na população e a felicidade relatada é ainda menos clara.

Alguns poréns quanto aos dados: as estatísticas sobre a fração de ateus/agnósticos são de 2005, enquanto a de felicidade são de 2009 e de IDH de 2010 (mas suponho que não tenha havido tanta variação no número de descrentes nesse período); utilizei os maiores valores para a porcentagem de descrentes (em muitos casos a faixa de variação publicada é bastante alta).

Upideite(18/ago/2011): Acrescento aqui mais um fator: a taxa de suicídio em homens. (O problema é que os dados das taxas de suicídio estão espalhados por um período bastante amplo de tempo: para alguns países os dados são de 1985 e para outros de 2001 e vários com dados de datas intermediárias. Em muitos países, as taxas oficiais de suicídio também são suspeitos: como em países de regime ditatorial, em particular em teocracias islâmicas.)

Os gráficos não são de interpretação trivial (não apenas por seu padrão e o fato de os dados não se referirem ao mesmo corte temporal, como há vários outros fatores ocultos), mas interessante observar que parece que não há uma relação direta entre felicidade da população e taxa de suicídio: as maiores taxas de suicídios são de países com grau intermediário de felicidade declarada por seus habitantes (embora não se possa dizer que países com grau intermediário de felicidade tenham maior taxa de suicídio - há uma ampla variação das taxas).

Aparentemente há menos suicídios de homens em países com grau menor de desenvolvimento.

E não parece haver uma relação clara entre ateísmo (e agnosticismo) na população e taxa de suicídio: países com maiores proporções de ateus/agnósticos não são os com maiores taxas, mas também não são os com menores.