terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Regresso progressista

As discussões a respeito do equívoco de Nassif ao dar guarida a uma provocação fortemente machista tiveram um desdobramento para além da questão estritamente do feminismo.

A crítica de Idelber Avelar incluiu elementos de questionamentos a respeito da denominação de "blogueiros progressistas" - particularmente dos organizadores do 1o Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas. O que suscitou, claro, respostas de alguns destes: Eduardo Guimarães (endossada por Luiz Carlos Azenha*) e Rodrigo Vianna.

Aqui há alguns equívocos e incompreesões mútuas.

Idelber Avelar termina por fazer uma generalização indevida. Em sua crítica começa com "alguns dos blogueiros autoidentificados [...] como 'progressistas'", mas logo em seguida isso se torna: "O progressismo blogueiro..."]. Como Avelar resolveu não nomear os criticados, abriu espaço para que terceiros se sentissem atingidos.

Avelar critica a adoção do termo 'progressista'. Mas essa crítica existiu dentro do próprio grupo que organizou o encontro e dele participou - e acabou sendo posta para votação durante o encontro.

Também observa que entre os principais participantes, poucas eram mulheres. De fato, mais homens que mulheres estiveram entre os debatedores e os que conduziram os trabalhos, mas já no início da organização houve preocupação com a representação das mulheres: "PS do Viomundo: Atendendo ao justo protesto de internautas, o Viomundo vai encaminhar moção para incluir três blogueiras na mesa de sábado (eu Azenha, darei lugar à Conceição Oliveira)". Dentre as que foram chamadas para organizar os trabalhos estava ninguém menos que Lola Aronovich (no grupo 2). (Não que isso prove que não exista machismo: onde houver um homem, lá estará um machista - quase que podemos dizer. Mas houve sim preocupação com a representação feminina. Que elas cobrem, como a própria Aronovich, por espaço igualitário é mais do que saudável.)

Se Avelar cobra, com toda razão, maior conhecimento da história da participação das mulheres, entre outras coisas, na evolução dos blogues - incluindo da ala progressista (ou esquerdista ou a denominação que dê); parece ter-lhe faltado um pouco mais de conhecimento da história da organização do evento que critica.

Por outro lado, ao rebater as críticas de Avelar, Eduardo Guimarães e Rodrigo Vianna demonstraram também falta de conhecimento a respeito do trabalho do próprio Avelar. Guimarães diz que Avelar não teve papel algum na contraposição da cobertura midiática do recente processo eleitoral presidencial brasileiro. Isso não é verdade. P.e. Avelar foi um dos que cravaram que a violação do sigilo fiscal de pessoas ligadas ao candidato Serra foi obra do jornalista Amaury Ribeiro Jr. trabalhando para Aécio Neves; também denunciou a participação de funcionárias da Secretaria de Educação do Estado em horário eleitoral. Na verdade, o acompanhamento do processo eleitoral foi tão intenso que o blogue Biscoito Fino e a Massa, durante o processo eleitoral, ficou praticamente monotemático, o que levou à reclamação de parte dos leitores com o abandono de outros temas como a literatura.

Guimarães ainda diz que Avelar ataca Nassif há tempos e cita uma postagem em que Avelar critica Nassif e defende Gravataí Merengue. Mas o mesmo Avelar critica Merengue, com base em informações passadas por Nassif, pelo blogue que este criou para atacar Nassif.

Vianna diz que Avelar, em sua crítica, faz um sofismo: Nassif é sexista, Nassif participou do encontro de blogueiros progressistas, portanto blogueiros progressistas são sexistas. Isso *não* foi dito por Avelar. Avelar acabou cometendo um erro de generalização, mas a base foi outra: o pouco destaque e reconhecimento dado pelos organizadores do encontro aos trabalhos das mulheres. Vianna ainda escreve: "Dizem que ele é mesmo professor". Avelar *é* professor e pode ser facilmente conferido no sítio web da Universidade de Tulane.

*Upideite(22/dez/2010): Azenha também dá sua resposta aqui sem nomear diretamente os alvos da crítica.

3 comentários:

lola aronovich disse...

Post muito didático, explicando muita coisa pra quem finge não ver. Sobre a parte que me toca, há uma diferença gritante entre ser moderadora de grupo e estar numa mesa. Moderadores de grupo, pelo que me lembro, havia 6 grupos, 2 pra cada, um total de 12 blogueiros, e ainda assim, quantas eram mulheres? Duas? Três? Nas mesas, melhor nem falar. E comigo foi assim: desde que vi o número baixíssimo de mulheres, desde que os nomes começaram a ser divulgados, eu deixei um ou dois comentários no Vi o Mundo reclamando disso. No 1o comentário, fui solenemente ignorada. No 2o, a Maria Frô conversou comigo. E no final, devido a um esforço individual DELA, fui chamada. Antes mesmo disso repeti diversas vezes que blogueiros progressistas homens ignoram a existência de blogs escritos por mulheres. Quer um exemplo? Vamos ver o blogroll deles.
O Eduardo do Cidadania tem 30 blogs linkados, e quantos desses são de mulheres? NENHUM. O blog do Renato Rovai tem 13 blogs linkados. Nenhum de mulheres. O do Leandro Fortes tem 18 blogs linkados. Um é de uma blogueira, aleluia! O do Rodrigo Vianna tem 21 endereços como “sites que eu indico”. Tem um de uma mulher – o da Maria Frô. O do Miro tá cheio de “sítios” linkados. Não vou contar quantos são, mas algo me diz que os de mulheres não devem chegar a 10% (chutando alto). Preciso continuar? Ou tá uma boa amostra pra provar que, de fato, esses blogueiros que fazem parte da comissão do Blogueiros Progressistas NÃO conhecem blogs de mulheres? Ou eles conhecem, e eles só não têm o costume de linkar blogs de mulheres? E por que não, se linkam de homens? (vamos ficar na hipótese de que realmente não conhecem blogs de mulheres. É melhor do que achar que eles conhecem e simplesmente não consideram NENHUM digno de link).

lola aronovich disse...

Depois, quando veio a entrevista do Lula, eu demorei um monte pra me manifestar, apesar de DE CARA pensar, quando vi que não havia mulheres: "Oops, eles cometeram esse erro de novo!". E o fato é que nenhuma mulher acabou indo. Depois, muito depois, disseram ter convidado 4 blogueiras (sendo que uma não tem blog), e fico feliz que, apesar de no blogroll dessas feras não constar quase nenhuma blogueiras, eles conheçam QUATRO. Uau, quatro blogueiras inteiras! Quando as 4 disseram que não podiam ir, eles convidaram mais alguém? O processo não teve transparência nenhuma, e muita gente reclamou da falta de mulheres, porque, no ano em que elegemos nossa 1a mulher, pegou mal pacas. E muitos desses blogueiros reconheceram o erro. Eles não percebem, porém, que essa falta de mulheres nos seus blogrolls, nos eventos, nas entrevistas, não é coincidência. É consequência do seu machismo. De ignorarem blogueiras, de não quererem conhecer seus blogs. Mas eles ficam ofendidíssimos quando alguém fala de machismo. E, dessa forma, do alto da sua falta de auto-crítica, do alto de seus egos corporativistas, eles não se permitem mudar. Por isso que eu digo, desde o começo, que o episódio com Nassif não foi isolado. Aí, quando Idelber aponta o óbvio (que é preciso se inteirar sobre feminismo, ao invés de ignorá-lo), eles se unem, furiosos, pra destruir reputações. Essa é a nova mídia? Olhando daqui, parece bastante com a velha.

none disse...

Aronovich,

Grato pela visita e comentários. Eu o subi em uma postagem.

[]s,

Roberto Takata