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sexta-feira, 27 de maio de 2016

O tamanho da (sub)cultura do estupro

Republico o que escrevi alhures sobre a 'cultura do estupro' com modificações.
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Com dois casos recentes de estupro coletivo (cuidado! contém paywall poroso), um no Piauí e outro no Rio de Janeiro, um termo foi bastante destacado nas discussões sobre isso: a "cultura do estupro".
A "cultura do estupro" não é exatamente um exagero retórico feminista. Como um conjunto de valores e atitudes que toleram e incentivam o abuso sexual, principalmente, de mulheres e crianças, ela existe, sim, conforme podemos inferir a partir de pesquisas de opinião (como medimos conjuntos de valores, atitudes e percepções sobre outros temas como ciência e tecnologia).
Pelo tamanho e matização eu chamaria mais de "subcultura do estupro".
A pesquisa do Ipea de "Tolerância social à violência contra as mulheres" divulgada em 2014 levantou certas críticas em função de um erro que fez inflar o número dos que apoiariam a frase de que mulher com pouca roupa merecem ser atacadas; mas isso foi revisto.
Claro que a maioria da população percebe o estupro como algo essencialmente errado - e até abjeto. Mas a tolerância tende a aumentar em situações que se afastam da situação extrema (que algumas pesquisadoras feministas classificam como "ideação do estupro verdadeiro"): o estupro perpetrado por um completo desconhecido com a vítima relutando, mas dominada fisicamente (e até sob ameaça de uma arma), especialmente com a vítima sendo uma mulher considerada moralmente direita (idealmente, virgem ou casada, recatada, do lar...).
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Concordam total ou parcialmente:
"Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas.": 26%
"A mulher casada deve satisfazer o marido na cama, mesmo quando não tem vontade." 27,2%
"Se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros." 58,5%
"Mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar. " 65,1%
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domingo, 1 de novembro de 2015

Armas e homicídio: dissuasão não muito persuasiva

A Bancada da Bala articula-se com outros setores conservadores do Congresso para a revogação do Estatuto do Desarmamento. Deputados defendem a liberação da posse de arma por cidadãos comuns com argumentos similares - na verdade exatamente igual - aos dos lobistas pró-armas nos EUA (como a NRA): cidadãos de bem armados inibem a ação de bandidos.

Como apoio à tese, citam um tal estudo de Harvard "comprova que, quanto mais armas os indivíduos de uma nação têm, menor é a criminalidade". Na verdade não é um estudo de Harvard - não foi feito por pesquisadores associados à instituição. Não é nem um estudo formal, foi publicado em uma revista editada por estudantes da universidade, sem revisão por pares (logo, sem indexação). E, claro, contém várias falhas.

De todo modo, temos números nacionais sobre o grau de armamento da população e a taxa de homicídios em vários países de modo que podemos fazer uma análise para testar essa hipótese de dissuasão.

O DataBlog do jornal inglês The Guardian tabulou esses valores em 2012. Levantamento similar já foi feito também por pró-armas - plotando as variáveis e fazendo uma regressão linear obtém uma correlação negativa: de fato, quanto maior o número de armas por cidadão, menor o número de homicídios por 100.000 habitantes-ano (Fig. 1).

Figura 1. Mais armas, menos mortes? Regressão linear entre taxa de homicídios por 100.000 habitantes-ano e número de armas a cada 100 habitantes.

Note-se, porém, que o grau de ajuste é muito baixo, como mostrado pelo R² de apenas 0,0104.

Uma relação geométrica tem um ajuste melhor - mas também baixo (Fig. 2).

Figura 2. Mais armas, mais mortes? Regressão geométrica indica o oposto da regressão linear.

Na verdade, um melhor preditor da taxa de homicídio em um país é o IDH: quanto maior o IDH, menores as taxas homicídio (Fig. 3).

Figura 3. Mais desenvolvido, menos mortes? Regressão linear entre logaritmo de IDH e logaritmo de taxa de homicídio (eliminando-se os pontos com valor 0).

A região com IDH acima de 0,613 [log(IDH)>-0,23] tem um ajuste melhor (Fig. 4) - parece que a mortalidade não varia muito (se mantém mais ou menos alta) para IDH mais baixos.

Figura 4. Mais desenvolvido, menos mortes, então? Entre países com IDH maior do que cerca de 0,6 há uma relação inversa relativamente boa entre desenvolvimento e taxa de homicídios.

Considerando-se países com IDH maior do que 0,613, se eliminarmos a influência do IDH e plotarmos as taxas residuais de homicídio (log das taxa de homicídio menos log das taxas de homicídio esperado para o log de IDH), temos uma relação direta (em termos de log) entre a quantidade de armas disponíveis para a população e taxas de homicídio (Fig. 5) - note-se, no entanto, que o ajuste não é dos melhores: R² - 0,17 (mas bem melhor do que, p.e., o ajuste da relação de proporcionalidade direta entre número de armas na população e taxas de homicídio).

Figura 5. Mais armas, mais mortes? Relação linear entre log(número de armas por 100 habitantes) e log(taxa de homicídio - após correção pelo log de taxa de homicídio esperado pelo log do IDH).

Obs. Esta análise não deve ser levada a ferro e a fogo. Mas está de acordo com a maioria dos estudos mais rigorosos publicados sobre o tema como o de Killias 1993.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Política para vândalos e manifestantes coxinhas: Lição 9 ‎#ProtestaBR

#NãoVaiTerCopa

Neste começo de 2014, ano da Copa no Brasil, voltamos a ter os protestos contra os gastos com a realização do evento no país.

Realmente os estádios, entre construções e reformas, representam um montante que impressiona: R$ 8,9 bilhões empenhados até o momento e contando. Mesmo que parte seja dívida privada com o BNDES - que deverá ser pago ao longo do tempo -, há projetos públicos (o Mané Garrincha de Brasília, o Maracanã do Rio, a Amazônia de Manaus e a Pantanal de Cuiabá), e em PPP com concessão (o Mineirão de BH, a Fonte Novo de Salvador, a das Dunas em Natal, Pernambuco de Recife, o Castelão de Fortaleza). Os empréstimos privados são a juros subsidiados por banco público, além de benesses fiscais. O aumento de mais de 300% em relação aos estimados R$ 2,7 bilhões em 2007 é mesmo algo de causar revolta.

O que é meio complicado é que os *protestos* contra os gastos públicos de dinheiro que talvez fosse mais bem aplicado em saúde e educação somente em 2013 geraram um prejuízo de mais de R$ 15 bilhões em perdas de vendas no comércio, fora os R$ 4,5 bilhões em impostos que deixaram de ser arrecadados. Sem contar as dezenas de milhões de reais gastos em depredação de patrimônio público (como sinalizações, edificações, mobiliário urbano...) e limpeza (remoção de pichações, varrição de rua...) e de patrimônio de uso coletivo (principalmente ônibus). Fora as perdas de mercadorias saqueadas ou de perecíveis que estragaram durante bloqueios de estradas; fora as perdas em combustível e produtividade nos congestionamentos. Fora a inflação gerada. Fora a perda de produção nas indústrias. Fora perdas na indústria turística.

Os protestos são legítimos, concorde-se ou não com as reivindicações. Mas, opinião minha, não me parece muito razoável promover perdas públicas maiores do que os valores contra os quais se mobiliza.

Se não é pra ter Copa, talvez ter um pouco de bom senso seja essencial também.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Videogames e violência: uma pequena análise da retórica denegatória

Com frequência quando há um crime violento, sobretudo cometido por jovens*, circulam especulações a respeito da influência de produtos culturais na ação do indivíduo. Como videogames são bastante disseminados e muito consumidos por crianças, adolescentes e adultos jovens (e nem tão jovens) e muitaos dos jogos de sucesso envolvem violência com algum grau de exagero - como derramamento de sangue, uso de armas de fogo e explosivos, desmembramentos... não é difícil associar uma coisa a outra.

Essa associação costuma ser apresentada de modo bastante simplista e, com frequência, há conclusões precipitadas de se pular da correlação para causação.

Não irei, aqui, analisar a validade ou não desse vínculo - pretendo fazer isso alhueres. O que quero é analisar a retórica dos que se *opõem* à apresentação dessas hipóteses.

Aqui temos uma falácia da generalização apressada. O argumento não é que *todo* indivíduo exposto a videogames violentos agiráão de forma violenta, mas sim que pode haver uma *tendência* a induzir comportamentos violentos. Apresentar *um* caso negativo (ou mesmo um punhado selecionados) é apenas uma evidência anedótica: "Minha avó fumou a vida inteira e nunca teve câncer", "Eu bebo e dirijo há décadas e nunca me envolvi em acidentes", "Eu atocho de plugues na mesma tomada e nunca pegou fogo".


Aqui há um certo espantalho. O argumento não é exatamente que jogos violentos geram assassinos, mas, sim, que o consumo de jogos violentos pode *influenciar* comportamentos e aumentar a propensão a realização de atos de violência - incluindo eventuais homicídios. Mas para o contra-argumento apresentado ter alguma validade, a premissa deveria ser: "Jogos, em geral, *determinam* o comportamento das pessoas e de modo bem específico". *Não* é essa a hipótese. Dizer que jogos com elementos X influenciam os consumidores a reproduzirem esses elementos X, não quer dizer que jogos com elementos Y influenciarão os consumidores a reproduzirem elementos Y. Os tipos de estímulos são diferentes quanto a sua natureza e à capacidade de influenciar comportamentos. Alguns estímulos são mais impactantes do que outros. Por exemplo, se você der choque toda vez que um animal escolher um determinado caminho, em pouco tempo, o animal aprenderá a evitar esse caminho. Ele irá associar as duas coisas: um dado local com choque. Mas, no momento do choque, há uma infinidades de outros estímulos simultâneos ou imediatamente antecedentes: o cheiro do laboratório, a presença do operador, barulhos dos equipamentos... Em parte porque esses outros estímulos estão tão presentes no dia-a-dia do animal que mal são percebidos. Encanadores vemos a todo momento, dinheiro também (e associados a diversas outras atividades além da especulação imobiliária). Em uma sociedade relativamente normal, no entanto, atos de extrema violência são menos comuns - até por isso nos chocamos com chacinas, mortes por desmembramentos, atos de tortura...

É possível que, sim, videogames tenham potencial de induzir a violência apenas (ou principalmente) nas pessoas com propensão natural à violência. Não quer dizer que, mesmo neste caso, os videogames tenham um efeito final nulo - serviriam como um gatilho a mais disponível no ambiente para disparar atos de violência entre as pessoas com propensão. (Certamente que isso não seria um argumento que por si só fosse suficiente para justificar a proibição de tais jogos - é preciso botar na balança eventuais benefícios, como o fator diversão para as pessoas sem propensão.)

De fato, não dá pra sermos superficiais e concluir que videogames induzem à violência somente pelos casos de crimes violentos associados ao consumo de jogos violentos, menos ainda que a partir disso devamos proibir tais jogos. Mas, por outro lado, não podemos tampouco fazer uma contra-argumentação rasa para negar a existência de qualquer relação entre ambos. Para se verificar se existe uma ligação é preciso fazer levantamentos estatísticos mais consistentes do que o que normalmente se faz - contra ou a favor -, e tais levantamentos já existem. Bem como existem testes mais controlados sobre os supostos efeitos dos games. Sobre isso planejo fazer uma postagem em outro blogue.

*Upideite(09/ago/2013): Particulamente da classe média.

Armas impressas, um não problema? Minhas cordiais discordâncias a Carlos Cardoso.

Em seu blogue no Meio Bit, Carlos Cardoso faz uma interessante provocação a respeito de armas impressas: elas não são mais perigosas do que as produzidas artesanalmente ou mesmo uma faca.

Os pontos que Cardoso levanta são bem pensados e merecem uma reflexão cuidadosa. De todo modo, eu discordo da conclusão de que a tecnologia de impressão 3D não represente um problema na questão de acesso a armas de fogo de alto poder. Essa conclusão até é válida, mas possivelmente dentro de uma janela de tempo muito limitada.

O potencial de armas de fogo em impressoras 3D é palpável para um futuro próximo. Só porque *hoje* ainda são caras e não são muito resistentes não é motivo para se acreditar que será assim para sempre ou mesmo por muito tempo. Na verdade o que inúmeras tecnologias no ensinam é que elas podem ficar rapidamente acessíveis e confiáveis. Fazer armas caseiras requer uma habilidade maior do que baixar templates e clicar em print: você precisa de, no mínimo, um torno mecânico ou macgyverismo nível 2 para criar uma usando tubos metálicos ou bambus.

Não é nada trivial fazer um cano de alma raiada para um fuzil. Com uma impressora 3D isso não requer prática nem habilidade.

Armas impressas, em resina plástica, ainda podem se tornar virtualmente indetectáveis por processos normalmente utilizados - como detetores de metais em portas giratórias.

Você tentar contrabandear armas é possível e hoje muitos o fazem. Mas elas podem ser detetadas em uma fiscalização aduaneira ou barreiras policiais. O controle sobre download de templates (operação que é necessária uma única vez) e impressão caseira é muito menor (mesmo com Mr. Obama e NSA se esforçando).

Sim, é possível imprimir uma faca. Na verdade você pode comprar várias em qualquer loja sem nenhuma fiscalização. Sim, facas podem ser usadas para matar. Mas o potencial letal de uma arma de fogo é muito maior e o potencial de defesa contra elas é muito menor. (Por isso que a maioria dos bandidos preferem armas de fogo em vez de facas. Por isso armas de fogo tendem a ser mais fortemente reguladas do que armas brancas.)

Livrar-se de uma arma de fogo tradicional ou improvisada é mais problemática do que livrar-se de uma arma impressa. Você pode jogar fora, mas ela não desaparece no ambiente. Precisaria de um alto forno para derreter o metal. Uma arma plástica pode ser destruída sem vestígios com fontes de calor ao alcance de qualquer pessoa.

Em um futuro próximo poderá ser mais barato imprimir uma arma plástica confiável e customizada em casa. E poderá ser mais seguro do que depender de traficantes de armas - você não terá testemunha de aquisição de armas, você não terá um cara que pode te matar se você não tiver dinheiro. Mesmo que Mr.Obama consiga controlar a venda de rifles, eles poderão ser produzidos em casa.

Via Luís Brudna no Facebook.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

PM = Pega na Mentira #ProtestaSP

Sob um certo aspecto, pior do que a violência física dos golpes de cassetetes, dos tiros de bala de borracha, do efeito das bombas de gás lacrimogênio e spray de pimenta é a violência da carice de pau das "explicações" para a truculência policial e outros atos comprometedores. Abaixo uma pequena coleção.

*Cena presenciada pelo iG contraria versão da PM para início de confronto
"Polícia alegou que manifestantes descumpriram acordo ao entrarem na rua da Consolação, mas negociação mostra coronel pedindo que manifestantes ficassem na avenida"

"É o risco da profissão", diz comandante da PM sobre jornalistas feridos durante manifestação em SP

Vinagre pode virar bomba, diz comandante de operação contra protesto em SP
"De acordo com o responsável pela ação, o tenente-coronel Ben-Hur Junqueira, o vinagre representa uma série de riscos em grandes aglomerações de pessoas. Ele chegou a dizer que a substância pode dar origem a uma bomba, embora não tenha dado mais detalhes de como chegou a essa conclusão."

Após golpear carro da corporação em protesto em SP, PM diz que tirava estilhaços
"'Já temos a apuração. Ele não estava quebrando. Na verdade ele estava tirando os estilhaços de um vidro já quebrado durante a manifestação. Isso já está esclarecido', disse Grella."

Bala que atingiu repórter da 'Folha' foi disparada para o chão, diz PM

Balanço oficial da PM aponta só policiais feridos em protesto

Ah, a deliciosa sensação de ser chamado na caradura de estúpido...

Reitero, no entanto, que o problema não são *os* PMs, mas *a* PM e seu modo de agir e se justificar.

*Upideite(16/jun/2013): adido a esta data.

DENÚNCIA: PM DETÉM AÇÃO TERRORISTA

MELIANTE vinculado a revista SUBVERSIVA foi detido por valorosos agentes do excelso órgão mantenedor da ORDEM PÚBLICA, a Polícia Militar do Estado de São Paulo, portando, sem os necessários registros e autorização legais exigidos para produtos CONTROLADOS pelo exército, solução de ÁCIDO metanocarboxílico, também denominado de ÁCIDO etanóico, em monóxido de diidrogênio.

A perigosa substância, obtida da OXIDAÇÃO de METILCARBINOL (uma potente DROGA PSICOATIVA), é utilizada na fabricação de EXPLOSIVOS e PESTICIDAS. Em contato com a pele, mucosas, olhos e vias aéreas, o ÁCIDO metanocarboxílico pode causar: IRRITAÇÃO ocular, dérmica, nasal, laríngica; QUEIMADURAS nos olhos e pele; sensibilização da pele; EROSÃO dentária; escurecimento dérmico, hiperceratose; CONJUNTIVITE, lacrimação; EDEMA faríngeo e BRONQUITE crônica. Pode INFLAMAR se exposto a temperaturas acima de 39oC e EXPLODIR em mistura com o ar a 5,6%.
(http://migre.me/f0MsV)

Somente na Federação Russa, todos os anos, 16.000 pessoas são vítimas de acidentes com o composto. Sendo alta a taxa de mortalidade por INTOXICAÇÃO: 3.360 MORTES anuais.
(http://migre.me/f0MHi)

Claramente, portanto, trata-se de um esquema TERRORISTA, devendo o FACÍNORA ser enquadrado na LEI DE SEGURANÇA NACIONAL.
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http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/sp/2013-06-13/jornalista-e-preso-por-porte-de-vinagre-durante-protesto-no-centro-de-sp.html

domingo, 5 de maio de 2013

A tal "bolsa bandido" - e quando o bandido usa GAP?

A revista Veja, em sua chamada para matéria de capa desta semana (ed. 2320):
"Uma cruel inversão de valores
No Brasil, familiares de alguém morto por bandidos não têm direito a nenhum benefício exclusivo, ao passo que as famílias dos presos contam com o auxílio-reclusão – ou 'bolsa-bandido'. Para ajudar a restaurar a distinção entre vítimas e criminosos, a reportagem VEJA percorreu o país para ouvir crianças e adolescentes que perderam o pai, a mãe ou ambos nas mãos de assassinos Revista VEJA Edição 2320 8 de maio de 2013 É revoltante.
É intolerável
O estado ampara as famílias de quem cometeu crimes bárbaros. Quem cuida das vítimas?"

Não tem direito *exclusivo*, mas tem direito, no caso, à pensão por morte. Corresponde a 100% do valor da aposentadoria que recebia a vítima ou a que teria direito em caso de invalidez. O valor médio do benefício pago é de R$ 756.

O auxílio-reclusão, bom notar que quem recebe é a *família* não o presidiário, é pago apenas se o segurado estiver preso em regime fechado ou semi-aberto sem receber salário (não é pago se estiver em liberdade condicional ou em regime aberto e é suspenso se o segurado estiver fugido) e há um teto para o salário de contribuição que tem direito ao benefício (atualmente é de R$ 971,78) - o benefício é apenas para famílias carentes. O benefício médio pago é de R$ 681,86. Tampouco é *exclusivo* para quem for preso por homicídio.

Qual o motivo de revolta? Se um sujeito comete crime e é preso, a família deve ficar na miséria sem arrimo? Não.

Se um sujeito morre, a família deve ficar na miséria sem arrimo? Não.

Os dois casos são atendidos.

A família do morto também pode pedir indenização:
"Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:
I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima."

Se necessário, podem também ser atendidas, via SUS, para apoio psicológico. Em nível estadual, há ainda os Centros de Apoio às Vítimas de Crimes. O Cravi (Centro de Referência e Apoio à Vítima), de São Paulo, em novembro do ano passado, lançou uma cartilha de orientação às vítimas e seus familiares.

Nem todos esses instrumentos, infelizmente, funcionam como se desejaria e, claro, a dor da perda dificilmente é compensada por qualquer apoio material; mas maniqueísmo barato que se aproveita justamente da dor alheia é algo altamente reprovável - infelizmente tem se tornado padrão, não apenas da Veja, mas de todo um setor midiático que pretende capitalizar em cima das inseguranças do brasileiro (bem como de seu conservadorismo).

Vale lembrar palavras da própria Veja, há 15 anos, quando da terrível morte do índio pataxó Galdino dos Santos, queimado vivo por jovens brasilenses quando dormia em um banco de praça:
"Qualquer pessoa honesta com seus sentimentos sabe que, diante de um crime brutal, às vezes o que se deseja não é justiça mas a vingança, que dá satisfação imediata, alivia e até repara a dor sentida. Mas a Justiça não é isso. Ela existe para que as partes sejam ouvidas, os fatos examinados e, por fim, um juiz, no silêncio de seu gabinete, dê uma sentença de acordo com a lei e com sua consciência. É fácil pedir punições exemplares especialmente quando se trata dos filhos alheios. Também é agradável empolgar-se com o clamor popular a dificuldade é que, muitas vezes, se clama pelas causas erradas, ou mesmo por penas injustas, ou até pela condenação de inocentes, como ocorria no Brasil nos anos do regime militar."

O que mudou de lá para cá? Apenas o ano? Será que o fato de o crime de então ter sido cometido por jovens da classe média contra um índio miserável ativou uma visão mais comedida?

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

PM na USP 2012

Folha: PM saca arma e agride aluno dentro da USP

O que tenho a comentar.
1) Que silêncio comprometedor esse da Reitoria da USP. Odioso silêncio.
2) Espero mesmo que isso não se torne uma escalada. É mais do que natural que o episódio aumente o sentimento de revolta em uma parte significativa dos alunos da USP. Que o comando da PM dê ordens explícitas aos policiais atuantes na universidade para não alimentarem os ânimos ainda mais (se bem que parece que nem o governador, nem o comando da polícia parecem ter lá muita ideia do que ocorre na corporação).

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

PM na USP 2011 (3): por que 400 policiais?

Desocupar reitoria da PUC-SP, invadida por 250 alunos: 110 policiais do BP Choque.

Controlar torcida em jogos de futebol na capital: 90 a 150 PMs. Em jogos considerado de alto risco (clássico cercado de tensão), 220 policiais para manter sob controle 30 mil torcedores.

Conter a rebelião em um presídio como Carandiru (cerca de 7-8 mil presidiários na década de 1990): 341 policiais.

Cumprir ordem de reintegração de posse de reitoria invadida por 60-70 estudantes: 400 policiais da Tropa de Choque (fora helicóptero, carros, cavalos). Sim, o câmpus do Butantã tem uma população de estudantes de cerca de 50 mil alunos; mas boa parte era contra a invasão da reitoria. Só uns 300 se mobilizam por lá, como neste ano - tanto os contrários à presença da PM, como os favoráveis - e em 2009. Com funcionários, na greve de 2009, chegaram a 1.000-2.000: controlados por 20 a 40 homens da PM.

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Queria saber quais parâmetros a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo e o comando da PM utilizaram para dimensionar o efetivo para a operação de reintegração de posse e desocupação da reitoria em quatro centenas de soldados muito bem equipados.

Comparativamente parece-me que carregaram na dose e gastaram dinheiro extra à toa (à toa em termos de efetividade do cumprimento da ordem judicial, garantindo a segurança de todos).

Enviei um email à Polícia Militar perguntando sobre isso. Vamos ver se respondem.

Upideite(16/nov/2011): Eu perguntei (dia 10/nov/2011):
"Prezados Srs.,
Uma dúvida. Como foi definido o tamanho do efetivo e do aparato mobilizado na operação de reintegração de posse da Reitoria da USP no dia 08/11/2011?
Agradeço desde já a atenção.
Cordialmente,
Roberto Takata"

A PM de São Paulo respondeu (dia 16/nov/2011) :
"Prezado Senhor Roberto Takata,
Agradecemos o envio da mensagem, esclarecemos a V. Sª que é realizado um estudo através das normas existentes na Instituição e determinado um levatamento preciso, para poder ter certeza da real quantidade do efetivo, a ser empregado.
Fale Conosco PM"

terça-feira, 8 de novembro de 2011

PM na USP 2011 (2): A criminalidade caiu 92%, e daí?

Em maio, com a repercussão do homicídio de um estudante da FEA em um estacionamento da USP, houve uma intensificação da atuação da PM dentro do câmpus Butantã. Notícias chegaram a ser divulgadas sobre o aumento da criminalidade dentro da Cidade Universitária nos meses que antecederam o assassinato e a redução após o trabalho da polícia.

Com os protestos recentes que terminou na ocupação da reitoria por alguns alunos e sua posterior prisão, brandiu-se um número de que com a PM no câmpus o índice de criminalidade caiu 92%.

Não consigo evitar de levantar minha sobrancelha esquerda (ao menos metaforicamente, fisicamente não tenho tal habilidade) diante desses números.

Peguei os dados dos registros de ocorrência no câmpus principal compilados pela Guarda Universitária da USP - ela tem alguns problemas, por exemplo, não consta o homicídio do estudante mencionado acima, porém, creio que sirva de indicador geral das tendências. Abaixo está o gráfico com os dados desde janeiro de 2007 até setembro de 2011, que são os disponíveis no momento.

As linhas verticais indicam o mês de maio de cada ano. Eu digo que os números da PM são coisa bem marota. Quer dizer, provavelmente os índices caíram mesmo 90 e tantos porcentos depois que a polícia começou a atuar mais ostensivamente na USP/Butantã, porém a sugestão de que as duas coisas se relacionam é beeeeeeeeeeeeeeem discutível.

Os valores oscilam bastante durante o ano. E bem por volta de maio, quando ocorreu o terrível crime, há um pico de ações criminosas dentro do câmpus e, mesmo nos outros anos em que a PM não foi acionada, esse pico é seguido de uma forte queda. A PM comparou 80 dias antes e 80 dias depois. O crime foi em maio, ou seja, o período pós-homicídio inclui julho, período de férias, quando a circulação no câmpus cai bastante.

Fiz uma comparação para os anos de 2007 a 2011 somando os casos de furto qualificado para os meses de março e abril e para os meses de junho e julho de cada ano, as quedas são: 52%, 22,5%, 21,8%, 41,7% e 41,7%.

Desculpe, mas onde a ação da PM causou a queda mesmo?

Disclêimer: Não digo com isso que a presença da PM seja inútil. Eu mesmo sou favorável a que a PM opere dentro da Cidade Universitária (não que minha opinião importe).

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

PM na USP 2011

Não é de hoje que USP + PM = encrenca. E não precisamos voltar aos tempos da Revolução Ditadura. Há pouco tempo houve confrontação entre estudantes e a polícia militar.

Não estava lá e não sei dos detalhes. Segundo a imprensa, começou com a abordagem pelos PMs de três estudantes da FFLCH que estavam no carro fumando um baseado. Mas não dá pra confiar totalmente nos relatos via imprensa, entre outras coisas, ao menos parte dela, está abertamente de má vontade com os alunos.

Sério, repórter *insiste* com os estudantes em ouvir a versão deles - que se recusam pois acham que suas palavras serão distorcidas. Aí encontra uma que é convencida a se manifestar. O repórter escreve em seu blogue: "Em vez de descrever os fatos que originaram a confusão, elucubrou sobre privatização e política estudantil: 'O que aconteceu é uma decorrência da privatização do ensino neoliberal e blá, blá, blá'. Com uma mistura de inocência e arrogância, ela parecia acreditar que aquilo era realmente o que eu queria ouvir. Continuei sem saber o que havia ocorrido. O jeito foi ouvir a história só com fontes da PM."

Como é que é: "blá blá blá"? O cara estava lá para relatar o ocorrido e as versões ou pra qualificar o que as pessoas acham em fatos e blablablá? Oquei, é bom ter discernimento e uma visão crítica, mas nesse caso, que tal, em vez de cortar a fala com blablablá, reproduzir e indicar por que está errado? Como saberemos que é uma mistura de inocência e arrogância se a fala é interrompida? E ainda segue: "o que eu queria ouvir", então repórter só presta atenção no que quer ouvir e não no que o outro tem a dizer? Fico imaginando se ele tentou fazer perguntas objetivas então para arrancar as informações.

Não sei, portanto, como foi a abordagem inicial dos PMs. *Se* a coisa começou por causa de fumo de maconha, concordo que os policiais tinham que fazer a abordagem (se não houver orientação contrária). Segundo o artigo 28 da lei 11.343/2006, a posse de drogas para consumo próprio é crime (está no capítulo III intitulado "Dos Crimes e Das Penas"), um crime leve - as penas são apenas advertência, prestação de serviços e participação em cursos -, mas crime. Policial deve fazer a abordagem, levar as pessoas à delegacia, a ocorrência ser lavrada, haver o indiciamento, seguir para o julgamento com o direito à ampla defesa, proferir-se o veredito e o juiz dar a sentença se for o caso. Mas não há que se usar de violência desnecessária. Houve violência na abordagem? Os estudantes reagiram? Não sei.

Prossegue o jornalista: "Os policiais estavam claramente orientados a manter a calma, fato que depois foi confirmado pelo comandante geral. Tanto que alguns estudantes acenderam baseados e passaram a fumar tranquilamente nos jardins da História, mesmo com a presença das autoridades."

Voltemos um pouco. Falei em "se não houver orientação contrária". Poderia haver orientação da cúpula para se fazer vistas grossas a casos como esse, p.e., justamente para não se provocar animosidades desnecessárias. *Se* for confiável o relato do jornalista de que outros estudantes que se agruparam em torno dos policiais - em protesto à abordagem deles aos três colegas - passaram a fumar sem serem incomodados e que isso revela orientação superior para evitar confrontação, então isso significa que a história poderia ter sido bem diferente: a cúpula poderia ter emitido essa orientação *antes*.

Ok, então pelo menos uma falha houve - sem entrar no mérito da necessidade do convênio entre a reitoria e a PM para o policiamento militar dentro do câmpus da USP - ou a cúpula ignorou o potencial de confrontamento pela abordagem ostensiva a estudantes ou os PMs ignoraram orientação da cúpula para não causar tensões.

Depois disso, há também pelo menos uma falha por parte dos estudantes - um grupo deles pelo menos.

Pode se discutir se foi acertada ou não a ocupação, primeiro da administração da FFLCH, e, depois, da reitoria. Segundo relata outra jornalista, houve uma assembleia que decidiu pela desocupação da administração (e assim foi feito) e um grupo minoritário teria manobrado a reunião para decidir pela ocupação da reitoria (e assim fez um grupo menor). Não sei se foi desse jeito (eu confio na idoneidade da jornalista e tendo a acreditar que foi, mas ela pode ter se confundido - eu sei como essas assembleias costumam ser chatas e confusas), então não irei acusar o grupo que invadiu a reitoria de agir contrariamente ao desejo da maioria em assembleia. Mas qual o erro então? O erro está em que, tendo a Justiça decidido-se pela reintegração de posse do prédio, os ocupantes continuaramcontinuam ali. Concorde-se ou não com a decisão judicial, há que se cumpri-la. A menos... a menos que se opte pela desobediência civil - sim, há o direito extralegal dos cidadãos enfrentarem leis e decisões que considerem injustas. Mas aí... Mas aí é preciso que tal disposição se manifeste na forma não apenas de desobediência à lei ou decisão tida como injusta, como também, e sobretudo, que haja disposição para suportar todas as consequências de tal ato. Enfrentar a lei e não querer arcar com as consequência é apenas afrontar a lei e não um ato de transgressão transformadora.

Se esses estudantes não desocuparem a reitoria, sairem só à força, aceitarem ser presos e julgados, mantendo firme a posição de que eles é que estão certos, aí, mesmo que eu discorde de suas motivações, não terei nenhum argumento para caracterizar como um simples ato de rebeldia imatura.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

PM na USP 2009 (3)

"O cravo saiu ferido,
E a rosa despedaçada." - cantiga popular

Entrevista: Jéssica Monteiro, estudante de Pedagogia, FEUSP
http://www.paulohenriqueamorim.com.br/wp-content/uploads/2009/06/jessica_monteiro_usp_211.mp3

Entrevista: Octaviano Helene, presidente da Adusp
http://www.paulohenriqueamorim.com.br/wp-content/uploads/2009/06/1otaviano-adusp1.mp3

Entrevista: Magno de Carvalho, do Sintusp
http://www.paulohenriqueamorim.com.br/wp-content/uploads/2009/06/magnocarvalho.mp3

PM na USP 2009 (2)

"O horror, o horror" - Joseph Conrad (1857-1924), escrito polonês, em "Coração das Trevas" (1902).

PM no Campus da USP - 2009
http://www.youtube.com/watch?v=deUf8An9Q1o

PM na USP 2009
http://www.youtube.com/watch?v=xwL-b6LUOb4

PM invade Campus da Cidade Universitária e agride estudantes
http://www.youtube.com/watch?v=YNAzxgGtGpA

Pms invadem a USP e jogam bombas em confronto com estudantes 2/2
http://www.youtube.com/watch?v=ml9YQvqh47U

Upideite (11/jun/2009): Fernando Gouveia/Gravatai Merengue, do blogue Imprensa Marrom, referenciou o vídeo abaixo e acrescentou um comentário de ironia: "Nas imagens abaixo, vemos estudantes munidos de flores e cantando músicas de paz junto a policiais."

Acho que ele não observou um dos estudantes segurando uma flor.
É o mesmo que mantém a turba a uma distância dos PMs.

PM na USP

"A primeira vítima da guerra é a verdade" - Hiram Johnson (1866-1945), senador americano

09.06.09, USP: sem palavras
http://myriamks.blogspot.com/2009/06/090609-usp-sem-palavras.html

Debelado foco guerrilheiro na USP
http://hariprado.wordpress.com/2009/06/09/debelado-foco-guerrilheiro-na-usp/
(como pode ter um ou outro desavisado, o texto é irônico)

Relato do Prof. Pablo Ortellado, da USP
http://www.idelberavelar.com/archives/2009/06/relato_do_prof_pablo_ortellado_da_usp.php

Atualização com depoimento do leitor Thiago
http://www.idelberavelar.com/archives/2009/06/urgente_policia_de_jose_serra_espancando_e_bombardeando_estudantes_na_usp.php

Das coisas que não vi (Pra não dizer que não falei das flores.)

Engraçado (trágico, em verdade) como conseguimos ficar alienados das coisas à nossa volta. Ali dentro da USP (câmpus de Butantã), pau comendo solto - bombas de gás, cassetetes, tropa de choque... - e a gente no laboratório mal sabendo o que acontece.

Eu sabia que haveria manifestação - e com a PM no câmpus as chances de dar zica eram enormes -, mas, ali, do meio para o fundo da Cidade Universitária mal dava para saber o que acontecia. No máximo, ouvir o zumzum dos helicópteros sobrevoando toda a universidade. Termina o "expediente", entra no sítio da Folha e vê que há coisa de quinze minutos começava a pancadaria em cima dos manifestantes.

Há coisas com que não concordo na pauta da reivindicação da greve. A principal é a oposição à Univesp e à educação a distância de modo geral. Aqui remeto ao texto de Dimenstein na Folha. A outra, e confesso que não estou inteirado muito bem, apenas na base do ouvir falar, é a reintegração de um funcionário (diretor do sindicato) demitido por agredir um professor. Se houve mesmo agressão física, é rua mesmo.

Mas falando em agressão... A reitoria e a PM dizem que começou com os grevistas, que teriam jogado pedra na PM. Se assim foi, é um ato lamentável e deve ser punido. Mas a versão dos grevistas foi que as ações de violência começaram com a PM. Aí... a coisa pega.

Até a PM estar ali, para cumprir mandado de reintegração, ao contrário da opinião de muitos da USP, acho que faz parte. Pode não ser desejável, mas é um instrumento dentro da legalidade e é, sim, do jogo democrático. E digamos que os manifestantes tenham mesmo começado jogando pedras, a PM reprimir *esse* ato também faz parte do jogo. Mas ao que tudo indica - ainda falo de orelhada - a ação da PM foi muito além de reprimir umas pedras atiradas.

Não foram - pelo menos isso - balas de chumbo, mas atiraram balas de borracha e todo o arsenal de dispersão de aglomeração. Não irei reproduzir aqui as fotos lamentáveis da violência policial.

Outra coisa chata foi ouvir de alguns alunos de EaD da UFSCar que o pessoal merecia mesmo apanhar.

Tenho um amigo PM, tenho amigos na USP, tenho amigos da educação à distância. Fico um tanto quanto desesperado quando ouço uma parte ou outra com um discurso que desumaniza o outro. Como resgatar não apenas a racionalidade, mas a noção da decência humana - do valor da vida humana - nesses momentos de tensão? Será que tem que morrer alguém para enxergarmos as loucuras do discurso do ódio? É a "eloquência do ódio", nas palavras de Manuel Bulcão?

Fico com a imagem de Léo Pinheiro da Futura Press. É manjada (como a citação da música de Vandré). Mas encerra algo do espírito que deveríamos cultivar.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

É uma cilada, Bino

"Torcedores vascaínos sofreram emboscada de corintianos, diz promotor
Segundo Paulo Castilho, policiais que faziam escolta eram ‘suficientes’. Promotor vai recomendar a partir de agora jogos com torcida única."

Agora, a outra versão dos fatos:

O papel de cada um
"O que aconteceu foi que a Rocam parou o ônibus dos torcedores do Corinthians para uma revista. E parou quatro carros de corinthianos que estavam junto. O ônibus dos torcedores corinthianos não tinha nenhuma escolta policial porque, segundo a promotoria, eles não são torcedores organizados com CNPJ. Mas são. Torcedores dos Gaviões da Fiel que se reúnem longe da sede. Só que em um Estado de Direito, onde existe uma constituição que alega que é dever desse Estado zelar pela segurança de seus cidadãos, qualquer pessoa física deveria ter garantida a sua integridade física. Não precisaria pertencer a nenhuma associação, agremiação, clube, empresa, fundação, OSCIP, ONG para conseguir chegar viva ao estádio de futebol. A qualquer lugar.

Com a proteção policial negada e sob ameaça de bater e apanhar, provavelmente a mesma que o promotor havia recebido na manhã de quarta, esse grupo de corinthianos resolveu fazer a própria segurança. Gentileza gera gentileza, estupidez gera estupidez.

Ao ver a Rocam parada em frente ao Clube Esperia, dando uma batida policial no grupo de corinthianos, outros 20 policiais da Rocam que trabalhavam na escolta da torcida do Vasco e que não foram avisados que por aquele caminho fatalmente as torcidas se encontrariam, resolveram parar os ônibus do Vasco a fim de evitar esse confronto. Mas pararam muito perto. Aos poucos, eles foram descendo, 800 deles.

Incontroláveis como toda massa enfurecida por uma rivalidade bestial, porém histórica, os vascaínos partiram para cima dos corinthianos. Carregando barras de ferro, armas, paus, rojões e outros objetos que serviram de arma e que não foram tomados pelos policiais da escolta em uma revista que não aconteceu. E massacraram os corinthianos. E mataram um deles atirando o corpo em uma praça que foi palco da comemoração do Campeonato Paulista de 2009, no mesmo dia que o William pegou fogo."