Algumas coisas têm cabimento nas ponderações feitas: pesquisa não é destino, há margem de erro e erro além da margem de erro. Eventualmente tem sim manipulações - embora empresas que dependem de sua credibilidade procurem cercar-se de cuidados na produção dos resultados.
Por simplificação, os institutos de pesquisa e as empresas de comunicação dão para cada pesquisa um único número de margem de erro: os valores de cada ponto podem estar acima ou abaixo do valor apontado dentro da margem de erro. Alguns detalham e indicam que a margem de erro significa que, se 100 pesquisas fossem feitas com a mesma metodologia e com as mesmas condições, em 95 delas os valores estariam dentro dessa margem de erro dada. Isso é simplificação - na verdade cada ponto tem sua própria margem de erro, mas explicar isso pode demandar tempo demais ou espaço demais em um telejornal ou em um jornal impresso. Simplificado o quanto seja, isso não está tão longe assim da realidade. Aqui uma explicação mais detalhada.
Mas será mesmo que os institutos de pesquisa erraram? O caso mais comentado é o resultado do 1o turno em São Paulo. Na pesquisa de boca-de-urna do Ibope, Marta (PT) aparecia com 36% e Kassab (DEM), com 32%. No resultado oficial, Kassab ficou com 34% e Marta com 32%. Como pode isso?
Vamos observar a tabela com os resultados das pesquisas de boca-de-urna do Ibope com o resultado final computados pelo TSE:
Cidade | Candidato (partido) | previsão | resultado |
Belo Horizonte - MG | Márcio Lacerda (PSB) | 45% | 44% |
m.e. 3% | Leonardo Quintão (PMDB) | 38% | 41% |
São Paulo - SP | Marta (PT) | 36% | 33% |
m.e. 2% | Kassab (DEM) | 32% | 34% |
Alckmin (PSDB) | 21% | 22% | |
Rio de Janeiro - RJ | Eduardo Paes (PMDB) | 33% | 32% |
m.e. 2% | Fernando Gabeira (PV) | 23% | 26% |
Marcelo Crivella (PRB) | 20% | 19% | |
Florianópolis - SC | Dário (PMDB) | 43% | 40% |
m.e. 3% | Espiridião Amin (PP) | 23% | 25% |
Porto Alegre - RS | José Fogaça (PMDB) | 39% | 44% |
m.e. 2% | Maria do Rosário (PT) | 23% | 23% |
Manuela D'Ávila (PCdoB) | 19% | 15% | |
Belém - PA | Duciomar Costa (PTB) | 33% | 35% |
m.e. 2% | José Priante (PMDB) | 21% | 19% |
Mário Cardoso (PT) | 19% | 18% | |
Recife - PE | João da Costa (PT) | 54% | 52% |
m.e. 2% | Mendonça Filho (DEM) | 24% | 25% |
Curitiba - PR | Beto Richa (PSDB) | 78% | 77% |
m.e. 2% | Gleisi (PT) | 19% | 18% |
Salvador - BA | João Henrique (PMDB) | 31% | 31% |
m.e. 2% | Walter Pinheiro (PT) | 31% | 30% |
ACM Neto (DEM) | 27% | 27% | |
Fortaleza - CE | Luizianne Lins (PT) | 53% | 50% |
m.e. 2% | Moroni (DEM) | 25% | 25% |
Patricia (PDT) | 15% | 15% |
Apenas quatro entradas (de 26) da tabela ficaram fora da margem de erro. Por uma proporção simplória de 5%, seriam esperadas 1,3 entradas fora da margem, mas pelo pequeno número de entradas, é possível haver esse desvio sem maiores problemas. A coisa começaria a ficar ruim se, por exemplo, 30 entradas de 260 estivessem fora. (Essa análise é simplória, pois, entre outras coisas, está a considerar a margem única divulgada nas pesquisas.)
Mas os resultados batem com quem vence no 1o turno e quem vai para o 2o. A única inversão na ordem é o caso de São Paulo que causou muita celeuma. Porém, se compararmos os números, Kassab, Marta e Alckmin tiveram votações compatíveis com os resultados da boca-de-urna: Kassab teve 34% e a pesquisa indicava que ele teria entre 30 e 34%. Marta teve 33%, não muito longe da margem estimada entre 34 e 38%. Alckmin com seus 22%, está bem dentro da faixa de 19 a 23%. Isso para uma taxa de acerto de 95%. É perfeitamente possível que os valores fiquem fora da margem - ficando complicado apenas quando fica muito fora ou muitas entradas ficam fora.
O que é surpreendente é, na verdade, o grande grau de aproximação entre a estimativa e o resultado final. Especialmente quando temos em mente que os entrevistados não têm obrigação alguma de dizer a verdade e revelar seu voto (cujo sigilo é um direito constitucional).
A proximidade entre os resultados da pesquisa e a totalização indica também que é pouco provável que tenha havido manipulação direta: tanto na pesquisa, quanto no processo eleitoral.
Há quem classifique a possibilidade de influência do resultado da pesquisa sobre o voto como manipulação - a respeitável opinião de Dines se aproxima disso. Eu discordo, se a pessoa deseja votar em quem está a frente, é direito dela.
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