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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Sobre incêndios nas favelas paulistanas

Não há que se negar as grandes tragédias pessoais que são os incêndios recorrentes nas favelas espalhadas pela cidade de São Paulo.

Não poucas pessoas, inclusive muita gente boa, desconfiam que tais eventos não se devam a acidentes, mas sejam talvez provocados por pessoas mal intencionadas tentando se livrar da presença de aglomerações urbanas subnormais - talvez, sugerem, por especulação imobiliária, tentando obter terreno barato para novos e lucrativos empreendimentos e valorizando os imóveis ao redor.

Há, porém, uma explicação bem mais prosaica. Todo fogo precisa de três elementos - combustível, comburente e energia. Nessas construções improvisadas há uma grande quantidade de material facilmente combustível - a começar pelas paredes de madeira e papelão. O comburente é abundante no ar. E, com ligações elétricas clandestinas - os gatos - e sobrecarga sobre fiações inadequadamente dimensionadas e remendadas, fonte para ignição não é problema.

De todo modo analisemos os padrões temporais de ocorrências de fogos nas favelas. Uma iniciativa colaborativa muito interessante tem compilado tais casos de diversas fontes: o Fogo no Barraco. Há dados fornecidos pela Defesa Civil para os anos de 2005 a 2009. Dos anos de 2010 a 2012, os dados foram levantados pelo FnB a partir de notícias publicadas na internet.

Na figura 1, apresento o gráfico da variação do número de incêndios com média de 5 dias ao longo dos anos - de 2005 a 2009.

Figura 1. Padrão sazonal de ocorrência de incêndios em favelas da cidade de São Paulo-SP. Médias para 5 dias. Fonte: Defesa Civil/Fogo no Barraco.

As médias (das médias de 5 dias) e os desvios padrões são respectivamente: 0,31(0,21); 0,29(0,22); 0,28(0,22); 0,29(0,23) e 0,28(0,19). Não é possível nem mesmo dizer que há um aumento no número de ocorrências de incêndios em favelas.

Para os anos de 2005, 2006 e 2008 há picos por volta da primeira semana de julho e primeira semana de agosto. Em pleno inverno.

Na Figura 2, mostro (em números cumulativos) os casos de incêndios em favelas paulistanas relatadas pela mídia entre os anos de 2010 e 2012. (Faço as análises separadamente do conjunto anterior dos dados pelas diferenças metodológicas da coleta dos dados.)

Figura 2. Padrão sazonal de incêndios em favelas paulistanas relatados na mídia entre os anos de 2010 e 2012. Eixo vertical: número cumulativos de casos; horizontal: datas. Losango laranja: início de inverno; triângulo verde: início de primavera; triângulo roxo: início de verão; triângulo amarelo: início de  outono.  Fonte: Fogo no Barraco.

Para os anos de 2010 e 2012 é nítido o aumento de casos próximo ao fim do inverno. Que é a mesma conclusão geral para a análise dos dados colhidos com a Defesa Civil.

E é justamente no inverno que menos chove em São Paulo*. Sendo o balanço hídrico reduzido entre julho e agosto. (Para piorar, ainda há a prática de liberação de balões durante as festas juninas - que podem avançar para julho.)

As investigações realizadas sobre as causas dos incêndios nas favelas são bem vindas. Mas o poder público, em especial a prefeitura, poderia ter medidas mais eficientes de combate aos incêndios nesses locais vulneráveis - coisa que parece não ocorrer hoje.

*Upideite(15/set/2012): Na Figura 3 é apresentada a variação média da precipitação e da umidade relativa do ar em São Paulo ao longo do ano (período: 2005 a 2011).
Figura 3. Variação sazonal da precipitação e da UR em São Paulo-SP (estação Mirante de Santana). Período: 2005 a 2011. Fonte: Dados da Rede do INMET.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Desinformation Society: refrigerantes no blogue do Nassif

Nassif resolveu subir como postagem um comentário conspiratório sobre a Coca-Cola.

Enviei o comentário que reproduzo abaixo

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Tem um monte de refri que leva ácido fosfórico na formulação. P.e. a Pepsi, só pra citar uma concorrente [1].

Mentira que haja proibição do uso de ácido fosfórico em refrigerantes. O que existe são normas que estabelecem limites máximos: no caso, 0,07 g/100 ml [2].

Não é particularmente perigoso - a não ser em sua forma pura, que não é a que está presente nos refrigerantes e alimentos em geral (até aí, o gás cloro em sua forma pura é muito mais perigoso, mas não é assim que ele se apresenta na água tratada). A dose letal 50 (quantidade que provoca morte de 50% dos indivíduos) em ratos por administração oral é de 3,5 g/kg. [3] Se o indivíduo beber uma garrafa de 2 litros, terá ingerido 1,4 g: para uma criança recém-nascido de 3 kg, isso daria 0,47 g/kg; em crianças de 30 kg: 0,05 g/kg; em adultos de 60 kg: 0,03 g/kg.

Há, de fato, bastante açúcar nos refrigerantes, de modo que as pessoas devem consumi-los com moderação - aliás, elas devem tomar cuidado com suas dietas de modo geral, já que a obesidade é cada vez mais um problema de saúde pública no país.

Em suma, é até melhor não se consumir refrigerantes, mas não por causa de teorias conspiratórias e alarmismos infundados.

[]s,

Roberto Takata

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[1] http://www.ambev.com.br/pt-br/nossas-marcas/refrigerantes/pepsi/pepsi

[2] http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/389_99.htm

[3] http://www.basequimica.com/websitebase/index.php?option=com_content&view=article&id=76:acido-fosforico-r-fispq&catid=37:linha-de-produtos-basequimica&Itemid=63

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terça-feira, 29 de junho de 2010

Conspiracionista eu? Jesus!

O Prof. Osame Kinouchi cismou que sou um cético conspiracionista.

Sim, há gente maluca que tem as teses mais baratinadas sobre a existência ou inexistência de Jesus Cristo.

Sim, eu não sou a pessoa mais sã deste mundo.

Sim, eu não acho que seja suficientemente embasada a hipótese da existência de um Jesus Nazareno histórico.

Não, não sou conspiracionista.

Não acredito que haja uma conspiração quer para ocultar provas da (in)existência de Josué de Nazaré quer para forjar provas de sua (in)existência.

Apenas considero que sejam fracos os indícios apresentados para a existência de JC: relatos escritos pelo menos algumas dezenas de anos após a data alegada da morte (ou ascenção) da personagem. Eu me daria por satisfeito se houvesse um relato contemporâneo, p.e., autos do julgamento de JC pelos romanos.

Mesmo relatos contemporâneos podem ser enganosos. Vide o incidente de Varginha. Podemos descartar sem medo que fosse um extraterrestre. Mas as garotas viram mesmo alguma coisa? O quê? E os relatos sobre os Homens de Preto? Abstraindo se são alienígenas, agentes do governo, membros de uma organização secreta ou o que for: haverá pessoas vestidas de preto interrogando pessoas que dizem ter visto seres alienígenas?

É mais ou menos esse o grau de dúvida que expresso. Talvez um pouco inferior.

É um tema aborrecido, porque, fora de contexto, sempre dá margem a interpretações não apenas equivocada (como eu ser conspiracionista) como conspiracionista (eu ter algo contra as religiões, ser anticristão ou coisa que o valha). Centenas de milhões de pessoas crêem em graus mais variados em Jesus Cristo - não apenas histórico como divino. Respeito tal crença, bom dizer. E, até por saber que sempre se cria um clima meio chato, que não trago esse assunto de modo ostensivo. Raramente provoco o assunto - não me furto (bem às vezes me furto) de discuti-lo quando o contexto é adequado (como na postagem do jornalista Reinaldo José Lopes, no blogue Carbono 14, sobre o tema).

Kino insiste que minha visão é minoritária e que deveria explicitar essa condição. Ok. Sim, aparentemente a maioria dos acadêmicos que estudam temas relacionados à Bíblia aceitam a historicidade de Jesus. Se for por isso, pronto. (No contexto, acho desnecessário, pois não estava a discutir com alguém que era exatamente leigo no assunto. Se eu tivesse escrito uma postagem sobre isso, aí, creio que seria o caso.)

Bom reparar que não estou nem ao menos dizendo que Jesus Cristo homem não existiu ou que seja mais provável que não tenha existido. Não chega nem mesmo a ser uma defesa da possibilidade da inexistência.

Pode ser que um homem chamandochamado Jesus, filho de José, nascido em Belém e criado em Nazaré, a quem as histórias do NT se refiram tenha existido. Não chega a ser uma alegação extraordinária. Mas mesmo para uma alegação tão pouco comprometida, os indícios apresentados são fracos para se dizer que seja provável que tal Jesus tenha existido historicamente.

Abstraia os dragões, os demônios e quetais. Terá BewoulfBeowulf existido? Esqueça fadas, feiticeiras, cálices sagrados. Terá Rei Arthur existido? Só que temos são relatos (mitificados) de suas aventuras e desventuras.

Reinaldo José Lopes objeta com a questão temporal: dezenas de anos para Jesus Nazareno e possivelmente algumas centenas de anos para mitos nórdicos e ingleses. Isso pode tornar Arthur e Bewoulf relativamente mais fracos, mas não torna os relatos mesmo de fontes não-cristãs como Josefo tão críveis assim: vide a questão de relatos contemporâneos como o avistamento de Varginha.

Tampouco estou alegando que talvez não tenha existido: para isso eu teria, por exemplo, que apresentar alguma dificuldade para a existência de Jesus histórico - digamos, que Jesus não fosse um nome possível (o que não é o caso).