Quando ocorreu o apagão em novembro do ano passado, foi-nos lembrado o quanto dependemos da tecnologia - em particular da tecnologia eletroeletrônica - em nosso dia-a-dia. Ficamos privados especialmente dos meios de diversão, informação e comunicação por longas horas - pelo menos duas horas (a depender da região). Em prédios com dezenas de andares, pessoas tiveram que se esforçar para subir pela escada em iluminação precária.
Mas o rompimento da adutora que deixou mais de 750 mil moradores de São Paulo sem água desde sábado - no momento desta postagem o fornecimento ainda não havia sido reestabelecido - mostrou que o marco divisório da civilização é mesmo o acesso à água corrente em abundância. Talvez não por outro motivo, Roma é mais famosa por seus aquedutos - símbolo máximo de sua engenharia (que produziu ainda o Coliseu e a via Ápia, entre outras maravilhas), ao lado da grande Cloaca.
Uma casa urbana moderna sem água é uma habitação ainda mais precária do que uma moradia rural - não importa que esteja atuchada de geladeiras com conexão à internet, aspiradores de pó inteligentes, televisores de led de ultrabrilho com som hi-fi surround... Em um casebre nos grotões do interior pelo menos terá uma fossa séptica (no pior caso ainda tem uma moitinha) e um riacho ou um poço de onde colher a água para beber, cozinhar e se limpar. Uma edificação urbana depende do fornecimento de água por uma empresa. Quando funciona, é uma maravilha - temos água tratada clorada e fluoretada até na descarga (um desperdício luxuoso). Mas algumas horas em que isso deixe de funcionar - o suficiente para que as caixas d'água se esvaziem (aliás, a presença de caixas d'água é um belo sinal de que o serviço é mais precário do que deveria - a água falta com frequência a ponto de justificar tal aparato) - pronto... Água para beber ainda é possível de se obter naquelas lojas de venda em domicílio de água - supostamente proviente de uma mina vistoriada pelo DNMP e pelo MS. Mas e a água para o vaso sanitário? Como se livrar dos dejetos? A fisiologia é uma tirana implacável - não conseguimos reter o resultado do funcionamento de nossos rins e do sistema digestório (no último caso, pior ainda se você resolveu seguir o conselho daquele iogurte laxativo que promete deixar sua pele lisinha) por mais do que algumas horas.
Ironia que, depois do dilúvio que tomou conta de São Paulo, agora a falta d'água prometa ser os visigodos dos paulistanos. Ave José Caesar, morituri te salutant.
Upideite(09/fev/2010): Sim, sempre pode ser pior. Coitado daquele paulistano que pegou uma indisposição gastrointestinal durante o apagão aquático.
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
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Um comentário:
Tanto o apagão em novembro como o rompimento da adutora em São Paulo mostraram sobretudo que nossa cidade *não* está preparada para sanar rapidamente esses problemas imprevisíveis que afetam milhões de pessoas.
E estou sendo generosa ao dizer "imprevisíveis", pois um cuidadoso plano de monitoramento, manutenção e mesmo expansão (para evitar a sobrecarga do sistema) se aplicado aos serviços de fornecimento de água e luz certamente minimizaria as chances de ocorrências desse tipo de "imprevisibilidade".
Mas não. A cidade só faz crescer e potencializar seu colapso. A impressão que tenho é que São Paulo está armando uma bomba-relógio a ser detonada em breve, muito breve...
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