Parte das feministas (e não apenas elas) aplicam mal o conceito de falsa simetria. (Não sei a proporção. São pelo menos quatro casos.)
A falsa simetria ocorre quando se desconsidera a desigualdade existente entre um conjunto X de condições de A e de B para aplicar o mesmo tratamento em relação a essas condições. Por exemplo, falar que, como a mulher se aposenta com 60 anos, os homens também deveriam poder se aposentar com essa idade e não com 65 - ignorando que a aposentadoria mais cedo compensa parcialmente a desigualdade nas condições de trabalho: menores salários e dupla jornada, p.e.**
Quando se propõe tratamento igualitário para condições Y de A e de B, em que não há desigualdade sensível, não há que se falar em falsa simetria. P.e., se os homens podem gostar de sexo casual, as mulheres também podem ('poder' no sentido moral).***
O que algumas feministas parecem entender é que falsa simetria se refira à toda igualdade de tratamento proposta com base na extensão ao homem do direito/privilégio/estado dado à mulher. Se invertermos o exemplo acima: "Se as mulheres podem gostar de sexo casual, os homens também podem" - para essas, soa como uma falsa simetria.
Esse exemplo acima é hipotético, mas o seguinte é verdadeiro. Comentei jocosamente no twitter que, na Copa do Mundo de Futebol Feminino ano que vem, as mulheres irão comentar sobre esquemas táticos e habilidades das jogadoras, enquanto os homens irão falar de coxas e quadris. Pra quê? Virei machista (o que, a propósito, declaradamente eu sou*).
Claro, há pressuposições ocultas. Por exemplo, que a brincadeira acima assume que as mulheres só falem sobre coxas e traseiros dos jogadores e não sobre esquemas táticos e desempenhos. Não há nenhuma suposição quanto a isso acima. Quer dizer, supuseram que eu supus. Ótemo.
Outra pressuposição: que implica que as mulheres não tenham o direito de falar sobre a beleza masculina. Novamente, nenhuma suposição como essa lá em cima.
A pressuposição existente e que, aparentemente, não foi percebida é: há um discurso condenatório quanto à objetificação da mulher pelo homem quando este manifesta seu agrado pela beleza física feminina. Até aqui é uma crítica aceitável. Porém, surge um contrassenso quando, por parte de quem tem tal discurso, faz
em-se observações de mesma natureza em relação aos jogadores. Não há, aqui, uma falsa assimetria quando se observa que: "então os homens não podem apreciar a beleza feminina, mas as mulheres podem
[apreciar a dos homens]?" Não há uma desigualdade na condição humana que permita que um gênero possa ser objetificado e outro não.
A contradição também pode ser desfeita com um discurso mais liberal - em um sentido, menos moralizante: "é ok os homens falarem da beleza das mulheres, desde que as mulheres também possam fazer isso em relação aos homens". O que implica no vice versa: "é ok as mulheres falarem da beleza dos homens, desde que os homens também possam fazer isso em relação às mulheres".
*Vide a observação ao pé do
texto aqui.
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Upideite(15/jul/2014): Ou seja, temos as condições X (trabalhistas: salário, jornada); A, digamos, mulheres; e, portanto, B homens. E X_A ≠ X_B (há assimetria). E temos um elemento relacionado a X, aposentadoria (x). Se queremos que X'_A = X'_B (igualdade aqui denotando equivalência), não adianta que, em: X_A + x_a = X'_A e X_B + x_b = X'_B, x_a e x_b sejam iguais (simétricos). x_a e x_b precisam ser antissimétricos; os desiguais precisam ser tratados de modo desigual para
restaurardesfazer a desigualdade. Naturalmente o tratamento deve ser no sentido de reduzir a desigualdade, não de aumentá-la.
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Upideite(15/jul/2014): Ou seja, temos as condições Y (direito à liberdade sexual); A, mulheres, e B, homens. E Y_A = Y_B (há simetria). E temos um elemento relacionado a Y, prática sexual (y). Se queremos que Y'_A = Y'_B, com Y'_A = Y_A + y_a e Y'_B = Y_B + y_b, naturalmente, y_a tem que ser igual a y_b (simétricos).