quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Mais cientistas para quê?

O ministro de C&T, Sergio Rezende, disse que o país precisa de mais cientistas. Atualmente são cerca de 150 mil no país e que o ideal seriam 700 mil.

Mas em que sentido isso foi dito? No sentido de que é preciso formar mais.

"Temos um grande trabalho para fazer, que é formar pesquisadores, mas, para isso, temos que atrair os jovens e isso depende da ciência brasieira ser mais conhecida e o jovem estar participando de exposições e demonstrações de ciências para ele se interessar".

Ou seja, na visão do ministro, a questão é de oferta.

Em um concurso público para gari (varredor de rua) no Rio de Janeiro, com salário de R$ 486,10, mais tíquete alimentação de 237,90, vale transporte e plano de saúde (e eventual adicional de insalubridade), atraiu mais 100.000 inscritos. Dentre eles, 22 mestres e 45 doutores.

Há várias questões que se levantam (esses mestres e doutores são de que área? qual a formação deles? etc.), no entanto, não consigo deixar de pensar se os 700 mil cientistas que o ministro Rezende quer é para varrição... A pergunta mais premente é: onde serão empregados esses cientistas? Os que existem não conseguem, uma boa parte, emprego aqui na área em que se formaram.

Será que a questão é mais de demanda do que de oferta? Isto é, fomentar a P&D nas empresas brasileiras? Não seria assim que: 1) aumentaria a qualidade dos produtos brasileiros; 2) investir-se-ia na tão decantada inovação; 3) em decorrência de ambos os fatores, aumentaria a competitividade da indústria nacional; 4) aumentar o valor agregado dos produtos exportados; 5) aumentaria o faturamento nas exportações e 6) de quebra geraria emprego qualificado. Aí sim haveria demanda de cientistas, mestres e doutores.

Anualmente o país forma mais de 10 mil novos doutores. E fração significativa não engorda as estatísticas de desemprego porque ficam pulando de pós-doc em pós-doc, sonhando com alguma vaga em uma universidade pública. Mesmo acrescendo aí as IES privadas, não há demanda para todos esses doutores.

(Não que, claro, não seja bonito despertar o interesse na garotada em ciências. A Semana de Ciência e Tecnologia é uma iniciativa louvável. Mas esse interesse não precisa se converter em futuros cientistas. O valor do conhecimento científico está presente em praticamente todos os aspectos da vida cotidiana. Médicos, engenheiros, advogados e até garis podem ter suas vidas enriquecidas sabendo como funcionam as ciências e tendo conhecimentos básicos derivados das atividades dos cientistas - aplicando em seus empregos e em seu dia-a-dia.)

2 comentários:

Duduziuz disse...

Minha dúvida é... como o governo conseguiria fomentar a contratação de cientistas nas mais diversas áreas, fazendo que (quem sabe?) finalmente consigamos entrar num ciclo virtuoso de qualificação do mercado?

none disse...

Salve, Duduziuz,

Valeu pela visita.

Uma das possibilidades é o governo fomentar a pesquisa nas empresas.

A Fapesp, por exemplo, tem o programa Pipe. A Finep tem linhas de créditos para empresas investirem em inovação.

[]s,

Roberto Takata