sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Battisti, patacoadas pra todo lado.

O STF extrapola suas atribuições ao meter a mão na cumbuca do refúgio de Cesare Battisti.

A atribuição constitucional do STF é examinar os casos de extradição. Mas tal processo é automaticamente suspenso quando é concedido o refúgio ao indivíduo.

A concessão e cassação do refúgio é atribuição exclusiva do Conare e do MJ. O STF não tem nada a ver com isso.

Não que minha opinião importe, mas particularmente sou inclinado a aceitar o argumento de que Battisti cometeu um crime comum e não político. Mas isso é, de novo, julgamento do âmbito Conare, com o Ministro do Justiça dando a palavra final. A letra da lei é clara:
"Art. 41. A decisão do Ministro de Estado da Justiça é irrecorrível e deverá ser notificada ao CONARE, que a informará ao estrangeiro e ao Departamento de Polícia Federal, para as providências cabíveis."

Ou seja, deve ser um erro do Tarso Genro de ter concedido asilo a Battisti, mas legalmente não haveria nada o que se possapoderia fazer. (Do mesmo modo como o STF também toma decisões que, a meu ver, são equivocadas - como aceitar a legalidade da chamada Lei da Ficha Limpa -, mas nesses casos tem a palavra final.) Isso em âmbito nacional.

Como a Itália alega que o crime de Battisti é comum, e de natureza grave, pela Convenção dos Refugiados das Nações Unidas - da qual Brasil e Itália são signatários - a questão deve ser resolvida por meio da Corte Internacional.

Upideite(09/jun/2011): Depois de já ter se metido onde não deveria, o STF finalmente resolveu liberar Battisti. O caminho da Itália é mesmo Haia.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A campanha verde de Marina

Marina Silva anunciou como um dos objetivos a realização de uma "campanha verde" em que incluía a neutralização do carbono emitido durante sua apresentação como candidata à Presidência da República. Uma meta louvável, mas da qual não obtive mais notícias.

Acabei de enviar à assessoria de imprensa, pelo site da campanha, a mensagem abaixo:
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Prezados Senhores,

Em relação à "campanha verde com emissão zero de carbono", qual a situação atual da contabilidade do equivalente de carbono emitido durante a campanha e qual a previsão para que o passivo criado seja efetivamente eliminado? E quais as medidas que serão tomadas para se cumprir esse objetivo?

Grato,

Roberto Takata
NAQ - Never Asked Questions
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Claro que agora é época de festas e deve demorar um tempo até obter uma resposta. Assim que obtivé-la, publico no blogue.

No quesito prestação de contas, a campanha da senadora elencava a transparência como uma das razões para votar na candidata: "20. É transparente. Marina Silva será transparente na arrecadação e no uso dos recursos financeiros no processo eleitoral. A prestação de contas estará no www.minhamarina.org.br". Só consegui encontrar isto: "Campanha de Marina divulga primeira prestação de contas" (pode estar em algum lugar, mas não consigo encontrar prestação final detalhada).

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

sábado, 25 de dezembro de 2010

Adaptação às Mudanças Climáticas Pós-Apocalipse Zumbi

Há diversos planos de contingência em caso de ataque zumbi.

Mas creio que está na hora de reconhecer os fatos e saber que o apocalipse é inevitável. O lance é, como no caso das mudanças climáticas, traçar planos de adaptação. Teremos que conviver com eles, que somos nós, que somos eles.

O Centro NAQ de Pesquisas Zumbiológicas tem estudado, então, alguns elementos para a convivência, tanto quanto possível, pacífica.

E, como a propaganda é a alma do negócio, a publicidade terá que levar em conta a mudança no perfil dominante dos potenciais consumidores.

Zumbis bebem?
(Devem beber, do jeito que caminham como bêbados...)Beba com moderação pra não cair morto.
*Juro que não havia visto isto antes.
Except vegans. They are ok.
They are low cholesterol healthy food.

"Ah, dessert! Chilled monkey brains."
Novo sabor. É de revirar os olhos.

*Upideite(28/dez/2010): adido a esta data.
Upideite(28/dez/2010):
Caiu? Bateu? Doeu?

Upideite(23/nov/2012): A Sears fez uma campanha para os zumbis em 2010.

A ignorância pretensamente racional

Vejam a barbaridade perpretada pelos responsáveis pelo agregador Central Ceticismo


O Evolucionismo já resolveu sair em protesto ao ato homofóbico. Todos os sítios web listados deveriam aderir ao protesto e denunciar a Central Ceticismo ao Ministério Público por tal prática abjeta.

Upideite(25/dez/2010): O pessoal da LiHS, aka, Bule Voador, dá sua versão.

Upideite(27/dez/2010): A desfaçatez da resposta da CC
Tem coisa que só piora quando tentam arrumar. Esta foi uma dessas coisas.
Upideite(29/dez/2010): E continuam a piorar.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Por que Assange não deve se asilar no Brasil?

Julian Assange, em entrevista a O Estado de São Paulo, declarou que estuda a possibilidade de se asilar no Brasil.

Provavelmente seria um erro.

É bom - para nós - que o WikiLeaks expanda as ações aqui: certamente muitos casos de corrupção e manipulação seriam trazidos à tona. Porém, para Assange, ser asilado político no Brasil significaria sérias limitações.

Pela lei dos refugiados (9474/1997), as atividades de Assange no WikiLeaks podem ser facilmente interpretadas de modo a levar à perda da condição de refugiado:
"Art. 39. Implicará perda da condição de refugiado:
III - o exercício de atividades contrárias à segurança nacional ou à ordem pública;"

Além disso, o refugiado está sujeito à lei do estrangeiro (6815/1980):
"Art. 65. É passível de expulsão o estrangeiro que, de qualquer forma, atentar contra a segurança nacional, a ordem política ou social, a tranqüilidade ou moralidade pública e a economia popular, ou cujo procedimento o torne nocivo à conveniência e aos interesses nacionais.

Art. 107. O estrangeiro admitido no território nacional não pode exercer atividade de natureza política, nem se imiscuir, direta ou indiretamente, nos negócios públicos do Brasil, [...]"

(Uma possibilidade seria ele se casar e ter filhos com uma brasileira.)

O segundo motivo é a grande possibilidade de se passar a chamada lei Azeredo de controle da internet.

Um terceiro motivo é que aqui é muito fácil invadir-se a privacidade, instalar escutas, grampos... (não sei se mais fácil do que em outros países).

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Regresso progressista - resposta

Aronovich trouxe alguns elementos importantes para pensarmos.

É, sim, patente a baixa representação das mulheres em meio ao conjunto de blogues progressistas (esquerdistas, etc.). Mesmo no blogroll de Idelber Avelar, entre cinco dezenas de blogues considerados essenciais, menos de 10 são de mulheres ou de grupo de mulheres.

Isso é (considerado juntamente com outros elementos), sim, um índice do grau de machismo entre os blogueiros do sexo masculino (e que são progressistas ou esquerdistas - a coisa não melhora dentre os que se possam chamar de conservadores ou direitistas).

Deve-se entender que esse machismo não quer dizer necessariamente misoginia ou mesmo um menosprezo ostensivo às mulheres. A pessoa - já que mulheres também podem ser - machista pode, sinceramente, ter as mulheres em alta conta e até mesmo defender abertamente a igualdade de direitos: mas continuar a ser machista por haver incorporado a cultura dominante em nossa sociedade. Seja por um sentimento de que as mulheres são frágeis e precisam ser protegidas (e não simplesmente respeitadas), seja pelo simples não se dar conta da questão feminina.

Homens tendem a ter homens entre os amigos mais chegados. Com eles partilharão as conversas mais diversas - e, ocasionalmente, piadas machistas e acharão engraçado e receberão críticas por isso como patrulhamento do politicamente correto. É comum que membros da maioria - não necessariamente por maldade - simplesmente ignorem os problemas enfrentados pelos membros das minorias. (Uma das defesas de ações afirmativas como as cotas é justamente propiciar a convivência com a diversidade de modo a que essa miopia ou autismo seja corrigido.) Aronovich fala em pensar apenas seus próprios privilégios, eu diria também em seus próprios problemas, uma vez que um membro de uma minoria em um aspecto pode ser membro de uma maioria em outro aspecto.

Mulheres são minoriais por serem mulheres; mas uma mulher da classe média é membro da maioria em termos socioeconômicos. Sendo essa mulher feminista, pode perfeitamente acabar por ignorar a questão dos, digamos, pobres. Claro que o fato de ser membro da minoria por um aspecto ajudaria a entender, por analogia, o problema de membros de outras minorias - embora um entendimento limitado, pois as situações terão suas especificidades: para as mulheres a questão salarial pode ser uma questão importante, enquanto que não para um ateu; para um ateu a questão da aceitação em um círculo social pode ser importante, enquanto que não para uma mulher do mesmo nível socioeconômico.

A agenda atual dos que organizaram o encontro dos blogueiros progressistas tem como prioridade a relação de poder dos grupos de mídia tradicionais. Como tal centram seus esforços aí. Aliado ao fato de calhar da maioria ser composta de homens, acaba-se por, sim, tornar invisível a eles a questão da mulher. Como o fato de serem eles em sua maioria brancos, acaba por tornar invisíveis os problemas relacionados à cor. (Se verificarmos pelos blogrolls, quantos blogues de autores negros estarão listados - seja entre os blogueiros progressistas, seja entre as blogueiras feministas, ou em outro segmento - ?)

Ou não completamente invisíveis. P.e., Rodrigo Vianna trata, sim, da questão de gênero. Mas termina por não lhe ser prioridade.

Como pontua Ana Paula Diniz, há, em comum a todos, a questão da igualdade, da justiça social. É, no entanto, um tema muito vasto com diferentes ramificações: a questão de exclusão socioeconômica, da discriminação de gênero, de cor, da exclusão de deficientes físicos... Sem falar na questão ambiental, da liberdade de informação, dos direitos humanos... Há muitas causas a se abraçar e poucos braços para cingi-las. Natural que haja uma certa especialização temática, natural que tal especialização incline-se aos históricos de vida de cada um - que as experiências guiem-se pelo fato de viverem questões relacionadas às condições pessoais: é mais provável que um homossexual sofra discriminação por sua orientação sexual, assim é mais provável que um ativista da causa do combate à discriminação por orientação sexual seja um homossexual.

O importante, talvez, seja manter um espaço para o diálogo. Tais encontros são um candidato natural para tal espaço. Embora não necessite sê-lo e não deva ser o único espaço - afinal, encontros não se organizam todo dia (pelo montante de recursos e esforços necessários). Se o encontro foi criticado por algum grau de exclusivismo - quantos negros foram? quantos deficientes físicos? quantos indígenas? -, é uma oportunidade para se aperfeiçoá-lo em edições futuras: diversificando, se não a pauta, a composição das mesas, dos palestrantes e dos grupos de trabalho.

Afinal o progressismos é isso: um constante aperfeiçoamento, não?

Regresso progressista - leitora comenta

Lola Aronovich do Escreva, Lola, Escreva comentou esta postagem:

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Post muito didático, explicando muita coisa pra quem finge não ver. Sobre a parte que me toca, há uma diferença gritante entre ser moderadora de grupo e estar numa mesa. Moderadores de grupo, pelo que me lembro, havia 6 grupos, 2 pra cada, um total de 12 blogueiros, e ainda assim, quantas eram mulheres? Duas? Três? Nas mesas, melhor nem falar. E comigo foi assim: desde que vi o número baixíssimo de mulheres, desde que os nomes começaram a ser divulgados, eu deixei um ou dois comentários no Vi o Mundo reclamando disso. No 1o comentário, fui solenemente ignorada. No 2o, a Maria Frô conversou comigo. E no final, devido a um esforço individual DELA, fui chamada. Antes mesmo disso repeti diversas vezes que blogueiros progressistas homens ignoram a existência de blogs escritos por mulheres. Quer um exemplo? Vamos ver o blogroll deles.

O Eduardo do Cidadania tem 30 blogs linkados, e quantos desses são de mulheres? NENHUM. O blog do Renato Rovai tem 13 blogs linkados. Nenhum de mulheres. O do Leandro Fortes tem 18 blogs linkados. Um é de uma blogueira, aleluia! O do Rodrigo Vianna tem 21 endereços como “sites que eu indico”. Tem um de uma mulher – o da Maria Frô. O do Miro tá cheio de “sítios” linkados. Não vou contar quantos são, mas algo me diz que os de mulheres não devem chegar a 10% (chutando alto). Preciso continuar? Ou tá uma boa amostra pra provar que, de fato, esses blogueiros que fazem parte da comissão do Blogueiros Progressistas NÃO conhecem blogs de mulheres? Ou eles conhecem, e eles só não têm o costume de linkar blogs de mulheres? E por que não, se linkam de homens? (vamos ficar na hipótese de que realmente não conhecem blogs de mulheres. É melhor do que achar que eles conhecem e simplesmente não consideram NENHUM digno de link).

Depois, quando veio a entrevista do Lula, eu demorei um monte pra me manifestar, apesar de DE CARA pensar, quando vi que não havia mulheres: "Oops, eles cometeram esse erro de novo!". E o fato é que nenhuma mulher acabou indo. Depois, muito depois, disseram ter convidado 4 blogueiras (sendo que uma não tem blog), e fico feliz que, apesar de no blogroll dessas feras não constar quase nenhuma blogueiras, eles conheçam QUATRO. Uau, quatro blogueiras inteiras! Quando as 4 disseram que não podiam ir, eles convidaram mais alguém? O processo não teve transparência nenhuma, e muita gente reclamou da falta de mulheres, porque, no ano em que elegemos nossa 1a mulher, pegou mal pacas. E muitos desses blogueiros reconheceram o erro. Eles não percebem, porém, que essa falta de mulheres nos seus blogrolls, nos eventos, nas entrevistas, não é coincidência. É consequência do seu machismo. De ignorarem blogueiras, de não quererem conhecer seus blogs. Mas eles ficam ofendidíssimos quando alguém fala de machismo. E, dessa forma, do alto da sua falta de auto-crítica, do alto de seus egos corporativistas, eles não se permitem mudar. Por isso que eu digo, desde o começo, que o episódio com Nassif não foi isolado. Aí, quando Idelber aponta o óbvio (que é preciso se inteirar sobre feminismo, ao invés de ignorá-lo), eles se unem, furiosos, pra destruir reputações. Essa é a nova mídia? Olhando daqui, parece bastante com a velha.
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Regresso progressista

As discussões a respeito do equívoco de Nassif ao dar guarida a uma provocação fortemente machista tiveram um desdobramento para além da questão estritamente do feminismo.

A crítica de Idelber Avelar incluiu elementos de questionamentos a respeito da denominação de "blogueiros progressistas" - particularmente dos organizadores do 1o Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas. O que suscitou, claro, respostas de alguns destes: Eduardo Guimarães (endossada por Luiz Carlos Azenha*) e Rodrigo Vianna.

Aqui há alguns equívocos e incompreesões mútuas.

Idelber Avelar termina por fazer uma generalização indevida. Em sua crítica começa com "alguns dos blogueiros autoidentificados [...] como 'progressistas'", mas logo em seguida isso se torna: "O progressismo blogueiro..."]. Como Avelar resolveu não nomear os criticados, abriu espaço para que terceiros se sentissem atingidos.

Avelar critica a adoção do termo 'progressista'. Mas essa crítica existiu dentro do próprio grupo que organizou o encontro e dele participou - e acabou sendo posta para votação durante o encontro.

Também observa que entre os principais participantes, poucas eram mulheres. De fato, mais homens que mulheres estiveram entre os debatedores e os que conduziram os trabalhos, mas já no início da organização houve preocupação com a representação das mulheres: "PS do Viomundo: Atendendo ao justo protesto de internautas, o Viomundo vai encaminhar moção para incluir três blogueiras na mesa de sábado (eu Azenha, darei lugar à Conceição Oliveira)". Dentre as que foram chamadas para organizar os trabalhos estava ninguém menos que Lola Aronovich (no grupo 2). (Não que isso prove que não exista machismo: onde houver um homem, lá estará um machista - quase que podemos dizer. Mas houve sim preocupação com a representação feminina. Que elas cobrem, como a própria Aronovich, por espaço igualitário é mais do que saudável.)

Se Avelar cobra, com toda razão, maior conhecimento da história da participação das mulheres, entre outras coisas, na evolução dos blogues - incluindo da ala progressista (ou esquerdista ou a denominação que dê); parece ter-lhe faltado um pouco mais de conhecimento da história da organização do evento que critica.

Por outro lado, ao rebater as críticas de Avelar, Eduardo Guimarães e Rodrigo Vianna demonstraram também falta de conhecimento a respeito do trabalho do próprio Avelar. Guimarães diz que Avelar não teve papel algum na contraposição da cobertura midiática do recente processo eleitoral presidencial brasileiro. Isso não é verdade. P.e. Avelar foi um dos que cravaram que a violação do sigilo fiscal de pessoas ligadas ao candidato Serra foi obra do jornalista Amaury Ribeiro Jr. trabalhando para Aécio Neves; também denunciou a participação de funcionárias da Secretaria de Educação do Estado em horário eleitoral. Na verdade, o acompanhamento do processo eleitoral foi tão intenso que o blogue Biscoito Fino e a Massa, durante o processo eleitoral, ficou praticamente monotemático, o que levou à reclamação de parte dos leitores com o abandono de outros temas como a literatura.

Guimarães ainda diz que Avelar ataca Nassif há tempos e cita uma postagem em que Avelar critica Nassif e defende Gravataí Merengue. Mas o mesmo Avelar critica Merengue, com base em informações passadas por Nassif, pelo blogue que este criou para atacar Nassif.

Vianna diz que Avelar, em sua crítica, faz um sofismo: Nassif é sexista, Nassif participou do encontro de blogueiros progressistas, portanto blogueiros progressistas são sexistas. Isso *não* foi dito por Avelar. Avelar acabou cometendo um erro de generalização, mas a base foi outra: o pouco destaque e reconhecimento dado pelos organizadores do encontro aos trabalhos das mulheres. Vianna ainda escreve: "Dizem que ele é mesmo professor". Avelar *é* professor e pode ser facilmente conferido no sítio web da Universidade de Tulane.

*Upideite(22/dez/2010): Azenha também dá sua resposta aqui sem nomear diretamente os alvos da crítica.

Regresso machista

A postagem de um texto crítico ao feminismo (e machista, muito machista) e que utilizava o termo "feminazi" no blogue do Nassif - e de autoria de um leitor desse blogue - acabou suscitando um imbróglio com diversas ramificações.

O texto originalmente foi publicado em uma discussão com Bárbara O. nos comentários de outra postagem no blogue do Nassif.

O desenrolar é tão complexo que eu não saberia fazer um resumo. Aponto duas versões da evolução da história: uma do próprio Nassif, outra de Cynthia Semíramis.

Depois de críticas de diversas pessoas como Idelber Avelar (e de outros que procuraram contemporizar, como Renato Rovai e Conceição Oliveira), Nassif publicou uma retratação - que não foi bem recebida pelas mulheres, como Lola Aronovich.

Nassif desculpou-se, mas os erros cometidos foram grotescos, particularmente três: 1) a própria subida do comentário para uma postagem (até como comentário é ofensivo), 2) a não publicação das respostas das mulheres, 3) as respostas irônicas iniciais às críticas feitas pelo twitter.

Na explicação inicial, Nassif disse que desconhecia o termo "feminazi". À parte o que uma simples googleada poderia resolver, bastava ver a própria sonoridade da palavra - revelando sua composição: feministas + nazistas. É óbvio que isso é ofensivo.

Podemos aceitar que blogues tenham suas idiossincrasias e fujam do que podemos chamar de cultura ou convenções bloguísticas - o padrão geral é que se uma postagem é publicada, mesmo não sendo o autor dela, sem ressalvas, o responsável pelo blogue endossa o conteúdo. No caso do blogue do Nassif, a mecânica é distinta e tem por intuito fomentar a discussão. Bem, há limites do que se pode publicar sob tal escusa - uma postagem ofensiva rompe tais limites.

A retratação de Nassif, embora um tanto tardia, é digna de elogio pelo próprio fato de se reconhecer o erro. No entanto, cheia de ressalvas como veio, isso elimina ou diminui muito do impacto positivo que teria. A bronca das mulheres tem sua razão de ser. O pedido de desculpas foi brando frente ao grau de ofensa cometido (algo vagamente similar é o caso de Bóris Casoy e os garis).

Um tema lateral surgiu em meio a isso: sobre progressismo, esquerdismo e quejandos; mas trato disso em outra postagem.

Disclaimer: Sou machista, admito. Não, não me orgulho. Sim, procuro corrigir esse defeito.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Mike Brown é mesmo o assassino?

O astrônomo Mike Brown lança sua autobiografia intitulada: "How I Killed Pluto And Why It Had Coming".

Mas o NAQ em seu esforço de reportagem mostra que é apenas uma propaganda enganosa. A imagem abaixo mostrarevela que Pluto cometeu suicídio.


Q.E.D.

Pra @ciencianamidia.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Lifebuoy na linha: charlatanismo?

A Unilever trouxe há pouco a marca Lifebuoy pra estas paragens, entrando no mercado em que praticamente apenas a Protex da Colgate-Palmolive se fazia presente (havia - e há - outras marcas menores, com pouco peso em anúncios publicitários): a dos sabonetes antibacterianos.

O slogan promete: "100% melhor proteção contra bactérias*" - com a observação em letras minúsculas: "comparado com sabonetes sem ingredientes antibacterianos".

O que quer dizer ser "100% melhor"? Eles não esclarecem nas peças publicitárias em que anunciam a vantagem. Há dois modos de se interpretar: 1) o total de bactérias removidas é o dobro do das removidas por sabonetes comuns; 2) o total de bactérias restantes é 100% menor. O segundo caso implica que há uma remoção *total* de bactérias.

No vídeo da campanha aparece imagem comparativa representando a pele com o uso de sabonete comum e do produto. A figura abaixo reproduz dois fotogramas: o antes e o depois.


No caso do sabonete comum, segundo a peça, há eliminação de poucas bactérias. Claramente, é sugerido que "100% melhor" deve ser interepretado como o caso 2.

Mas aí vemos no Código Penal a definição de charlatanismo:
"Charlatanismo
Art. 283 - Inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa."

Só escapam por não anunciar cura, mas prevenção - embora não seja um meio secreto (mas vá lá saber o que é fórmula Active5), claramente se propõe como infalível.

O site australiano é mais modesto. Diz que mata 99,9% das bactérias em 10 segundos.

De todo modo, a peça publicitária do Lifebuoy é uma boia furada. O produto deve funcionar, mas esse "100% melhor" está ilustrado de modo altamente enganoso. Sabonetes comuns removem até 98% dos germes da pele em uma lavagem adequada.

Conar e Procon deveriam ter uma conversinha com a Unilever.

domingo, 12 de dezembro de 2010

ATEA tu, Brutus? - 2

A ATEA continua sua saga (acho que podemos chamar disso) para tentar emplacar a campanha do "Ônibus ateu". Desta vez as empresas de ônibus estão criando resistências.

O argumento delas é de que as mensagens são ofensivas à religião e crença - violando legislação local e nacional sobre publicidade.

Pelo menos para algumas peças, eu concordo: as mensagens são ofensivas, sim, à religião.


Vincular crença em deus a Hitler e ao terrorismo não é o melhor exemplo de relações públicas.

Com razão, representaram no MP contra o apresentador Datena por dizer que criminosos são ateus (e vice-versa), e vão usar o mesmo tipo de argumento sobre religião?

Continuo favorável à organização de grupos sociais na defesa de seus direitos. Continuo favorável a que ateus se organizem para combater o preconceito contra eles. Continuo favorável à campanhas do tipo "ônibus ateu". Apenas acho que deveriam escolher melhor as frases. Poderiam, por exemplo, só usar a imagem de Chaplin identificando-o como ateu - não precisa usar imagem de Hitler dizendo que ele acredita em deus.

Ou só a frase mote da campanha: "Diga não ao preconceito contra os ateus".

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Senso ao Censo 2010 - 2

Parece que o IBGE precisa se esforçar mais na campanha de esclarecimento...

No blogue do Nassif, uma leitora escreve que este ano não estão contabilizando os deficientes físicos. É o mesmo caso da confusão de Cavalcanti em O Globo sobre a escolaridade.

Há dois formulários. Um básico e um da amostra (mais detalhado). No da amostra há os itens 6.14 a 6.17 referentes aos portadores de deficiências físicas* no domicílio pesquisado.

O que me estranha é o fato de pessoas saírem tirando conclusões com tão pouca informação. Será que foram procurar no sítio do IBGE, mandaram email, telefonaram para lá?

*Upideite(11/dez/2010): e de outras naturezas.

domingo, 5 de dezembro de 2010

No estilo Muriçoca...

Puisé, não deu pro Timão. Mas o título fica em boas mãos no Fluminense de Conca, Fred, Emerson e principalmente Muricy "Aqui é Trabalho, Meu Filho" Ramalho: quarto título em cinco anos, não é mole, não.

Gol chorado, placar mínimo, assim leva o tricolor das Laranjeiras o merecido *bi*campeonato.

(Se Muricy tem legitimamente quatro títulos brasileiros, isso da torcida pó-de-arroz carioca gritar que é tricampeã é engraçado. Estão na mesma toada de Santos e Palmeiras de quererem equivalência da Taça Brasil e do Robertão com o Brasileiro... se a CBF acatar o pedido, o Palmeiras será bicampeão em 1967, o que não me parece fazer muito sentido. Além de haver dois campeões "brasileiros" no outro ano em que os dois campeonatos foram disputados: 1968.)

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Amazon e Apple: demais e de menos

A Apple tem recebido críticas - acertadas a meu ver - por atitude considerada puritana de vetar toda forma de pornografia: o que acaba por afetar até obras como Kama Sutra e Ulysses e criar certas contradições.

Por outra ponta, a Amazon tem recebido críticas por atitude considerada excessivamente liberal: entre obras distribuídas pelo serviço estão livros que negam o holocausto, ensinam terrorismo e agora (na verdade não é o primeiro caso) um livro que defende a pedofilia.

O site Wikileaks também tem estado na mira de governos e empresas por deixar disponíveis ao público informações comprometedoras.

Bom ter em mente que as situações não são exatamente equivalentes. A opção da Apple, ainda que criticável, não é ilegítima - ela tem o pleno direito de vetar esse tipo de material, mesmo que este não seja ilegal. A Amazon está em seu direito - dentro do território americano, em outras jurisdições a coisa muda de figura: na Alemanha há restrições na comercialização de livros nazistas ou que neguem o holocausto judeu. O caso da Wikileaks é mais limítrofe, com incursões conscientes para além do que seja legalmente permitido (mesmo em terras mais liberais quanto à expressão e informação como a Suécia): ao menos declaradamente, em nome de um outro valor - o direito do público de saber o que empresas, grupos e governos estão a realizar.

É fácil criticar casos explícitos de censura como a imposta por governos como o chinês, mas e se certas liberdades afetam-nos negativamente: imagine, por exemplo, alguém disponibilizar todo o esquema para a construção de um artefato nuclear...

Não sem razão, os que passaram por um forte regime de censura e repressão, como a vivida durante o regime militar no Brasil, terão arrepios ao ouvir falar em limitações à circulação de informação em nome da segurança nacional. Mas há também segurança pessoal: imagine seus dados pessoais - endereço, telefone residencial, senha de conta bancária, tudo - vazado na internet? A Prefeitura Municipal de São Paulo foi condenada a pagar indenização a funcionários públicos pela divulgação dos valores salariais no site de transparência.

O quanto de censura estamos dispostos a aceitar? O quanto de liberdade estamos dispostos a aceitar?

(Sobre o novo livro pró-pedófilo na Amazon, via @Cardoso)

sábado, 30 de outubro de 2010

Pesquisas 18

Votos válidos: DR - Dilma Rousseff; JS - José Serra; VP - Vox Populi; IB - Ibope; DF - Datafolha; SS - Sensus; GP - GPP.

Upideite(30/out/2010): Com o resultado do Ibope de hoje.
Upideite(30/out/2010): E agora do Vox Populi:

Caçadores de racistas

Vetar uma obra de Monteiro Lobato nas escolas é censura?

O Conselho Nacional de Educação decidiu vetar* a obra “Caçadas de Pedrinhos” de Monteiro Lobato por: a) possuir elementos racistas e b) não haver preparo dos professores para lidar com o material.

A grita foi de censura. Será mesmo censura? (Eu discordo do veto e falarei disso mais abaixo, mas por ora quero examinar a questão da censura.)

Passamos há não muito tempo por uma terrível ditadura – o processo de redemocratização mal completa 2520 e poucos anos – que, entre outras barbaridades implementou um sistema de censura. Reportagens, filmes e livros eram proibidos de circular, classificados de imoral, subversivos. Textos e materiais que apresentassem fatos e versões contrários aos interesses da ditadura tinham circulação restrita ou impedida de todo. Era preciso submeter a um comitê avaliador previamente que liberava, classificava ou proibia a circulação e execução da obra.

O CNE tem como uma de suas atribuições avaliar livros didáticos que são comprados pelo PNLD e pelo PNLEM (respectivamente programas de compra e distribuição de livros didáticos para os ensinos fundamental e médio de escolas públicas). Eles podem ser recomendados, recomendados com ressalvas ou reprovados. A reprovação de um livro faz com que os professores não possam pedir a aquisição do título pelo programa – mas não impede seu uso nas escolas: p.e., se o professor tiver cópias, ele tem a liberdade de usá-las com seus alunos.

Há pouco, fez-se a grita de que o livro “Nova História”, comprado e distribuído pelo programa, era “doutrinário” (e tenho a opinião de que ele era) e, assim, inadequado, não devendo ser recomendado pelo MEC. O livro acabou sendo retirado do programa. Isso foi censura?

E os livros que continha palavrões, descrições de crimes e de sexo? Foi um escândalo tanto em nível nacional quanto em nível estadual – pela Secretaria do Estado da Educação de São Paulo que havia adquirido e distribuído esses títulos na rede estadual de ensino. Foram retirados. Censura?

Se isso é censura, então os programas de avalição devem ser interrompidos e *todos* os livros liberados para compra mediante requisição dos professores – seja o Mein Kampf, seja o Caminho Suave; sejam doutrinários ou não; sejam pornográficos ou não. Fim da história.

Agora, se acham que deve haver avaliação de livros para verificar se eles são adequados quanto a questões como preconceito racial, de classe socioeconômica, gênero, idade, etc., de adequação conceitual, de segurança (não incentivar as crianças a realizarem experimentos perigosos, p.e.), não cabe acusação de censura. Pode-se discordar ou concordar com a avaliação – e a crítica ou defesa deve ser quanto ao mérito dessa avaliação. Gritar “censura” não significa nada nesse contexto.

Então, quanto ao mérito, “Caçadas de Pedrinho” é racista? Eu acho que não. Verdade que foi escrito em outra época, em que a questão da discriminação/igualdade racial não era tão proeminente como hoje. Mas não há insinuações racistas ou preconceituosas contra os negros. Os jornais (como O Globo) dizem que os seguintes trechos são destacados como indicação de preconceito racial:
"Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou, que nem uma macaca de carvão".
"Não é a toa que macacos se parecem tanto com os homens. Só dizem bobagens."

Em um trecho anterior do livro, para enfrentar as onças, Pedrinho havia criado pernas de bambu para ficarem bem altos. Quando perguntado se a onça não poderia subir por elas, ele diz que as pernas seriam untadas e ficariam como paus-de-sebo e que nem macacos conseguiriam subir por elas. Mais adiante, Tia Nastácia estava sem as pernas de pau e quando a onça chegou, por medo, subiu rapidamente na árvore, a despeito de suas dificuldades e pouca habilidade natural. Esse é o contexto. Não há nenhuma comparação racista. Além disso, a expressão "macaca" não tem sentido pejorativo, haja vista que no conto sobre Hans Staden, Pedrinho chama sua turma - Emília, Narizinho, que haviam com ele subido em uma árvore, e Visconde, que havia ficado no chão - de "macacada". Carvão é apenas uma descrição da cor da pele - como neve em Branca de Neve.

A segunda frase diz "homens", os homens, seres humanos, dizem bobagens. Não há nenhuma comparação de macacos com negros. É dita em uma reunião que os animais da floresta fazem sobre que atitude tomar ante a morte de uma onça pelas mãos de Pedrinho:
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Logo que os viu reunidos, a capivara tomou a palavra e expôs a situação perigosa em que se achavam todos.
— Quem faz um cesto faz um cento — disse ela. — O fato de terem matado a onça vai encher de coragem esses meninos e fazê-los repetir suas entradas nesta floresta a fim de nos caçar a todos. O caso é bastante sério.
— Peço a palavra! — gritou o bugio, que estava de cabeça para baixo, seguro pelo rabo no seu galho. — Acho que o melhor meio de vocês escaparem à fúria desses meninos é fazerem como nós fazemos: morar em árvores. Quem mora em árvores está livre de todos os perigos do chão.
— Imbecil! — resmungou a capivara, furiosa de tamanha asneira. — Não é à toa que os macacos se parecem tanto com os homens. Só dizem bobagens. Esta reunião foi convocada para discutir-se a sério, visto que o caso é muito sério. Quem tiver uma idéia mais decente que a deste idiota pendurado, que tome a palavra e fale.
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O macaco é o animal e não uma metáfora de pessoa negra.

O parecer aprovado pelo CNE diz: "A crítica realizada pelo requerente foca de maneira mais específica a personagem feminina e negra Tia Anastácia e as referências aos personagens animais tais como urubu, macaco e feras africanas." O texto não se refere apenas a urubus e macacos, há ondas, veados, tatus, capivaras. As feras africanas são mecionadas apenas na imaginação de Pedrinho, que estava decepcionado de, no Brasil, apenas a onça parecer um animal ameaçador constituindo-se em um desafio para caçada - pensa no rinoceronte, que, no livro de Dona Benta, é descrito como muito perigoso, mas o rinoceronte fugido de um circo que encontram é manso e amistoso. Não há nenhum preconceito contra a África nesse aspecto. De fato, a única menção ao urubu é negativa: "E aves, desde o negro urubu fedorento, até essa jóia de asas que se chama beija-flor." - mas é o urubu ave e não é uma metáfora de pessoas negras.

É um excesso de zelo tolo que poderá privar os alunos da rede pública de uma ótima leitura. Algumas expressões realmente soam ofensivas atualmente, como quando Emília chama Nastácia de "pretura". Mas se o parecer absolve o texto de incentivo ao crime ambiental com a caçada de animais silvestres pelo fato da edição apresentar uma nota atual contextualizando que no passado a caça era permitida, uma simples observação quanto a esses anacronismos das relações raciais deveriam bastar - e não pedir que professores tenham toda uma formação sobre gênese do racismo no Brasil.


*Upideite(18/nov/2010): Aparentemente o termo "vetar" não seria correto. O parecer não teria caráter deliberativo, mas apenas de recomendação.

Upideite(09/jan/2011): Eu já havia lido antes, mas acabei não fazendo a menção a duas postagens no Biscoito Fino e a Massa sobre o tema. Ambos a defender a decisão do CNE: este e este.

*Upideite(28/mai/2023): Atualmente minha avaliação sobre o caso mudou bastante. Dado o fato de que Lobato era indubitavelmente racista - com ódio aos negros mesmo - e eugenista ativo, não dá pra sustentar que esses trechos não denotem racismo. Há 10 anos, Feres Jr. e cols. (2013) recomendavam a edição dos livros, suprimindo as partes claramente racistas. Hoje eu tendo a achar que a obra de Lobato não deva ser apresentada às crianças mesmo.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Pesquisas 17 - correção do gráfico

Gráfico corrigido dos resultados das pesquisas sobre intenção de votos publicados até 28 de outubro - somente votos válidos.

Upideite(29/out/2010):
E, aproveitando, abaixo o gráfico com os resultados do Datafolha de ontem:

Habemus papam

Sakamoto preciso em seu twitter sobre a ingerência papal na política brasileira:
"Dando o troco, vou meter bedelho em eleição pra Papa: Acho que quem acoberta pedofilia não pode ser escolhido."

Os candidatos, claro, lamberam as botas do pontífice da ICAR. Triste.

Estado laico cadê?

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Pesquisas 17

Upideite(29/out/2010) CORREÇÃO:
Os gráficos abaixos apresentam uma pequena incorreção sob os critérios adotados por este blogue - os dados do Sensus marcados como dia 13 deveriam ter sido plotados no dia 11, data do início da amostragem (o dia 13 foi o do fim). Estão faltando os dados do Ibope do mesmo dia. O gráfico corrigido e atualizado pode ser conferido aqui.
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Corrida presidencial no segundo turno:


DR - Dilma Rousseff-PT; JS - José Serra-PSDB; VP - Vox Populi; IB - Ibope; DF - Datafolha; SS - Sensus. Somente votos válidos.

Upideite(27/out/2010): Acrescentando os dados do GPP.
Os resultados são compatíveis com os apontados por outros institutos. Há que se notar a diferença metodológica de que o GPP não faz estratificação - não há cotas por classes socioeconômicas. Parte dos resultados é didático na questão de que as pessoas mentem nas pesquisas. Entre os entrevistados, 2,9% dizem que não votou - o absenteísmo no primeiro turno foi de 18%; 3,6% dizem que anulou ou votou em branco - no primeiro turno foi de cerca de 8%. Entre outras coisas, por isso que é surpreendente que os institutos acertem tanto - podemos ver que o percentual dos que declaram ter votado em Dilma, Serra, Marina e outros bate mais ou menos com o resultado do 1o turno. Claro que eu dou risada do índice de 95% dos que declaram que com certeza votarão no 2o turno.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Este blogue está de luto...

Não é pelo Senador Romeu Tuma (não que eu haja lhe desejado mal - não me alegra sua morte, entristece-me, de fato; como a morte de todo ser humano), nem pelo polvo Paul, nem pelo fim do Walkman.

Meu luto é pela morte do governador José Serra. Não a morte física. Que eu saiba ele goza de plena saúde - ao menos somaticamente falando. É pela morte de seu caráter.

Folha: Em convenção da Assembleia de Deus, Serra promete vetar Lei da homofobia
O Globo: Serra promete a evangélicos vetar projeto que criminaliza homofobia

O tucano disse: "Do jeito que está, ele passa a perseguir igrejas que têm posições contrárias ao homossexualismo. Uma coisa é perseguir e fazer grupos de extermínio contra os gays, como tem acontecido. Outra, é proibir que as igrejas preguem contra atos homossexuais entre seus fieis. Eu vetarei essa lei. Essa lei não andará." (Se algum distraído eventualmente não atinou com o que isso significa, troque o grupo: "Uma coisa é perseguir e fazer grupos de extermínio contra negros... outra é proibir que as igrejas preguem contra os negros entre seus fieis.")

Triste fim de um político formado em meio às ideias progressistas da esquerda, da valoração das liberdades individuais, do respeito às diferenças e proteção às minorias.

Já não votaria nele por tudo o que fez em sua campanha. Mas agora faço questão de participar da campanha *contra* a candidatura de José Serra. O grande respeito que nutria pela figura de Serra - a despeito de minhas brincadeiras como sobre a bolinha de papel - evaporou-se por completo.

Dilma Rousseff, seja bem-vinda, presidente!

Upideite(26/out/2010): Deixe-me assinar esta postagem - Roberto Takata.
Upideite(27/out/2010): André Lima, no twitter, diz que é um espantalho a comparação com a situação dos negros. Não é. Criticar atos homossexuais é o mesmo que criticar os homossexuais, pois é a vera definição do que eles são. André cai na ladainha homofóbica - não que ele seja homofóbico, bem entendido - do "criticar o pecado e não o pecador". É um subterfúgio de discriminar as pessoas fingindo que não se está a discriminá-las. Mas se ainda quiser insistir: Pense em: "outra coisa é proibir que as igrejas preguem contra a negrice, coisa de preto, entre seus fieis".
Upideite(27/out/2010): O grupo da Diversidade Tucana postou a versão deles da questão. Douraram a pílula, mas deixaram de fora a parte reveladora: "Eu vetarei essa lei. Essa lei não andará." Sem falar que não há nada na PLC 122/2006 que fale sobre religião. É tergiversação.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

De Cunto, cê tá errado

A Globo pediu um parecer para outro perito independente. De Cunto também confirma que Serra foi atingido por um rolo - ou um objeto toroide (o site dele encontra-se agora fora do ar por excesso de acessos, uma cópia no blogue do Nassif). Apresenta a imagem abaixo como prova:
Mas basta olhar a imagem anterior:
Veja o detalhe das duas imagens:
Se o tal objeto toroidal (ou rolo de fita) tivesse atingido Serra, teria sido antes - desde pelo menos 4,7 segundos no vídeo - mas aí esse objeto teria se *grudado* no cocuruto do candidato, já que continua *e no mesmo lugar* no quadro de 4,9 segundos do vídeo.

A parte superior do toroide ou do rolo é, como apontado antes, o cabelo da pessoa atrás de Serra, a parte de baixo é o brilho e sombra da careca do próprio Serra - ou, antes, das bossas e depressões da careca.

Upideite(27/out/2010): O jornalista Italo Nogueira informa que o modelo do celular usado foi um Nokia E71. Quem tiver um aparelho igual poderá tentar reproduzir as condições e ver como uma fita se comportaria no vídeo. No comentário de uma postagem no Novo em Folha, Nogueira esclarece que a resolução estava em "alta".

sábado, 23 de outubro de 2010

Maltazar vs Nute Gunray


Maltazar (Arthur et les Minimoys)


Nute Gunray (Star Wars prequels I, II, III)

Molina, cê tá errado

O perito independente Ricardo Molina defende sua análise do vídeo de Serra tomada por celular pelo jornalista da Folha. Parafraseando uma velha piada, há aspectos corretos e contundentes. Mas o que é correto não sustenta a tese dele (da Globo e da Folha) e o que é contundente não é correto.

1) Sim, os dois vídeos - do SBT e da Folha - retratam momentos distintos. Isso *ninguém* contesta. (Eu seria maldoso ao dizer que insistir nisso - em diferenças tão óbvias que até uma criança recém-alfabetizada ou pré-alfabetizada veria - seria uma técnica de tergiversação.)

2) O endereço indicado retorna a mensagem que o vídeo não está disponível. Mas ele pode ser visto no sítio web do SBT. Mentira que o candidato não tem reação alguma, qualquer pessoa pode ver que ele depois olha para o chão.

3) O vídeo não mostra nenhum objeto atingindo Serra. *Supondo* que a área destacada contivesse o tal objeto, esse objeto teria se materializado do nada - já que não há registro da trajetória. O perito diz que seria pela velocidade do objeto. Se tivesse a velocidade exemplificada de 40 km/h *com certeza* o candidato teria alguma reação - a menos que a área fosse dessenssibilizada por algum motivo ou tivesse recebido algum treino. Mas vamos supor que isso explicasse a ausência de registro da trajetória pré-impacto. O perito diz, para justificar a imagem do objeto ter sido captada sobre a cabeça, que a velocidade teria caído para zero. Oras, então a trajetória pós-impacto deveria ter sido registrada, mas não, o objeto misteriosamente teria desaparecido como tal*.

4) O contorno bem definido do objeto *não* descarta a possibilidade de ser um artefato digital. Simplesmente porque justamente isso que dá um contorno bem definido - basta ver como as áreas retangulares são bem definidas. Ou o Molina acha que todos os retângulos presentes na imagem são objetos reais? Têm contornos bem definidos, com luminosidade compatível com a iluminação da cena e encontram-se entre as cabeças das pessoas e a objetiva do celular.

Abaixo mostro uma ampliação da imagem (clique nela para ver os detalhes).

Por que Molina não acompanha quadro a quadro o que acontece com a área do "calombo" - que seria a parte de trás do tal rolo de fita? É cabelo como disse aqui e um professor da UFSM disse aqui.

Upideite(23/out/2010): Mais um pouco de análise do perfil do tal objeto. Bônus, perfil da cabeça do Serra.
Molina não teve nem o trabalho de pegar uma foto de perfil de Serra para sobrepor à imagem - isso é necessário para saber distinguir onde começa e onde acaba o quê. E depois ele escreve que o contorno é definido - não tem contorno definido de objetos curvos em imagem de baixa resolução... A foto de Serra de perfil em que me baseei foi esta. Foi só fazer um contorno usando uma camada de transparência e depois jogar em cima da imagem - alinhando a orientação e redimensionando pela orelha.

Upideite(24/out/2010): O Prof. José Antonio Meira da Rocha faz também uma nova análise sobre as alegações de Molina.
*Kentaro Mori, nos comentários, observa que os problemas da baixa resolução e da compressão dos dados poderia fazer com que uma trajetória pós-impacto não fosse registrada. (Precisaríamos fazer um teste com um celular com as mesmas especificações do utilizado para gravar o vídeo.)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Pesquisas 16

Cenário das intenções de voto para presidente até 21 de outubro de 2010:


Continuam as patacoadas, como o PSDB querendo processar institutos de pesquisa. Falaram, previsivelmente, muitas bobagens sobre os erros dos institutos sobre o resultado do 1o turno.

O que é supreendente é que a distância entre o previsto e o realizado seja tão *pequena*. Levando em consideração fatores como flutuação aleatória, o fato dos entrevistados não precisarem dizer a verdade e poderem mudar de opinião de última hora - além de errarem na hora de votar -, os resultados foram bem próximos. E mais, a tendência foi apontada corretamente - havia chances de segundo turno sim.

No twitter cravei - atenção que não era pra levar a sério (embora se baseasse em projeções dos dados dos institutos) - que daria no 1o turno por pouco (e a boca de urna do Ibope acabou dando 51%).

É preciso entender que a margem de erro não quer dizer que os dados reais sempre têm que ficar dentro dela - ela é um parâmetro estatístico em que, em sendo uma grandeza com uma distribuição chamada normal (com uma curva do tipo sino), tirando-se uma amostra do conjunto total (chamado de universo amostral), a média verdadeira do conjunto estará em 95% das amostras tomadas dentro do intervalo dado pela média +/- margem de erro.

Os institutos de pesquisa - até um tanto por falta de modelo melhor - dão uma certa forçada de barra ao calcularem a margem de erro com base em modelo de distribuição normal. Para que isso valesse, entre outros fatores, a amostragem teria que ser completamente aleatorizada - mas, em geral, os institutos - por questões operacionais - recorrem a uma amostragem estratificada (pegam um determinado número dentro de cada subconjunto do universo - por exemplo, se o Censo mostra que há y% de pessoas no Brasil maiores de 16 anos que têm renda X, pegarão tantas pessoas com renda X de modo que represente y% da amostra). Na divulgação também há uma simplificação de aplicarem uma mesma margem para todos os pontos - a margem varia de ponto a ponto de acordo com sua fração (não entrarei em detalhes aqui).

Olhando para os gráficos plotando os resultados dos institutos de pesquisa (p.e., o que publiquei nesta postagem), grosso modo, 4 p.p. seria uma melhor estimativa global de margem de erro.

Então se alguém me perguntar se eu acredito nos resultados dos institutos de pesquisa, eu direi que acredito. Apenas que não devemos interpretá-los como um resultado cravado.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Porra, Molina: O que se passa pela cabeça de Serra?

O único objeto a incontestavelmente atingir o candidato do PSDB, o governador José Serra, é uma bolinha de papel, como mostrada nas imagens do SBT.

A Folha divulgou vídeo feito por um repórter seu por celular afirmando que mostrava outro momento em que Serra era atingido por outro objeto. A Globo pediu ao perito Molina para analisar a imagem.

Mostram esta imagem como prova de que Serra foi atingido por um rolo de fita adesiva:
Desculpe-me, Prof. Molina, mas o Instituto NAQ de Análise Caseira de Imagens discorda do parecer. Essa imagem pouco nítida de celular, na verdade mostra o *cabelo* de uma pessoa atrás de Serra.

Pra começar, veja a imagem abaixo:

Foi tirada do mesmo vídeo. Vemos que há retângulos em vários pontos formados pela baixa resolução da câmara - setas em amarelo. Então o retângulo na cabeça de Serra não é o rolo visto de lado. Vamos analisar o "calombo" indicado pela seta em vermelho.

Os dois frames seguintes não mostram muita coisa, só a persistência do calombo:
No quarto frame da sequência, o calombo parece diminuir:
Os dois seguintes também não mostram muita coisa:
Mas o frame seguinte mostra, o calombo *aumentando*. Se fosse o tal rolo, ele teria *subido*, em clara afronta aos princípios ditatoriais nazifascistas da lei da gravitação!

Mais alguns frames em que não acontece muita coisa:





Mas eis que o calombo *acompanha* Serra seguindo em *frente*! Teria o rolo de fita adesiva grudado em Serra?

Aí tem vários frames desinteressantes. Não irei reproduzi-los, mas quem estiver interessado é só baixar um programa que permita a exibição quadro a quadro - tem sharewares que poderá usar para testes (eu usei o share do Video Snapshot Wizard). No quadro acima já dá pra ver que o rolo de fita que o perito identificou - porra, Molina! - é o topete de alguém. Seguindo mais à frente no vídeo, eis a identificação do rolo que jogaram em Serra:

Sério, *porra*, Molina! (Porra, Globo; porra, Folha.)

É bem possível, no entanto, que tenham jogado outros objetos no governador. Isso seria um ato mais do que lamentável. Só o ato de tacar bolinha em alguém é uma violência inaceitável. Não pela agressão física em si - que no caso da bolinha de papel é mínima para inexistente -, mas pelo desrespeito que isso representa. Lastimável também o fato de tentarem atingir a candidata do PT, a ministra Dilma Rousseff.

domingo, 3 de outubro de 2010

Eleições 2010: Apuração

Até 19h02.

Até 19h27

Até 19h41

Até 20h03


Até 20h44.

Até 22h59.

Amanhã a grande discussão deve ser a discrepância entre os resultados dos institutos de pesquisa com o resultado eleitoral.

sábado, 2 de outubro de 2010

Pesquisas 15: Dilma Rousseff - votos válidos

Considerando-se somente os votos válidos, os dados dos institutos sobre a intenção de voto para Dilma Rousseff dão o gráfico abaixo.


Upideite(02/out/2010): Com os resultados do Ibope e do Datafolha, o gráfico é como abaixo:

Upideite(03/out/2010): Com o resultado do tracking do Vox Populi de sábado: