quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Saída de Nassif da Folha v. 2.1/5.0 - II

Em uma postagem anterior fiz um rápido resumo da questão (do modo como eu vejo, claro) e publiquei uma mensagem de Otavio Frias Filho.

Acho que faltaram algumas informações em minha tentativa de sumarizar o imbróglio. Abaixo publico a mensagem original que enviei ao ombudsman da Folha de São Paulo (naturalmente omitirei o meu endereço pessoal de email: não que seja difícil de encontrá-lo - se alguém quiser mandar alguma mensagem, é pelo hotmail -, mas apenas para não deixar um alvo fácil para spams; omito também as mensagens apensadas ao fim de cada email, que apenas reproduz o que vai em ordem cronológica).

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From: rmtakata@xxx
To: ombudsman@xxx
Subject: Info sobre demissao de Luis Nassif
Date: Tue, 15 Jul 2008 11:05:35 -0300

Prezado Sr. Ombusdman Carlos Eduardo Lins da Silva,

Nesta semana o colunista Diogo Mainardi escreveu na Veja sobre a causa da demissão do jornalista Luis Nassif da Folha de São Paulo:

"Ele foi demitido da Folha de S.Paulo pouco tempo depois, por causa de um fato ainda mais nauseabundo: a suspeita de ter usado seus artigos no jornal para achacar o governo de Geraldo Alckmin. Em 2004, Luis Nassif convidou o secretário Saulo de Castro para um fórum de debates organizado por sua empresa, Dinheiro Vivo. O detalhe sórdido era o seguinte: para o secretário poder participar do evento, o governo paulista teria de desembolsar 50.000 reais. Saulo de Castro negou o pedido.

Em 2005, Luis Nassif voltou à carga, cobrando uma tarifa ligeiramente mais modesta, de 35.000 reais. A assessora de Saulo de Castro mandou um e-mail para o chefe com este comentário: "Não é à toa que a empresa se chama Dinheiro Vivo". Saulo de Castro negou o pedido mais uma vez. Luis Nassif decidiu retaliar. Em sua coluna, passou a atacar sistematicamente o governo Alckmin, em particular o secretário Saulo de Castro. Quando o diretor da Folha de S.Paulo, Otavio Frias Filho, foi informado das suspeitas em torno de Luis Nassif, demitiu-o imediatamente. Nesta semana, falei sobre o episódio com Otavio Frias Filho. Ele confirmou."

http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/160708/mainardi.shtml

Gostaria de confirmar essa informação.

Sem mais para o momento, agradeço desde já.

Cordialmente,

Roberto Takata
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Ao que o ombudsman respondeu:

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Date: Tue, 15 Jul 2008 14:06:43 -0300
From: ombudsma@xxx
To: rmtakata@xxx
Subject: OMBUDSMAN FOLHA SP
CC: ombconfirmado@xxx

Caro Sr. Roberto:

Também estou tentando obter essa informação. Otavio Frias Filho está em férias e inacessível. Assim que eu tiver uma palavra dele, eu o informarei.

Um abraço,

Carlos Eduardo Lins da Silva
Ombudsman - Folha de S.Paulo

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Três meses depois, tornei a entrar em contato:

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From: rmtakata@xxx
To: ombudsma@xxx
Subject: RE: OMBUDSMAN FOLHA SP
Date: Thu, 16 Oct 2008 05:09:43 -0200

Prezado Sr. Ombudsman Carlos Eduardo Lins da Silva,

Já há uma confirmação ou negação por parte do Sr. Otavio Frias Filho?

Grato,

Roberto Takata

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Ele me respondeu:

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From: ombudsma@xxx
To: rmtakata@xxx
Subject: Re: OMBUDSMAN FOLHA SP
Date: Thu, 16 Oct 2008 16:22:56 -0300

Caro Sr. Roberto:

Estou encaminhando sua questão para a Direção de Redação para que ela lhe responda diretamente.

Um abraço,

Carlos Eduardo Lins da Silva
Ombudsman - Folha de S.Paulo

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Quatro dias depois:

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Date: Mon, 20 Oct 2008 17:08:26 -0300
From: ombudsma@xxx
To: rmtakata@xxx
Subject: OMBUDSMAN FOLHA SP
CC: ombconfirmado@xxx

Caro Sr. Roberto Takata:

Abaixo, a resposta que recebi do diretor de Redação para a sua indagação.

“Não confirmo o que afirmou Diogo Mainardi na passagem em questão. Limitei-me a dizer a esse colunista, que me dirigiu na época perguntas a respeito, que a substituição da coluna de Luís Nassif na Folha deveu-se a vários motivos. Um desses motivos, assinalei, eram indícios de que o colunista não estava sendo suficientemente cuidadoso ao separar sua atividade como colunista de sua atividade à frente da agência Dinheiro Vivo. “

Um abraço,

Carlos Eduardo Lins da Silva
Ombudsman - Folha de S.Paulo

Manifestação:
Suzana,

o que responder a ele? Grato.

Carlos Eduardo Lins da Silva
Ombudsman - Folha de S.Paulo

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Finalizando, respondi:

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From: rmtakata@xxx
To: ombudsma@xxx
Subject: RE: OMBUDSMAN FOLHA SP
Date: Tue, 21 Oct 2008 06:28:20 -0200

Prezado Sr. Ombudsman Carlos Eduardo Lins da Silva,

Muitíssimo obrigado pela informação. V. Sra. e Folha mais uma vez cumprem com a tradição de clareza e transparência.

Cordialmente,

Roberto Takata

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O colunista Reinaldo Azevedo, da revista Veja, reproduziu a resposta de Otavio Frias Filho que publiquei. Ali ele se refere a um "nassifista" (entre aspas). Não sei se ele se refere a mim; é possível que sim, a resposta de Frias Filho havia sido publicada aqui e na seção de comentários de uma postagem do blogue Imprensa Marrom (em um comentário que eu mesmo enviei, claro) - mas não é possível se ter certeza, pois não se fez nenhuma remissão para a página com a postagem neste blogue.

Em se confirmando que o adjetivo se refere a mim, eu não me considero um nassifista (com ou sem aspas). (Sim, frequento o blogue do jornalista Luis Nassif.)

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Mezzo mezzo 2: É matemática pura

Como disse na postagem abaixo, não sou contra a limitação da meia-entrada - defendo até mesmo sua extinção para estudantes (sim, poderiam ser criadas carteirinhas especiais para estudantes de baixa renda).

Mas é de lascar os argumentos usados pelos defensores de cotas para meias-entradas. Segundo a Gabriela Duarte, hoje ninguém mais paga inteira. Segundo os atores e produtores de cinema, os preços dos ingressos irão cair 40%.

Vamos supor que hoje 100% dos ingressos sejam meia-entrada (o que é certamente um exagero). Vamos supor que haja a alegada queda de 40% no preço final dos ingressos. E vamos supor que os 60% de vagas de inteiras sejam preenchidas. Isso é o princípio da misericórdia na argumentação: aceitam-se todas as premissas dadas como verdadeiras.

Hoje a arrecadação média seria de: 1* 0% + 0,5*100% = 0,5.
(Preço da inteira, fração dos que pagam inteira; preço da meia, fração dos que pagam meia; preço médio final.)

Com a lei aprovada:
0,6*60% + 0,3*40% = 0,36 + 0,12 = 0,48.

Há uma *queda* relativa de 0,02/0,5 = 4% na arrecadação por sessão por espectador.

Podem alegar que, com a queda nos preços, haverá um aumento no total de espectadores, compensando a diminuição na arrecadação por sessão por espectador. Seria uma alegação justificável. Mas tem um porém, isso significa que basta baixar o preço dos ingressos para aumentar o público, isso independentemente de cotas.

Como diz Wagner Moura, é pura matemática.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Mezzo mezzo

Os artistas fizeram lobby para a aprovação no Senado de lei que modifica a venda de meia-entrada para estudantes. O projeto de lei (n. 188/2007) de autoria do Senador Eduardo Azeredo (PSDB) estabelece o limite para a concessão de meias-entradas em 40%.

Segundo o argumento dos artistas, a meia-entrada acaba encarecendo os ingressos, diminuindo a participação do público e a remuneração dos artistas. Dizem que, com as cotas, o preço dos ingressos irão diminuir em 30 a 40%.

Duvido muito que haja diminuição no preço dos ingressos dos espetáculos. Mas acho a demanda justa.

Eu, porém, vou além. Defendo o fim completo da meia-entrada para estudantes. E, em mais um passo, defendo que filmes, espetáculos e quetais produzidos com verbas oriundas de leis de incentivo à cultura com renúncia fiscal, tenham descontos *universais* no preço dos ingressos ou dos exemplares proporcionais ao montante representado por tais verbas: por exemplo, se um filme foi 100% financiado através da Lei Rouanet, os ingressos desses filmes devem ter um desconto de 80% valendo para *todo mundo*. (Afinal, a renúncia fiscal encarece o imposto de todo mundo, como disse muito apropriadamente o ator Wagner Moura sobre a influência das meias-entradas no preço final: é matemática pura...)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Santo processo, Batman!

Autoridades de uma localidade da Turquia que se chama Batman querem processar os responsáveis pelos filmes do herói Batman da DC Comics.

Se a moda pega:
Ajax, Ontário, Canadá
Bane, Nigéria
DC (District of Columbia), EUA
Flash, Staffordshire, RU
Joker, Texas, EUA
Marvel, Colorado, EUA
Penguin, Tasmânia, Austrália
Phoenix, Arizona, EUA
Taz, Casaquistão
Thor, Iowa, EUA
Wolverine, Michigan, EUA

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Xanas e cia.

Quantas xanas você conhece?
1) partes pudendas das mulheres
a) chana; b) channa; c) xana; d) shanna; e) shana; f) xanna
2) planície, baixada
a) chana; b) channa; c) xana; d) shanna; e) shana; f) xanna
3) ... Motors, montadora chinesa de automóveis
a) Chana; b) Channa; c) Xana; d) Shanna; e) Shana; f) Xanna
4) ... Masson, goleira da seleção brasileira feminina de handebol no Pan 2007 e nas Olimpíadas 2008
a) Chana; b) Channa; c) Xana; d) Shanna; e) Shana; f) Xanna
5) personagem da Marvel Comics, esposa de Ka-Zar
a) Chana; b) Channa; c) Xana; d) Shanna; e) Shana; f) Xanna
6) pessoa embrigada; bêbado
a) chana; b) channa; c) xana; d) shanna; e) shana; f) xanna
7) ... Moakler, miss EUA de 1995, Playmate do mês em 12/2001; modelo-atriz-cantora
a) Chana; b) Channa; c) Xana; d) Shanna; e) Shana Moakler; f) Xanna
8) ... Petrone, cantora country americana, intérprete de "Heaven Bound" e "This time"
a) Chana; b) Channa; c) Xana; d) Shanna; e) Shana; f) Xanna
9) ... Crooks, cantora de pop/rock americana, gravou "Love & Misery" e "I'll be Your Scape"
a) Chana; b) Channa; c) Xana; d) Shanna; e) Shana; f) Xanna
10) ... masala; ensopado paquistanês e do norte da Índia à base de grão-de-bico
a) chana; b) channa; c) xana; d) shanna; e) shana; f) xanna
11) O ... do Bernardino, restaurante português de cozinha regional localizado em Redondo
a) Chana; b) Channa; c) Xana; d) Shanna; e) Shana; f) Xanna
12) Gênero do peixe de respiração aérea conhecido como "snakehead"
a) Chana; b) Channa; c) Xana; d) Shanna; e) Shana; f) Xanna
13) Personagem mitológico das Astúrias e de Leão (Espanha), parecida com uma fada
a) chana; b) channa; c) xana; d) shanna; e) shana; f) xanna
14) Gênero fóssil de braquiópodo devoniano
a) Chana; b) Channa; c) Xana; d) Shanna; e) Shana; f) Xanna
15) Servo fiel ao príncipe Siddharta e seu condutor de carruagem
a) Chana; b) Channa; c) Xana; d) Shanna; e) Shana; f) Xanna
16) Certa linguagem de programação
a) CHANA; b) CHANNA; c) XANA; d) SHANNA; e) SHANA; f) XANNA
17) Programa de computador, vilão no desenho animado Code Lyoko
a) CHANA; b) CHANNA; c) XANA; d) SHANNA; e) SHANA; f) XANNA
18) Cidade paquistanesa, 33°12'N/70°13E
a) Chana; b) Channa; c) Xana; d) Shanna; e) Shana; f) Xanna

Respostas:
1-a; 2-a; 3-a; 4-a; 5-d; 6-a; 7-d; 8-e; 9-d; 10-a; 11-a; 12-b; 13-c; 14-c; 15-b; 16-c; 17-c; 18-e

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Saída de Nassif da Folha v. 2.1/5.0

Provavelmente acabarei bancando o inocente útil para algum lado (se não todos) ao me meter nesse briga de cachorro grande.

A história do imbróglio pode, creio, ser resumida assim:
- Nassif publica artigo em sua coluna na Folha, na qual critica Mainardi por abrir off de um deputado a respeito do Mensalão.
- Mainardi publica coluna na Veja criticando Nassif e acusando-o de reproduzir sem mencionar autoria texto de outra pessoa (Luís Roberto de Marco).
- Nassif sai da Folha. Publica em seu blog uma série de textos críticos (muito críticos) a respeito das ações da Veja e alguns jornalistas.
- Reinaldo Azevedo publica em seu blog na Veja, sem mencionar nomes, que Nassif foi demitido da Folha por aceitar dinheiro (suborno) de empreiteiras. (v. 1.0)
- Otavio Frias Filho em entrevista ao portal Imprensa diz que a saída de Nassif foi em função da reformulação periódica do jornal e que desconhece fatos desabonadores sobre a vida profissional do jornalista. (v. 2.0)
- Leonardo Attuch publica artigo no Comunique-se dizendo que Nassif foi demitido da Folha por causa da coluna de Marnardi sobre Nassif ter usado texto de outra pessoa. (v. 3.0)
- Mainardi publica coluna na Veja dizendo que Nassif foi demitido da Folha por usar a coluna no jornal para tentar achacar o governo de Alckmin. Escreve ainda que, em conversa com o diretor da Folha, Otavio Frias Filho, este havia confirmado. (v. 4.0)

À época que essa coluna de Mainardi saiu, ocorreu o falecimento da esposa de Otavio Frias Filho (pouco depois da morte do pai dele), tendo eu enviado um email ao ombudsman do jornal, o jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, este retornou dizendo que também tentara contatar Frias para comentar a acusação, mas que ele estava afastado e incomunicável. Recentemente, tornei a contatar o ombudsman sobre o tema. Ele repassou a pergunta para a direção do jornal e obtive a resposta abaixo:

"Não confirmo o que afirmou Diogo Mainardi na passagem em questão. Limitei-me a dizer a esse colunista, que me dirigiu na época perguntas a respeito, que a substituição da coluna de Luís Nassif na Folha deveu-se a vários motivos. Um desses motivos, assinalei, eram indícios de que o colunista não estava sendo suficientemente cuidadoso ao separar sua atividade como colunista de sua atividade à frente da agência Dinheiro Vivo." (v. 2.1 ou v. 5.0, já que tem diferenças importantes em relação à v. 2.0)

Bem, cada qual poderá interpretar a reposta de Otavio Frias Filho do modo que lhe for mais conveniente. A minha interpretação é, somada à resposta primeira de Frias ao portal Imprensa, que a direção da Folha perdeu a confiança em Nassif, mas não que tenha visto alguma irregularidade criminal (v. 6.0?). (Claro, se eu fosse jornalista insistiria em esclarecer o que significa exatamente "não ser suficientemente cuidadoso". De minha parte, porém, dou-me por satisfeito: até prova em contrário, não houve nada demais.)

Upidêite: 23 de outubro de 2008. Nassif solicitou cópia do email com a resposta de Frias Filho. Atendi e enviei com "CC" à Folha para maior transparência. Minha torcida, claro, é para que tudo se esclareça a contento.

Upidêite 2: 03 de dezembro de 2008.
Luis Nassif comenta (25/11) mais sobre a questão.
Reinaldo Azevedo comenta (25/11) mais sobre a questão.
Eu (03/12) publico a íntegra do teor dos emails que troquei com o ombudsman da Folha.

Sla. Ma che?

O Terra Magazine traz uma reportagem interessante sobre o drama do ex-jogador de futebol Stefano Borgonovo e sua luta contra a esclerose lateral amiotrófica, a mesma que acomete o físico Stephen Hawking.

Destaco apenas um trecho que me pareceu estranho:
"O juiz Raffaele Guariniello, de Turim, especializado em inquéritos sobre o doping, está tentando responder a uma pergunta difícil: por que a incidência da ELA é muito mais alta entre os jogadores de futebol do que no resto da população italiana? A cada ano, na Itália a 'stronza' afeta 6 pessoas entre 100.000; mas em 10 anos 43 ex-jogadores adoeceram."

Se a taxa fosse igual à da população em geral, isso projetaria uma subpopulação de cerca de 720.000 jogadores. Mas segundo a Fifa, na Itália, há mais de 1,5 milhão de jogadores registrados, em um total de quase 5 milhões de jogadores de futebol na Velha Bota. Como assim, então, seria muito mais alta entre jogadores de futebol? Ao contrário, parece ser muito mais baixa!

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Das pesquisas eleitorais

Muitas pessoas falando dos erros das previsões das pesquisas de boca-de-urna para o resultado do 1o turno das eleições municipais realizadas dia 5 de outubro último. Inclusive gente séria como Alberto Dines. E a chiadeira não é novidade, reaparece a cada eleição.

Algumas coisas têm cabimento nas ponderações feitas: pesquisa não é destino, há margem de erro e erro além da margem de erro. Eventualmente tem sim manipulações - embora empresas que dependem de sua credibilidade procurem cercar-se de cuidados na produção dos resultados.

Por simplificação, os institutos de pesquisa e as empresas de comunicação dão para cada pesquisa um único número de margem de erro: os valores de cada ponto podem estar acima ou abaixo do valor apontado dentro da margem de erro. Alguns detalham e indicam que a margem de erro significa que, se 100 pesquisas fossem feitas com a mesma metodologia e com as mesmas condições, em 95 delas os valores estariam dentro dessa margem de erro dada. Isso é simplificação - na verdade cada ponto tem sua própria margem de erro, mas explicar isso pode demandar tempo demais ou espaço demais em um telejornal ou em um jornal impresso. Simplificado o quanto seja, isso não está tão longe assim da realidade. Aqui uma explicação mais detalhada.

Mas será mesmo que os institutos de pesquisa erraram? O caso mais comentado é o resultado do 1o turno em São Paulo. Na pesquisa de boca-de-urna do Ibope, Marta (PT) aparecia com 36% e Kassab (DEM), com 32%. No resultado oficial, Kassab ficou com 34% e Marta com 32%. Como pode isso?

Vamos observar a tabela com os resultados das pesquisas de boca-de-urna do Ibope com o resultado final computados pelo TSE:

Cidade Candidato (partido) previsão resultado
Belo Horizonte - MG Márcio Lacerda (PSB) 45% 44%
m.e. 3% Leonardo Quintão (PMDB) 38% 41%




São Paulo - SP Marta (PT) 36% 33%
m.e. 2% Kassab (DEM) 32% 34%

Alckmin (PSDB) 21% 22%




Rio de Janeiro - RJ Eduardo Paes (PMDB) 33% 32%
m.e. 2% Fernando Gabeira (PV) 23% 26%

Marcelo Crivella (PRB) 20% 19%




Florianópolis - SC Dário (PMDB) 43% 40%
m.e. 3% Espiridião Amin (PP) 23% 25%




Porto Alegre - RS José Fogaça (PMDB) 39% 44%
m.e. 2% Maria do Rosário (PT) 23% 23%

Manuela D'Ávila (PCdoB) 19% 15%




Belém - PA Duciomar Costa (PTB) 33% 35%
m.e. 2% José Priante (PMDB) 21% 19%

Mário Cardoso (PT) 19% 18%




Recife - PE João da Costa (PT) 54% 52%
m.e. 2% Mendonça Filho (DEM) 24% 25%




Curitiba - PR Beto Richa (PSDB) 78% 77%
m.e. 2% Gleisi (PT) 19% 18%




Salvador - BA João Henrique (PMDB) 31% 31%
m.e. 2% Walter Pinheiro (PT) 31% 30%

ACM Neto (DEM) 27% 27%




Fortaleza - CE Luizianne Lins (PT) 53% 50%
m.e. 2% Moroni (DEM) 25% 25%

Patricia (PDT) 15% 15%


Apenas quatro entradas (de 26) da tabela ficaram fora da margem de erro. Por uma proporção simplória de 5%, seriam esperadas 1,3 entradas fora da margem, mas pelo pequeno número de entradas, é possível haver esse desvio sem maiores problemas. A coisa começaria a ficar ruim se, por exemplo, 30 entradas de 260 estivessem fora. (Essa análise é simplória, pois, entre outras coisas, está a considerar a margem única divulgada nas pesquisas.)

Mas os resultados batem com quem vence no 1o turno e quem vai para o 2o. A única inversão na ordem é o caso de São Paulo que causou muita celeuma. Porém, se compararmos os números, Kassab, Marta e Alckmin tiveram votações compatíveis com os resultados da boca-de-urna: Kassab teve 34% e a pesquisa indicava que ele teria entre 30 e 34%. Marta teve 33%, não muito longe da margem estimada entre 34 e 38%. Alckmin com seus 22%, está bem dentro da faixa de 19 a 23%. Isso para uma taxa de acerto de 95%. É perfeitamente possível que os valores fiquem fora da margem - ficando complicado apenas quando fica muito fora ou muitas entradas ficam fora.

O que é surpreendente é, na verdade, o grande grau de aproximação entre a estimativa e o resultado final. Especialmente quando temos em mente que os entrevistados não têm obrigação alguma de dizer a verdade e revelar seu voto (cujo sigilo é um direito constitucional).

A proximidade entre os resultados da pesquisa e a totalização indica também que é pouco provável que tenha havido manipulação direta: tanto na pesquisa, quanto no processo eleitoral.

Há quem classifique a possibilidade de influência do resultado da pesquisa sobre o voto como manipulação - a respeitável opinião de Dines se aproxima disso. Eu discordo, se a pessoa deseja votar em quem está a frente, é direito dela.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Space quota exceeded

Tendo em vista o julgamento ora suspenso pelo STF do mérito das chamadas cotas (ou quotas) raciais estabelecidas pelo Prouni, voltou à baila a questão da legalidade/constitucionalidade das cotas (e outros mecanismos de políticas de ações afirmativas).

Enxergo muitos equívocos nesta discussão - em alguns círculos ainda nos prendemos a questões básicas (como a negação da existência de discriminação racial! - vide, por exemplo, o famigerado "Não somos racistas" de Ali Kamel, 2006, Ed. Nova Fronteira, 143 pp). Tantos equívocos que é difícil enumerar, mesmo classificá-los de acordo com a relevância...

Talvez uma das primeiras coisas a fazer é esclarecer o uso de termos.

*Racismo* (preconceito racial) é diferente de *discriminação*.

Discriminação
- Segundo a OIT (e vários órgãos e estudiosos de temas sociais), discriminação é:
"Qualquer distinção, exclusão ou preferência feita com base em raça, cor, sexo, religião, opinião política, nacionalidade ou origem social, que tenha como efeito anular ou dificultar a eqüidade de oportunidade e de tratamento em um emprego ou ocupação" (Artigo 1.1a)

No documento em que a discriminação é assim definida, os autores são explícitos em alguns pontos que são implicados por isso:
- *não* há necessidade de intenção nessa situação de discriminação;
- efeitos diretos e indiretos da discriminação são considerados;
- *não* há discriminação quando se adotam medidas especiais que procurem garantir a eqüidade de acesso aos recursos sociais e econômicos ou quando a distinção se baseia em necessidades especiais inerentes a uma dada ocupação (por exemplo, contratar especificamente atores brancos para viver Abraham Lincoln, ou contratar pessoas do sexo masculino para monitorar banheiros masculinos).

Preconceito
Já racismo, envolve preconceito, e preconceito é definido como:
"Atitude injustificada, em geral negativa, em relação a outras pessoas por pertencerem a um determinada categoria social ou grupo".

Isto é, o racismo é o preconceito baseado em raça.

(Note-se que preconceito como termo das ciências sociais tem pouco a ver com "pré-conceito", a disposição não precisa ser apriorística.)

Racismo
A OIT define assim, então, o racismo:
"Construto ideológico que designa a uma dada raça e/ou grupo étnico uma posição de poder sobre os demais com base em seus atributos físicos e culturais, bem como em sua riqueza econômica, envolvendo relações hierárquicas em que a raça dita superior exerce domínio e controle sobre as demais."

Reforçando, então, discriminação é a restrição do acesso a bens e serviços sociais e econômicos a um dado grupo social. Para haver discriminação não é preciso haver preconceito - uma opinião negativa em relação a um dado grupo social. Por exemplo, o dono de uma loja que impeça a entrada de negros porque a freguesia não quer, não está necessariamente sendo preconceituoso - está apenas agindo de acordo com interesses econômicos (que os fregueses continuem a freqüentar o estabelecimento), o dono pode ter a melhor opinião possível a respeito dos negros -, mas o efeito é que há discriminação - o impedimento do acesso baseado no pertencimento a um dado grupo social. E também pode haver preconceito sem discriminação. O dono de outra loja pode ter as piores opiniões a respeito de negros, mas desde que não impeça sua entrada e permanência na loja, não os trate de forma diferente a que trata fregueses não-negros, não há discriminação.

Outro termo que muitas vezes é mal compreendido pelo público é o de minorias.

Minoria
Minoria social é definida como:
"Grupo subordinado cujos membros têm controle e poder sobre suas vidas significativamente menores do que os membros de um grupo dominante (a maioria). Um grupo que passa por um estreitamento de suas oportunidades (sucesso, educação, riqueza, etc) que é desproporcionalmente baixa em comparação ao número de membros na sociedade."

Não está limitada à questão matemática, estatística, numérica, censitária. Um grupo minoritário pode ter efetivamente mais pessoas do que um grupo majoritário.

Raça
O conceito de raça nestas discussões é o de raça social e não raça biológica. Raça (social) é definida como:
"Grupo para o qual se assume que haja base biológica, mas que na verdade é definida de modo culturalmente arbitrário"

Isso significa que cada cultura tem sua própria concepção do que seja raça e que a inexistência de diferenças genéticas que impliquem em evolução distinta de linhagens (mas que ainda não produziram especiação) só permite dizer que não há raças biológicas (subespécie), não implica na inexistência de raças sociais - uma construção social.

Nos Estados Unidos, negro é quem é filho de negro (pai ou mãe) - não importa que seja branquíssimo. No Brasil, negro é quem tem a pele mais escura (e algumas características como cabelo naturalmente encaracolado, nariz mais largo, lábios carnudos e outros). Essa é a prática social. (Vide, por exemplo, Rocha e Rosemberg 2007.)

Ações afirmativas
A OIT assim define ações afirmativas*:
"pacote coerente de medidas, de caráter temporário, objetivando especificamente a correção da posição de membros de um grupo-alvo em um ou mais aspectos de suas vidas sociais, de modo a se obter eqüidade efetiva"

Destacam-se:
- o caráter *temporário* (até que o efeito esperado se complete);
- o objetivo é de inserção social dos membros do grupo atingido - não estão voltadas para combater o preconceito e sim a discriminação;
- como dito no tópico sobre a definição de discriminação, ações afirmativas *não* são discriminatórias - elas procuram *incluir* membros de um grupo excluído e não excluir membros de um grupo.

*Upideite(28/fev/2013): Link quebrado. Mas é a mesma definição é adotada pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas.