Chego atrasado ao tema. De propósito. O fogo correu solto mundo afora. Agora com mais calma podemos tentar analisar alguma coisa.
Não se nega que a performance da senhora Susan Boyle no "Britain's Got Talent" tenha sido comovente - sério, meus olhos marejaram. Mas o quanto disso não é fruto de manipulação?
Há algumas coisas no ar. Há pequenos detalhes, provavelmente sem maior importância, mas que podem sugerir algo.
Primeiro ela diz que nunca foi beijada, depois diz que já foi, mas que prefere não falar sobre o assunto. Ok, é compreensível que temas como esse sejam constragedores para certas pessoas; mas nas primeiras notícias destacava-se a castidade labial como um elemento a mais a compor a imagem de uma caipira interiorana, simples de tudo, que arrasa com a arrogância cosmopolitana.
Depois descobre-se que ela havia gravado um CD. Nada que tenha feito muito sucesso.
E também que já havia participado como caloura de um programa de TV em 1994.
Mas o maior espaço para manipulação é na própria edição do "Britain's Got Talent". Sim, todos os programas contam com edição - mesmo os exibidos ao vivo, quanto mais os gravados. Os produtores sabiam o que estava para acontecer. Não por outra razão as câmaras convenientemente focam nos rostos incrédulos em momentos-chave: como quando Boyle conta que se inspira em Elaine Page. E, convenhamos, um dos jurados é o criador do programa: ele sabia de tudo com antecedência - ele conduz com maestria, provoca a reação de descrédito no público ao fazer perguntas e observações que João Pereira Coutinho, colunista da Folha, chamou de "paternalismo arrepiante". E, como diria Pessoa sobre os poetas, Simon Cowell finge tão completamente que finge ser cínico o cinismo que deveras sente. Ele brinca ao final dizendo que desde que Boyle pisou no palco ele sabia que seria uma grande apresentação... ele sabia mesmo, mas faz com que creiamos que ele não sabia. O cinismo disfarçado do próprio cinismo.
E mais, enquanto canta, Susan Boyle demonstra perfeito domínio de palco - reparem no gestual, na expressão corporal. Apenas a participação em 1994 explicaria isso?
Será que o lapso final quando Boyle dirige para fora do palco quando ainda não recebeu a avaliação foi mesmo espontâneo? Ou apenas mais um elemento proposital para criar a imagem de uma simpática senhora meio atrapalhada?
Repito, não se nega que a performance de Boyle tenha sido comovente - fico arrepiado a cada vez que revejo a apresentação. Acrescento, não estou a dizer que tenha sido uma farsa. Mas o quanto disso não foi convenientemente embalado para amplificar seu impacto em nossas mentes?
segunda-feira, 27 de abril de 2009
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