quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Unicamp sedia evento criacionista

Sob o inocente nome de 1° Fórum de Filosofia e Ciência das Origens a Unicamp sediará um evento promovido por criacionistas.

O incauto poderá pensar que se trata de um evento científico ou acadêmico normal dada as credenciais apresentadas no site e os nomes das palestras.

"geólogo pela Universidade Estadual Paulista, Unesp (1980), mestre em Geotecnia pela Universidade de São Paulo (USP) (1986) e doutor (1992) em Geotecnia/Engenharia Civil pela USP. Foi professor e pesquisador da Uneso, de 1982 a 1990 e professor e pesquisador da USP de 1990 a 1995. Atualmente é professor de Geologia e Mecânica das Rochas, no Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). É membro do Núcleo de Estudos das Origens (NEO) da mesma instituição e do Earth History Research Center, onde suas áreas de interesse estão a geologia e a vulcanologia. É diretor da sub-sede brasileira do Geoscience Research Institute."

"Ph.D. em física, em raios cósmicos de altíssima energia e interações nucleon-nucleon. Entre 1972 e 1978 trabalhou no Laboratório de Alta Tensão da General Electric Company, projetando equipamentos e pesquisando os fenômenos de alta tensão. Enquanto estava lá, recebeu uma patente nos EUA e uma das IR-100 prêmios da revista Pesquisa Industrial. Em 1979, trabalhou para a Sandia National Laboratories (Novo México) em física nuclear, geofísica, pesquisas potência pulsada e física atômica e nuclear teóricas. Em 1985, começou a trabalhar com Sandia da 'Partícula Boca projecto de fusão', e foi co-inventor do especial de laser disparado interruptores de alta tensão' de percussão", atualmente entrando em uso mais amplo. Na última década viu a Sandia dar maior ênfase em física nuclear teórica e hidrodinâmica de radiação, em um esforço para ajudar a produzir a primeira fusão termonuclear em escala laboratorial do mundo. Além de ganhar duas outras patentes dos EUA, [...] recebeu dois prêmios de Sandia, incluindo um Prêmio de Excelência pelas contribuições para a teoria target ion-fusion luz." [Podemos ver que o currículo foi traduzido no Google Translator...]

"químico brasileiro, membro da Academia Brasileira de Ciências. Atualmente é o presidente da Fundação Internacional da Espectrometria de Massa (IMSF, International Mass Spectrometry Foundation). [...] pesquisador e professor do Instituto de Química da Unicamp, é diretor fundador do laboratório ThoMSon de Espectrometria de Massa da Unicamp e editor associado do Journal of Mass Spectrometry. É recipiente da Ordem Nacional do Mérito Científico."

"'A Química do Universo e da Vida'. Uma abordagem científica sobre as evidências que a química do Universo e dos seres vivos apresentam para responder a questão 'De onde viemos'"

"[L]ivro Starlight and Time Uma apresentação da teoria de Humphreys baseada no modelo relativístico de Einstein sobre a origem do universo"

"Modelos em geociências: aspectos científicos e metafísicos"

"'O relato das origens e as remotas tradições sumerianas' Abordará as evidências de que a Arqueologia ajuda a iluminar o mistério das origens humanas"

"'A cobertura midiática da origem da vida' Apresentação de casos que ilustram a cobertura da mídia sobre a origem da vida no Brasil e também no mundo e suas consequências sociológicas"
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Só quem conhece os trabalhos extra-acadêmicos de Nahor Neves de Souza Jr., Russell Humphreys e Marcos Nogueira Eberlin perceberá que são todos criacionistas. O único que não oculta esse vínculo no minicurrículo é Michelson Borges:

"é escritor, autor de livros como A História da Vida, Por Que Creio, entre outros. Jornalista formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), editor da Casa Publicadora Brasileira e membro da Sociedade Criacionista Brasileira. É mestre em Teologia pelo Unasp."

Tanto o Núcleo de Estudos das Origens, como o Earth History Research Center e o Geoscience Research Institute são entidades criacionistas.

Claro que a universidade comporta uma pluralidade de pontos de vista e blablablá whiskas sachê... Mas está evidente a estratégia de cunha adotada desde 1998 pelo grupo do Design Intelligente. Adotando nomes de palestras supostamente de caráter científico ou puramente acadêmico ocultam suas intenções de proselitismo cristão fundamentalista do criacionismo - atraindo pessoas desavisadas achando que irão mesmo discutir origem da vida e do universo de modo racional e científico e filosófico.

Se alguém duvida que isso pode ocorrer, eu postei sobre o evento em um grupo de discussão de *céticos e racionalistas*, com o título igual ao desta postagem e com o aviso "E os caras tentam ocultar o caráter criacionista com nomes de palestras que indicam outra coisa".

Uma das respostas foi:
"porquê são criacionistas? pelos nomes não dá para entender isso. Você está falando por saber pessoalmente as opiniões dos palestrantes?"

Avisado sobre o vínculo criacionista de um dos palestrantes:
"'Se o nome é FÓRUM DE FILOSOFIA DISCUTE A ORIGEM DO UNIVERSO é bem razoável que existam todas as opiniões, não?'"

Calcule o estrago que faz na cabeça de quem não participa de debates cético-racionalistas a respeito do modus operandi desses grupos criacionistas*... Oremos.

(Não vou linkar para os sítios web criacionistas, quem quiser pode googlear.)

*Upideite(11/out/2013): Recebi a notícia de um amigo jornalista empolgado com o evento e alheio ao caráter criacionista.

Upideite(13/out/2013): O Prof. Dr. Leandro Tessler, da Unicamp, comenta mais sobre o evento em seu Cultura Científica.

Upideite(14/out/2013): Pelo twitter, Tessler informa que o evento foi cancelado (tiraram a página que anunciava o evento):

9 comentários:

Wesley Santos disse...

A Unesp também promove eventos de caráter não científicos, como núcleo de estudos do Espiritísmo Kardecista, além de missas e outras coisas.

O que realmente fico na dúvida nesse caso é: proibir um evento religioso em um país onde se preza o direito a culto religioso? Ou permitir um evento religioso em uma instituição pública de ensino (que, pela lei, é laico)?

Realmente não sei...

Leandro R. Tessler disse...

Caro Wesley,
A resposta está no início do texto: Não se trata de um evento científico ou acadêmico. Esses deveriam ser os critérios de aceitabilidade em uma universidade séria.
Religião é livre no Brasil e fica muito bem em templos, igrejas e correlatos. Na universidade séria a religião deve entrar somente como objeto de estudos acadêmicos. O único objetivo desse evento é emprestar o prestígio acadêmico da Unicamp para supostamente validar religião disfarçada de ciência. Alguém na Unicamp errou feio ao não se dar conta disso, ou fez de propósito seguindo suas convicções pessoais que destoam do projeto da universidade. A Unicamp deveria desautorizar ou pelo menos retirar o apoio institucional ao evento, o que eu ainda espero que aconteça. Mais sobre o assunto no Cultura Científica.

Véras disse...

E agora eu descubro que o Michelson é formado pela UFSC, como eu. Me deu até vergonha.

Véras disse...

E agora eu descubro que o Michelson é formado pela UFSC, como eu. Me deu até vergonha.

Silva Mestiço da, disse...

Nessas horas eu ligo meu Pollyanna interior. A menininha desse livro, faz o "jogo do contente". Tudo ela ve como alvissareiro... Bem, saber que uma instituição cientifica séria como a Unicamp faz essa papagaiada é bom pq? Pq quando o infeliz do mistico pseudo cientista religioso vier com a conversa de que a "ciência ortodoxa" não da atenção a formas alternativas de conhecimento vc pode esfregar essa joça na cara dele e dizer que sim, da sim, apesar de nao haver nenhuma evidencias dessas joças a ciência tenta ver se descobre algo..

none disse...

Wesley, Tessler, Véras, Mestiço,

Grato pelas visitas e comentários.

Wesley,

Vou na linha do Tessler: a Unicamp (e outras instituições públicas) não deveriam chancelar um evento religioso. Todo mundo tem liberdade religiosa, mas isso é pessoal. Não é lugar de instituições públicas promover esta ou aquela religião.


[]s,

Roberto Takata

Leandro R. Tessler disse...

O evento foi Cancelado .
Acho que isso não teria acontecido se não tivéssemos nos mobilizado. Agradeço ao Roberto por ter me alertado sobre o evento no Twitter.

none disse...

Tessler,

O engraçado é que os criacionistas alegam, sem surpresa, que não iriam falar de criacionismo, mas de DI...

[]s,

Roberto Takata

J.R. Lima disse...

É um alívio que este evento tenha sido cancelado.

Nada contra religião, mas isto não pode acontecer numa universidade publica, exatamente para defender a liberdade religiosa. Afinal, se a universidade pública resolver abrir espaço para TODAS as religiões promoverem seus eventos, não sobraria espaço para o debate acadêmico,

Por outro lado, se a Universidade for abrir espaço apenas para os criacionistas (ainda mais disfarçados de cientistas) está prestando um desserviço tanto à liberdade religiosa (devido à parcialidade da decisão) quanto à sua missão acadêmcia, ao alimentar a confusão acerca doque é ciência e do que não é ciência.

Além disso, existe a questão do "aval acadêmico", que a Universidade não deve dar a quem não faz ciência (do tipo que se faz na mesma universidade, incluo a ressalva para evitar o debate interminável sobre a validade de "outros" tipos de conhecimento).

Wesley, quanto à Unesp, se o Núcleo de Estudos Kardecistas é um laboratório da Unesp,que promove eventos oficiais, com a chancela da Universidade, só posso lamentar. Claro que,mesmo neste caso, não se tratando de quem defende a anti-ciência, talvez o caso seja menso grave, mas mesmo assim, não é deveria acontecer. Mas, será este o caso? Não devemos confundir uma iniciativa de um grupo de pessoas de uma dada Universidade com um evento promovido pela mesma Universidade.

Uma missa celebrada a pedido de pessoas de uma universidade é diferente de a universidade promover uma missa. Além disso, uma missa não é um evento colocado como um forum de debate acadêmico, nem, via de regra, se propõe a "inovar" em ciência.