quarta-feira, 3 de abril de 2013
Fundo judicial de blogueiros: "A gente faz, depois a gente vê"?
É uma iniciativa louvável. O que me preocupa é o aparente voluntarismo desacompanhado de planejamento. Comentei com uma pessoa envolvida na criação do fundo:
"Mas precisam escolher bem o gestor do fundo. Vai ter q ter uma equipe boa e confiável também pra administrar financeiramente o fundo. Não apenas tem que render bem e evitar desvios, ainda tem que ver se as aplicações não vão pra certas obras que usem trabalho escravo, mão de obra infantil, maltrate os funcionários, etc."
A reação foi:
"Nem tem conta ainda e você já está falando em desvio? Tenha dó!"
Verdade que as relações humanas são eminentemente calcadas na confiança mútua. Mas, especialmente em se tratando de dinheiro, é preciso cercar-se de grandes cuidados. Não dá para ser ingênuo. E o momento certo para se pensar nessas coisas é exatamente *antes* de se ter uma conta aberta. Depois que já tiver dinheiro e cometerem um desfalque será tarde demais (ou vai dar muita dor de cabeça para reaver o valor).
Tem que se gastar um tempinho sim para fazer um bom planejamento desse fundo. Deixar parado na conta corrente é perder valor das contribuições suadas. Também não dá para prender os valores em investimentos de longo prazo se se pode precisar sacar quantias significativas a qualquer momento. Só largar em uma caderneta de poupança, que atualmente rende menos do que a inflação, também é deixar a grana se corroer. Não dá também para meter em um fundo de ações com ótima rentabilidade sem olhar se na carteira não estão presentes empresas que violam sistematicamente direitos trabalhistas, exploram mão de obra infantil, sonegam impostos ou poluem o meio ambiente sem nenhuma medida de compensação. Esperar ter o dinheiro para só então ver o que fará com ele também é ineficiente - qualquer movimentação de aplicação implica em custos.
Repito, a ideia do fundo judicial é excelente. Só precisam tomar cuidado para não pecarem na execução. É preciso garantir a credibilidade e a eficiência. Sem planejamento, as tarefas ficam mais difíceis.
terça-feira, 15 de maio de 2012
Editor da Revista Fórum também não sabe ler...
O editor da Revista Fórum, Renato Rovai, publicou em meados no ano passado um artigo em que me desanca por um texto que eu não escrevi.
O texto criticado é este, intitulado "Onde se encaixam os 'Blogueiros Progressistas' no ecossistema da Democracia Digital?". Qualquer pessoa com um mínimo de atenção notará que o autor não tem nada a ver com a minha pessoa - exceto o fato de ambos sermos usuários do sítio web Observador Político.*
Minha participação nesse texto se resume aos comentários. E um em que eu basicamente discordo do ponto de vista do autor.
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"Por Roberto Takata, em 24/07/2011 às 16:10.
a) Não concordo com sua visão, Noronha. Certamente há erros por parte do grupo – eu discordo frontalmente do financiamento público do movimento -, mas não chega a ser partidário e governista. Há, claro, convergência de ideias – afinal, os governos Lula e de Dilma são do espectro da esquerda; mas há críticas por parte deles em relação a ações desses mesmos governos.
b) Depende do que se chama de ecossistema da democracia digital. De todo modo, eles são representantes de uma certa visão de mundo – uma visão que não é incompatível com uma sociedade democrática: ainda que bem diferente de uma visão de um grupo economicamente liberal, p.e.
c) Vai depender de vários fatores. Eles podem – ainda que parcialmente – integrar-se a este projeto (o que é bem pouco provável), podem se postar de modo crítico, podem apoiar ocasionalmente e divergir em outras oportunidades, podem ignorar o projeto ou se manterem distantes…
[]s,
Roberto Takata"
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O outro foi em resposta a um comentário, que só agora entendi que foi motivado pelo texto do Rovai:
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"Por Roberto Takata, em 25/07/2011 às 20:31.
@lucassantos Acho que sua resposta era para o Wagner Ferraz, criador da discussão, não a mim.
[]s,
Roberto Takata"
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Eu nem deveria falar, mas eu *contribuí* com o Primeiro Encontro de Blogueiros Progressistas.
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From: contato(at)baraodeitarare(dot)org(dot)br
Subject: Re: Encontro de Blogueiros - conta para pagamento da inscrição
To: rmtakata@xxx
Date: Mon, 9 Aug 2010 17:38:14 -0300
Roberto, Boa Tarde.
Recebi os comprovantes, estão ok.
Aproveito para agradecer em nome de toda comissão organizadora, a doação que você faz. Ela contribuirá para alguém participar do encontro.
Att,
Danielle
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*Upideite(15/mai/2012): Caso haja alguma pessoa com problemas de atenção, aí vai um screenshot da tela.
No final do texto
Upideite(17/mai/2012): Tudo certinho agora. Rovai pede desculpas via twitter.
Upideite(18/set/2013): O texto com a correção sumiu. Reapareceu a versão original. (E descobri que mais um blogue reproduziu o texto original errado do Rovai.)
Vou compilar aqui os blogues que reproduziram o texto errado:
Maria da Penha Neles
O Outro Lado da Moeda (nos comentários, Gabriel Tatagiba informa a correção)*
(Reproduziram no clipping da CUT também.)
E os que publicaram o texto com a devida correção
De Olho no Discurso
Blog do Daniel Dantas
*Upideite(18/set/2013): adido a esta data.
terça-feira, 6 de setembro de 2011
Jogando pedra na Geni (Soninha)...
Gente, olhe o assassinato de reputação aí.
1) Especulação sobre a relação pessoal dela com José Serra é de uma torpeza que me envergonha.;
2) Se ela posa ou não nua é questão novamente estritamente pessoal - conservadorismo tacanho criticar alguém por conta disso;
3) A questão do blogue do Gravataí Merengue/Fernando Gouveia sobre o contrato do BNDES, embora eu o critique por ter usado um pseudônimo e não tê-lo assumido, a justiça considerou como estritamente dentro da lei; de resto é uma desavença pessoal entre ele e Nassif fruto de um grande mal entendido; de resto, é uma ação autônoma de GM/FG, quem tiver provas de que foi ação a mando de Soninha Francine (provas, não ilações) que as apresente;
4) Pode-se criticar as decisões políticas e/ou desempenho de Soninha Francine nos cargos que ocupou. Eu tenho minhas críticas, em particular a diversas ações durante a campanha presidencial (o tweet dela do "#sabotagem #medo #coincidência" atribuindo a manobra petista/eleitoral falhas no metrô de São Paulo foi de lascar);
5) Mantenhamos a serenindade e o nível na crítica a adversários políticos.
[]s,
Roberto Takata
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Regresso progressista - resposta
É, sim, patente a baixa representação das mulheres em meio ao conjunto de blogues progressistas (esquerdistas, etc.). Mesmo no blogroll de Idelber Avelar, entre cinco dezenas de blogues considerados essenciais, menos de 10 são de mulheres ou de grupo de mulheres.
Isso é (considerado juntamente com outros elementos), sim, um índice do grau de machismo entre os blogueiros do sexo masculino (e que são progressistas ou esquerdistas - a coisa não melhora dentre os que se possam chamar de conservadores ou direitistas).
Deve-se entender que esse machismo não quer dizer necessariamente misoginia ou mesmo um menosprezo ostensivo às mulheres. A pessoa - já que mulheres também podem ser - machista pode, sinceramente, ter as mulheres em alta conta e até mesmo defender abertamente a igualdade de direitos: mas continuar a ser machista por haver incorporado a cultura dominante em nossa sociedade. Seja por um sentimento de que as mulheres são frágeis e precisam ser protegidas (e não simplesmente respeitadas), seja pelo simples não se dar conta da questão feminina.
Homens tendem a ter homens entre os amigos mais chegados. Com eles partilharão as conversas mais diversas - e, ocasionalmente, piadas machistas e acharão engraçado e receberão críticas por isso como patrulhamento do politicamente correto. É comum que membros da maioria - não necessariamente por maldade - simplesmente ignorem os problemas enfrentados pelos membros das minorias. (Uma das defesas de ações afirmativas como as cotas é justamente propiciar a convivência com a diversidade de modo a que essa miopia ou autismo seja corrigido.) Aronovich fala em pensar apenas seus próprios privilégios, eu diria também em seus próprios problemas, uma vez que um membro de uma minoria em um aspecto pode ser membro de uma maioria em outro aspecto.
Mulheres são minoriais por serem mulheres; mas uma mulher da classe média é membro da maioria em termos socioeconômicos. Sendo essa mulher feminista, pode perfeitamente acabar por ignorar a questão dos, digamos, pobres. Claro que o fato de ser membro da minoria por um aspecto ajudaria a entender, por analogia, o problema de membros de outras minorias - embora um entendimento limitado, pois as situações terão suas especificidades: para as mulheres a questão salarial pode ser uma questão importante, enquanto que não para um ateu; para um ateu a questão da aceitação em um círculo social pode ser importante, enquanto que não para uma mulher do mesmo nível socioeconômico.
A agenda atual dos que organizaram o encontro dos blogueiros progressistas tem como prioridade a relação de poder dos grupos de mídia tradicionais. Como tal centram seus esforços aí. Aliado ao fato de calhar da maioria ser composta de homens, acaba-se por, sim, tornar invisível a eles a questão da mulher. Como o fato de serem eles em sua maioria brancos, acaba por tornar invisíveis os problemas relacionados à cor. (Se verificarmos pelos blogrolls, quantos blogues de autores negros estarão listados - seja entre os blogueiros progressistas, seja entre as blogueiras feministas, ou em outro segmento - ?)
Ou não completamente invisíveis. P.e., Rodrigo Vianna trata, sim, da questão de gênero. Mas termina por não lhe ser prioridade.
Como pontua Ana Paula Diniz, há, em comum a todos, a questão da igualdade, da justiça social. É, no entanto, um tema muito vasto com diferentes ramificações: a questão de exclusão socioeconômica, da discriminação de gênero, de cor, da exclusão de deficientes físicos... Sem falar na questão ambiental, da liberdade de informação, dos direitos humanos... Há muitas causas a se abraçar e poucos braços para cingi-las. Natural que haja uma certa especialização temática, natural que tal especialização incline-se aos históricos de vida de cada um - que as experiências guiem-se pelo fato de viverem questões relacionadas às condições pessoais: é mais provável que um homossexual sofra discriminação por sua orientação sexual, assim é mais provável que um ativista da causa do combate à discriminação por orientação sexual seja um homossexual.
O importante, talvez, seja manter um espaço para o diálogo. Tais encontros são um candidato natural para tal espaço. Embora não necessite sê-lo e não deva ser o único espaço - afinal, encontros não se organizam todo dia (pelo montante de recursos e esforços necessários). Se o encontro foi criticado por algum grau de exclusivismo - quantos negros foram? quantos deficientes físicos? quantos indígenas? -, é uma oportunidade para se aperfeiçoá-lo em edições futuras: diversificando, se não a pauta, a composição das mesas, dos palestrantes e dos grupos de trabalho.
Afinal o progressismos é isso: um constante aperfeiçoamento, não?
Regresso progressista - leitora comenta
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Post muito didático, explicando muita coisa pra quem finge não ver. Sobre a parte que me toca, há uma diferença gritante entre ser moderadora de grupo e estar numa mesa. Moderadores de grupo, pelo que me lembro, havia 6 grupos, 2 pra cada, um total de 12 blogueiros, e ainda assim, quantas eram mulheres? Duas? Três? Nas mesas, melhor nem falar. E comigo foi assim: desde que vi o número baixíssimo de mulheres, desde que os nomes começaram a ser divulgados, eu deixei um ou dois comentários no Vi o Mundo reclamando disso. No 1o comentário, fui solenemente ignorada. No 2o, a Maria Frô conversou comigo. E no final, devido a um esforço individual DELA, fui chamada. Antes mesmo disso repeti diversas vezes que blogueiros progressistas homens ignoram a existência de blogs escritos por mulheres. Quer um exemplo? Vamos ver o blogroll deles.
O Eduardo do Cidadania tem 30 blogs linkados, e quantos desses são de mulheres? NENHUM. O blog do Renato Rovai tem 13 blogs linkados. Nenhum de mulheres. O do Leandro Fortes tem 18 blogs linkados. Um é de uma blogueira, aleluia! O do Rodrigo Vianna tem 21 endereços como “sites que eu indico”. Tem um de uma mulher – o da Maria Frô. O do Miro tá cheio de “sítios” linkados. Não vou contar quantos são, mas algo me diz que os de mulheres não devem chegar a 10% (chutando alto). Preciso continuar? Ou tá uma boa amostra pra provar que, de fato, esses blogueiros que fazem parte da comissão do Blogueiros Progressistas NÃO conhecem blogs de mulheres? Ou eles conhecem, e eles só não têm o costume de linkar blogs de mulheres? E por que não, se linkam de homens? (vamos ficar na hipótese de que realmente não conhecem blogs de mulheres. É melhor do que achar que eles conhecem e simplesmente não consideram NENHUM digno de link).
Depois, quando veio a entrevista do Lula, eu demorei um monte pra me manifestar, apesar de DE CARA pensar, quando vi que não havia mulheres: "Oops, eles cometeram esse erro de novo!". E o fato é que nenhuma mulher acabou indo. Depois, muito depois, disseram ter convidado 4 blogueiras (sendo que uma não tem blog), e fico feliz que, apesar de no blogroll dessas feras não constar quase nenhuma blogueiras, eles conheçam QUATRO. Uau, quatro blogueiras inteiras! Quando as 4 disseram que não podiam ir, eles convidaram mais alguém? O processo não teve transparência nenhuma, e muita gente reclamou da falta de mulheres, porque, no ano em que elegemos nossa 1a mulher, pegou mal pacas. E muitos desses blogueiros reconheceram o erro. Eles não percebem, porém, que essa falta de mulheres nos seus blogrolls, nos eventos, nas entrevistas, não é coincidência. É consequência do seu machismo. De ignorarem blogueiras, de não quererem conhecer seus blogs. Mas eles ficam ofendidíssimos quando alguém fala de machismo. E, dessa forma, do alto da sua falta de auto-crítica, do alto de seus egos corporativistas, eles não se permitem mudar. Por isso que eu digo, desde o começo, que o episódio com Nassif não foi isolado. Aí, quando Idelber aponta o óbvio (que é preciso se inteirar sobre feminismo, ao invés de ignorá-lo), eles se unem, furiosos, pra destruir reputações. Essa é a nova mídia? Olhando daqui, parece bastante com a velha.
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Regresso progressista
A crítica de Idelber Avelar incluiu elementos de questionamentos a respeito da denominação de "blogueiros progressistas" - particularmente dos organizadores do 1o Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas. O que suscitou, claro, respostas de alguns destes: Eduardo Guimarães (endossada por Luiz Carlos Azenha*) e Rodrigo Vianna.
Aqui há alguns equívocos e incompreesões mútuas.
Idelber Avelar termina por fazer uma generalização indevida. Em sua crítica começa com "alguns dos blogueiros autoidentificados [...] como 'progressistas'", mas logo em seguida isso se torna: "O progressismo blogueiro..."]. Como Avelar resolveu não nomear os criticados, abriu espaço para que terceiros se sentissem atingidos.
Avelar critica a adoção do termo 'progressista'. Mas essa crítica existiu dentro do próprio grupo que organizou o encontro e dele participou - e acabou sendo posta para votação durante o encontro.
Também observa que entre os principais participantes, poucas eram mulheres. De fato, mais homens que mulheres estiveram entre os debatedores e os que conduziram os trabalhos, mas já no início da organização houve preocupação com a representação das mulheres: "PS do Viomundo: Atendendo ao justo protesto de internautas, o Viomundo vai encaminhar moção para incluir três blogueiras na mesa de sábado (eu Azenha, darei lugar à Conceição Oliveira)". Dentre as que foram chamadas para organizar os trabalhos estava ninguém menos que Lola Aronovich (no grupo 2). (Não que isso prove que não exista machismo: onde houver um homem, lá estará um machista - quase que podemos dizer. Mas houve sim preocupação com a representação feminina. Que elas cobrem, como a própria Aronovich, por espaço igualitário é mais do que saudável.)
Se Avelar cobra, com toda razão, maior conhecimento da história da participação das mulheres, entre outras coisas, na evolução dos blogues - incluindo da ala progressista (ou esquerdista ou a denominação que dê); parece ter-lhe faltado um pouco mais de conhecimento da história da organização do evento que critica.
Por outro lado, ao rebater as críticas de Avelar, Eduardo Guimarães e Rodrigo Vianna demonstraram também falta de conhecimento a respeito do trabalho do próprio Avelar. Guimarães diz que Avelar não teve papel algum na contraposição da cobertura midiática do recente processo eleitoral presidencial brasileiro. Isso não é verdade. P.e. Avelar foi um dos que cravaram que a violação do sigilo fiscal de pessoas ligadas ao candidato Serra foi obra do jornalista Amaury Ribeiro Jr. trabalhando para Aécio Neves; também denunciou a participação de funcionárias da Secretaria de Educação do Estado em horário eleitoral. Na verdade, o acompanhamento do processo eleitoral foi tão intenso que o blogue Biscoito Fino e a Massa
Guimarães ainda diz que Avelar ataca Nassif há tempos e cita uma postagem em que Avelar critica Nassif e defende Gravataí Merengue. Mas o mesmo Avelar critica Merengue, com base em informações passadas por Nassif, pelo blogue que este criou para atacar Nassif.
Vianna diz que Avelar, em sua crítica, faz um sofismo: Nassif é sexista, Nassif participou do encontro de blogueiros progressistas, portanto blogueiros progressistas são sexistas. Isso *não* foi dito por Avelar. Avelar acabou cometendo um erro de generalização, mas a base foi outra: o pouco destaque e reconhecimento dado pelos organizadores do encontro aos trabalhos das mulheres. Vianna ainda escreve: "Dizem que ele é mesmo professor". Avelar *é* professor e pode ser facilmente conferido no sítio web da Universidade de Tulane.
*Upideite(22/dez/2010): Azenha também dá sua resposta aqui sem nomear diretamente os alvos da crítica.