sexta-feira, 9 de maio de 2014

O Brasil, em fração de PIB, gasta mais em educação do que a Alemanha. E daí?

A nova (nem tão nova) ladainha é que o Brasil gasta, proporcionalmente a seu PIB, muito mais em educação do que países desenvolvidos e com sistema educacional muito mais avançado.

A ideia é menos enfatizar que gastamos mal - o que é verdade (será?) - do que insinuar que gastamos muito: virão acoplados argumentos de que dá pra fazer mais com muito menos. Não precisamos, afinal, gastar tanto em educação e estão errados aqueles que defendem que é preciso aumentar os investimentos na área (anátema pior: defender o aumento dos salários dos professores).

Omitem nesse argumento que não faz nenhum sentido - ou pelo menos está para se demonstrar a existência de sentido - em comparar gastos educacionais proporcionais ao PIB, em vez de gastos por aluno (ou per capita). Nisso - gastos por aluno - estamos *muito* atrás de Alemanha, Cingapura, Noruega, etc.

Não faz sentido comparar gastos em proporção ao PIB: países têm populações com quantidades diferentes de indivíduos em idade escolar e o PIB não é proporcional ao número de estudantes. De modo geral, quanto maiores os investimentos por aluno em educação - surpresa! - melhor o desempenho dos alunos em exames padronizados como o PISA (Fig. 1). (Se tem um país que parece gastar mal é Luxemburgo.)

Figura 1. Relação entre investimento em educação por aluno e desempenho no exame PISA (média para leitura, matemática e ciências). Em vermelho, Brasil; em amarelo, Alemanha. Ano: 2009.

Upideite(10/mai/2014): A figura abaixo (Fig. 2) mostra uma análise da eficiência de investimentos educacionais.

Figura 2. Eficiência de investimento educacional. No painel à esquerda, uma curva de ajuste linear maximizada (com descarte de pontos) entre desempenho no PISA e o investimento por aluno; no painel à direita, uma curva de ajuste linear maximizada (com descarte de pontos) entre o índice de eficiência de investimento e o investimento por aluno. O índice de eficiência foi calculado a partir da divisão entre o total de pontos no PISA acima do valor mínimo calculado pela curva de ajuste no painel à esquerda dividido pelo montante investido por aluno. Ano 2009.

A eficiência de investimento educacional no Brasil está dentro do esperado em relação ao montante investido por aluno. Para maximizá-lo, é preciso *aumentar* o investimento até cerca de 4.500 USD PPP; ou seja, dobrar o montante investido em 2009. Como em 2009 eram investidos cerca de 5% do PIB em educação, isso significa que o objetivo de 10% do PIB em educação é exatamente o que deve ser perseguido para a situação atual do país.

3 comentários:

André disse...

As curva parecem apontar uma saturação na eficiência do investimento para melhoria da educação. Mas estamos longe de atingir esse ponto de saturação.

none disse...

Sim, depois de uns 5.000 USD PPP. Daí que um bom objetivo é dobrar os investimentos em educação em relação a 2009. (Claro q não é botar dinheiro de qq jeito.)

Bom ter em mente que é o PISA é só um proxy e só de uma dimensão. Aumentar os investimentos por aluno pode ser importante por outras razões (p.e., no Brasil, há a merenda escolar como uma função social da escola).

[]s,

Roberto Takata

Unknown disse...

Sao as mesmas estatísticas que nao produzem efeito nenhum.
O que adianta carimbar tanta verba para a educação e não poder ensinar ou simplesmente não ensinar nada que se aproveite.
Para onde vai nessa mar de dinheiro já que educação não tem?
Está é a questão. O ensino precisa de reformas efetivas e o passo já foi dado por Temer, pois parece que o propósito é a unificação do currículo escolar. Eu acho super positivo isso, imagine as crianças da escola pública aprenderem as mesmas coisas que as crianças do Santo Inácio ou Do São Bento? Maravilha.
Só que os professores sequer sabem o que ensinam e ainda tem a disciplina do aluno que hoje é quase nenhuma.
Tem que ser restabelecida a ordem e a autoridade dos professores e daí você verá que com a metade desse valor se fará quatro vezes mais.