terça-feira, 5 de novembro de 2013

Sociologia das ciências: who watches the watchmen?

Sociólogos das ciências reclamam de duas coisas:
1) Os cientistas naturais, muitas vezes (quase sempre?), não reconhecem as ciências humanas como ciência sensu stricto;
2) Os cientistas naturais, muitas vezes (quase sempre?), não reconhecem que um enunciado científico é socialmente construído (e, portanto, não é uma criação totalmente objetiva e pode e deve ser questionado). Vide, p.e., "Laboratory Life" de Latour e Woolgar, 1979.

Acho as duas reivindicações justas e eu reconheço que as ciências humanas são, sim, ciências sensu stricto. Com as dificuldades naturais de se analisar fenômenos e processos complexos e dificilmente reprodutíveis em condições controladas de laboratório.

Mas os cientistas sociais, em especial os sociólogos das ciências, precisam reconhecer, então, que o enunciado "todo enunciado científico é socialmente construído":
a) é um enunciado científico;
b) portanto, é socialmente construído;
c) logo, pode e deve ser questionado.
(Deixo para o leitor e a leitora, como exercício, a goedelização disso.)

Assim, uma eventual resistência por parte de setores das ciências naturais à aceitação pura e simples do enunciado "todo enunciado científico é socialmente construído" não deve ser visto, pelo sociólogo da ciências, sob uma lente preconceituosa.

Sim, acabei de inaugurar a sociologia da sociologia das ciências, ou para usar um termo mais compacto e afim do espírito do tempo, a metassociologia das ciências. (Ok, provavelmente minha pretensão de pioneirismo seja furada - certamente alguém já analisou a análise de sociólogos das ciências.)

Em tempo, reconheço também a validade da reivindicação 2, mas rejeito a implicação que normalmente se dá a isso: que os enunciados científicos são meramente enunciados como qualquer outro enunciado, sem nenhum valor objetivo. Não é um valor puramente objetivo, mas podemos, sim, colocar isso à prova por meio dos testes de hipóteses. Daí de uma frase como "amanhã há uma chance de 90% de chover forte em São Paulo" não ser um equivalente a uma frase como "acho que Justin Bieber é uma aberração cultural pós-conceitual". Não estou com isso criando escalas de valores, apenas apontando diferenças.*


*Upideite(06/nov/2013): Aqui não estou fazendo nenhuma reivindicação de pioneirismo quanto à diferença. Vários filósofos das ciências já se debruçaram sobre a questão da demarcação. P.e. Popper, que enfatizava o tema do falsificacionismo via teste de hipóteses.

2 comentários:

André disse...

Não entendi, onde está a incerteza na frase "acho que Justin Bieber é uma aberração cultural pós-conceitual"?

none disse...

Salve, André,

Bem, aí você teria que perguntar pra um sociólogo cultural.

Valeu pela visita e comentário.

[]s,

Roberto Takata