Várias outras reportagens falam de falta de mão de obra qualificada.
Desculpem-me, mas isso é um mito. Há quem desconfie do Ipea, mas dou mais razão ao pessoal de lá que diz que há um *excesso* de mão de obra qualificada: 1 milhão não arranjará emprego este ano*.
Dos doutores formados entre 1996 e 2008, apenas 71,8% estavam empregados - isso mesmo, 28,2% desempregados: imagine uma economia com tal taxa de desemprego - é mais do que a Espanha em plena crise econômica: 21,29%. Os da área de Engenharia tinham uma situação um pouco menos pior do que a média: 74,1% de taxa de emprego (contra 81,6% de Ciências Sociais Aplicadas, 78,4% de Ciências Humanas, 70,2% de Ciências Biológicas e 69,4% de Ciências Exatas). Os que estavam empregados: 76,8% em Educação; 11,1% em Administração Pública, Defesa e Seguridade Social - sim, todos em empregos públicos.
Não há apagão de cérebros no país. O economista na matéria da Folha diz: "Mas a quantidade de doutores por mil habitantes continua pequena". Até é pequena em comparação com 15 da Alemanha e 23 da Suíça citadas na reportagem. Mas alto lá. A economia brasileira não é alemã nem suíça. A métrica de x profissionais por mil habitantes é falaciosa sem contar com a dinâmica econômica própria da região - ou precisamos formar mais gueixas porque a nossa taxa de gueixas por 1.000 hab. é muito menor do que a do Japão?
Há poucos doutores relativamente. Mas o problema é na demanda, não na oferta. Setores isolados têm problemas - engenharia de minas e de petróleo, tecnologia da informação, por exemplo (que não precisam de doutores) -, mas o quadro geral é de excesso frente ao número total de postos disponíveis - piora se considerarmos só a iniciativa privada.
Precisamos de um choque de capitalismo no capitalismo brazuca. Na verdade, não chegamos no capitalismo de fato por aqui - estamos na fase de acumulação primitiva de capitais. Cadê a iniciativa privada a criar bolsas para suprir suas demandas então?
Eles querem profissionais qualificados a *baixo custo*, aí claro que não há oferta mesmo - por isso vão pra China e Índia e não pro Japão, Canadá ou Coreia do Sul montar os centros de pesquisa. Basta aumentarem os salários a níveis condizentes com a formação exigida que o "apagão de cérebros" desaparece rapidinho. Mais fácil exigir de governos, via universidades públicas, uma explosão de ofertas de doutores - no excesso é mais tranquilo manter os salários achatados. O custo da formação - de cerca de 100 mil reais por cabeça ou até mais contando com investimentos em infraestrutura, equipamentos, material de consumo e pessoal de manutenção e suporte - vai tudotodo pro erário.
Lembremos que tivemos uma grande expansão do setor universitário público sob os governos Lula. Não fora isso, a situação dos pós-graduados seria ainda pior com isso de formar 16 mil doutores por ano.
Repito, o problema é na demanda, não na oferta. Isso de "construa e eles virão" é só no "campo dos sonhos".
Upideite(10/jun/2011): Sabine Righetti faz uma complementação à reportagem no blogue Laboratório da Folha.
*Upideite(10/jun/2011): Naturalmente esse número não é apenas de doutores, inclui pós-graduados, técnicos e graduados no geral - pessoal com formação específica.
2 comentários:
Muito bom mesmo! Esclarecedor! Tenho vontade de seguir pelo ramo acadêmico, mas tenho receio justamente destas condições!
Não é um caminho fácil mesmo, Duduziuz.
Mas é claro que, se a ideia for fazer pesquisa em instituções públicas, nas IES, centros de pesquisa, Embrapas, etc. a titulação ajuda bem no salário.
[]s,
Roberto Takata
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