Ok, Kinouchi disse que não me chamou de "cético conspiracionista". Mas ainda está interpretando equivocadamente meu posicionamento sobre a questão da existência ou não de Jesus histórico. Ele compara a situação com Pitágoras.
Não sou conhecedor da suposta biografia de Pitágoras - não que eu o seja da suposta biografia de Yoshua de Nazareth (não além do que consta na bibliografia oficial do cristianismo) -, se a caracterização do Prof. Kino estiver correta, sim, seria o caso de também dizer que a existência de Pitágoras de Samos não estaria bem sustentada em indícios.
Mas há relatos contemporâneos de fontes independentes sobre Pitágoras. Xenófanes de Colofão não escreveu 95 anos depois da suposta data de morte de Pitágoras. Admite-se que Pyth teria vivido entre 570 (ou571) a.C. e 495 a.C. Xenófanes teria vivido entre 570 a.C. e 475 a.C. Há ainda menções por Heráclito de Éfeso (que teria vivido entre 535 e 475 a.C.).
Vamos então ponto a ponto às alegações de Kino a respeito de meu posicionamento.
1) Está errado. O que eu digo é: "Se um dado relato sobre a existência de uma personagem X contém elementos míticos, a credibilidade desse relato é enfraquecida". Disso não se depreende que esse tipo de relato diminua a probabilidade da existência histórica de X.
2) Na verdade esse posicionamento é o defendido pelo Prof. Kino (e por RJL). P.e. quando eu digo que Beowulf e Robert in the Hood teriam tanto embasamento quanto JC em relação a sua existência histórica baseada em relatos posteriores à sua vida, ambos argumentam que a lenda de Beowulf tem 300 anos de defasagem ao momento que descreve enquanto os livros do NT tem uns 30 anos de defasagem.
3) Novamente, não é depreendida do meu posicionamento. Se os relatos são meramente orais, simplesmente não deixam vestígios contemporâneos (salvo se algum escriba botar no papel - ou em tabuletas de argila ou algo assim). Não é que isso enfraqueça a possibilidade de existência, simplesmente não a apoia.
4) Também não tem nada a ver com o que eu disse. Masaharu Taniguchi é fundador da Seicho-no-Ie e sua figura é razoavelmente mitificada. A probabilidade de sua existência histórica não é diminuída por isso (até porque existem registros fotográficos e de documentos oficiais contemporâneos).
5) Muito menos a ver ainda com o que eu disse.
6) Nunca disse tal falácia. O que digo é que existem relatos sobre ET de Varginha e homens de preto e não são relatos que temos por confiáveis. A conclusão lógica que podemos extrair disso não é que relatos não tenham valor e sim que não são, por si mesmos, indicadores confiáveis na credibilidade dos próprios relatos. (Há versões a respeito desse princípio: "papel aceita tudo", "pessoas mentem", "cheque os dados"...) Podemos dizer que esses relatos não são fontes independentes. Fazem parte de um corpo de textos, e é a partir desse corpo de textos que ficamos sabendo da suposta existência de Josué, o Ungido. Não podemos usar esse próprio corpo de textos como indício da existência da personagem. Uma comparação caricatural seria como usar os quadrinhos do Homem Aranha para provar que Peter Parker tem existência histórica.
(Também não é correto dizer que afirmei que as evidências da existência de Pedro e Tiago são menores do que as de JC. Eu disse: "Não sei se Tiago, José, Simão, etc eram ou não históricos. Mas parece q há até menos indícios a respeito deles.")
O texto de Os Gálatas não chegou em sua versão original até nós. Pode ser que as cópias sejam fiéis aos originais. (Certamente os historiadores verificaram a presença ou não de anacronismos - como existem p.e. no relato de Davi contra Golias.) Vamos supor que sejam - mais, vamos supor que a versão original chegou intacta até nós - o que isso contribui para com a credibilidade do relato a respeito da existência de um Jesus histórico? Nada ou quase nada. a) Ela faz parte do corpo de textos mencionados; b) Princípio do 'papel aceita tudo'.
Voltemos a Beowulf. O mito relata atos embaraçosos do herói. Como mentir sobre Grendel. Isso torna a narrativa mais credível? Ou aos mitos de Arthur: ele teve filho com a própria irmã, foi traído por Guinevere...
Não me supreenderia se um dia encontrarem um túmulo escrito Beowulf. Bem, na verdade eu me supreenderia, já que o hábito era cremar o corpo em um barco - mas talvez um dia possam perfeitamente estabelecer a historicidade da personagem. Mas não se pode dizer que atualmente sua existência esteja bem estabelecida.
Upideite(01/jul/2010): Aparentemente, Kino toma os tais "critérios de autenticidade" usados pelos estudiosos do Jesus histórico como um critério de veracidade da história narrada. Seriam mais critérios de originalidade. Isto é, se uma passagem atende aos critérios considerados (antiguidade, coerência com o que sabe do contexto histórico, colisão com agendas dos editores, etc.), então provavelmente reflete um texto escrito por um autor do início da era cristã - e não um acréscimo posterior feito pelos copistas. E não que o que foi escrito corresponda a uma verdade histórica. Quase todos os critérios de autenticidade poderiam ser utilizados, p.e., para atribuir ou não a autoria de um texto apócrifo a Shakespeare - mas não para dizer se Julieta, Romeu, Henrique VIII, Hamlet, etc. são ou não personagens com existência histórica.
*Shery Crow "Am I getting through" - The Globe Sessions - 1998.
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quarta-feira, 30 de junho de 2010
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