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quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Corinthians, gigante desde sempre

Alguns importantes marcos e conquistas não esportivas do Sport Club Corinthians Pauista.
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1918.
"Todo mundo ficava doente. [...] O Corinthians divulgou humilde comunicado afirmando que, sendo composto em sua maioria por operários, sentia-se 'na obrigação de vir, apesar de sua insignificante valia, concorrer, com seu esforço [...] para alívio dos infelizes operários atacados pela pandemia que assola esta capital'. Assim, embora 'pobre por sua natureza', achou-se 'forte para sair de seu modesto canto' e abrir uma lista de contribuições aos sócios e admiradores, cuja arrecadação seria destinada à Cruz Vermelha." Pp: 187-8.
TOLEDO 2015.

1925
"Segundo depoimentos, além de seu próprio testemunho, Rebolo foi um pioneiro na luta para que o negro fosse incorporado ao futebol das ligas oficiais. Conhecia o assunto e manifestou-se contra a segregação que predominava nas primeiras décadas do século XX. Inclusive, ele mesmo foi jogador de futebol de 1917 a 1932, antes de se tornar artista: no Corinthians, clube para o qual desenharia o emblema definitivo, nos anos 1930, jogou de 1922 a 1927.

Em 1975, Rebolo contou, não sem indignação, sobre o preconceito: 'Um absurdo, mas existia mesmo essa interdição. Os times da elite não admitiam a entrada de jogadores negros. No meu tempo de jogador, não havia negros em nenhum time. Acabou minha carreira e posso assegurar que não joguei com preto e nem contra pretos, nos jogos da Liga; eu só tinha colegas negros na várzea.. Eu me recordo de que no Corinthians surgiu um mulato chamado Tatu, que jogava muita bola, era um craque. Certa vez, num jogo entre Corinthians e Paulistano, o Tatu marcou o gol da vitória. A cidade ficou tomada, com gente fazendo discurso, já foi uma vitória do povão.'" P. 230

RODRIGUES, Mário. O negro no futebol brasileiro. Mauad Ed. 343 pp.

1979.
"Quando a polícia começou a subir os degraus da arquibancada, os torcedores da Gaviões da Fiel deram-se os braços e fecharam o caminho. Os soldados da Polícia Militar ainda tentaram forçar a passagem mas, nas fileiras de trás, milhares de outros corinthianos, braços dados, formando uma massa compacta, começaram a gritar, ameaçando descer as escadarias do estádio do Morumbi. O comando do policiamento deve ter avaliado a situação e dado uma contra-ordem, porque os PMs recuaram, desistindo de chegar até nós.
- 'Eles estavam falando da nossa faixa'- rádio de pilha colado no ouvido, boné e camiseta do Corinthians e um sorriso nos lábios, o torcedor a meu lado informava a reação no estádio. Eu jamais o vira antes e nem o encontrei depois, mas nunca o pronome possessivo na primeira pessoa do plural me pareceu tão saboroso.
'Anistia, ampla, geral e irrestrita' – dizia a faixa, e o fato dele a chamar de 'nossa' tinha, para mim, pelo menos, um significado que ultrapassava em muito aquela fugaz solidariedade que se estabelece nos campos de futebol entre torcedores do mesmo time: a bandeira era minha e da torcida do Corinthians."

FON, A.C. 2006. Depoimento à Fundação Perseu Abramo.

1983. Final do Paulista.
Jogadores do Timão entram com a faixa: "Ganhar ou perder. Sempre com Democracia."

2014.
"E aqui não há, e nem pode haver, homofobia. Pelo fim de grito de 'bicha' no tiro de meta do goleiro adversário. Porque a homofobia, além de ir contra o princípio de igualdade que está no DNA corinthiano, ainda pode prejudicar o Timão. Aqui é Corinthians!"

Manifesto contra a homofobia.

2016.
"Refugiados vivem um dia inesquecível em acolhida promovida pelo Corinthians"

2017
Suspende por tempo indeterminado atleta de MMA por homofobia.

2020
"O Corinthians colocará as suas instalações à disposição do Estado e da Prefeitura de São Paulo para ajudar no combate contra a pandemia de coronavírus. Através de nota em seu site oficial, o clube confirmou que disponibiliza a Arena, o CT Joaquim Grava e sua sede social para auxiliar na luta contra o Covid-19."
Gazeta Esportiva

domingo, 31 de agosto de 2014

A operação de readequação sexual no programa da Marina Silva

Um antes e depois do texto do programa de governo da Senadora Marina Silva para as eleições presidenciais de 2014.

Sumiu todo o trecho a respeito da transfobia. Não se fala mais em sociedade sexista, heteronormativa e excludente em relação às diferenças (virou apenas diferenças de visões de mundo e sugere que a questão da sexualidade é simplesmente uma das "escolhas feitas em cada área da vida"). Se um certo pastor pressionar um pouco mais, vão tirar completamente menção à sexualidade (agora restrita somente ao cabeçalho introdutório - ui!).

Entre as propostas, claro, tiraram a menção àao PL 122 de criminalização da homofobia. Casamento civil vira somente união civil - e não há mais compromisso de apoiar propostas sobre a questão. Não se compromete mais a aprovar o PL Identidade de Gênero Brasileira (lei João W. Nery), só a cumpri-la caso se transforme em lei (o que é óbvio, constitucionalmente todo mundo é obrigado a obedecer à lei e fazê-la cumprir). Não se fala mais em eliminar obstáculo à adoção por casais homoafetivos, diz-se em fazer as mesmas exigências a casais homo e heteroafetivos (em princípio é o que deve ser, mas isso pode significar obstáculos diferenciais - digamos, passe a se exigir tanto de casais homo como hetero garantias dos avós). Deixa de se comprometer a produzir materiais didáticos sobre orientação sexual e novas formas de família (afinal, família é só a velha: homem e mulher). Sumiu o compromisso de manter e ampliar os programas atuais. E não vai mais dar efetividade ao Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos LGBT, só vai levar em consideração (o que permite analisar e ignorar).
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LGBT
Não podemos mais permitir que os direitos humanos e a dignidade das minorias sexuais continuem sendo violados em nome do preconceito. O direito de vivenciar a sexualidade e o direito às oportunidades devem ser garantidos a todos, indistintamente.
Texto original Texto malafaizado
Ainda que tenhamos dificuldade para admitir, vivemos em uma sociedade sexista, heteronormativa e excludente em relação às diferenças. Os direitos humanos e a dignidade das pessoas são constantemente violados e guiados, sobretudo, pela cultura hegemônica de grupos majoritários (brancos, heterossexuais, homens etc.). Uma sociedade em que somente a maioria – seus valores, tabus e interesses – é atendida pelo poder político, enquanto as minorias sociais e sexuais silenciam, não pode ser considerada democrática. É preciso olhar com respeito às demandas de grupos minoritários e de grupos discriminados. A população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) encontra-se no rol dos que carecem de políticas públicas específicas.

O direito de expressar sentimentos e vivenciar a sexualidade deve ser garantido a todos. As demandas da população LGBT já estão nas agendas internacionais. No Brasil, no entanto, precisamos superar o fundamentalismo incrustrado no Legislativo e nos diversos aparelhos estatais, que condenam o processo de reconhecimento dos direitos LGBT e interferem nele.

A Constituição de 1988 prega a liberdade e a igualdade de todas as brasileiras e todos os brasileiros sem distinção de qualquer natureza. Contudo, dados da Secretária Nacional de Direitos Humanos mostram que, de 2011 a 2012, os crimes homofóbicos cresceram 11% em nosso país. De acordo com o Grupo Gay da Bahia, houve 338 assassinatos com motivação homofóbica e transfóbica só no ano de 2012. Tais crimes maculam nossa democracia e ofendem o princípio da convivência na diversidade.

No seio da própria categoria, travestis e transexuais são o grupo mais vulnerável e invisível socialmente. A grande maioria deixa a escola ainda muito jovem. A discriminação sofrida por causa da identidade de gênero divergente faz com que tenham dificuldades para concluir os estudos. É necessário gerar um ambiente que assegure formação e capacitação profissional aos transgêneros.

Como o preconceito é difuso e muitas vezes mascarado, enfrentá-lo é tarefa intersetorial que envolve não só o governo, mas também as esferas da educação e da cultura, nas quais se constroem valores e se transformam mentalidades.
Ainda que tenhamos dificuldade para admitir, vivemos em uma sociedade que tem muita dificuldade de lidar com as diferenças de visão de mundo, de forma de viver e de escolhas feitas em cada área da vida. Essa dificuldade chega a assumir formas agressivas e sem amparo em qualquer princípio que remeta a relações pacíficas, democráticas e fraternas entre as pessoas. Nossa cultura tem traços que refletem interesses de grupos que acumularam poder enquanto os que são considerados minoria não encontram espaços de expressão de seus interesses. A democracia só avança se superar a forma tradicional de supremacia da maioria sobre a minoria e passar a buscar que todos tenham formas dignas de se expressar e ter atendidos seus interesses. Os grupos LGBT estão entre essas minorias que têm direitos civis que precisam ser respeitados, defendidos e reconhecidos, pois a Constituição Federal diz que todos são iguais perante a lei, independentemente de idade, sexo, raça, classe social. Assim como em relação às mulheres, aos idosos e às crianças, algumas políticas públicas precisam ser desenvolvidas para atender a especificidade das populações LGBT.

A violência que chega ao assassinato, vitima muitos dos membros dos grupos LGBT. Dados oficiais indicam que, entre 2011 e 2012, os crimes contra esse grupo aumentaram em 11% em nosso país. Outros sofrem tanto preconceito que abandonam a escola e abrem mão de toda a oportunidade que a educação pode dar, o que também, de certa forma, corresponde a uma expressão simbólica de morte.

É preciso desenvolver ações que eduquem a população para o convívio respeitoso com a diferença e a capacidade de reconhecer os direitos civis de todos.

PARA ASSEGURAR DIREITOS E COMBATER A DISCRIMINAÇÃO
• Apoiar propostas em defesa do casamento civil igualitário, com vistas à aprovação dos projetos de lei e da emenda constitucional em tramitação, que garantem o direito ao casamento igualitário na Constituição e no Código Civil.
Articular no Legislativo a votação do PLC 122/06, que equipara a discriminação baseada na orientação sexual e na identidade de gênero àquelas já previstas em lei para quem discrimina em razão de cor, etnia, nacionalidade e religião.
Comprometer-se com a aprovação do Projeto de Lei da Identidade de Gênero Brasileira − conhecida como Lei João W. Nery −, que regulamenta o direito ao reconhecimento da identidade de gênero das “pessoas trans”, com base no modo como se sentem e se veem, dispensando a morosa autorização judicial, os laudos médicos e psicológicos, as cirurgias e as hormonioterapias.
Eliminar obstáculos à adoção de crianças por casais homoafetivos.
• Normatizar e especificar o conceito de homofobia no âmbito da administração pública e criar mecanismos para aferir os crimes de natureza homofóbica.
• Incluir o combate ao bullying, à homofobia e ao preconceito no Plano Nacional de Educação, desenvolvendo material didático destinado a conscientizar sobre a diversidade de orientação sexual e às novas formas de família.
• Garantir e ampliar a oferta de tratamentos e serviços de saúde para que atendam às demandas e necessidades especiais da população LGBT no SUS.
Manter e ampliar os serviços já existentes, que hoje atendem com capacidade ínfima e filas de espera enormes.
• Assegurar que os cursos e oportunidades de educação e capacitação formal atendam aos anseios de formação que a população LGBT possui, para garantir ingresso no mercado de trabalho.
Dar efetividade ao Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos LGBT.
PARA ASSEGURAR DIREITOS E COMBATER A DISCRIMINAÇÃO
• Garantir os direitos oriundos da união civil entre pessoas do mesmo sexo.
• Aprovado no Congresso Nacional o Projeto de Lei da Identidade de Gênero Brasileira – conhecida como a Lei João W. Nery – que regulamenta o direito ao reconhecimento da identidade de gênero das “pessoas trans”, com base no modo como se sentem e veem, dispensar a morosa autorização judicial, os laudos médicos e psicológicos, as cirurgias e as hormonioterapias.
• Como nos processos de adoção interessa o bem-estar da criança que será adotada, dar tratamento igual aos casais adotantes, com todas as exigências e cuidados iguais para ambas as modalidades de união, homo ou heterossexual.
• Normatizar e especificar o conceito de homofobia no âmbito da administração pública e criar mecanismos para aferir os crimes de natureza homofóbica.
• Incluir o combate ao bullying, à homofobia e ao preconceito no Plano Nacional de Educação.
• Garantir e ampliar a oferta de tratamentos e serviços de saúde para que atendam as necessidades especiais da população LGBT no SUS.
• Assegurar que os cursos e oportunidades de educação e capacitação formal considerem os anseios de formação da população LGBT para garantir ingresso no mercado de trabalho.
• Considerar as proposições do Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos LGBT na elaboração de políticas públicas específicas para populações LGBT.
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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

"Escarra nessa boca que te beija"

Poupá-los ei de um link para o texto do colunista da Veja. Remeto-os à crítica de Tony Goes às asneiras de Rodrigo Constantino.

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Os primeiros beijos, héteros mesmo, foram motivos de indignação por parte da população. Ninguém tampouco é obrigado a achar linda a exibição pública de carinho entre duas pessoas - ainda que de sexos opostos. Pelo argumento do RC isso também seria um tipo de imposição de "preferência" dos "tolerantes" aos intolerantes.

Uma parte significativa dos evangélicos fica ressabiada com a exibição de rituais da cultura de matriz africana. Também seria uma imposição da "preferência" dos "tolerantes" aos intolerantes.

Negros, então, só podem aparecer em posições subalternas e papéis secundários- nada de um Milton Gonçalves no papel de Coronel Caetano, de Morgan Freeman como, vejam só, Deus; de Camila Pitanga, Taís Araújo como protagonistas. Senão vai ofender os intolerantes.

Lá se vai o tempo em que divórcio, mãe solteira, mulher chefe de família também horrorizavam o povo ao passarem em novelas e seriados televisivos. Mocinha casar sem ser virgem? Virgem Maria! Pior: terminar com o mocinho sem casar? E com filhos? Diabo em cruz!

Por isso são conservadores. Querem conservar um mundo naftalínico, pré-histórico, onde mandavam e desmandavam e a ralé... bem a ralé sabia muito bem o seu lugar. E não era em aviões, em shoppings, nas universidades nem mesmo nas ruas.

Eu fico ressabiado com a exposição de ideias do tipo do RC. Cadê o meu direito de ser intolerante com os intolerantes?

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Sopa de cabra e espinafre à Guzzo

Não testei a receita, ela é adaptada de uma sopa mexicana.

Ingredientes
500 g de carne de cabra (corte para ensopado) em cubos (mais ou menos 2 cm de lado);
1 cebola média em cubos (mais ou menos 1 cm de lado);
6 tomates grandes picados;
4 batatas grandes cortadas em 4 partes;
500 g de polpa de tomate;
200 g de espinafre fresco picado;
1/2 copo americano de vinho tinto;
3 dentes de alho picados;
2 colheres de sopa rasas de orégano fresco picado;
1/2 litro de caldo de carne;

Ingrediente secreto: Muito amor e carinho.

Modo de preparo
Aqueça em fogo médio-alto um fio de óleo em uma frigideira média e asse a carne até dourar. Reserve a carne em um caldeirãozinho.
Doure as cebolas no óleo da carne, acrescente os tomates e deixe reduzir. Despeje sobre a carne.
Doure as batatas em fogo médio-alto com um fio de óleo em uma frigideira limpa.
Coloque as batatas, a polpa de tomate, o espinafre, o vinho, o alho e o orégano no caldeirão com a carne.
Cubra tudo com caldo de carne e leve ao fogo. Quando levantar fervura, baixe o fogo e cozinhe por uma hora com o caldeirão tampado.

Segredo do preparo: Não seja um babaca.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Deu bode... vade retro, Veja

A transformação da revista Veja em veículo neocon está completa com o texto do diretor editorial do grupo Exame e colunista da revista.

Não irei analisar o texto em si. As bobagens foram todas muito bem identificadas por vários, como Carlos Orsi, Carlos Cardoso, Lola Aronovich, Madrasta do Texto Ruim e vários mais.

A questão é como chegamos ao ponto em que uma publicação que se pretende séria sente-se segura em veicular tamanho despropósito francamente homofóbico. Provavelmente o texto foi revisado pelo setor jurídico para garantir que eventuais processos não deem em muita coisa, mas a revista certamente conta que, de um lado, seus leitores não protestarão - ou o farão com pouca veemência, nada do tipo de cancelamentos em massa de assinaturas -, e, de outro, os anunciantes continuarão a garantir o faturamento bilionário do veículo.

Pelo jeito, fui um tanto otimista há dois anos quando escrevi: "Hoje, se um apresentador de TV brasileiro diz algo que soe minimamente crítico à homossexualidade, haverá uma forte cobrança e há chances de que ele seja condenado na justiça por discriminação sexual."

Sim, somos um país com um certo grau de homofobia mais explícita. 55% dos brasileiros, sabe-se lá por que razão, são contra o casamento entre homossexuais; 34% não votariam de jeito nenhum em um homossexual para presidente; 25% dos brasileiros apresentam um grau mediano a forte de homofobia.

Mas o que fará a parte nada desprezível da população que entende plenamente a legitimidade das reivindicações do movimento LGBTT (que existe sim, afinal, não é o fato de partidos políticos, igrejas e torcidas de futebol congregarem dentro de si tantas correntes, até antagônicas, que faz com que deixem de existir) frente a essa manifestação preconceituosa de um veículo com a visibilidade do semanário da Abril?

Upideite(12/nov/2012): A Diversidade Tucana, pelo twitter, manifestou que o texto merece repúdio de toda a sociedade.

Upideite(13/nov/2012): Além da homofobia, o racismo contra índios também dá o ar de sua desgraça. O jornal mineiro O Tempo, que adota como divisa "jornalismo de qualidade" publicou uma peça de arrepiar tanto quanto o da Veja.*

Upideite(13/nov/2012): O ultraconservadorismo está mesmo em um momento bem saliente: "Estudante que tenta refundar a Arena publica estatuto no 'Diário Oficial'"

*Upideite(13/nov/2012): Menos mal que o colunista de O Tempo tenha sido afastado.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Criação de filhos por pais gueis:o que a ciência tem a dizer?

Já são quase quarenta anos de estudos a respeito de criação de filhos por casais homoafetivos em comparação à criação por casais heteroafetivos. Nenhuma diferença significativa tem sido encontrada no que se refere ao desenvolvimento psicológico das crianças e adolescentes, nem ao desempenho escolar, nem em relação à orientação sexual dos filhos, nem ao bem estar ou ao ajustamento social.

Abaixo segue uma compilação de alguns estudos e revisões recentes publicados em revistas científicas indexadas (naturalmente não pretende ser uma listagem exaustiva - muito longe disso, é apenas uma pequena amostra mais ou menos aleatória das centenas de publicações sobre o tema).

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"Twenty–three empirical studies published between 1978 and 2000 on nonclinical children raised by lesbian mothers or gay fathers were reviewed (one Belgian/Dutch, one Danish, three British, and 18 North American). Twenty reported on offspring of lesbian mothers, and three on offspring of gay fathers. The studies encompassed a total of 615 offspring (age range 1.5–44 years) of lesbian mothers or gay fathers and 387 controls, who were assessed by psychological tests, questionnaires or interviews. Seven types of outcomes were found to be typical: emotional functioning, sexual preference, stigmatization, gender role behavior, behavioral adjustment, gender identity, and cognitive functioning. Children raised by lesbian mothers or gay fathers did not systematically differ from other children on any of the outcomes. The studies indicate that children raised by lesbian women do not experience adverse outcomes compared with other children. The same holds for children raised by gay men, but more studies should be done." Anderssen et al. 2002.

"Does parental sexual orientation affect child development, and if so, how? Studies using convenience samples, studies using samples drawn from known populations, and studies based on samples that are representative of larger populations all converge on similar conclusions. More than two decades of research has failed to reveal important differences in the adjustment or development of children or adolescents reared by same-sex couples compared to those reared by other-sex couples. Results of the research suggest that qualities of family relationships are more tightly linked with child outcomes than is parental sexual orientation." Patterson 2006.

"While there has been a recent upsurge in the number of studies related to children raised by gay and lesbian parents, the literature in this area continues to be small and wrought with limitations. This study presents a meta-analysis of the existing research and focuses on the developmental outcomes and quality of parent–child relationships among children raised by gay and lesbian parents. A total of 19 studies were used for the analysis and included both child and parent outcome measures addressing six areas. Analyses revealed statistically significant effect size differences between groups for one of the six outcomes: parent–child relationship. Results confirm previous studies in this current body of literature, suggesting that children raised by same-sex parents fare equally well to children raised by heterosexual parents. The authors discuss findings with respect to the implications for practitioners in schools." Crowl et al. 2008.

"While myths exist that call into question the parenting ability of gay and lesbian parents as well as the impact of such parenting on children in their care, there is an ever increasing body of literature that clearly demonstrates the capabilities of these parents with their birth children. However, there continues to be a dearth of research on gay and lesbian adoptive parents and their children. To address this deficiency in the literature, this article explores the parenting styles of gay and lesbian adoptive parents and strengths of their children between the ages of 5–9 years (N = 94), using scores from the Parent-as-a-Teacher Inventory and the Behavioral and Emotional Rating Scale. Results illustrate that the gay and lesbian adoptive parents in this sample fell into the desirable range of the parenting scale and their children have strength levels equal to or exceeding the scale norms. Finally, various aspects of parenting style significantly predicted the adoptive parents' view of their child's level of care difficulty which subsequently predicted the type and level of strengths assessed within their adopted child. Recommendations for practice, policy and future research are highlighted." Ryan 2008.

"This study compared gender identity, anticipated future heterosexual romantic involvement, and psychosocial adjustment of children in lesbian and heterosexual families; it was furthermore assessed whether associations between these aspects differed between family types. Data were obtained in the Netherlands from children in 63 lesbian families and 68 heterosexual families. All children were between 8 and 12 years old. Children in lesbian families felt less parental pressure to conform to gender stereotypes, were less likely to experience their own gender as superior and were more likely to be uncertain about future heterosexual romantic involvement. No differences were found on psychosocial adjustment. Gender typicality, gender contentedness and anticipated future heterosexual romantic involvement were significant predictors of psychosocial adjustment in both family types." Bos & Sandfort 2010.

"Claims that children need both a mother and father presume that women and men parent differently in ways crucial to development but generally rely on studies that conflate gender with other family structure variables. We analyze findings from studies with designs that mitigate these problems by comparing 2-parent families with same or different sex coparents and single-mother with single-father families. Strengths typically associated with married mother-father families appear to the same extent in families with 2 mothers and potentially in those with 2 fathers. Average differences favor women over men, but parenting skills are not dichotomous or exclusive. The gender of parents correlates in novel ways with parent-child relationships but has minor significance for children’s psychological adjustment and social success." Biblarz & Stacey 2010.

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O corpo da literatura acumulada a respeito antes levou à Associação Americana de Psiquiatria a declarar em 2002:
"The American Psychiatric Association supports initiatives which allow same-sex couples to adopt and co-parent children and supports all the associated legal rights, benefits, and responsibilities which arise from such initiatives."

E no mesmo ano, a Academia Americana de Pediatria declarou:
"A growing body of scientific literature demonstrates that children who grow up with 1 or 2 gay and/or lesbian parents fare as well in emotional, cognitive, social, and sexual functioning as do children whose parents are heterosexual. Children’s optimal development seems to be influenced more by the nature of the relationships and interactions within the family unit than by the particular structural form it takes." (reafirmando seu posicionamento em 2009)

E, em 2004, a Associação Americana de Psicologia publicou sua resolução:
"Therefore be it resolved that the APA opposes any discrimination based on sexual orientation in matters of adoption, child custody and visitation, foster care, and reproductive health services;

Therefore be it further resolved that the APA believes that children reared by a same-sex couple benefit from legal ties to each parent;

Therefore be it further resolved that the APA supports the protection of parent-child relationships through the legalization of joint adoptions and second parent adoptions of children being reared by same-sex couples;

Therefore be it further resolved that APA shall take a leadership role in opposing all discrimination based on sexual orientation in matters of adoption, child custody and visitation, foster care, and reproductive health services;

Therefore be it further resolved that APA encourages psychologists to act to eliminate all discrimination based on sexual orientation in matters of adoption, child custody and visitation, foster care, and reproductive health services in their practice, research, education and training (American Psychological Association, 2002);

Therefore be it further resolved that the APA shall provide scientific and educational resources that inform public discussion and public policy development regarding discrimination based on sexual orientation in matters of adoption, child custody and visitation, foster care, and reproductive health services and that assist its members, divisions, and affiliated state, provincial, and territorial psychological associations."
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sábado, 14 de maio de 2011

Da absurda nota da CNBB sobre a decisão do STF a respeito da união estável de homossexuais

A íntegra da nota da CNBB criticando a decisão do STF de reconhecer a união estável de casais do mesmo sexo pode ser lida em uma reportagem do Estadão.

Um festival de bobagens.

"A diferença sexual é originária e não mero produto de uma opção cultural."

Quem e onde disse que as diferenças sexuais são opções culturais? (Há diferenças de 'papéis' que são de fato culturalmente condicionadas - há sociedades matrilineares, patrilineares, matriarcais, patriarcais, poliândricas, poligínicas, etc., mas suponho que estejam a falar das características biológicas como aparelho reprodutor e orientação sexual.)

E se disseram, qual a relevância disso?

"O matrimônio natural entre o homem e a mulher bem como a família monogâmica constituem um princípio fundamental do Direito Natural."

Bééééé, wrong answer.
1) No Brasil, o ordenamento jurídico *não* se baseia em "direito natural". A Constituição Federal diz no parágrafo único de seu artigo 1o: "Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição" e em seu artigo 5o, inc. I: "homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição" e II: "ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei".
2) Casamento, monogamia e união somente de homem com mulher *não* é dado pela natureza e com valor universal. Há fortes suspeitas a respeito da monogamia em humanos. Tanto o casamento não é nem um pouco universal que os próprios bispos que elaboraram (ou pelo menos subscreveram) a equivocada nota *não* são casados - aliás, a todo o clero da ICAR é vetado o casamento.

"As pessoas que sentem atração sexual exclusiva ou predominante pelo mesmo sexo são merecedoras de respeito e consideração. Repudiamos todo tipo de discriminação e violência que fere sua dignidade de pessoa humana."

Ótimo, então não vamos discriminá-las dizendo que elas não podem constituir família.

"As uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo recebem agora em nosso País reconhecimento do Estado. Tais uniões não podem ser equiparadas à família, que se fundamenta no consentimento matrimonial, na complementaridade e na reciprocidade entre um homem e uma mulher, abertos à procriação e educação dos filhos."

Como não? Há consentimento entre as partes - ninguém está obrigando ninguém a se manter em união (ou futuramente, se casar), há complementaridade e reciprocidade entre os indivíduos da união. Não há proibição de um casal infértil (ou que simplesmente não desejem filhos) de se unirem (e nem de se casarem), então a procriação dentro da união não é objeção. E um casal homossexual poderia ainda: ter filhos de outras relações (um homem divorciado ou uma mulher divorciada, p.e.) ou mesmo adotar crianças (a lei permite que até solteiros adotem, por que não um casal homossexual?). Tendo filhos, há obrigação legal de que os responsáveis lhes provenham educação.

"Equiparar as uniões entre pessoas do mesmo sexo à família descaracteriza a sua identidade e ameaça a estabilidade da mesma."

Que ameaça? Casais heterossexuais continuarão suas vidas. Ninguém está proibindo a união heterossexual, apenas permitindo a união homossexual - ou melhor, a lhe reconhecer seus direitos.

"É um fato real que a família é um recurso humano e social incomparável, além de ser também uma grande benfeitora da humanidade. Ela favorece a integração de todas as gerações, dá amparo aos doentes e idosos, socorre os desempregados e pessoas portadoras de deficiência. Portanto têm o direito de ser valorizada e protegida pelo Estado."

O Estado está tanto *valorizando* a família que está a permitir que *mais* pessoas possam constituir as suas - com seus direitos assegurados. Casais homossexuais podem igualmente favorecer a integração das gerações, dar amparo aos doentes e idosos, socorrer os desempregados e portadores de deficiência. Homossexuais não são mais (nem menos) egoístas do que heterossexuais tanto quanto podemos saber.

"É atribuição do Congresso Nacional propor e votar leis, cabendo ao governo garanti-las. Preocupa-nos ver os poderes constituídos ultrapassarem os limites de sua competência, como aconteceu com a recente decisão do Supremo Tribunal Federal. Não é a primeira vez que no Brasil acontecem conflitos dessa natureza que comprometem a ética na política."

O STF já ultrapassou antes seus limites de competência - como no caso Battisti -, mas aqui não é o caso. O STF está *garantido direitos* a um grupo de *cidadãos* - a quem a própria nota da CNBB diz que não se deve discriminar. O instrumento aplicado foi a ADIN (houve também uma ADPF, considerada prejudicada): julgou-se que as leis que restringem o reconhecimento da união estável a apenas casais heterossexuais era inconstitucional, por promover exatamente a discriminação contra os homossexuais.

Que pessoa de bem pode ser contra *garantir direitos* de pessoas, sobretudo, quando essa garantia de direitos não fere os de ninguém?

A CNBB perde mais uma oportunidade de se mostrar humanista (há pontos altos em outras ocasiões quando se põe a defender os direitos humanos), atuando mais uma vez de modo retrógrado e obscurantista com essa nota.

sábado, 25 de dezembro de 2010

A ignorância pretensamente racional

Vejam a barbaridade perpretada pelos responsáveis pelo agregador Central Ceticismo


O Evolucionismo já resolveu sair em protesto ao ato homofóbico. Todos os sítios web listados deveriam aderir ao protesto e denunciar a Central Ceticismo ao Ministério Público por tal prática abjeta.

Upideite(25/dez/2010): O pessoal da LiHS, aka, Bule Voador, dá sua versão.

Upideite(27/dez/2010): A desfaçatez da resposta da CC
Tem coisa que só piora quando tentam arrumar. Esta foi uma dessas coisas.
Upideite(29/dez/2010): E continuam a piorar.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Este blogue está de luto...

Não é pelo Senador Romeu Tuma (não que eu haja lhe desejado mal - não me alegra sua morte, entristece-me, de fato; como a morte de todo ser humano), nem pelo polvo Paul, nem pelo fim do Walkman.

Meu luto é pela morte do governador José Serra. Não a morte física. Que eu saiba ele goza de plena saúde - ao menos somaticamente falando. É pela morte de seu caráter.

Folha: Em convenção da Assembleia de Deus, Serra promete vetar Lei da homofobia
O Globo: Serra promete a evangélicos vetar projeto que criminaliza homofobia

O tucano disse: "Do jeito que está, ele passa a perseguir igrejas que têm posições contrárias ao homossexualismo. Uma coisa é perseguir e fazer grupos de extermínio contra os gays, como tem acontecido. Outra, é proibir que as igrejas preguem contra atos homossexuais entre seus fieis. Eu vetarei essa lei. Essa lei não andará." (Se algum distraído eventualmente não atinou com o que isso significa, troque o grupo: "Uma coisa é perseguir e fazer grupos de extermínio contra negros... outra é proibir que as igrejas preguem contra os negros entre seus fieis.")

Triste fim de um político formado em meio às ideias progressistas da esquerda, da valoração das liberdades individuais, do respeito às diferenças e proteção às minorias.

Já não votaria nele por tudo o que fez em sua campanha. Mas agora faço questão de participar da campanha *contra* a candidatura de José Serra. O grande respeito que nutria pela figura de Serra - a despeito de minhas brincadeiras como sobre a bolinha de papel - evaporou-se por completo.

Dilma Rousseff, seja bem-vinda, presidente!

Upideite(26/out/2010): Deixe-me assinar esta postagem - Roberto Takata.
Upideite(27/out/2010): André Lima, no twitter, diz que é um espantalho a comparação com a situação dos negros. Não é. Criticar atos homossexuais é o mesmo que criticar os homossexuais, pois é a vera definição do que eles são. André cai na ladainha homofóbica - não que ele seja homofóbico, bem entendido - do "criticar o pecado e não o pecador". É um subterfúgio de discriminar as pessoas fingindo que não se está a discriminá-las. Mas se ainda quiser insistir: Pense em: "outra coisa é proibir que as igrejas preguem contra a negrice, coisa de preto, entre seus fieis".
Upideite(27/out/2010): O grupo da Diversidade Tucana postou a versão deles da questão. Douraram a pílula, mas deixaram de fora a parte reveladora: "Eu vetarei essa lei. Essa lei não andará." Sem falar que não há nada na PLC 122/2006 que fale sobre religião. É tergiversação.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Vereador Apolinário: aquele que é sem querer que lhe digam que é

Luís Nassif republicou um texto de autoria do vereador demista Carlos Apolinário que seria impublicável, não houvesse sido publicado na Folha.

Comentei assim:
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Essa peça me dá nojo. Nojo nos dois sentidos: de asco mesmo e também de luto - pela morte de mais alguns neurônios. Discriminação e preconceito *não* é [são] opinião divergente. Basta fazer a prova pro senhor Apolinário - evangélico militante - se ele aceitaria que se impedisse a contratação de alguém por discordar de sua religião... Enquanto ele não tergiversar sobre esse ponto com: "veja bem, a situação é diferente", essa lenga-lenga só mostra a patetice do "argumento".

"Não é correto usar o dinheiro público para dar privilégio a um grupo" ele diz, veja se o pateta é a favor de se extinguir a isenção de impostos de igrejas.

Essa tolice não vale um níquel furado.

[]s,

Roberto Takata

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Em um ponto concordo com o homofóbico Apô - e não adianta ficar sentidinho, seô vereador, porque você *é* homofóbico, como aquele cara que fala: "Não sou racista, mas não suporto negro" - não faz sentido manter só a Parada do Orgulho Gay na Paulista. Ou se permitem outras manifestações por lá, ou não se permite nenhuma - a menos que haja justificativa razoável.

Mas olha como esse papinho de que o poder público não deve "privilegiar" grupos de pessoas funciona na prática na cabecinha do vereador. Em 2002, ele apresentou o projeto de lei municipal 49/2002 que: "Dispõe sobre a exclusão dos ministros de cultos religiosos da restrição imposta quanto à circulação de veículos no município de São Paulo."

No dia em que o seô Apô discursar contra isto:

Diário Oficial da Cidade de São Paulo, 29/mai/2010, pág. 208, São Paulo, 55(100)
"São Paulo Turismo
[...]
Processo de Compras N° 926/10 - Pregão Eletrônico -n°062/10

OBJETO: Contratação de empresa especializada para prestação de serviços de locação de sonorização especial, compreendendo os respectivos serviços de montagem, operação e desmontagem para o evento 'Marcha para Jesus 2010'
COMUNICAMOS que em 26/05/2010 o Diretor Administrativo Financeiro e de Relação com Investidores da São Paulo Turismo S.A, HOMOLOGOU o procedimento licitatório em que foi ADJUDICADO o objeto à empresa Zen Produções e Promoções de Eventos Ltda EPP pelo valor de R$ 22.500,00 e AUTORIZOU a contratação. Comissão Permanente de Licitações."

Acreditarei na conversinha de "não é correto usar o dinheiro público para dar privilégio a um grupo". Aliás, acabei de enviar pelo sistema de comentário do sítio web pessoal do referido vereador a mensagem abaixo:

"Excelentíssimo Senhor Vereador da Cidade de São Paulo Carlos Apolinário,

Em relação a seu texto publicado na Folha de São Paulo a respeito da "ditadura gay", gostaria de manifestar minha concordância quanto a um ponto específico: "Não é correto usar o dinheiro público para dar privilégio a um grupo". Desta feita gostaria de receber uma cópia de seu discurso em que V. Sra. protesta contra o uso de verba pública para financiar a "Marcha para Jesus".

É um absurdo que o poder público desvie dinheiro que deveria atender a todos os segmentos sociais para beneficiar especificamente aos evangélicos - particularmente apenas da Igreja Renascer.

Sem mais para o momento.

Roberto Takata
"

Vamos ver como ele responde.

(A quem interessar possa, eu *sou* homofóbico. Mas não, não me orgulho nem pouco disso, ao contrário. Apenas não fico com essa conversa fiada de que não tenho preconceitos. Tenho e tento lutar contra eles. Ser consciente deles é um bom primeiro passo.)

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Governo britânico se desculpa pelo tratamento a Alan Turing

O primeiro ministro britânico reconheceu que o tratamento dado a Alan Turing pelo governo, que o condenou por homossexualismo e o submeteu a tratamento para "curar" a homossexualidade foi "terrível" (appaling).

Abaixo, minha tentativa de tradução da declaração:

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2009 tem sido um ano para grande reflexão - uma chance para a Grã-Bretanha, como uma nação, lembrar o profundo débito que temos para com os que vieram antes. Uma combinação única de aniversários e eventos misturaram em nós um sentido de orgulho e gratidão que caracterizam a experiência britânica. Mais cedo, neste ano, estive com os presidentes Sarkozy e Obama para honrar o serviço e o sacrifício dos heróis que bradaram nas praias de Normandia 65 anos atrás. E semana passada 70 anos se completaram desde que o governo britânico declarou seu desejo de pegar em armas contra o fascismo e declarou o início da Segunda Guerra Mundial. Então estou tanto satisfeito quanto orgulhoso que, graças à coalizão de cientistas da computação, historiadores e ativistas LGBT, tivemos este ano uma chance de marcar e celebrar uma outra contribuição à luta dos britânicos contra as trevas da ditadura: a do decifrador de códigos, Alan Turing.

Turing foi um matemático brilhante, mais conhecido por seu trabalho na quebra do código alemão Enigma. Não é exagero dizer que, sem sua destacada contribuição, a história da Segunda Guerra Mundial poderia muito bem ter sido diferente. Ele foi verdadeiramente um desses indivíduos cuja contribuição sem igual podemos apontar como tendo auxiliado em virar a maré da guerra. A nossa dívida de gratidão a que ele fez por merecer torna muito mais terrível, então, que ele tenha sido tratado tão desumanamente. Em 1952, ele foi condenado por 'abjeta indecência' - de fato, julgado por ser guei. Sua sentença - e ele teve que enfrentar a miserável escolha entre ela e a prisão - foi a castração química por uma série de injeções de hormônios feminos. Ele suicidou-se dois anos depois.

Milhares de pessoas juntaram-se para exigir justiça a Alan Turing e o reconhecimento do modo terrível com que ele foi tratado. Embora Turing tenha sido julgado sob a lei da época e não possamos voltar o relógio, seu tratamento foi gritantemente injusto e estou satisfeito em ter a chance de dizer quão profundamente lamentamos pelo que lhe acontecey. Alan e milhares de outros gueis que foram condenados como ele sob as leis homofóbicas foram tratados de modo terrível. Ao longo dos anos, outros milhões viveram com medo da condenação.

Estou orgulhoso que esses dias se foram e que nos últimos 12 anos este governo tenha feito muito para tornar a vida mais justa e mais igual para nossa comunidade LGBT. Este reconhecimento do status de Alan como uma das vítimas britânicas mais famosas da homofobia é outro passo para a equidade devida há longo tempo.

Mas muito mais do que isso, Alan merece o reconhecimento por sua contribuição à humanidade. Para aqueles de nós nascidos depois de 1945, em uma Europa unida, democrática e em paz, é difícil de imaginar que nosso continente foi um dia o palco das horas mais sombrias da humanidade. É difícil de acreditar que em viva memória, pessoas puderam ser tão tomadas pelo ódio - pelo antissemitismo, pela homofobia, pela xenofobia e outras preconceitos assassinos - que as câmaras de gás e fornos crematórios tenham se tornado uma peça da paisagem européia tanto quando as galerias, as universidades e as salas de concerto que marcaram a civilização européia por centenas de anos. É graças aos homens e mulheres totalmente comprometidas na luta contra o fascismo, pessoas como Alan Turing, que os horrores do Holocausto e da guerra total são parte da história européia e não do presente da Europa.

Assim, em nome do governo britânico, e de todos os que vivem em liberdade graças ao trabalho de Alan, estou muito orgulhoso em dizer: pedimos desculpas, você merecia um tratamento muito melhor.

Gordon Brown
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Talvez um dia tenhamos uma declaração oficial do governo brasileiro sobre a escravidão e o massacre dos povos indígenas.

(Via 100Nexos.)