quarta-feira, 3 de abril de 2013

Fundo judicial de blogueiros: "A gente faz, depois a gente vê"?

A ideia já estava engatilhada a tempos. Mas depois da decisão inicial desfavorável ao jornalista Luiz Carlos Azenha por textos a respeito do direitor de jornalismo da Rede Globo, Ali Kamel, publicados no portal Viomundo, vários blogueiros resolveram se movimentar para a criação de um fundo para ajudar os que são alvo de processos judiciais.

É uma iniciativa louvável. O que me preocupa é o aparente voluntarismo desacompanhado de planejamento. Comentei com uma pessoa envolvida na criação do fundo:

"Mas precisam escolher bem o gestor do fundo. Vai ter q ter uma equipe boa e confiável também pra administrar financeiramente o fundo. Não apenas tem que render bem e evitar desvios, ainda tem que ver se as aplicações não vão pra certas obras que usem trabalho escravo, mão de obra infantil, maltrate os funcionários, etc."

A reação foi:

"Nem tem conta ainda e você já está falando em desvio? Tenha dó!"

Verdade que as relações humanas são eminentemente calcadas na confiança mútua. Mas, especialmente em se tratando de dinheiro, é preciso cercar-se de grandes cuidados. Não dá para ser ingênuo. E o momento certo para se pensar nessas coisas é exatamente *antes* de se ter uma conta aberta. Depois que já tiver dinheiro e cometerem um desfalque será tarde demais (ou vai dar muita dor de cabeça para reaver o valor).

Tem que se gastar um tempinho sim para fazer um bom planejamento desse fundo. Deixar parado na conta corrente é perder valor das contribuições suadas. Também não dá para prender os valores em investimentos de longo prazo se se pode precisar sacar quantias significativas a qualquer momento. Só largar em uma caderneta de poupança, que atualmente rende menos do que a inflação, também é deixar a grana se corroer. Não dá também para meter em um fundo de ações com ótima rentabilidade sem olhar se na carteira não estão presentes empresas que violam sistematicamente direitos trabalhistas, exploram mão de obra infantil, sonegam impostos ou poluem o meio ambiente sem nenhuma medida de compensação. Esperar ter o dinheiro para só então ver o que fará com ele também é ineficiente - qualquer movimentação de aplicação implica em custos.

Repito, a ideia do fundo judicial é excelente. Só precisam tomar cuidado para não pecarem na execução. É preciso garantir a credibilidade e a eficiência. Sem planejamento, as tarefas ficam mais difíceis.

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