sábado, 26 de março de 2011

Inda bem que a minoria dos brasileiros participam da Hora do Planeta

"Hein? Como assim? Endoidou? Só por causa daquela continha sobre o quanto se emite a mais de CO2 ao apagar as luzes e acender velas?"

Não, solitário leitor (ou solitária leitora) deste blogue.

O evento Hora do Planeta tem lá seu valor simbólico (embora eu seja reticente quanto à eficácia sobre a conscientização do uso racional de energia e redução da emissão de gases estufa - como outros, e.g. o pessoal do Discutindo Ecologia - e outras postagens referidas ali).

"Mas isso quer dizer então que prefere que a maioria das pessoas seja alienada quanto à questão do aquecimento global?"

Longe disso. Alhures discuto bastante o problema.

À parte do risco aumentado de incêndio que velas acesas a mais podem representar; suspeito que a rede elétrica brasileira não suportaria a grande variação de carga que ocorreria se um número significativo de brasileiros aderisse ao ato.

Não sou engenheiro elétrico, mas sei que há um pequeno lapso de tempo entre uma variação do consumo da energia elétrica da rede e a variação correspondente na potência gerada pelas usinas hidrelétricas e térmicas (e, em bem menor escala para a nossa situação, nucleares, eólicas e solares - bem solares não contam em um evento noturno). Teríamos então picos de redução e aumento de consumo - principalmente correspondente ao horário no fuso horário GMT -3h00, que é ao de Brasília e engloba a maior parte da população e a parte mais rica dela, com mais aparelhos elétricos.

No começo do evento, quando houvesse uma redução brusca de consumo, por um momento, as usinas ainda forneceriam ao sistema a potência anterior, criando uma sobrecarga. Provavelmente isso acionaria circuitos de segurança isolando regiões da rede; mas já tivemos eventos de apagões em que isso criava um efeito dominó (como o de 2009).

Ao fim do evento, quando houvesse um aumento brusco de consumo, localmente mais corrente seria "puxada", o que também poderia acionar circuitos de segurança com potencial efeito dominó.

Há também pelo menos um estudo que sugere que esse tipo de ação pode tornar as pessoas mais egoístas. (Na verdade era a respeito de compra de produtos 'verdes'.)

6 comentários:

Felipe Campelo disse...

Interessante, eu não havia pensado nestes termos. Sou engenheiro eletricista, mas não trabalho com geração e distribuição de energia, então não darei meu palpite aqui.

Mais tarde, quando tiver mais tempo, dou uma pensada sobre isto e retorno se tiver algo mais interessante a dizer.

none disse...

Valeu, Campelo,

Sua contribuição será importante.

[]s,

Roberto Takata

André disse...

Isso seria o que chamamos de grande perturbação. Em intervalos de jogos do Brasil na copa, ocorrem situações parecidas. Uma queda de carga abrupta tende a acelerar os geradores síncronos das usinas, de modo que a frequência aumentaria para além dos 60Hz usuais. Os controles (como reguladores de velocidade, PSS, etc) normalmente conseguem readequar carga e geração, reduzindo a vazão de água ou vapor nas turbinas. Claro que uma perturbação muito grande pode acarretar efeitos inesperados, tanto pelas características não-lineares do sistema quanto pela eventual falha de alguns dispositivos de controle e proteção. De todo modo, é uma forma de protesto meio boba, muito melhor seria tomar banho frio ou montar um esquema de carona com o pessoal do trabalho.

none disse...

Salve, André,

Eu apostaria que o sistema não aguentaria um tranco de um dado tamanho - mas não sei precisar exatamente qual seria esse tamanho.

[]s,

Roberto Takata

André disse...

Roberto, se o desligamento atingisse indústria e comércio e fossem desligadas todas as cargas, então o sistema levaria um bom tempo para ser reestabelecido. Mas acredito que um desligamento voluntário não atingiria a indústria e comércio, e seria muito mais um apagar de luzes que um desligamento de cargas. Além disso, eventos com hora marcada para ocorrer permitem um planejamento prévio que seria fundamental para o enfrentamento de uma situação desse tipo. De qualquer modo é melhor que os brasileiros não entrem nessa onda, bem como em correntes de e-mail, compra de bilhetes premiados, etc.

PS: se tiver interesse eu mando por e-mail uma curva de carga durante um jogo da copa.

none disse...

André,

Em um dia de Copa, temos tipicamente uma variação de 15.000 MW ao longo de uma hora com o térmido do jogo (e 10.000 MW nos primeiros 20 minutos após o fim do jogo); no início do jogo ha uma queda equivalente, mas ao longo de cerca de 4 horas.

O evento conta com a participação de indústria, comércio e poder público, além da população em geral.

Embora tenha hora marcada, não se sabe a priori quantos participam. Se a adesão tiver um comportamento previsível ao longo do tempo é possível se antecipar. Mas se este ano houvesse uma grande adesão - que não sei precisar em que porcentagem estaria - imagino que a variação da carga seria um sério teste à capacidade da rede: e seria bem mais abrupta do que uma variação ao longo de dezenas de minutos, mesmo considerando-se desincronização dos relógios dos habitantes.

[]s,

Roberto Takata