segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Eleições 2014: Pesquisa eleitorais 4 - vaticina vaticinador 2

O maior derrotado nestas eleições foi a Sensus. Menos pelo fato de ter dado números absurdos não corroborados por outros institutos de pesquisa ao longo dos levantamentos para o 2° turno, do que pela língua solta de seu diretor, Ricardo Guedes.

IstoÉ 11.outO tamanho da rejeição à candidatura de Dilma, torna praticamente impossível a reeleição da presidenta
247 11.out "[Aécio] já está eleito"

E a cada hora, ele falava uma coisa que desmentia o que havia dito antes.
247 17.out "Com os candidatos mais conhecidos, a tendência é a de que o voto fique mais consolidado"
IstoÉ 24.outComo no primeiro turno, deverá haver uma grande movimentação do eleitor no próprio dia da votação
Queimou o filme e a língua que nem o Carlos Augusto Montenegro do Ibope nas eleições de 2010.
Há quem fale em manipulação, pela metodologia falha e pelo horário de liberação dos resultados a tempo influenciar no mercado financeiro. Eu não chego a tanto. Mas vale a pena dar uma investigada.
Outros institutos também se deram mal em previsões, mas não foram tão enfáticos nem erráticos quanto a Sensus.

sábado, 25 de outubro de 2014

Eleições 2014: Pesquisa eleitorais 4 - vaticina vaticinador

Não sei se esta é das eleições em que os institutos de pesquisas estão sendo mais questionados. O que vejo nas redes sociais são os que apoiam o candidato A duvidando dos resultados que mostrem vantagem do candidato B, enquanto os que apoiam o candidato B duvidam dos resultados que apontem vantagem do candidato A.

O que, quando analisados em conjunto, os resultados dos diferentes institutos de pesquisa parecem apontar é o fato mais ou menos óbvio de que este 2o turno está sendo dos mais acirrados em tempos recentes: com cada candidato com números próximos à 50% das intenções de votos.

Mas vários analistas, talvez empolgados com esse clima aquecido pela disputa aparentemente apertada, parecem estar dispostos a darem a cara a tapa e cravando resultados não apenas com antecedência como com uma margem pequena para manobras em caso de falha em suas previsões.

De minha parte acho arriscado e desnecessário, porém não deixa de dar uma certa cor. Como tem previsões para todos os gostos, não é possível que todos acertem e eu *vou* cobrar depois a conta.

Como quando Carlos Augusto Montenegro, do Ibope, vaticinou, ainda em 2009, que Dilma Rousseff não ganharia as eleições de 2010.

A Consultoria Macrométrica, em agosto, cravou que Aécio Neves levaria no 2° turno com 2 a 3,6 pontos de vantagem.

Murilo Hidalgo, do Paraná Pesquisas, afirma que São Paulo decidirá as eleições (bem, não é uma previsão muito arriscada, já que é o maior colégio eleitoral do país - além disso, pode-se falar o mesmo de praticamente qualquer região, uma vez que a diferença tende a não ser muito grande entre o vencedor e o derrotado).

Há histórias um tanto conflitantes em relação a Ricardo Guedes do Instituto Sensus. Segundo o Brasil 247, Guedes disse que Aécio já estaria eleito - quando da publicação do primeiro resultado da pesquisa para o 2° turno, em 11/out - quando o tucano teria 17 pontos de vantagem pelo instituto. Na Isto É, Guedes afirmou: "O tamanho da rejeição à candidatura de Dilma, torna praticamente impossível a reeleição da presidenta". A coisa mudou de figura depois pelo jeito. De acordo também com a Isto É, ele disse, que, assim como ocorreu no 1° turno, deve haver uma grande mudança das intenções de voto dos eleitores mesmo no próprio dia da votação do 2° - quando da publicação da segunda pesquisa, em 24/out, com 9 pontos de vantagem para o senador.  (Ou seja, temos pelo já um furo - que seria praticamente impossível Rousseff vencer; mesmo que Neves vença, ela ainda está no páreo.)

Abaixo figuras plotando os resultados das pesquisas dos diferentes institutos. No painel superior, com dados da Sensus; no painel inferior, com descarte dos dados da Sensus - que são os mais discrepantes do conjunto.

Figura 1. Resultados das pesquisas eleitorais de intenções de votos para presidente no segundo turno das eleições de 2014. Fontes: Datafolha, Ibope, MDA, Paraná Pesquisas, Sensus, Veritás. Painel inferior: com descarte dos dados da Sensus. Dados plotados de acordo com as datas de início dos respectivos campos.

Descartando-se os dados da Sensus, o ajuste linear é razoável (r = 0,78). Não quer dizer que seja o melhor ajuste. Há também problemas em relação ao quanto esses resultados refletem a realidade das intenções de votos e a possibilidade de mudanças de última hora (há pessoas que deixam para decidir no dia da votação - se irão votar e em quem irão votar).

Não me cobrem, não estou cravando a reeleição; mas se eu tivesse que apostar, pelos dados, apostaria nisso.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Eleições 2014: Pesquisas eleitorais 3

Duas observações:

1) Somente institutos mineiros estão dando vantagem para Aécio Neves para além da margem de erro*.
2) Todos os institutos indicam queda nas intenções de voto em Aécio Neves e aumento das intenções de voto em Dilma Rousseff - mas cada qual dentro da margem de erro.

Figura 1. Evolução das intenções de votos para presidente - 2° turbo. VT - Instituto Veritás; SS - Instituto Sensus; DF - Instituto Datafolha; IB - Ibope.

*Upideite(26/out/2014): O Paraná Pesquisas - que não entrou nesta análise - também, em sua primeira pesquisa, mostra vantagem do senador.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Evolução da carga tributária brasileira

A figura abaixo representa a evolução relativa do peso de tributos nas três esferas (municipal, estadual e federal) no PIB - tendo como referência os valores das cargas em 1986.

Figura 1. Evolução da carga tributária brasileira. Valores em 1986 = 1. Fonte: IBPT.

A despeito da frequente grita de que aqui se paga impostos demais, há algumas observações a serem feitas.

1) O maior aumento relativo foram dos tributos municipais. Sim, a base inicial era bem menor (e continua sendo a fração menor dos tributos).
2) Seguido do aumento relativo dos tributos estaduais.
3) O maior aumento relativo dos tributos federais ocorreu durante as gestões de FHC, entre 1995 e 2002 - um aumento de 19,7% em 8 anos.
4) Entre 2003 e 2010, durante a era Lula, o aumento foi de 3,2%.
5) De 2010 a 2013, com Dilma na presidência, o aumento foi de 0,6% - em oito anos, isso resultaria em um aumento de 1,6%.

Houve uma enorme expansão de gastos sociais durante as gestões do PT e, ainda assim, a expansão dos tributos federais foi bem menor do que durante o período governado por FHC.

Eleições 2014: Pesquisas eleitorais 2

Como sói em toda eleição, diversas teorias da conspiração, que houve manipulação dos resultados, que os institutos falharam nos resultados do primeiro turno...

Houve, sim, vários resultados que foram fora da margem de erro anunciada, das pesquisas do dia anterior e das de boca de urna. Mas fazem parte das dificuldades inerentes às pesquisas de opinião, especialmente as eleitorais, e particularmente nestas eleições - com uma divisão mais marcada e diferença menor entre os que apoiam a continuidade do governo e os que querem um novo presidente.

Mas continuo a considerar que, de modo geral, as metodologias dos diferentes institutos são robustas. Neste 2° turno, no entanto, os resultados do Instituto Sensus estão em discrepância acentuada em relação a de outros institutos de pesquisa: Datafolha e Ibope, particularmente.

Figura 1. Resultados das pesquisas de intenção de voto para presidente - 2° turno. Datas: início dos períodos de campo.

Conforme o blogue Olho Neles do jornal mineiro O Tempo, há um problema metodológico da primeira pesquisa da Sensus: a amostragem de cidades incluiu mais cidades com mais eleitores de Aécio Neves no 1° turno. Esse viés, que não necessariamente é proposital (embora o fato do instituto de pesquisa em questão ser sediado em MG façam a delícia de teóricos da conspiração, seria uma acusação de grande gravidade dizer o contrário), parece, sim, estar influenciando no resultado. E pode ser a mesma situação da segunda rodada de pesquisa - já que a diferença persiste.

*Upideite(18/out/2014): Valor Econômico traz reportagem sobre repercussões econômicas da divulgação da pesquisa, de modo inusual, ainda com os mercados em operação no dia.
"A divulgação da pesquisa era aguardada para hoje, porém não é usual que os números saiam ainda com o mercado aberto, o que despertou a atenção dos operadores. 'Alguém ganhou muito dinheiro com isso. Não faz sentido soltar pesquisa com mercado aberto e a pesquisa mostrar uma vantagem de votos desse tamanho', disse a fonte, ao lembrar que os levantamentos feitos por Ibope e Datafolha nas duas últimas semanas apontam empate técnico na corrida ao Palácio do Planalto."

Upideite(28/out/2014): O blog Olho Neles traz informações que tornam os resultados dos institutos mineiros de pesquisa - Sensus e Veritá - muito suspeitos. Não digo que tenha havido fraude, mas o Ministério Público faria bem em dar uma olhadinha. via @kikacastro.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Do Bilhete Único campineiro: viajaremos todos de graça?

A prefeitura de Campinas está tornando o uso do Bilhete Único obrigatório nos ônibus municipais.

Em fase de transição, os busões estão vendendo passes no valor de R$ 5,30 - com R$ 2,00 reembolsáveis mediante a devolução dos cartões nos postos de venda de bilhete.

Já tem problemas ocorrendo e prevejo outros.

1) Não tem passes nos ônibus pra todo mundo. As empresas são, então, obrigadas a transportar os passageiros de graça.
2) É vedada a recusa do pagamento por bens e serviços em espécie em moeda corrente nacional; nos terminais, ok, tem os postos para a venda de créditos para os B.U.s; nos pontos no meio do trajeto, não;
2.1) Também é vedada a recusa de oferecimento de serviço (no caso o transporte) para consumidores que estão dispostos a pagar por ele. Todo mundo que tem dinheiro, ainda que não crédito no B.U., deve poder embarcar sem problema nos ônibus no meio do trajeto;
Código de Defesa do Consumidor Lei 8.078/1990
"Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:
IX - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados em leis especiais"
2.2) Já que os cobradores não poderão aceitar o pagamento das passagens em dinheiro - e a venda dos passes é temporária (só até o fim de novembro) -, quem tiver dinheiro e não créditos no B.U. acabará devendo ser transportado de graça;
2.3) Mesmo no período em que os passes são comercializados nos ônibus e o carro tem passe pra vender, é ilegal *obrigar* o passageiro a comprar o passe - é venda casada: passagem + bilhete (chamado de 'casco').
"Art. 39:
I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos;"

Então, uma boa parte poderá optar por andar com dinheiro normalmente e deverá ser transportado de graça. A teoria econômica neoclássica preveria que *todos* os passageiros optariam por isso; teorias econômicas mais modernas que incorporam a irracionalidade dos consumidores prevê que uma parte utilizará o B.U., mas uma parte optará por andar de ônibus de graça. De todo modo, haverá *perda* de receitas no sistema de transporte público de Campinas.

Uma possibilidade será o aumento do preço das passagens - o que forçará os que ainda optam pelo B.U. a acabarem por optar a andar de graça. Aí vai o ciclo até que não terá aumento de passagem que dará conta.

Uma possibilidade não mutuamente exclusiva, é a prefeitura de Campinas ter que aumentar o repasse para as empresas.

Três evoluções possíveis:
A) Modelo de Curitiba: todos os pontos de parada no meio do trajeto terão postos de venda de passagem/crédito de B.U.;
B) Volta para o modelo com aceitação de dinheiro nos ônibus;
C) Evolução para o subsídio público total do transporte, tornando o sistema efetivamente gratuito para os passageiros. Acho que o Passe Livre torce para isto.
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Upideite(11/out/2014): Outro problema ocorrendo é: como são poucos os postos de venda, especialmente nos terminais, formam-se filas enormes para aquisição de crédito do B.U. Sim, dá pra pagar em lotéricas, mas, p.e., no terminal multimodal Ramos de Azevedo, a lotérica não aceita, só se pode adquirir créditos no posto do terminal - que só tem três caixas, com apenas um funcionando na maior parte do tempo.

Upideite(07/out/2015): A evolução do sistema foi pelo cenário B - a volta do modelo com aceitação de dinheiro nos ônibus. O que conseguiram foi eliminar a figura do cobrador, os próprios motoristas pegam o dinheiro e dão o troco para os que não têm créditos no B.U. Aparentemente o sindicato dos trabalhadores de transporte público de Campinas não são muito mobilizados - ou conseguiram um bom acordo para admitir a eliminação de postos de trabalho.

Upideite(08/out/2015): A Prefeitura de Campinas aumentou o subsídio para as empresas. Em julho deste ano o valor do repasse mensal passou de R$ 2,5 milhões para R$ 5 milhões.

Upideite(23/nov/2017): Um resultado que não antecipei, mas não surpreende: há cobrança diferenciada do preço da passagem entre os que pagam em dinheiro e os que usam o B.U. Com dinheiro é mais caro (atualmente 20 centavos - de R$ 4,30 para R$ 4,50).