Não leve rankings a ferro e a fogo.
Podem ser úteis em alguma medida, mas não necessariamente o primeiro é melhor do que o segundo em termos para além do próprio ranking.
E raramente os rankings são projetados para que a distância entre o primeiro e o décimo seja a mesma da entre o décimo e o décimo nono.
Muito cuidado ao fazer benchmarks com base em rankings. Você pode listar propriedades comuns aos primeiros colocados (obviamente que não digam respeito diretamente às características usadas para fazer o ranqueamento) que estejam ausentes nos últimos colocados, mas não quer dizer que necessariamente ou com maior probabilidade que o acaso que haja uma relação causal entre tais propriedades e a posição no ranking.
Por exemplo, em uma análise da Folha sobre eleição para reitores em IES públicas no Brasil (em particular na USP):
"A pergunta é: nas grandes universidades do mundo as eleições para reitor são baseadas em voto direto e interno na comunidade? Não."
Por que *a* pergunta seria essa? Aparentemente há a premissa oculta de que "quaisquer qualidades aleatórias presentes em comum nas maiores universidades do mundo estão ligadas à qualidade de ser uma grande universidade". É uma premissa que não se basta por si. Podemos listar uma série de outras características em comum que dificilmente consideraríamos como determinantes válidos de qualidade: as grandes universidades estão nos EUA/Europa - se levarmos essa observação a ferro e a fogo, a conclusão lógica é que não adiantaria criar universidades em outros lugares e esperar que elas sejam grandes.
As grandes universidades do mundo *não* têm um orçamento garantido com base em 10%* dos impostos sobre circulação de mercadorias e serviços. As grandes universidades do mundo *não* têm um processo seletivo formado exclusivamente por uma prova comum de conhecimentos aplicada uma única vez no ano. Haverá ligação causal? Talvez haja, mas não de modo óbvio.
É possível que muito que faz as grandes universidades do mundo grandes seja o fato tautológico de que são as grandes universidades do mundo - o fato de serem grandes, por exemplo, facilitaria a atraírem as melhores pessoas para estudar e trabalhar nelas. Aí seria preciso se voltar para o que *fez* as grandes universidades serem grandes universidades. E é possível que muito disso sejam processos que não tenham diretamente a ver com o modo como as universidades se organizam. Muita coisa pode se dever a fatores casuais ou mesmo aleatórios. Outras a fatores históricos não exatamente reprodutíveis - pode não ser coincidência de que as grandes universidades estejam localizadas nos países que mais fortemente se industrializaram entre os séculos 19 e começo do 20.
É possível que o modo como selecionam os reitores e deões tenha alguma coisa a ver. Mas não de modo óbvio. Assim como não há nada óbvio no fato de a Mona Lisa ser a pintura mais famosa do mundo - a despeito dos milhares de estudos sobre as técnicas de pintura e de composição (a respeito disso vide Watts 2011 "Tudo é óbvio").
Vale ler:
Mlodinow 2009. "O andar do bêbado". Ed. Zahar, 264pp.
Watts 2011. "Tudo é óbvio". Ed. Paz e Terra, 328pp.
*Upideite(08/out/2013): Corrigido a esta data por observação de Ewout ter Haar nos comentários.
sábado, 5 de outubro de 2013
De Mona Lisa, universidades, rankings e eleições para reitor
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3 comentários:
10%, não 1
Está certo que a pé da letra a frase está correto, haha
Salve, Haar,
Verdade, são 10%. Corrigirei.
Obrigado pela visita e correção.
[]s,
Roberto Takata
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