quarta-feira, 10 de junho de 2009

Das coisas que não vi (Pra não dizer que não falei das flores.)

Engraçado (trágico, em verdade) como conseguimos ficar alienados das coisas à nossa volta. Ali dentro da USP (câmpus de Butantã), pau comendo solto - bombas de gás, cassetetes, tropa de choque... - e a gente no laboratório mal sabendo o que acontece.

Eu sabia que haveria manifestação - e com a PM no câmpus as chances de dar zica eram enormes -, mas, ali, do meio para o fundo da Cidade Universitária mal dava para saber o que acontecia. No máximo, ouvir o zumzum dos helicópteros sobrevoando toda a universidade. Termina o "expediente", entra no sítio da Folha e vê que há coisa de quinze minutos começava a pancadaria em cima dos manifestantes.

Há coisas com que não concordo na pauta da reivindicação da greve. A principal é a oposição à Univesp e à educação a distância de modo geral. Aqui remeto ao texto de Dimenstein na Folha. A outra, e confesso que não estou inteirado muito bem, apenas na base do ouvir falar, é a reintegração de um funcionário (diretor do sindicato) demitido por agredir um professor. Se houve mesmo agressão física, é rua mesmo.

Mas falando em agressão... A reitoria e a PM dizem que começou com os grevistas, que teriam jogado pedra na PM. Se assim foi, é um ato lamentável e deve ser punido. Mas a versão dos grevistas foi que as ações de violência começaram com a PM. Aí... a coisa pega.

Até a PM estar ali, para cumprir mandado de reintegração, ao contrário da opinião de muitos da USP, acho que faz parte. Pode não ser desejável, mas é um instrumento dentro da legalidade e é, sim, do jogo democrático. E digamos que os manifestantes tenham mesmo começado jogando pedras, a PM reprimir *esse* ato também faz parte do jogo. Mas ao que tudo indica - ainda falo de orelhada - a ação da PM foi muito além de reprimir umas pedras atiradas.

Não foram - pelo menos isso - balas de chumbo, mas atiraram balas de borracha e todo o arsenal de dispersão de aglomeração. Não irei reproduzir aqui as fotos lamentáveis da violência policial.

Outra coisa chata foi ouvir de alguns alunos de EaD da UFSCar que o pessoal merecia mesmo apanhar.

Tenho um amigo PM, tenho amigos na USP, tenho amigos da educação à distância. Fico um tanto quanto desesperado quando ouço uma parte ou outra com um discurso que desumaniza o outro. Como resgatar não apenas a racionalidade, mas a noção da decência humana - do valor da vida humana - nesses momentos de tensão? Será que tem que morrer alguém para enxergarmos as loucuras do discurso do ódio? É a "eloquência do ódio", nas palavras de Manuel Bulcão?

Fico com a imagem de Léo Pinheiro da Futura Press. É manjada (como a citação da música de Vandré). Mas encerra algo do espírito que deveríamos cultivar.

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