Aronovich
trouxe alguns elementos importantes para pensarmos.
É, sim, patente a baixa representação das mulheres em meio ao conjunto de blogues progressistas (esquerdistas, etc.). Mesmo no blogroll de
Idelber Avelar, entre cinco dezenas de blogues considerados essenciais, menos de 10 são de mulheres ou de grupo de mulheres.
Isso é (considerado juntamente com outros elementos), sim, um índice do grau de machismo entre os blogueiros do sexo masculino (e que são progressistas ou esquerdistas - a coisa não melhora dentre os que se possam chamar de conservadores ou direitistas).
Deve-se entender que esse machismo não quer dizer necessariamente misoginia ou mesmo um menosprezo ostensivo às mulheres. A pessoa - já que mulheres também podem ser - machista pode, sinceramente, ter as mulheres em alta conta e até mesmo defender abertamente a igualdade de direitos: mas continuar a ser machista por haver incorporado a cultura dominante em nossa sociedade. Seja por um sentimento de que as mulheres são frágeis e precisam ser protegidas (e não simplesmente respeitadas), seja pelo simples não se dar conta da questão feminina.
Homens tendem a ter homens entre os amigos mais chegados. Com eles partilharão as conversas mais diversas - e, ocasionalmente, piadas machistas e acharão engraçado e receberão críticas por isso como patrulhamento do politicamente correto. É comum que membros da maioria - não necessariamente por maldade - simplesmente ignorem os problemas enfrentados pelos membros das minorias. (Uma das defesas de ações afirmativas como as cotas é justamente propiciar a convivência com a diversidade de modo a que essa miopia ou autismo seja corrigido.) Aronovich fala em pensar apenas seus próprios
privilégios, eu diria também em seus próprios problemas, uma vez que um membro de uma minoria em um aspecto pode ser membro de uma maioria em outro aspecto.
Mulheres são minoriais por serem mulheres; mas uma mulher da classe média é membro da maioria em termos socioeconômicos. Sendo essa mulher feminista, pode perfeitamente acabar por ignorar a questão dos, digamos, pobres. Claro que o fato de ser membro da minoria por um aspecto ajudaria a entender, por analogia, o problema de membros de outras minorias - embora um entendimento limitado, pois as situações terão suas especificidades: para as mulheres a questão salarial pode ser uma questão importante, enquanto que não para um ateu; para um ateu a questão da aceitação em um círculo social pode ser importante, enquanto que não para uma mulher do mesmo nível socioeconômico.
A agenda atual dos que organizaram o encontro dos blogueiros progressistas tem como prioridade a relação de poder dos grupos de mídia tradicionais. Como tal centram seus esforços aí. Aliado ao fato de calhar da maioria ser composta de homens, acaba-se por, sim, tornar invisível a eles a questão da mulher. Como o fato de serem eles em sua maioria brancos, acaba por tornar invisíveis os problemas relacionados à cor. (Se verificarmos pelos blogrolls, quantos blogues de autores negros estarão listados - seja entre os blogueiros progressistas, seja entre as blogueiras feministas, ou em outro segmento - ?)
Ou não completamente invisíveis. P.e., Rodrigo Vianna trata, sim, da
questão de gênero. Mas termina por não lhe ser prioridade.
Como pontua Ana Paula Diniz, há, em comum a todos, a questão da igualdade, da
justiça social. É, no entanto, um tema muito vasto com diferentes ramificações: a questão de exclusão socioeconômica, da discriminação de gênero, de cor, da exclusão de deficientes físicos... Sem falar na questão ambiental, da liberdade de informação, dos direitos humanos... Há muitas causas a se abraçar e poucos braços para cingi-las. Natural que haja uma certa especialização temática, natural que tal especialização incline-se aos históricos de vida de cada um - que as experiências guiem-se pelo fato de viverem questões relacionadas às condições pessoais: é mais provável que um homossexual sofra discriminação por sua orientação sexual, assim é mais provável que um ativista da causa do combate à discriminação por orientação sexual seja um homossexual.
O importante, talvez, seja manter um espaço para o diálogo. Tais encontros são um candidato natural para tal espaço. Embora não necessite sê-lo e não deva ser o único espaço - afinal, encontros não se organizam todo dia (pelo montante de recursos e esforços necessários). Se o encontro foi criticado por algum grau de exclusivismo - quantos negros foram? quantos deficientes físicos? quantos indígenas? -, é uma oportunidade para se aperfeiçoá-lo em edições futuras: diversificando, se não a pauta, a composição das mesas, dos palestrantes e dos grupos de trabalho.
Afinal o progressismos é isso: um constante aperfeiçoamento, não?