sexta-feira, 30 de maio de 2014

Probabilidade: provavelmente certos criacionistas têm sérias dificuldades com isso.

Criacionista ativista sendo criacionista ativista:
http://naofo.de/b34
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Eu *claramente* indico a referência em meu texto:
"Os trabalhos de Szostak e colaboradores têm mostrado que em uma biblioteca aleatória de ARN – de cerca de 40 nucleotídeos de comprimento – há uma chance em 10^11 de que a seqüência seja funcional (no caso, que se ligue a uma molécula de ATP). [Vide: Keefe AD, Szostak JW 2001 – Functional proteins from a random-sequence library. Nature. 410: 715-8. (Este trabalho foi com proteína, mas eles obtiveram resultados similares usando ARNs também.)] Ou seja, em um simples picomol (6.10^11) de moléculas aleatórias de ARN, esperamos encontrar 6 moléculas funcionais em média." - http://migre.me/jsBAH

Keef & Szostak 2001 pode ser lido aqui: http://migre.me/jsBS9

O poia vai lá e pega uma referência nada a ver.

A probabilidade para o ARN está em Sassanfar & Szostak 1992 (http://migre.me/jsBWH), referenciado em K&S 2001: "RNAs that contain specific high-affinity binding sites for small molecules ligands immobilized on a solid support are present at a frequency of roughly one in 10^10-10^11 in pools of random sequence RNA molecules."

Mas mesmo uma probabilidade de 0,5.10^-13 é mais do que suficiente. Afinal, Ekland et al. 1995, que a criatura quer usar como contra-argumento, *encontraram* sequências funcionais. Em uma concentração da ordem de micromolar, encontraríamos em média 30 moléculas funcionais em 1 ml de solução. Podemos ainda trabalhar com picomolar com um tempo de turnover de 1 dia - em 1.000 anos teríamos a probabilidade de encontrar uma molécula funcional em um 1ml. Podemos ser ainda mais restritivos e considerar o tempo de turnover de 1 ano - em pouco menos 3,5 milhões de anos teremos uma molécula funcional por mililitro.
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Não me lembro de ter usado a expressão "o desonesto do Design Inteligente". Espero não ter que usá-la. Bem, acho que não preciso.

Upideite(30/mai/2014): O autor entrou em contato via facebook e reconheceu que errou nas referências. Ofereceu espaço como direito de resposta. Achei que não era o caso. Sugeri que colocasse uma nota de correção. Aguardemos.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Yo, Joe!

Donald "Don" Levine morreu dia 22 último aos 86 anos.

Reproduzo o que escrevi alhures há uns 8 anos:
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O criador

Don Levine (não confundir com o escritor Isaac Don Levine) cresceu entre o bairro de Forest Hills, Nova Iorque na região de Queens e a cidade de Great Neck, no estado de Long Island. Quando jovem chegou a defender seu país no torneio juvenil da Copa Davis. Formou-se em administração de negócios pela Universidade de Siracusa e foi convocado para o exército americano, participando da força de invasão de Inchon (em setembro de 1950), durante a Guerra da Coréia.

Ao sair do exército, fundou com dois outros parceiros uma agência de publicidade. Mas, à procura de uma melhor remuneração, entrou para uma empresa que fornecia cadernos de notas, diários e material escolar para lojas de, à época, grandes redes varejistas como F.W. Woolworth, J.C. Penny e Sears. Teve então a idéia de produzir uma linha de cadernos com cores delicadas voltada para meninas - a Ponytail. Seus superiores não se empolgaram; ele, então apresentou seu projeto para algumas redes varejistas, o que o fez ser demitido.

Merril Hassenfeld, presidente da Hassenfeld Toys - que mais tarde se tornaria uma das gigantes do setor de brinquedos, a Hasbro - havia ouvido falar do sucesso de Levine com a Ponytail e, em um encontro na sede da Hasenfeld em Providence, Rhode Island, ofereceu a Levine um cargo. Posteriormente, Hassenfeld propôs a Levine o comando de uma nova companhia que produziria a linha Ponytail para entrar no florescente mercado jovem.

Em 1963, Levine era vice-presidente e diretor de marketing e desenvolvimento da Hasbro Toys. Um agente chamado Stan Weston, inspirado no program de TV The Lieutenant, decidiu levar a idéia de uma linha de bonecos militares para a empresa. Levine e sua equipe trabalharam no desenvolvimento. Surgia o GI Joe. Esse brinquedo tornaria Don Levine uma lenda do mundo da indústria de brinquedos.

Em 1975, Levine deixou a Hasbro e fundou sua própria empresa, a Kenya - atualmente uma das principais empresas fabricantes de bonecas - a primeira linha de bonecas de características afro-americanas a atingir altas vendas. A empresa atual de Levine, a Family Values, LLC, tem uma ação diversificada de brinquedos, livros, músicas e vídeos - como o nome da empresa sugere - explorando o crescente mercado americano de produtos religiosos.
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HT Soraya Bassicheto

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Política para vândalos e manifestantes coxinhas: Lição 11 #ProtestaBR

Salários de professores.

"Brasil, vamos acordar; o professor vale mais que o Neymar" - protesto entoado em 2014, mas também em 2013.

O salário de Neymar é de 108 milhões EUR por ano ou 45,59 27,38 milhões BRL/mês.

Em 2012 eram 2.095.013 de professores na educação básica brasileira. Em 2009, apenas cerca de 16,4% trabalhavam exclusivamente na rede privada. Então, um salário de Neymar para cerca de 1.750.000 equivaleria a um gasto de 574.311.941.903.470 575.572.726.150.840 BRL/ano - mais de 118 vezes o PIB do Brasil.

Claro que Neymar é apenas um símbolo. O protesto é para que os professores sejam tão valorizados quanto os jogadores de futebol na média. Bem...

82% dos jogadores de futebol no Brasil recebiam em 2012 menos de 2 S.M. (1.448 BRL/mês em valores de 2014). O piso salarial dos professores é de 1.567 BRL - embora 5 redes estaduais não obedecessem ao piso em 2011, a média na rede municipal e estadual era de 2.265 BRL/mês. Tenho a ligeira impressão de que os políticos atenderiam a essa vontade popular com o maior prazer.

Ok, bem, então os professores da rede pública deveriam ser tão valorizados quanto os da rede privada. Bem...

Professores da rede pública recebem em média 11% a mais do que os da rede privada - considerando-se os benefícios, recebem 38% a mais.

Não digo que os professores recebam bem, longe disso, professores do ensino básico deveriam receber pelo menos tanto quanto os professores do ensino superior - o salário médio deveria dobrar. É ótimo que os manifestantes demonstrem preocupação com a educação. Só deveriam escolher uma comparação melhor.

sábado, 10 de maio de 2014

O que há por trás da reportagem do Viomundo criticando Edward Tehovnik?

Pra dizer a verdade, não sei. Tenho lá minhas hipóteses, mas não pretendo aventá-las aqui.

O título desta postagem é enganoso, mas tem apenas a intenção de emular o título da reportagem do Viomundo (recuso-me a dar o link para isso, mas é facilmente encontrável no sítio web deles ou pelo Google) sobre as críticas ao projeto encabeçado pelo neurocientista Miguel Nicolelis.

Antes que digam:
a) Sou admirador confesso do trabalho de Nicolelis. E já manifestei isso alhures.
b) Discordo de várias críticas ao projeto WalkAgain.
c) Gosto, de modo geral, do trabalho do Viomundo.
d) Minha visão política pertence ao espectro da esquerda.

Dito isso, manifesto minha contrariedade com o tom da reportagem do Viomundo. Analisar as críticas ao trabalho de Nicolelis é importante - tão importante quanto a análise crítica ao trabalho dele. Porém, a reportagem envereda por um lado quase pessoal. (Sim, a reportagem tampouco esclarece o que há por trás das críticas - com a diferença que avança hipóteses não substanciadas.)

Até entendo a bronca e a má vontade quando são chamados de macacos (ou papagaios) de Nicolelis. Porém, qual a importância de se Edward Tehovnik é antipetista? Poderiam analisar as críticas dele e mostrar como são erradas. Mas disso extrair juízo de valor para afirmar que Tehovnik não tem moral para criticar o trabalho de Nicolelis? O que isso diz sobre a validade ou não da preocupação com a taxa de transferência de informação na interface por EEG?

Se os autores têm ou não publicações na área tem alguma relevância. Porém não absoluta. As reticências quanto às taxas de transferência de dados foram publicadas em uma revista científica e submetida a avaliação por pares. Senão, quais as credenciais científicas da equipe de Viomundo para criticar cientificamente as críticas científicas do grupo de Tehovnik? (É possível que a taxa de transferência atualmente seja baixa, mas é bom ter em mente que a demonstração é apenas um passo - pun intended - inicial do projeto, que continuará no desenvolvimento do exoesqueleto. Nunca se prometeu entregar um protótipo 100% funcional pronto para produção comercial.)

A publicação de emails pessoais, no entanto, é antiética. Não traz nenhuma informação relevante do ponto de vista jornalístico. Usaram termos chulos. E daí? Se publicássemos os palavrões que as pessoas soltam em comunicações pessoais... A publicização disso é pura fofoca. Invasão de privacidade. *Isso* é grave.

Ridícula a insinuação de que Larry C. Woods seja um macaco. A menos que o Viomundo tenha aderido à tag #somostodosmacacos, não há registro de macacos que escrevam email com habilidade humana. (Por mais capazes na linguagem de sinais que tenham sido Koko e Washoe.)

Bola fora total do Viomundo. Espero que o exoesqueleto do Nicolelis tenha um chute mais calibrado.

Obs: Tentarei entrevistar o Dr. Tehovnik para o Gene Repórter. Veremos.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

O Brasil, em fração de PIB, gasta mais em educação do que a Alemanha. E daí?

A nova (nem tão nova) ladainha é que o Brasil gasta, proporcionalmente a seu PIB, muito mais em educação do que países desenvolvidos e com sistema educacional muito mais avançado.

A ideia é menos enfatizar que gastamos mal - o que é verdade (será?) - do que insinuar que gastamos muito: virão acoplados argumentos de que dá pra fazer mais com muito menos. Não precisamos, afinal, gastar tanto em educação e estão errados aqueles que defendem que é preciso aumentar os investimentos na área (anátema pior: defender o aumento dos salários dos professores).

Omitem nesse argumento que não faz nenhum sentido - ou pelo menos está para se demonstrar a existência de sentido - em comparar gastos educacionais proporcionais ao PIB, em vez de gastos por aluno (ou per capita). Nisso - gastos por aluno - estamos *muito* atrás de Alemanha, Cingapura, Noruega, etc.

Não faz sentido comparar gastos em proporção ao PIB: países têm populações com quantidades diferentes de indivíduos em idade escolar e o PIB não é proporcional ao número de estudantes. De modo geral, quanto maiores os investimentos por aluno em educação - surpresa! - melhor o desempenho dos alunos em exames padronizados como o PISA (Fig. 1). (Se tem um país que parece gastar mal é Luxemburgo.)

Figura 1. Relação entre investimento em educação por aluno e desempenho no exame PISA (média para leitura, matemática e ciências). Em vermelho, Brasil; em amarelo, Alemanha. Ano: 2009.

Upideite(10/mai/2014): A figura abaixo (Fig. 2) mostra uma análise da eficiência de investimentos educacionais.

Figura 2. Eficiência de investimento educacional. No painel à esquerda, uma curva de ajuste linear maximizada (com descarte de pontos) entre desempenho no PISA e o investimento por aluno; no painel à direita, uma curva de ajuste linear maximizada (com descarte de pontos) entre o índice de eficiência de investimento e o investimento por aluno. O índice de eficiência foi calculado a partir da divisão entre o total de pontos no PISA acima do valor mínimo calculado pela curva de ajuste no painel à esquerda dividido pelo montante investido por aluno. Ano 2009.

A eficiência de investimento educacional no Brasil está dentro do esperado em relação ao montante investido por aluno. Para maximizá-lo, é preciso *aumentar* o investimento até cerca de 4.500 USD PPP; ou seja, dobrar o montante investido em 2009. Como em 2009 eram investidos cerca de 5% do PIB em educação, isso significa que o objetivo de 10% do PIB em educação é exatamente o que deve ser perseguido para a situação atual do país.