sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Canta, canta minha gente. Ou não?

@nadialapa, também conhecida como Letícia F., postou no blogue Cem Homens um texto sobre mulheres que agem de modo machista ao criticarem mulheres que gostam de se vestir de modo considerado sensual (roupas coladas, que mostram partes do corpo e acentuam as curvas).

Nos comentários, uma leitora reproduziu uma publicação no facebook de uma mulher que gosta de ser assediada (receber cantadas grosseiras). nadialapa sugeriu que a solução seria o assediador perguntar antes.

Creio que não funcione. E não pelo motivo que nadialapa sugere: "Se você não sabe a diferença entre flerte e assédio, realmente perguntar antes não resolve." Essa distinção não tem nenhum papel relevante na questão. Está a se falar de mulheres que gostam de receber cantadas, mesmo as mais grosseiras.

Sim, há que se respeitar as mulheres que não gostam de assédio. Mas a parcela que gosta de cantadas não é insignificante. Se você pergunta antes, digamos, "oi, você gosta de ser assediada?" para uma estranha na rua, a parcela que não gosta vai ser incomodada do mesmo jeito, já para a parcela que gosta será algo anticlimático.

Não convém adotar a estratégia de se assediar a todas, causará transtornos à parcela das mulheres que não gostam disso. Não dá para simplesmente não assediar nenhuma. Declaradamente, as mulheres que gostam têm até a autoestima afetada quando não recebem elogios (mesmo o do tipo que a outra parcela consideraria grosseria)*.

É preciso pensar em um modo prático e que não gere anticlímax que permita a distinção entre os grupos. A prática corriqueira de muitos homens de se fiarem no modo de se vestirem não é boa: parcela significativa das mulheres que gostam de se vestir 'sensualmente' não querem ser assediadas. E não é justo privar essa parcela do direito de se vestirem como gostarem.

(Obviamente o assédio definido como cantada grosseira *não* comporta nenhum consentimento de violação física. Se uma mulher gosta de receber 'cantada de pedreiro', não significa que ela aceite ser tocada.)

*Obs: Não se interprete essa questão de autoestima como uma desculpa, por parte dos homens, de assédio para o bem das mulheres, algo ridículo do tipo: "estou até fazendo um favor". É uma constatação, *declaradamente*, mulheres que gostam de ser assediadas sentem-se feias ou desvalorizadas quando não o são. Obviamente, os assediadores o farão porque faz bem a *eles*.

Disclêimer: O de praxe, sou machista. Não me orgulho disso.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Cemig nas redes sociais: olha o poste!

A Cemig publicou um relatório de sua atuação nas redes sociais. Ela tem perfil no twitter, facebook, flickr, YouTube, e até um blogue no blogger.

Mas já faz mais de três duas semanas que contatei a Cemig pelo twitter falando sobre um poste danificado na Avenida dos Andradas, em Belo Horizonte, que pode cair a qualquer momento - o concreto da base foi esmigalhado e o poste está sustentado apenas pelos vergalhões da armação interna de aço (e apoiado em uma árvore na parte de cima).



Não apenas não recebi nenhuma resposta*, como, muito pior, o poste continua danificado (e está em situação ainda pior do que estava quando tirei as fotos acima). (Sim, também enviei contato pelo formulário do sítio web deles.)

*Upideite(22/nov/2012): Responderam agora que encaminharam a mensagem para o setor responsável. Acompanhemos.

Upideite(23/nov/2012): Olharam. Cravaram uma estaca de madeira (cerca de 4 metros de altura e 20 cm de diâmetro) do lado e fixaram o poste danificado com braçadeiras de metal à estaca. (Infelizmente estou sem câmara para registrar.) Não sei quando providenciarão a substituição do poste.

Upideite(27/mar/2013): Notei, logo depois do carnaval, que trocaram o poste por um novo.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Negacionismo do Holocausto na USP: como parar o avanço da ultradireita?

Depois do núcleo do negacionismo climático no Departamento de Geografia da FFLCH/USP, agora temos um núcleo do negacionismo do Holocausto na Faculdade de Direito da mesma USP.

A ultradireita está mesmo à vontade para tirar suas asinhas de fora.

Precisamos conter essa onda antes que o desastre sobrevenha: uma escalada de violência contra minorias (homossexuais, negros, estrangeiros...), um retrocesso nas garantias legais e constitucionais (avanço de leis que firam o princípio do estado laico, caducamento da Maria da Penha, restrições de direitos humanos...) e vitória dessas campanhas obtusas (criacionismo em aulas de ciências, negacionismo climático orientando políticas públicas, negacionismo do Holocausto em aulas de história...).

Apenas cartas abertas indignadas de associações científicas, de direitos humanos e de movimentos sociais parece não surtir o efeito - talvez se retarde uma ou outra ação dessas, mas aos poucos elas penetram aqui e ali: como as aulas de religião em escolas públicas (incluindo criacionismo) do Rio de Janeiro, as diversas tentativas de tornar a leitura da Bíblia obrigatória em escolas públicas e outros estabelecimentos (e o desrespeito a quem não comunga da mesma religião).

Muitas dessas ações ocorrem nas franjas legais, mas as que violam frontalmente as leis deveriam ser objetos de contestações judiciais.

Campanhas de esclarecimento ajudam? Não sei. Raramente vêm seguidas de medições de parâmetros sobre os efeitos (até por dificuldades operacionais, além dos custos de pesquisas de opinião pública).

É preciso, a meu ver, *organizar* um movimento de reação - é preciso ser organizado para que a força dos números se traduzam em força de pressão e para ganhar alguma musculatura econômica.

Upideite(20/nov/2012):  Nos comentários, Antonio Caleari indica seu texto em resposta às acusações de Sean Purdy. "Em outras palavras, propus-me não a confrontar os argumentos propriamente historiográficos acerca do mérito factual sobre a ocorrência (ou não) de um Holocausto Judeu, no contexto da Segunda Guerra Mundial. Coube ao projeto acadêmico apresentado, aceito e executado, tão somente avaliar, sob a ótica do Direito (especialmente da disciplina juscriminal), se é legítima a ordenação de um delito opinião, com base em um dado período da história recente. Daí a oposição entre o direito de punir do Estado (Jus Puniendi) e o intuito revisionista (Animus Revidere). [...] A chancela acadêmica que recebi na FD-USP (Largo de São Francisco) se deveu unicamente à minha criteriosa observância dos parâmetros científicos que derivaram em argumentos jurídicos, dos quais me utilizei para criticar a criminalização da negação do Holocausto, sob a já citada proposta metadiscursiva, e jamais tendo ocorrido uma falseada laureação ao mérito da teoria revisionista (ao contrário da espalhafatosa manchete no site de Luiz [sic] Nassif: 'A negação do Holocausto laureada na USP'). O resultado foi a avaliação de meu trabalho com nota máxima e posterior indicação ao 'Prêmio Jovem Jurista', apenas cuja premiação é feita pelo Santander, diferentemente do que fora maliciosamente"

Obs: Tendo a concordar com Caleari de que, ao menos em um mundo ideal, não se deveria criminalizar o revisionismo negacionista. Mas continua a ser uma coisa idiota denegar o que é fartamente sustentado em fatos. Como é toda sorte de negacionismo - a negação da ocorrência de um fenômeno (evolução, vínculo câncer de pulmão/tabagismo, aquecimento global e mudanças climáticas) a despeito das evidências em contrário. O revisionismo negacionista do Holocausto, como quase todo negacionismo, não é, porém, de todo inocente. Há consequências práticas nessa postura, como minimizar os horrores sofridos pela população judaica (e outras minorias na Alemanha nazista) e fomentar intolerância contra ela.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Sopa de cabra e espinafre à Guzzo

Não testei a receita, ela é adaptada de uma sopa mexicana.

Ingredientes
500 g de carne de cabra (corte para ensopado) em cubos (mais ou menos 2 cm de lado);
1 cebola média em cubos (mais ou menos 1 cm de lado);
6 tomates grandes picados;
4 batatas grandes cortadas em 4 partes;
500 g de polpa de tomate;
200 g de espinafre fresco picado;
1/2 copo americano de vinho tinto;
3 dentes de alho picados;
2 colheres de sopa rasas de orégano fresco picado;
1/2 litro de caldo de carne;

Ingrediente secreto: Muito amor e carinho.

Modo de preparo
Aqueça em fogo médio-alto um fio de óleo em uma frigideira média e asse a carne até dourar. Reserve a carne em um caldeirãozinho.
Doure as cebolas no óleo da carne, acrescente os tomates e deixe reduzir. Despeje sobre a carne.
Doure as batatas em fogo médio-alto com um fio de óleo em uma frigideira limpa.
Coloque as batatas, a polpa de tomate, o espinafre, o vinho, o alho e o orégano no caldeirão com a carne.
Cubra tudo com caldo de carne e leve ao fogo. Quando levantar fervura, baixe o fogo e cozinhe por uma hora com o caldeirão tampado.

Segredo do preparo: Não seja um babaca.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Deu bode... vade retro, Veja

A transformação da revista Veja em veículo neocon está completa com o texto do diretor editorial do grupo Exame e colunista da revista.

Não irei analisar o texto em si. As bobagens foram todas muito bem identificadas por vários, como Carlos Orsi, Carlos Cardoso, Lola Aronovich, Madrasta do Texto Ruim e vários mais.

A questão é como chegamos ao ponto em que uma publicação que se pretende séria sente-se segura em veicular tamanho despropósito francamente homofóbico. Provavelmente o texto foi revisado pelo setor jurídico para garantir que eventuais processos não deem em muita coisa, mas a revista certamente conta que, de um lado, seus leitores não protestarão - ou o farão com pouca veemência, nada do tipo de cancelamentos em massa de assinaturas -, e, de outro, os anunciantes continuarão a garantir o faturamento bilionário do veículo.

Pelo jeito, fui um tanto otimista há dois anos quando escrevi: "Hoje, se um apresentador de TV brasileiro diz algo que soe minimamente crítico à homossexualidade, haverá uma forte cobrança e há chances de que ele seja condenado na justiça por discriminação sexual."

Sim, somos um país com um certo grau de homofobia mais explícita. 55% dos brasileiros, sabe-se lá por que razão, são contra o casamento entre homossexuais; 34% não votariam de jeito nenhum em um homossexual para presidente; 25% dos brasileiros apresentam um grau mediano a forte de homofobia.

Mas o que fará a parte nada desprezível da população que entende plenamente a legitimidade das reivindicações do movimento LGBTT (que existe sim, afinal, não é o fato de partidos políticos, igrejas e torcidas de futebol congregarem dentro de si tantas correntes, até antagônicas, que faz com que deixem de existir) frente a essa manifestação preconceituosa de um veículo com a visibilidade do semanário da Abril?

Upideite(12/nov/2012): A Diversidade Tucana, pelo twitter, manifestou que o texto merece repúdio de toda a sociedade.

Upideite(13/nov/2012): Além da homofobia, o racismo contra índios também dá o ar de sua desgraça. O jornal mineiro O Tempo, que adota como divisa "jornalismo de qualidade" publicou uma peça de arrepiar tanto quanto o da Veja.*

Upideite(13/nov/2012): O ultraconservadorismo está mesmo em um momento bem saliente: "Estudante que tenta refundar a Arena publica estatuto no 'Diário Oficial'"

*Upideite(13/nov/2012): Menos mal que o colunista de O Tempo tenha sido afastado.

domingo, 11 de novembro de 2012

Grupo abeliano

E o Fluminense chegou, com todo o mérito, a seu *terceiro* título do Campeonato Brasileiro. Campanha irrepreensível: 22 vitórias, 10 empates e 3 derrotas em 35 rodadas - faltando 3 para encerrar a competição.

Segundo título em três anos. Agora sob comando de Abel Braga.

(Não deu pros palmeirenses. Até lutaram e chegaram ao empate, depois de tomarem 2 x 0. Mas com um jogador a menos, contundido e sem poder ser substituído, já que a equipe havia feito as três alterações possíveis, acabou tomando o terceiro gol. Fred livre pelo meio na frente do gol fechou o placar. Terá o Verdão forças pra escapar do descenso?* A se ver, mas eu duvido. Em três rodadas tem que tirar 7 pontos de diferença para o Bahia ou para a Portuguesa.)

*Upideite(20/nov/2012): Não teve. Ficou no empate com o Mengo, com o Bahia vencendo a Macaca e a Lusa empatando com o Tricolor Gaúcho, o Palmeiras cai pra série B. Dinheiro tem pra passar fácil pela segunda divisão de novo - já será vergonhoso se não for campeão, ficar entre os quatro primeiros que sobem é o mínimo que se espera. A incógnita é como se comportará no Paulista, na Copa do Brasil e na Libertadores.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Zero tom de verde - capítulo 16


Esta é uma obra de ficção. Qualquer coincidência com a realidade será mera semelhança.

(Capítulo 1 aqui.) (Capítulo 15 aqui.)
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"Não é meio tétrico isso?"

"O quê?"

"Esse diamante. As cinzas de George."

"Ah, eu acho fofo."

"Posso ver?"

"Claro."

Flora retesou os dedos espalmando a mão direita com o dorso para a frente exibindo a diadema.

"Não. Posso pegar?"

Flora não recebeu bem o pedido de Solange.

"É o George aqui comigo."

"Que isso, Flora? Não é uma competição..."

Flora semicerrou um dos olhos, levantando a sobrancelha de outro e deixou os dentes à mostra da metade esquerda da boca.

"Ok. Tá. É uma competição. Mas uma amistosa.... Né?"

"Não sei. Me diga você."

Solange se emburrou. Virou-se na cama ficando de cara com a parede.

"Sô?"

Nenhuma resposta. Apenas o leve ruído do sopro do ar condicionado. À altura daquele andar, nem mesmo se não houvesse todo um sistema de isolamento acústico em todos os apartamentos do hotel, o som das ruas lá embaixo se faria ouvir.

"Não se preocupe com as dívidas no cartão, Sô. Eu vou pagar. Pago tudo."

Zzzzzzzzzzzzzzzzz vibrava o vento fresco do condicionador.

"Sô, não vou deixar vocês na mão."

Solange arregalou os olhos. Flora sabia. Mas como? Claro, a fatura do cartão. Exames, enxoval, mobiliário e... fraldas, muitas fraldas. Ela se virou lentamente. Mas Flora não estava mais lá, na outra cama.

Flora recostara sua testa levemente contra o espesso vidro da janela. Lá embaixo tudo parecia tão pequeno. Até as pesadas máquinas que removiam os destroços das moradias soterradas pela encosta que desabara. Preocupava-se, sinceramente, com as vidas dos moradores do morro. Eles haveriam de ser realocados para um conjunto habitacional a ser erigido em terreno plano, com água, luz e esgoto que a GC Foods financiara como parte dos acordos com a prefeitura para a cessão do terreno ocupado por aquela comunidade ora destroçada. Havia o inconveniente de as novas moradias serem em uma região mais afastada do centro, mas o prefeito garantira a criação de uma nova linha de ônibus a ser licitada em alguma data futura. Por enquanto, as famílias seriam alojadas provisoriamente em uma escola. Não era um local confortável, no ginásio não havia privacidade certamente; infiltrações e baratas (diriam, também, ratos), por outro lado, não faltavam. Mas a GC Foods forneceria mantimentos – lotes rejeitados pelos padrões de qualidade, mas, garantiam os técnicos da empresa, perfeitamente apropriados para consumo humano.

Solange se aproximou e se postou ao lado de Flora, colocando também a ver as formiguinhas ao solo. Flora mirou a barriga de Solange à mostra sob a camisola aberta.

"Posso ver?"

"Claro."

Solange colocou as mãos sobre o abdômen, deslizando-as para os flancos, como se estivesse a limpar o terreno.

"Não. Posso pegar?"

Solange cerrou a camisola.

"É o George aqui comigo."

"Que isso, Sô? Não é uma competição..."

Quarenta e dois segundos e vinte e sete centésimos de impasse silencioso. Quase ao mesmo tempo devem ter concluído pela infantilidade da situação. O semblante fechado de uma cedeu ligeiramente, o que logo se sucedeu com a outra. Em uma alça de retroalimentação, cada diminuição do estado de animosidade despertava um maior sentimento de apaziguamento na outra. Em três segundos já trocavam um aberto sorriso. As mãos se estenderam em quatro segundos. Seguravam-se em quatro segundos e cinquenta e oito centésimos. Mais dois segundos e trinta e três centésimos e Flora e Solange abraçavam-se, competindo entre si por quem mais chorava que a outra.
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