domingo, 6 de maio de 2012

Ah, esses criacionistas...

...um deles tentou rebater no fim do ano passado uma mensagem que eu havia enviado ao Jornal da Ciência da SBPC em 2005. Fiquei sabendo disso quando procurava sobre a repercussão da entrevista de um negacionista climático no Programa do Jô (meus contra-argumentos ao que o entrevistado disse estão no GR).

Bem, enviei um comentário ao sítio web criacionista, mas por algum motivo minha resposta não saiu completa. Infelizmente não guardei o texto exato (erro meu). Mas reconstituo mais ou menos a ideia geral da minha resposta abaixo.

-----------------------
Sim, sei o que é um projeto ótimo......simples, um projeto ótimo é um que não tem como melhorar.Se você consegue pensar em um modo de melhorar um projeto, então ele não é ótimo. (O que não quer dizer que se você não consegue pensar em um jeito melhor o projeto seja, de fato, ótimo.)

"isso não significa que eles não foram projetados". De fato um projeto ruim não significa que não houve projeto. E não disse que não houve projeto. Disse apenas que um projeto ruim mostra que o projetista é ruim.

Clamar pela micro-evolução para explicar as imperfeições não vai ajudar. Apenas mostra que o projetista foi incompetente e seu projeto se estraga com o tempo.

"Será que Takata acredita que um sistema complexo como o potro não tenha sido o produto de um projeto inteligente somente porque talvez o designer não seja uma pessoa boa?"<=Não afirmei isso. É só caso de que um produto cuja finalidade de uso é mau revela um designer de má índole (ou de quem contratou o designer, caso este tenha sido forçado a isso).

"A inferência científica do design da vida não tem absolutamente nada a dizer acerca das qualidades morais do designer."<=Tem que ter muita boa vontade para se achar isso. Será que o instrumento de tortura mencionado não revela nada das qualidades morais de quem o projetou/encomendou? Imagine um julgamento em que o réu admita que projetou uma bomba para ser usada em uma escola infantil que causou dezenas de vítimas inocentes, o advogado de defesa diz: "não dá para dizer absolutamente nada sobre as qualidades morais do meu cliente a partir disso". Acho - espero - que não vai colar.

"está confundindo ciência com religião". Originalmente eu disse na resposta que saiu cortada lá que não, que estava apenas examinando as consequências de se admitir o designer. Mas, de fato, há uma mistura de ciência com religião - mas isso não sou eu quem fiz, a confusão da ciência com religião ocorre no exato instante em que se diz que os seres vivos foram projetados por um designer e que esse designer é deus. Se querem que seja científico que um designer projetou os seres vivos, então estão autorizando que se examine cientificamente o designer a partir do projeto. Se não querem que o designer seja objeto de escrutínio racional, não o botem no meio da conversa.

"Talvez o Designer justamente quisesse que o golfinho viesse à tona respirar de tempos em tempos."<=Talvez. Mas se não se pode especular como o designer deveria ter projetado, então não se deveria especular que talvez quisesse um golfinho que viesse à tona. Do contrário, então talvez o designer tivesse querido fazer um golfinho voador, e, então, teria falhado miseravelmente. Talvez ele tenha querido que os seres vivos evoluíssem por seleção natural, deriva gênica e outros processos naturais. Mas me pergunto o que o designer teria querido fazer com um parasita que ataca o sistema nervoso de uma criança, fazendo-a sofrer por longo período até que ela morra.

-----------------------


Torno a dizer o que escrevi na mensagem ao Jornal da Ciência:
Os criacionistas são maus vizinhos. Como possuem um jardim todo feio, mal-cuidado, esburacado e carunchado; tentam invadir o gramado da ciência, muito mais bem cuidado, viçoso e em expansão, procurando arrancar as belas flores de seu lugar com as navalhas grosseiras da pseudociência.

Que eles cuidem de seu próprio quintal, antes de maldizer o da casa ao lado.

E já publiquei aqui no NAQ, reproduzo novamente:

Upideite(06/mai/2012): Resumo da ópera:
- O Design Inteligente não é uma religião, ela não diz que o designer é deus.
- Ah, que bom, porque, pelo projeto, o designer é um idiota.
- Blasfêmia!

Nenhum comentário: