Natal, fim de ano... época festiva. Muita comilança, troca de presentes, promessas e resoluções, desejos mútuos (sinceros ou não) de felicidades e prosperidades.
É também uma ocasião de muitas fotos e álcool nas ideias.
Pedrinho, no entanto, não gosta nem de uma coisa nem de outra. Até curte ver fotografias, porém não que tirem fotos dele. Não ingere uma gota de álcool - não sendo alcoólatra, não tendo problemas hepáticos, nem sendo muçulmano, as pessoas o olham de um jeito meio esquisito. Também resiste a adotar um celular: "não preciso de coleira eletrônica, tenho telefone em casa e no serviço, no meio do caminho não posso fazer nada e não quero que me interrompam as férias ou uma simples sessão de cinema". Tampouco tem carteira de motorista - "uso transporte público, carro é caro de se manter - estacionamento, combustível, impostos, manutenção, seguro".
Seus amigos não respeitam muito sua opção. Aceitariam se ele fosse guei, evangélico (ou adotasse alguma religião mais exótica), mudasse de sexo, torcesse para o Comercial de Ribeirão Preto, fosse vegan, acreditasse ter contatos com seres alienígenas... Mas não que não gostasse que lhe tirassem retratos.
Consideravam-no estraga prazeres ao erguer a mão escondendo o rosto, ir para um canto longe do pessoal a posar para a foto da reunião. Era só uma frescura.
Mas não se limitavam a considerar uma esquisitice, tentavam a todo custo forçá-lo a sair nas fotos, tirar fotos enquanto ele estivesse distraído e até o censuravam - inclusive aqueles que dirigiam embriagado, colava nas provas, usava produtos piratas... Pois é, não gostar de tirar fotos era moralmente recriminável, mas colocar a vida de outros em perigo, burlar o sistema educacional ou causar prejuízos financeiros a terceiros era plenamente aceitável.
Ninguém aceitava como resposta um mero: "Não me sinto confortável tirando fotos". Às vezes tentava outra saída: "Fotografia rouba a alma", "posso ser uma pessoa procurada", mas em geral ou o efeito era nulo ou apenas achavam que estava brincando com a história de não querer sair na fotografia. Pensava em como era a situação de testemunhas de crime que procuravam refazer a vida em outro lugar, que desculpas elas teriam que dar para que não tirassem fotos dela - e, pior, colocassem na internet, onde qualquer um, inclusive os assassinos contra quem ela testemunhou, poderia ver.
Por que era tão difícil às pessoas aceitar que alguém se sentia mal com isso? Aceitavam como normal quem não quisesse passar pelo décimo terceiro andar, quem só entrasse em um lugar com o pé direito, quem só dormisse depois de rezar... Mas não tirar fotos?
E não era que impedisse outras pessoas de tirar fotos de si mesmas ou de outras pessoas, lugares ou situações. Apenas queria que respeitassem o direito dele, Pedrinho, à sua própria imagem.
Não importava que ele fosse uma pessoa honesta, que tivesse comprado um belo presente, que fosse, de resto, uma pessoa agradável de se conviver - com observações jocosas, porém sempre pronto a ajudar quem necessitasse. Nada disso era levado em conta na hora de julgá-lo alguém pronto para estragar a festa por se recusar a posar para a fotografia.
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Boas festas a todos. E que Pedrinho não sofra tantos constrangimentos e muito menos condenações morais por algo que diz respeito somente a ele.
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