quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Criacionismo e academia. Relativistas, prestem atenção a quem convidam pro jantar.

É uma ironia que os criacionistas ativistas consigam brechas na imprensa e na academia por meio do relativismo epistemológico do pessoal de humanas instalando aí cabeças de pontes para seu projeto de combate ao relativismo moral tão caro aos relativistas acadêmicos.

Os relativistas epistemológicos querem que a academia (e as IES públicas ainda por cima) seja palco para eventos criacionistas em nome da pluralidade e da democracia. Pluralidade e democracia que é, em primeiro lugar, negada pelos criacionistas - o tal debate que os relativistas pregam não poderia ocorrer nos templos criacionistas? Mas, vá lá, a universidade é solo, por excelência, da pluralidade. Problema é que o projeto dos criacionistas ativistas é justamente destruir o relativismo moral e epistemológico. Fundamentalistas cristãos que são, seu projeto é o absolutismo moral por meio da religião cristã. Não há, tampouco, espaço para o relativismo epistemológico - a verdade é revelada pela fé cristã.

Ou seja, os relativistas querem que se abram as portas da academia para o projeto de dominação do fundamentalismo religioso. Estão pedindo, em nome da pluralidade, que se abra espaço para algo que deseja suprimir a pluralidade.

Quando alertado quanto a isso, exclamam: "Você está paranoico, está adotando a teoria da conspiração". E ignoram que esse projeto é *documentado* - o famigerado documento Wedge do Discovery Institute.

A parte acadêmica vinculada a instituições confessionais está, sem muita surpresa, tomada pelos núcleos criacionistas - inclusive oficiais com apoio institucional.

Ataques à academia pública tem ocorrido - com vários casos bem sucedidos: Unesp, UFV, UESB, CEFET-SE (hoje IF-SE), UFAL, UFMT já abrigaram eventos criacionistas - sem o debate desejado pelos relativistas, são eventos que contam só com palestrantes criacionistas - inclusive ministrando minicursos. Quase que emplacam um na Unicamp agora.

A percepção relativista epistemológica, que beira à anticiência em seu anticientificismo, é que os criacionistas ativistas são coitadinhos, excluídos pela ciência malvada. Não se tocam que são um movimento altamente coordenado com centenas de milhões de dólares irrigando suas veias - inclusive com museu de criação com infraestrutura que deixa muitos museus de ciência no chinelo (e nem estou comparando com museus brasileiros - é nível internacional mesmo, com animatronics, displays de primeira, instalações amplas...). Parte desses recursos ajudam a organizar seus braços internacionais - inclusive aqui no Brasil.

O alvo inicial é a evolução, mas não é o principal. Nem mesmo o mecanicismo e o materialismo da cosmogonia do Big Bang. O principal é instalar os valores do fundamentalismo cristão. O fundamentalismo cristão e seu machismo - a mulher deve ser submissa ao homem, uma simples máquina de parir novos cristãos -, não raro seu racismo (as barbaridades daquele deputado presidente da CDHM não são aleatórias), sua antidemocracia - teocracia é o nome (vemos bem o que ocorre quando têm poder suficiente para enfiar goela abaixo seus valores - não são poucas as cidades em que vereadores e prefeitos passam leis que obrigam a leitura da bíblia em escolas e sessões legislativas, que dificultam a vida de membros de minorias religiosas). A expressão é, sim, *sequestro* da academia para se referir a seu objetivo inicial da estratégia de cunha ao tentar tornar o "design inteligente" como a visão primordial a respeito da origem da variedade da vida.

Trechos do documento Wedge:
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* "Such moral relativism was uncritically adopted by much of the social sciences"
* "Governing Goals: To defeat scientific materialism and its destructive moral, cultural and political legacies. To replace materialistic explanation with the theistic understanding that nature and human beings are created by God."
* "Discovery Institute's Center for the Renewal of Science and Culture seeks nothing less than the overthrow o materialism and its cultural legacies. Bringing together leading scholars from the natural sciences and those from the humanities and social sciences, the Center explores how new developments in biology, physics and cognitive science raise serious doubts about scientific materialism and have re-opened the case for a broadly theistic understanding of nature."
* "This is precisely our strategy. If we view the predominant materialist science as a giant tree, our strategy is intended to function as a 'wedge' that, while relatively small, can split the trunk when applied at its weakest point."
* "We are building on this momentum, broadening the wedge with a positive scientific alternative to materialistic scientific theories, which has come to be called the theory of intelligent design (ID). Design theory promises to reverse the stiffling dominance of the materialist worldview, and to replace it with science consonant with Christian and theistic convictions."
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Relativistas, portanto, não se deixem iludir.

2 comentários:

Leandro R. Tessler disse...

Para ilustrar o que o que foi dito nesse post, convido os leitores a lerem os comentários que estão na notícia da Isto É. No mínimo assutador.

none disse...

Salve, Tessler,

Bem, comentários de portais de notícias são assustadores, quaisquer que sejam as notícias.

Você sabe por que para a Isto É foi uma questão de professores ateus e não uma questão de professores cientistas preocupados com a propagação de pseudociência e violação da laicidade estatal independente da crença ou não que professa?

[]s,

Roberto Takata