quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O Evangelho de Matheus

Vicente Matheus Bathe, espanhol de nascimento (castelhano de Samora, nascido a 28 de maio de 1908), brasileiro de adoção (chegou a São Paulo com seis anos de idade, naturalizando-se em 1945, ali vivendo até sua morte a 8 de fevereiro de 1997) e corintiano de predestinação, um dos presidentes mais vitoriosos do Sport Club Corinthians Paulista.

Tido por folclórico por suas frases; na verdade, à medida que o tempo passa, revela-se, por elas, um verdadeiro profeta.

"Agradeço à Antárctica pelas Brahma que nos mandaram", disse uma vez, em uma época em que eram duas empresas distintas e concorrentes renhidas. Antecipou em décadas a fusão das duas na AmBev, em 1999, dois anos depois do falecimento do eterno Matheus - posteriormente a gigante seria incorporada na multinacional belga InBev.

"Jogador de futebol tem que ser completo como um pato, que é um animal gramático e aquático." Em 2013, Alexandre Pato, com a camisa do Timão, marca um gol no empate contra o Atlético-PR, sob chuva torrencial. (Verdade que não se consta que o ex-genro de Berlusconi tenha uma verve pasqualina, mas, como dizem os americanos: close enough.)

"Quem sai na chuva é pra se queimar", já avisava, décadas antes da consciência ambiental a respeito da chuva ácida se fazer presente na ordem do dia.


Preta Gil, C&A, Photoshop: com desenho pra entender que está tudo normal

Causou celeuma semana passada algumas fotografias de divulgação de uma coleção de moda voltada para o público com sobrepeso estrelada por Preta Gil.

Particularmente uma das fotografias foi interpretada como, por uso inábil de edição por Photoshop, tendo deformado o corpo da artista: "sumiram com o ombro esquerdo", diziam uns; "cadê o pescoço?", perguntavam-se outros.

Abaixo faço uma análise gráfica da fotografia criticada.


O ombro está no lugar, apenas parcialmente oculto sob a cabeleira - que segue o contorno natural do corpo.

O interessante é que cada um viu de um jeito. Para uns, os ombros ficaram muito em cima, para outros, muito embaixo:

"O photoshop dessa foi muito grande, ela tá parecendo um monstro com os ombros lá em cima."

"Manda embora o cara do photoshop. O cara entortou os peitos, colocou o trapézio do Stallone, desceu os ombros lá embaixo, o da direita tá tortão, tem um recorte visível embaixo do braço direito dela. E essa sombra tosca? Ela tá parecendo o Hulk da seleção."

A camiseta preta e a luz chapada - e possivelmente acentuada pela edição de cor da fotografia - faz perder um tanto a noção de volume (sim, isso é um truque para deixar pessoas gordas menos volumosas em fotos - mas há outras fotos com ângulos laterais em que tal truque não tem muita razão de ser para esse fim). Como consequência, muitos interpretam erradamente a postura do corpo da modelo. Os peitos não foram entortados na edição da fotografia, eles não estão alinhados porque a porção esquerda do tronco está ligeiramente mais projetado para a frente - Preta Gil está com o corpo um pouco girado para a direita. Seus ombros estão levantados - não pelo Photoshop, mas por ela mesma, que os ergueu de modo que suas mãos entrassem (parcialmente) nos bolsos (daí as clavículas em posição em V).

Somos pós-modernos?

Tenho simpatia pelo entusiasmo dos que professam a pós-modernidade. Gosto de muitas das críticas que fazem ao mundo moderno. No mínimo, obriga-nos a pensar sobre a questão.

Minhas objeções são mais quanto à ênfase que colocam no relativismo epistemológico (a ideia de que não há uma verdade única e que cada um tem sua própria verdade - e todas igualmente válidas).

Uma outra crítica minha é quanto a uma certa falta de rigor em delimitar se o que nos apresentam é uma tentativa de descrever como o mundo é (ou lhes parece ser) ou se é um manifesto de como o mundo deveria ser. Alguns tentam disfarçar isso dando a entender que, goste-se ou não, a pós-modernidade é uma realidade irrefreável.

Uma característica muito comum nos entusiastas da pós-modernidade é alguma tendência verborrágica. Não fazem muita questão de dar definição de termos que vão desfilando. Nisso secundo as críticas de Alan Sokal e Jean Bricmont a vários autores pós-modernos.

Em recente aula que tive em um curso de jornalismo científico, o professor, notadamente entusiasta da pós-modernidade, pôs-se a listar algumas características tipicamente pós-modernas, em contraste com características tipicamente modernas (bom dizer que se enfatizou que tais características não são do tipo tudo ou nada - entre uma coisa e outra há, no mais das vezes, uma gradação entre extremos).

Uma das características listadas para a pós-modernidade (ou para o mundo pós-formal) seria o pensamento com estrutura não-linear, em rede. Exemplo do mundo moderno (ou formal) com pensamento linear seriam as narrativas dos blockbusters cinematográficos. Por outro lado, no pós-formal estariam grandes cineastas como Akira Kurosawa e Stanley Kubrick.

Bem, em assim sendo o mundo não apenas é moderno como não tem nenhuma inclinação aparente rumo à pós-modernidade. A realidade cinematográfica são os blockbusters, é o cinema pipoca. No mais das vezes, é o sucesso financeiro disso que permite se arriscar em obras mais "autorais". E não apenas no cinema - na literatura, no teatro... Do contrário, depende-se de financiamento público ou de mecenato.

Como descrição de realidade, parece-me que a filosofia *da* pós-modernidade é muito limitada.

Outra característica da pós-modernidade é a ênfase na subjetividade - a modernidade, claro, teria uma visão que buscaria uma pretensa objetividade. Até aí ok. Problema é quando se tenta apoiar a superioridade da visão pós-moderna por meio da mecânica quântica: que a realidade objetiva não existiria, que as coisas apresentam-se em vários estados ao mesmo tempo e que o observador influencia o mundo. A rigor até tem algum fundo de verdade, mas é enganador para os propósitos apresentados. Sim, na MQ, sistemas *podem* estar em estado de sobreposição, sem um valor de estado dado definido. E, sim, esse estado de sobreposição é desfeito por meio da observação. O famoso experimento mental do gato de Schrödinger.

Vamos aos poréns:
a) isso é válido para o mundo quântico: são sistemas isolados; nosso mundo "macroscópico" não é isolado e, por isso, tende a funcionar de modo clássico - equações newtonianas são mais do que o suficiente para se mandar robozinhos a Marte e sondas para os limites do sistema solar (sistemas macroscópicos em condições especiais podem se comportar quanticamente, bom dizer).
b) o observador não precisa, de modo algum, ser consciente; um fóton que interaja com um sistema em sobreposição quântica faz uma observação.
c) o observador, pelo menos pelo que se sabe até o momento, não tem poder algum sobre o *resultado* da decoerência quântica (ou colapso da função de onda): um observador consciente que deseje que o gato saia vivo da caixa terá com a mesma probabilidade um gato vivo do que um observador consciente com tendências um tanto psicopáticas de desejar que o gato saia morto.
d) quando a caixa é aberta, *todos* verão o gato no mesmo estado (tirando eventuais pessoas com problemas de visão ou mentais).

As *equações* quânticas são probabilísticas, sim. Mas as probabilidades, dadas as mesmas condições iniciais, são sempre as mesmas. E essas probabilidades se refletem na *proporção* dos resultados dos experimentos e observações em testes *repetidos* - cada teste dá um *valor definido* e *único* (dentro da margem de erro).

Talvez não exista uma realidade objetiva, há espaço para interpretação de resultados, mas isso não ocorre de modo totalmente livre. A tal interpretação hermenêutica pode ter espaço para dizer se a construção de um determinado prédio em um dado local é vantajoso ou não, mas tem pouco espaço para manipular as constantes físicas e fazer com que um arranha-céu possa ser erguido sem uma fundação devidamente calculada e permanecer em pé.

O entusiasta da pós-modernidade confia exatamente na existência de uma realidade minimamente partilhada de modo universal para poder se comunicar. Para dizer que não há realidade objetiva, precisa confiar em que seus interlocutores não irão ouvi-lo dizer "banana caramelada é doce", "depois de eras estranhas até a morte pode morrer", "batatinha quando nasce se esparrama pelo chão", etc. quando diz as palavras "a realidade objetiva não existe".

Nesse sentido, tampouco estou certo se a pós-modernidade, como um conjunto prescritivo, é algo desejável - ao menos como um programa a ser implementado em sua plenitude. Como objetivo, a filosofia *pós-modernista*, mesmo se alcançável (no que sou reticente, dada a autocontradição que encerra), deixa muito a desejar considerando-se as necessidades comunicativas de uma espécie social.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Videogames e violência: uma pequena análise da retórica denegatória

Com frequência quando há um crime violento, sobretudo cometido por jovens*, circulam especulações a respeito da influência de produtos culturais na ação do indivíduo. Como videogames são bastante disseminados e muito consumidos por crianças, adolescentes e adultos jovens (e nem tão jovens) e muitaos dos jogos de sucesso envolvem violência com algum grau de exagero - como derramamento de sangue, uso de armas de fogo e explosivos, desmembramentos... não é difícil associar uma coisa a outra.

Essa associação costuma ser apresentada de modo bastante simplista e, com frequência, há conclusões precipitadas de se pular da correlação para causação.

Não irei, aqui, analisar a validade ou não desse vínculo - pretendo fazer isso alhueres. O que quero é analisar a retórica dos que se *opõem* à apresentação dessas hipóteses.

Aqui temos uma falácia da generalização apressada. O argumento não é que *todo* indivíduo exposto a videogames violentos agiráão de forma violenta, mas sim que pode haver uma *tendência* a induzir comportamentos violentos. Apresentar *um* caso negativo (ou mesmo um punhado selecionados) é apenas uma evidência anedótica: "Minha avó fumou a vida inteira e nunca teve câncer", "Eu bebo e dirijo há décadas e nunca me envolvi em acidentes", "Eu atocho de plugues na mesma tomada e nunca pegou fogo".


Aqui há um certo espantalho. O argumento não é exatamente que jogos violentos geram assassinos, mas, sim, que o consumo de jogos violentos pode *influenciar* comportamentos e aumentar a propensão a realização de atos de violência - incluindo eventuais homicídios. Mas para o contra-argumento apresentado ter alguma validade, a premissa deveria ser: "Jogos, em geral, *determinam* o comportamento das pessoas e de modo bem específico". *Não* é essa a hipótese. Dizer que jogos com elementos X influenciam os consumidores a reproduzirem esses elementos X, não quer dizer que jogos com elementos Y influenciarão os consumidores a reproduzirem elementos Y. Os tipos de estímulos são diferentes quanto a sua natureza e à capacidade de influenciar comportamentos. Alguns estímulos são mais impactantes do que outros. Por exemplo, se você der choque toda vez que um animal escolher um determinado caminho, em pouco tempo, o animal aprenderá a evitar esse caminho. Ele irá associar as duas coisas: um dado local com choque. Mas, no momento do choque, há uma infinidades de outros estímulos simultâneos ou imediatamente antecedentes: o cheiro do laboratório, a presença do operador, barulhos dos equipamentos... Em parte porque esses outros estímulos estão tão presentes no dia-a-dia do animal que mal são percebidos. Encanadores vemos a todo momento, dinheiro também (e associados a diversas outras atividades além da especulação imobiliária). Em uma sociedade relativamente normal, no entanto, atos de extrema violência são menos comuns - até por isso nos chocamos com chacinas, mortes por desmembramentos, atos de tortura...

É possível que, sim, videogames tenham potencial de induzir a violência apenas (ou principalmente) nas pessoas com propensão natural à violência. Não quer dizer que, mesmo neste caso, os videogames tenham um efeito final nulo - serviriam como um gatilho a mais disponível no ambiente para disparar atos de violência entre as pessoas com propensão. (Certamente que isso não seria um argumento que por si só fosse suficiente para justificar a proibição de tais jogos - é preciso botar na balança eventuais benefícios, como o fator diversão para as pessoas sem propensão.)

De fato, não dá pra sermos superficiais e concluir que videogames induzem à violência somente pelos casos de crimes violentos associados ao consumo de jogos violentos, menos ainda que a partir disso devamos proibir tais jogos. Mas, por outro lado, não podemos tampouco fazer uma contra-argumentação rasa para negar a existência de qualquer relação entre ambos. Para se verificar se existe uma ligação é preciso fazer levantamentos estatísticos mais consistentes do que o que normalmente se faz - contra ou a favor -, e tais levantamentos já existem. Bem como existem testes mais controlados sobre os supostos efeitos dos games. Sobre isso planejo fazer uma postagem em outro blogue.

*Upideite(09/ago/2013): Particulamente da classe média.

Armas impressas, um não problema? Minhas cordiais discordâncias a Carlos Cardoso.

Em seu blogue no Meio Bit, Carlos Cardoso faz uma interessante provocação a respeito de armas impressas: elas não são mais perigosas do que as produzidas artesanalmente ou mesmo uma faca.

Os pontos que Cardoso levanta são bem pensados e merecem uma reflexão cuidadosa. De todo modo, eu discordo da conclusão de que a tecnologia de impressão 3D não represente um problema na questão de acesso a armas de fogo de alto poder. Essa conclusão até é válida, mas possivelmente dentro de uma janela de tempo muito limitada.

O potencial de armas de fogo em impressoras 3D é palpável para um futuro próximo. Só porque *hoje* ainda são caras e não são muito resistentes não é motivo para se acreditar que será assim para sempre ou mesmo por muito tempo. Na verdade o que inúmeras tecnologias no ensinam é que elas podem ficar rapidamente acessíveis e confiáveis. Fazer armas caseiras requer uma habilidade maior do que baixar templates e clicar em print: você precisa de, no mínimo, um torno mecânico ou macgyverismo nível 2 para criar uma usando tubos metálicos ou bambus.

Não é nada trivial fazer um cano de alma raiada para um fuzil. Com uma impressora 3D isso não requer prática nem habilidade.

Armas impressas, em resina plástica, ainda podem se tornar virtualmente indetectáveis por processos normalmente utilizados - como detetores de metais em portas giratórias.

Você tentar contrabandear armas é possível e hoje muitos o fazem. Mas elas podem ser detetadas em uma fiscalização aduaneira ou barreiras policiais. O controle sobre download de templates (operação que é necessária uma única vez) e impressão caseira é muito menor (mesmo com Mr. Obama e NSA se esforçando).

Sim, é possível imprimir uma faca. Na verdade você pode comprar várias em qualquer loja sem nenhuma fiscalização. Sim, facas podem ser usadas para matar. Mas o potencial letal de uma arma de fogo é muito maior e o potencial de defesa contra elas é muito menor. (Por isso que a maioria dos bandidos preferem armas de fogo em vez de facas. Por isso armas de fogo tendem a ser mais fortemente reguladas do que armas brancas.)

Livrar-se de uma arma de fogo tradicional ou improvisada é mais problemática do que livrar-se de uma arma impressa. Você pode jogar fora, mas ela não desaparece no ambiente. Precisaria de um alto forno para derreter o metal. Uma arma plástica pode ser destruída sem vestígios com fontes de calor ao alcance de qualquer pessoa.

Em um futuro próximo poderá ser mais barato imprimir uma arma plástica confiável e customizada em casa. E poderá ser mais seguro do que depender de traficantes de armas - você não terá testemunha de aquisição de armas, você não terá um cara que pode te matar se você não tiver dinheiro. Mesmo que Mr.Obama consiga controlar a venda de rifles, eles poderão ser produzidos em casa.

Via Luís Brudna no Facebook.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Pizza no Brasil é cara por causa da carga tributária? - Porque a Globo seria reprovada no doutorado.

Repercutindo uma reportagem do New York Times sobre o preço da pizza no Brasil, o Jornal da Globo escalou quatro repórteres para conferir: foram a uma pizzaria em São Paulo, uma em Nova Iorque, uma em Londres e outra em Tóquio. Os repórteres pediram pizzas de queijo, converteram os valores em dólares, depois em real.

A pizza mais cara foi a nova iorquina. Mas, em relação ao ganho médio dos consumidores, a paulistana certamente é a menos acessível.

Compararam com a carga tributária em relação ao PIB e concluíram que a pizza no Brasil é mais cara por causa dos impostos.

Louve-se a iniciativa do que podemos chamar de pizzometria comparativa. Legal dispuserem-se a tirar a prova dos noves e ir a campo colher dados de vários locais. Louve-se ainda o esforço para que as pizzas fossem as mais parecidas possíveis.

Mas não tem qualquer valor do ponto de vista científico e a conclusão é puramente ideológica. Não apenas a amostragem é falha (apenas um ponto e em uma cidade de cada país) e carga tributária não é um indicador adequado sobre os tributos incidentes na confecção e comercialização de pizzas como os dados *não* dão nenhum suporte à conclusão.

Abaixo coloco um gráfico de correlação entre os preços levantados das pizzas e as cargas tributárias.

Figura 1. Relação entre preço de pizza e carga tributária. Azul: Londres, vermelho: Tóquio, verde: São Paulo, branco: Nova Iorque. Fonte: Jornal da Globo.

Se há alguma correlação é que o preço da pizza é *maior* quanto *menor* a carga tributária. Em Nova Iorque, o preço da pizza foi o maior, mas a carga tributária americana é a menor entre os quatro países; a carga tributária brasileira não é muito diferente da do Reino Unido, mas a pizza londrina é muito mais barata. (Na verdade não há essa correlação porque os dados não têm relevância estatística.)

Não estou com isso concluindo nem que a carga tributária no Brasil é baixa, nem que os impostos não devam ser reduzidos ou racionalizados por reformas tributárias. Apenas demonstrando que o esforço de reportagem produziu um resultado, na melhor das hipóteses, nulo quanto à conclusão que quiseram apresentar (e, de fato, apresentaram).

Um estupro a cada 12 segundos no Brasil?

Uma nota um tanto confusa na apresentação dos dados, falta de apuração da imprensa e falta de um pouco de aritmética básica resultam em manchete do tipo:

"A cada 12 segundos uma mulher é estuprada no Brasil"
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A nota é esta:
"01/08 – Nota da ministra Eleonora Menicucci sobre a sanção do PLC 03/2013"
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O trecho é este:
"O Brasil apresenta um dos piores índices de violência contra mulheres e meninas. É alarmante o número de crianças e adolescentes abusadas e exploradas sexualmente. Estima-se que, a cada 12 segundos, uma mulher sofre violência no Brasil. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública indicam que em cinco anos os registros de estupro no Brasil aumentaram em 168%: as ocorrências subiram de 15.351 em 2005 para 41.294 em 2010. Segundo o Ministério da Saúde, de 2009 a 2012, os estupros notificados cresceram 157%; e somente entre janeiro e junho de 2012, ao menos 5.312 pessoas sofreram algum tipo de violência sexual." (Grifo meu.)

Vamos às contas. Uma hora tem 60*60 = 3.600 segundos. Ou 300 unidades de doze segundos. Em um ano isso dá: 365*24*300 = 2.628.000.

Mais de dois e meio milhões de mulheres são *estupradas* por ano no Brasil?

A nota fala em violência*. Estupro é uma das formas de violência. Não a única. Os casos notificados de estupro, segundo a nota, eram cerca de 40 mil em 2010 - se aplicarmos a taxa de crescimento apresentado seriam uns 80 mil casos registrados atualmente.

Nota: Obviamente não se diz aqui que o estupro seja um problema pequeno - ao contrário, é gravíssimo. Mesmo 40 mil já seriam uma taxa além de qualquer nível civilizatório - piora quando pensamos que há grande subnotificação.

Upideite(08/ago/2013): Pelo twitter, a SPM esclarece que se trata mesmo de uma referência a todas as formas de violência contra a mulher: a sexual, a psicológica, a física, patrimonial, moral e combinações. (Alternativamente, poderia ser a cada 12 minutos em vez de segundos se nos referirmos aos casos de estupro registrados em 2010.)

Upideite(10/nov/2013): Os casos de estupro em 2012 no Brasil foram 50.612.